Estava chegando ao meu limite. Pude sentir isso antes de cair inconsciente, de repente mais 15 dias pareciam um pesadelo insuportável, uma eternidade. Abri meus olhos e a primeira coisa que pude notar era um monte de envelopes bem organizados empilhados. Ao lado dos envelopes estava Aro. A última que eu gostaria de ver, ou melhor, ninguém ali me interessava.

- Que susto nos deu criança! – Aro disse sorrindo.

- Um momento de fraqueza, sinto falta de muitas coisas, quero ir para casa... – disse enquanto me sentava abraçando meus joelhos.

- Nenhuma surpresa para ninguém, mas há alguns dias pela frente Renesmee. Trato é trato. – Aro disse com uma voz fria e definitiva.

A gente aprende a conviver com as coisas, a sede é uma delas, porém se sacia rapidamente com sangue, sangue há em todo lugar. Desde quando botei os pés em Volterra uma coisa com a qual fui forçada a lidar foi com a saudade das coisas mais simples, de como o papai conversava comigo telepaticamente comigo, de como tia Alice adorava me enfeitar mesmo contra vontade, das piadas muito sem graça do tio Emm, e, claro dele, tudo nele até a sua menor essência. Ah Jacob... Foi inevitável conter as lágrimas, fiquei com minha cabeça baixa, deixando todo aquele amargo da saudade me instigar. O sofrimento já estava ficando habitual... Fiquei assim por um bom tempo, até sentir que Aro desistiu, por enquanto, de mim e resolveu me dar um minuto de solidão.

Aro se foi, mas os envelopes não. Fiquei olhando os envelopes até notar algo familiar eram cartas endereçadas para mim, não precisava ser um adivinho para saber. Meu coração palpitava vacilante. O simples fato de saber que dia após dia havia cartas para mim me deixavam feliz, ler aquelas palavras me envolveram por completo. As cartas no geral retratavam a falta, a saudade, a dor da distância e ausência, se estava bem, e me tranquilizando da melhor maneira possível. Não era como estar com eles, mas aquele emaranhado de papéis me davam a sensação de que eu estava com eles de alguma forma. O que me irritava eram as datas, eles me enviam cartas desde quando estive aqui, ou seja, minhas cartas estavam sendo extraviadas, isso teria de ser esclarecido melhor depois. 

* * *

PDV Bella

É incrível como a vida, ou melhor, existência, muda de maneira inimaginável. Nunca pensei em filhos, a eternidade seria eu e Edward e isso soava maravilhosamente bem. Hoje quando penso na forma tão errada que eu imaginava o futuro. Ser mãe foi e é, a maior dádiva. Renesmee é a minha maior alegria, não poderia pedir algo melhor porque é simplesmente impossível.

Mas agora, é como se uma nuvem negra cobrisse nossa casa. Essa incerteza sobre como ela está, esse silêncio me frustram a cada minuto. Os segundos se passam arrastados. Essa sensação de aperto no peito está acabando comigo, minha pequena, por quem lutei, por quem dei minha vida agora está em mãos perigosas. Eu fico passando e repassando mentalmente nossas ações dos últimos meses, em busca de erros, não a protegemos o suficiente? Havia algo muito errado ali.

Talvez o maior erro fosse ter feito aquela promessa estúpida para Renesmee. Sem promessa poderia resgatá-la, pelo tentar ao invés de ficar com mãos e pés atados, eu me sinto uma inútil desse jeito.

Pior do que me corroer na dor e no vazio é ver que eu não era a única ali que estava sofrendo. O ambiente era sombrio, o silêncio era absoluto, ficávamos ali apenas ocupando um espaço físico, estáticos a espera do impossível.

Carlisle tinha uma teoria. Os Volturi não poderiam obriga-la até porque nada ela havia feito para aborrecê-los. Talvez os Volturi quisesse que ela passasse uma temporada forçada com eles. Mas por quanto tempo?

Essa pergunta não tinha resposta... Assim como as cartas que enviávamos sempre, eu tenho quase certeza de que essas cartas nunca chegaram as mãos da remetente.

As perguntas na verdade eram inúmeras, será que estavam a tratando bem? Ela estava se alimentando? Dormindo regularmente? E ela? Como estaria reagindo a toda essa mudança repentina de cenário?

Renesmee sempre tão delicada, tão sensível, com certeza ela está sofrendo solitária, sem ninguém para cuidar dela, ampará-la. Isso me maltratava tanto. As vezes penso em como fui cruel com Renée, minha mãe, com toda certeza a minha ausência devia causar isso nela e assim minha dor se duplicava.

Era tudo tão injusto!

Queria apenas um sinal qualquer que fosse da minha filha, será que é demais pedir isso?