Capítulo 13 - Meu Primeiro Dia - Parte I

Acordei com o despertador tocando 'Moves Like Jagger' do Maroon 5.

Eram 6:15 da manhã, e eu não tinha a menor vontade de levantar. Fiquei deitada encarando o teto, pensando no quanto "primeiros dias" eram exaustivos.

Criei coragem para sair debaixo do cobertor e me arrastei até o banheiro. Fiz minha higiene matinal e desci as escadas já com minhas roupas de caminhada. Encontrei Jenna na cozinha, tomando café. Parecia que iria virar um hábito.

– Bom dia.

– Bom dia! E então, animada para seu primeiro dia de aula? - Perguntou ela.

– Bem.. Acho que vou ficar mais animada depois de correr. - Eu disse aceitando a xícara de café que ela me ofereceu.

– Nossa, vai correr em plena segunda feira de manhã? Que coragem! -Disse rindo.

– É melhor eu ir andando.. para não me atrasar depois. Obrigada, o café está ótimo! - Eu disse virando o resto do conteúdo de uma vez.

Peguei os fones e o celular e fui novamente para a praça da cidade. Era uma espécie de mini-parque, muito agradável.

Depois de correr por uma hora decidi voltar para casa e liguei para o advogado no caminho.

– Escritório de advocacia Madison, bom dia. Em que posso ajudar?

– Bom dia, eu gostaria de falar com o dr.David Madison por favor.

– Qual o seu nome?

– Nicole Gilbert.

– Aguarde só um momento por favor, srta.Gilbert.

Esperei alguns segundos, até a secretária voltar a falar comigo.

– Ele vai atender agora.

– Obrigada.

O fone ficou mudo e depois ouvi um clique. A voz fina da secretária foi substituída pela voz grossa do dr.David. Ele tinha um forte sotaque britânico.

– Como vai srta.Gilbert? Imagino que tenha ligado à respeito da avaliação da casa?

– Na verdade, não exatamente. Queria saber da leitura do testamento..

– Bem, deve considerar que a casa faz parte do testamento, portanto, não podemos apressa-la..

– Certo. E então, algum prazo?

– Eu diria que mais algumas semanas. Entrarei em contato na ocasião.

Suspirei. Ia viver às custas de meus primos por algum tempo.. E isso era o que eu menos desejava.

– E quanto à minha custódia?

– O prazo do juiz está acabando.. Seguiu meu conselho e procurou seus parentes?

– Sim. Estou com meus primos da Virgínia. Mas eles são de menor também.

– Nesse caso acredito que pedir sua emancipação seja a melhor solução. É consideravelmente rápido, mas você terá que permanecer com seus parentes até receber a herança e poder se manter.

– Eu sei..

– Vou dar entrada em alguns papéis, mas você terá que comparecer no dia. Eu ligarei com mais informações.

– Tudo bem. Obrigada dr.Madison.

– Não há de quê. Ah, e Nicole.. Se cuida. - Disse ele soando preocupado.

Ele desligou e eu demorei uns instantes para fazê-lo.

Cheguei em casa pensando na conversa, e imaginando o que eu faria após ser emancipada e receber o dinheiro. Pagaria o restante da conta do hospital de vovó, venderia a casa e iria morar em algum lugar quente e ensolarado. Talvez algum lugar parecido com minha amada Flórida. Mas eu jamais voltaria a morar lá realmente; haviam lembranças demais.

Já passava das 7:30, e eu podia ouvir o barulho do chuveiro no andar de cima. Todos já deviam estar acordados.

Subi e entrei no banho também, afinal não podia chegar atrasada no 1º dia, não é?

Escolhi uma roupa (http://www.polyvore.com/cgi/set?id=38784453&.locale=pt-br) e fiz uma maquiagem leve; às 8:20 já estava pronta. A aula começava às 9:00.

Desci e encontrei os três na sala. Elena segurava um embrulho de presente bem grande.

– Nicole.. É pra você! - Disse me entregando e sorrindo contente.

– O que é isso?? - Perguntei surpresa.

– Nada demais, algo necessário.. - Disse Jenna. - Vamos, abra!

– Como vocês são afobadas! - Comentou Jeremy, revirando os olhos enquanto as duas davam pulinhos de expectativa. - Bom dia priminha! - Disse ele dando um beijo estalado em minha bochecha.

– Bom dia, Jer! - Eu disse sorrindo.

– Não deixe essas loucas assustarem você.

– Vou tentar. - Segurei o riso e olhei de novo para as duas. Pelas caras que faziam pareciam que iam me matar se eu não abrisse logo o embrulho.

– Ok, ok.. Já tô abrindo.. - Delicadamente rasguei todo o embrulho, que era mais frágil do que aparentava.

– É linda! - Eu disse admirando a bolsa cinza em minhas mãos. - Muito obrigada! Não precisavam gastar comigo!

Jenna fez um gesto de desdém, como quem diz "não foi nada".

– E além do mais, como você pretendia carregar os livros da escola? - Disse Elena.

– Eu.. ia usar a mochila velha! - Disse mostrando a mochila que agora estava aos meus pés. Era a minha preferida, listrada de laranja e preto e com detalhes em couro. (http://www.polyvore.com/cgi/set?id=38785346&.locale=pt-br)

– Esse caco??!! - Disse Elena revoltada.

– Hey, não está tão ruim! - Eu tentei defendê-la em vão - Só está um pouco gasta.. - Elas me fitaram com olhares fulminantes. - Ok, admito que talvez esteja um pouquinho velha e surrada, e tem algumas manchinhas bem discretas mas.. Taaaá, a nova é mil vezes melhor e eu adorei! Satisfeitas? - Eu disse tirando meus pertences da mochila velha e passando para a nova. - Obrigada de novo.

– Vamos logo, senão vamos nos atrasar.. E tenho certeza de que Nicole não quer ser o centro das atenções mais do que o necessário hoje. - Disse Jeremy arrastando Elena e eu para fora. Ele sabia que eu morria de vergonha de ser o centro das atenções.

– Tchau meninos, boa aula. E boa sorte, Nicole!

Gritei um 'obrigada' de dentro do carro enquanto Elena dava a partida.

A escola não ficava tão longe de casa, ainda mais considerando o tamanho da cidade. Comparada à minha antiga escola ela parecia pequena e nada imponente, mas com aquele jardim verdinho e todos os estudantes parecendo tranquilos conversando em seus grupinhos, de algum modo a Robert E. Lee High School me pareceu aconchegante. Vai dar tudo certo, pensei enquanto estacionávamos o carro no estacionamento movimentado. É só um dia comum. Respirei fundo e segurei a alça de minha nova bolsa com força, infelizmente comecei a retorcê-la entre os dedos, típico de quando eu ficava nervosa. Haha, quem me dera conseguir mentir para mim mesma. Não ia ser só um dia comum, e eu ia ser a fofoca da cidade.. Droga. Devia ter fingido passar mal.. E as pessoas iam me encarar e..

Meus pensamentos começavam a ficar um tanto histéricos, quando foram interrompidos por Jeremy, que abriu a porta para mim.

– Me desculpa, mas não vamos deixar você dentro do carro o dia todo, por mais óbvio que seja que você prefere ficar aí. - Disse ele estendendo a mão pra mim como aqueles cavalheiros antigos.

Olhei pra ele com a minha melhor cara de cachorrinho pidão. Ele só revirou os olhos e esticou mais a mão pra perto de mim.

– Sabe baixinha, você já devia saber que essa cara não funciona comigo desde que a gente tinha uns seis anos.. Anda logo, o sinal já vai tocar..

Bufei. Droga, tinha me esquecido que ele conhecia meus truques..

– Tudo bem.. - Eu disse me rendendo e aceitando a mão estendida. Ninguém vai olhar pra você; não vão nem reparar que você existe; não tem NINGUÉM olhando pra você!, eu repetia mentalmente.

Jeremy fechou a porta do carro, e de repente notei que o estacionamento ficou um tanto silencioso. Ergui o olhar enquanto meu primo me conduzia até a escola.TAVA TODO MUNDO OLHANDO PRA MIM!! Comecei a tremer um pouco e Jeremy passou um braço à minha volta, o que fez as pessoas começarem a cochichar imediatamente.

Jer se virou para sussurrar pra mim um: 'Hey, você está bem? Tá mais vermelha que um pimentão..', que pra falar a verdade não ajudou muito não..

Não sabia o que responder, então fiquei calada até entrarmos na escola (com todos ainda encarando nós dois descaradamente).

Os corredores ainda estavam meio vazios, com todos aproveitando os últimos momentos de sol lá fora. Jeremy me mostrou meu armário, onde já estavam meus livros.

– Onde está Elena? - perguntei notando sua ausência.

– Ah, deve ter ido procurar Stefan.. Me desculpe por ela não ser assim tão educada..

– Jer, tá tudo bem. Foi muita gentileza sua me acompanhar, mas pode ir procurar a Bonnie.. Vou ficar bem!

– Err, não sei não. Você não conhece a escola.

– Eu sei me virar sozinha! - Eu disse parecendo confiante. Não queria ser um peso pra ele.

– Tudo bem.. mas antes vou te mostrar a sala da sua primeira aula. - Ele pegou os papéis com meus horários que estavam na minha mão. - Agora você tem.. Álgebra! Haha, boa sorte, baixinha. Vai ter os 50 minutos mais entediantes da sua vida agora..

– Hey, não precisa fazer terrorismo também!

– Tá... Vem, é na sala 4. - Disse ele me guiando pelo corredor, que agora já estava mais cheio; pessoas passavam apresadas por nós. - É bom chegar antes do sinal pra garantir um lugar no fundo.. O sr.Johnson enxerga muito mal, então não presta muita atenção no pessoal do fundo.

Eu ri. Já dava pra imaginar que minhas segundas-feiras de agora em diante seriam realmente emocionantes.

– Bom, é aqui. - Disse ele quando paramos em frente à sala 4. - Se precisar de alguma coisa é só me procurar; se não, nos vemos no intervalo.

– Tudo bem, obrigada Jer. Te vejo depois. - Nos despedimos e eu entrei na sala. Haviam cerca de dez pessoas lá dentro, a maioria das cadeiras ainda vazias. Segui o conselho de Jeremy e me dirigi para o fundo da sala, colocando minha bolsa em uma das cadeiras. As pessoas me encaravam mas eu tentava não dar muita atenção para não corar mais.

– Parece que finalmente morar nessa cidade vai valer a pena. - Disse uma voz grossa perto de mim. Ergui os olhos e vi um garoto alto e moreno parado na minha frente. Ele estava falando comigo.

Fiz cara de desentendida.

– Sabe como é, com uma gostosa como você aqui, as coisas vão ficar agitadas.

Não sabia como reagir. Fiquei ofendida, é claro, mas o que eu podia fazer?

– Deixe a garota em paz, Jason. - Disse alguém atrás dele.

O tal 'Jason' se virou para trás, encarando o dono da voz com desdém.

– E porque, já se apossou da garota nova? - Ele tinha um jeito desagradável, rude.

– Não, porque eu tenho certeza de que você não faz o tipo dela. - Disse o outro com confiança.

– Ah, é?! E de que tipo eu seria? - Perguntou agressivo.

– Do tipo desagradável e grosso. - As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse evitar. Ele me olhou com raiva, mas por sorte foi empurrado pra longe pelo loiro que me defendia.

– Pronto, não tem mais o que fazer aqui, pode ir embora. - Disse ele. Jason saiu parecendo furioso. Não devia estar acostumado a levar foras assim.

– Não deixe que aquele idiota estrague seu primeiro dia. - Disse sorrindo pra mim. - É bom te ver de novo.

– Obrigada por.. você sabe. - Eu disse apontando com a cabeça a cadeira onde Jason havia se sentado mais à frente. - E também fico feliz de te ver de novo, Matt. - Eu sorri.

– Por coincidência o lugar que você escolheu é ao lado do meu. - Disse ele se sentando na cadeira ao lado, que estava milagrosamente vazia (considerando-se a briga pelas cadeiras do fundo agora que a sala estava cheia.)

– Como você consegue ter a cadeira marcada?

– Bom.. aqui é meio que um privilégio.. por jogar futebol, sabe? - Ele riu. - Pessoalmente acho meio ridículo, mas como saio na vantagem.. Pra quê reclamar, né? - Fiz que sim com a cabeça.

O sinal bateu e um homem de meia-idade já meio careca entrou na sala, com um timing perfeito. Todos se apressaram para se sentarem. O sr.Johnson olhou alguns papéis que tinha em mãos e disse:

– Nicole Gilbert?

– Sou eu. - Disse levantando o braço quando ele passou os olhos pela sala tentando me localizar. É, Jeremy tinha razão, ele é mesmo meio cego.

– Ah sim, aí está você. Seja bem-vinda ao colégio, espero que goste de Álgebra. - Bom, ele era gentil pelo menos. Podia não ser tão ruim.

– Obrigada.

Ele se virou para o quadro negro e começou sua aula. Peguei meu caderno antigo e abri para fazer anotações, quando Matt se virou para mim e cochichou:

– Puxa, não dá pra acreditar! Deve ser a primeira vez na vida em que ele é educado com alguém! - Disse ele arregalando os olhos teatralmente. Eu só revirei os olhos.

– É sério! A primeira vez!

– Donovan!! Imagino que o assunto seja interessante o suficiente para interromper minha aula, certo?

– Não senhor, já parei.

– Ótimo. - Disse ríspido.

Matt me olhou com uma cara vitoriosa, como quem diz "eu te avisei". Segurei o riso.

É, talvez meu primeiro dia não fosse assim tão ruim.