・POV : Juri ・

           Estou no mesmo lugar em que fui deixado. Pouco mudou desde então, mas isso não fazia diferença. Queria chorar, mesmo sabendo que não há mais lágrimas para derramar. Talvez chorar fosse aliviar a sensação de vazio no peito, e não importa o quanto tentasse convencer a mim mesmo de que não adiantaria, eu apenas queria.

          Não há cura para dor, não existe um lugar para me refugiar e nenhuma oração parece funcionar. Tudo está tão branco lá fora, as cidades cobertas pela neve, flocos caindo do céu.  Junto meus braços, tentando me aquecer do frio. Um ato simplório, mas com muito significado para mim. Ele faria isso se estivesse aqui. Aqueceria-me.

          O frio não era apenas causado pela nevasca que caía já alguns dias. Na realidade, eu sentia tudo tão gélido desde que ele partiu. O mundo tornou-se falso, quebradiço...

                              Se você estivesse aqui, nada estaria assim.

           Olhei para o porta retrato em cima da estante, admirando seu doce sorriso na fotografia. Lembro-me perfeitamente daquele dia, nós estávamos tão felizes... Estávamos juntos. Por que tiraram você de mim?

           Tiramos aquela foto dias antes de descobrir o que se passava com sua saúde. Uma grave doença, disfarçada por um lindo sorriso de alguém que eu tanto amava. Ninguém imaginou que isso fosse acontecer, nem ao menos eu.

           A doença se agravou apesar do intenso tratamento. Meses em um hospital, eu queria tanto tirá-lo de lá e dizer que tudo ficaria bem, mas eu não podia. Estive até o último momento, quando ele segurou minha mão e disse “estarei sempre com você”. O brilho dos olhos se ofuscou, a força que usou para segurar minha mão se esvaneceu e eu o vi partir. O rosto que antes possuía um sorriso terno para me confortar se desfez, dando lugar para uma expressão serena. Ele havia entrado em um sono eterno, para longe de mim.

                              Mas eu nunca esqueci suas últimas palavras.

           Enquanto relembrava nossos últimos momentos ali, sozinho na sala, levantei-me e caminhei até o porta retrato, trazendo-o entre meus braços. Abracei aquele objeto com a nossa última foto como se pudesse me aquecer. Fechei os olhos, sentindo lágrimas discretas escorrerem pelo meu rosto.

                              Por que não fui junto? Meu lugar é em seus braços.

           Repetia essa frase para mim todos os dias, mas isso teria um fim hoje. Tomei o líquido que estava em um copo sobre o sofá até o último gole. Deitei no chão da sala junto ainda da fotografia, e rapidamente os efeitos do veneno apareceram. Era meu último minuto em vida, e meu último minuto sofrendo. Beijei a foto antes de perder as forças, sentindo dores em meu coração.