Capítulo 19 - Inesperado

Entrei em casa e subi para meu quarto. Saí do banho já de pijama e peguei um dos meus livros para me distrair até que o sono viesse.

Depois de alguns minutos lendo, alguém bateu na porta. Disse para entrar, e para minha surpresa era Elena.

– Oi.. Não sabia se você já tinha dormido. - Disse se aproximando e sentando na beirada da cama.

– Estou sem sono. - Respondi marcando o livro e o colocando de lado.

– Eu queria me desculpar.. Pela minha reação ontem. Não aprovo esse seu “relacionamento” com Damon, mas como você mesma disse, não sou sua mãe. Como prima só posso te dar conselhos de quem conhece o Damon há um bom tempo – Seu rosto ficou mais sério – Vocês acabaram de se conhecer.. Ele sabe fazer o estilo galanteador e tudo mais. E agora você deve entender o perigo que ele representa. Cuidado pra não se machucar.

A encarei sem saber o que responder. Ela parecia preocupada de verdade comigo, acho que devia estar agradecida.

– Humm, obrigada Elena. Sei me cuidar. - Dei um sorriso para não parecer tão rude, mas realmente não queria sermão.

– Espero que sim – Disse ela suspirando enquanto levantava da cama – Boa noite, Nicole.

– Boa noite.

Sozinha no quarto, li apenas mais dois capítulos antes de cair no sono.

***

A manhã de quarta-feira estava mais fria do que os outros dias desde que cheguei. Ao olhar pela janela vi que estava começando a chover.

Na escola todos pareciam desanimados pela falta de sol, e as aulas se arrastaram. Notei a falta de Stefan no almoço, e Elena disse que ele e Damon estavam procurando sinais de Katherine nos arredores da cidade.

Voltei para casa com Elena e Jeremy; mesmo sabendo que Damon não estaria me esperando me senti um pouco decepcionada, o que era um pouco estúpido. Não podia me deixar levar por um cara tão rápido assim, não podia estar certo.

Passei o resto do dia me concentrando no dever de casa para evitar pensar em toda essa confusão. Depois de um jantar silencioso fui até meu quarto e liguei para Alison.

Ela entendeu quando eu disse que não queria falar sobre Damon, então se contentou em perguntar sobre a escola, as pessoas que eu tinha conhecido e como eu estava sobrevivendo em uma cidadezinha sem ela por perto. Comentei sobre a tal festa de sábado, perguntando se eu deveria ir.

“Mas é claro que você vai Kiki!! Você ama festas! Eu sei que está passando por muita coisa agora, mas é um ótimo jeito de se distrair, além de enturmar melhor com seus novos colegas caipiras” - Sua risada debochada me impediu de chamar sua atenção pelo comentário. Alison fazia muita falta.

– Tudo bem, tudo bem.. Você me convenceu. - Respondi rindo.

“Isso! Sou demais, eu sei, não precisa falar!” - Respondeu convencida. - “Realmente sinto sua falta”.

– Também sinto sua falta, Allie.

“Se você não for voltar pra cá nas férias, pode ir se preparando porque Alison Miller vai chegar arrasando em Mystic Falls! Então não me faça ir até aí.”

Prometi que iria tentar visitar a Flórida nas férias, mas no fundo não queria voltar. Memórias demais, além de pessoas que eu preferia deixar no passado.

Até sexta-feira eu já conhecia praticamente todos do último ano, pelo menos de nome. Todos estavam super ansiosos pela tal festa, era o único assunto nos intervalos e no almoço. Stefan não tinha voltado para a escola desde quarta, ele e Damon ainda estavam atrás de Katherine e pistas do tal Klaus. Elena fazia planos para a festa com Caroline e Bonnie, todas animadas por levarem seus respectivos namorados, enquanto eu secretamente ficava incomodada por não ter nem notícias de Damon, e pela perspectiva de passar a noite tentando conversar com meus novos colegas que eu mal conhecia.

O último sinal tocou, nos libertando para o fim de semana. Tentei não parecer emburrada enquanto caminhava para o carro de Elena. Sentia falta de dirigir meu carro, mas não havia sentido em usá-lo aqui.

– Essa cara fechada é por saudade? - A voz debochada veio de trás de mim. Como sempre, dei um pulo.

– Você realmente tem que parar de me assustar assim. - Eu disse não segurando o sorriso. Ele era lindo demais para ser real.

– Gosto desse seu pulinho de desespero. - Respondeu me provocando. - E vim em paz oferecer carona, mas você não parece feliz em me ver, acho que vou embora...

– Não! - Soltei sem querer. - Quero dizer.. Eu.. Fiquei feliz – Sussurrei com vergonha. Ele riu. - Acho que a carona é só uma desculpa pra me deixar com vergonha pelo visto.

– Não precisa ficar brava comigo, Nikki. - Respondeu parando de rir. - Mas não dá pra resistir, te deixar vermelha é um ótimo passatempo.

Ao ouvir isso consegui coragem pra levantar o rosto de novo, e Damon me olhava com um pequeno sorriso.

– E aquela carona que você ia me dar? Vai voltar a chover. - Disse olhando pro céu na tentativa de fazê-lo parar de me encarar. Devia ser impossível corar mais do que eu.

– Ok, ok.. Já tomou chuva suficiente pra uma garota da Flórida.

– Eu devia avisar meus primos. - Lembrei enquanto ele pegava minha mochila de novo.

– Eles sabem, Stefan veio ver a Elena.

Entramos no carro e a rua já estava praticamente deserta, todos foram correndo para casa na esperança de começarem o final de semana o mais cedo possível.

– É estranho..

– O que é estranho? - Perguntei.

– Foram só dois dias mas.. eu senti saudades. - Disse ele me espiando de lado antes de acelerar.

Sorri internamente. Não me sentia tão boba agora por ter pensado nele também. Mas apesar disso ainda era muito estranho. Prestes a completar uma semana que tínhamos nos conhecido e tanta coisa já havia mudado; minha opinião sobre Damon ainda não tinha se estabelecido. Tinha sido um cavalheiro, um idiota grosseiro, um herói, um monstro sobrenatural, e agora tão gentil e apaixonante. Talvez não pudesse decidir entre uma dessas facetas porque todas elas eram parte dele. Mas será que eu podia confiar em alguém tão volátil? Ou melhor, será que eu poderia evitar confiar nele? Era algo tão fácil, tão natural. Damon me dava essa sensação de segurança desde o momento em que me encontrou na estrada..

– Seu silêncio me tortura. - Disse Damon, me trazendo de volta pro carro.

– Eu só estava.. pensando. - Respondi um pouco irritada por não conseguir resolver o que fazer.

– Tem a ver com o que eu disse? Ou alguma coisa que eu fiz? - Percebi o tom de preocupação em sua voz.

– Bom.. Eu poderia dizer que não. - Ser sincera devia ajudar a não complicar mais as coisas. - É que.. Vai fazer uma semana que nos conhecemos. Olha o quanto as coisas já mudaram!

Damon olhava sério para o caminho, mas ao invés de prestar atenção à rua estava pensando no que eu dizia.

– Eu tenho pensado.. - Observava seu rosto para ver sua reação à minhas palavras. - Se vou me arrepender de confiar em você.

Silêncio. Não havia nenhum som além da chuva.

Damon dirigiu em silêncio até a casa de meus primos e estacionou. Não sabia se ele queria que eu descesse, mas ele não era do tipo que evitava discussões quando irritado.

– Você ficou.. bravo..? - Saiu como uma mistura de afirmação e pergunta; por algum motivo fiquei sem graça com a falta de reação dele.

Ele respirou fundo, mas não disse nada.

– Damon?

– Eu fiquei bravo. - Fez uma pausa antes de concluir o raciocínio. - Bravo por ter sido um idiota a ponto de você ficar pensando nisso. - Ele se virou para mim – Mas com o tempo essa sua dúvida vai desaparecer sozinha.

Não era exatamente um “confie em mim”, mas dar a entender que passaríamos mais tempo juntos até que eu superasse esses receios era suficiente para me fazer sorrir.

Ele pareceu aprovar minha reação à suas palavras, não havia mais o que discutir sobre isso.

– Como estão os planos para o final de semana? - Perguntou mudando de assunto.

– Ler um pouco, comparar as matérias da Flórida com o caderno de Elena, talvez acabar com o Jeremy no videogame.. - Hesitei. Não havia decidido contar ou não sobre a festa.

– Parece.. deprimente. - Damon franziu o cenho. - Não vai na tal festa amanhã?

Ok, por essa eu não esperava.

– Você sabe da festa?

– Claro que sei. Irmãozinho brincando de Ensino Médio com a namoradinha que adora festas. Sei de tudo que acontece naquele colégio.

Murmurei “hmm” como resposta. O que eu podia dizer?

– E então? - Perguntou.

– Então o que..?

– Vai na festa?

– Ah sim, bom.. É, acho que sim.

– Não parece nada animada. Não gosta de festas, Nikki?

– Eu gosto! É que.. todos vão acompanhados, acabar sozinha com desconhecidos bêbados não é muito animador. - Desabafei. Sentia falta dos meus amigos, e de poder ir à uma festa e estar sempre em companhia de pelo menos um deles.

– Eu posso ser seu acompanhante.. Se quiser. - Me surpreendi com a proposta.

– Meu acompanhante? Numa festa de colegiais??

– Vou fingir que não fui chamado de velho...

– Não foi isso que eu quis dizer! - Tentei corrigir a burrada. - É só que.. não te imagino numa festa com um bando de adolescentes bêbados.

Damon riu.

– Eu sei me divertir, Nikki. Além do mais, não estaria indo pela companhia deles. - Ele ficou em silêncio por um momento, observando minha reação. - Bom, foi só uma proposta, tudo bem você não querer, eu entendo.

– Não quero te deixar entediado, Damon. - Ele continuou com a expressão de ofendido. - Tudo bem, eu aceito a proposta. Mas não me culpe depois se a festa for um fiasco.

– Combinado. Te busco às nove?

– Hmm, claro. - Disse tentando não corar, de novo. - É melhor eu entrar, a chuva diminuiu. Até amanhã, Damon. - Saí do carro e me abaixei para olhá-lo antes de fechar a porta. - Obrigada pela carona! - Disse sorrindo. Ele acenou com a cabeça e eu finalmente fechei a porta.

Peguei as chaves da casa e o ouvi acelerando quando eu já estava do lado de dentro. Talvez agora eu estivesse um pouco animada para a festa. Talvez mais que um pouco.

– Oi Nicole. - Congelei ao reconhecer a voz. Isso não podia estar acontecendo. - Sentiu minha falta?

Respirei fundo enquanto trancava a porta, ainda de costas. Não podia acreditar que ele estava aqui. Tomei coragem e me virei para encará-lo.

– O que faz aqui, Eric?