Ao chegar à faculdade, Pedro praticamente jogou-se sobre a carteira, completamente esgotado. Ele dormira tarde, acordara cedo e durante o trabalho, a Tia Kelly ainda aumentou seu serviço para deixar Melanie mais relaxada.

Ela, porém, não apresentava mais nenhum sinal de depressão, estava sorrindo como nunca e até lembrou-se do nome de David, o garoto que sempre fazia trabalhos em grupo com eles.

- Boa tarde pessoal! – Disse Dalila ao chegar à sala.

Pela primeira vez, Pedro parou para olhar e viu que realmente Dalila possuía seios grandes.

- São bonitos, não é Pedro? – Exclamou Melanie, que estava observando Pedro.

- O que é bonito? – Perguntou Dalila.

- O-os... Os... Os sapatos do David! – Disse Pedro todo vermelho apontando para a primeira coisa que viu pela frente.

- Hm... Acho muito chamativo... Não gosto muito... – Disse Dalila.

Só então Pedro parou para prestar atenção que David estava calçando um par de All Stars rosa cheio de enfeites e detalhes. Melanie abafou uma risada.

- Obrigado, Pedro! – Disse David falando com uma voz meio efeminada. Até agora, Pedro tinha certeza que aquela era a situação mais estranha e constrangedora que ele havia passado em toda a sua vida.

- Ok! – Disse Melanie levantando-se apressada da cadeira e sussurrando para Pedro e Dalila – Agora que vocês dois estão aqui, eu preciso me ausentar! Eu queria lhes dizer pessoalmente que durante o tempo que eu estiver fora da aula, eu não quero que me procurem e nem tentem falar comigo, por mais que me vejam! E mesmo se tentarem falar comigo, eu os ignorarei como se não os conhecesse, entenderam?

Pedro e Dalila concordaram mecanicamente com a cabeça.

- Ok! Me encontrem na cantina na hora do intervalo! – Disse Melanie.

O professor entrou na sala, Melanie imediatamente colocou sua mochila nas costas e saiu apressada porta afora com a mão na boca, fazendo sons estranhos como se quisesse vomitar.

- Meu Deus! – Exclamou o professor, assustado – Não é a Melanie? O que aconteceu com ela?

- Ela estava se sentindo mal, professor! – Mentiu Dalila.

- Le-leite! – Exclamou Pedro – Acho que foi o leite de hoje de manhã...

...

Melanie se esgueirava pelos corredores levando consigo uma caneta e um bloco de notas. Ao aproximar-se da sala dos veteranos de direito, viu que a sorte começara a sorrir para ela.

Além da sala de direito, na extremidade oposta do corredor, vinha uma garota gordinha, cujo rosto lhe era familiar. Ela certamente era uma das quatro garotas de direito que ela estava tentando investigar.

Ela estava de cabeça baixa, distraída com o celular. Melanie aproveitou-se para enfiar a mão dentro de um pequeno lixeiro que estava ao seu lado e puxou um copo de milk-shake já seco, mas ainda sujo por dentro.

A garota de mechas roxas saiu correndo em direção à veterana enquanto esta ainda estava distraída, esbarrando-se com ela e fazendo o resto de milk-shake que havia no copo cair sobre a roupa azul marinho da veterana.

- Oh! Desculpe! Desculpe! – Disse Melanie com o rosto mais inocente que podia fazer. – Eu sou uma desastrada, eu não estava prestando atenção! Me desculpe!

- Ah! – Exclamou a veterana, assustada – Caloura maldita! Olhe o que você fez!

- Me desculpe! Me desculpe mesmo! – Melanie arrancou uma folha de seu bloco de notas e começou a tentar limpar a roupa da veterana.

- Não... não, obrigada! – Disse a veterana, se acalmando mais. – Eu vou ao banheiro tentar limpar isso... Afinal, não me sujou tanto...

- O milk-shake já estava no final... – Disse Melanie – Mas de qualquer maneira eu vou com você! Para ajudá-la!

- Não, não precisa!

- Eu insisto!

Minutos depois, Melanie já estava junto da veterana dentro do banheiro feminino dos andares superiores.

A veterana tirou a blusa suja e deixou-a sobre uma parte seca da pia para avaliar o estrago, ficando só de sutiã e calça jeans no banheiro. Ela tinha seios grandes, embora ainda fossem menores que os de Dalila, Melanie observou que ela era realmente “gordinha”.

- Me desculpe mesmo... Er... Qual o seu nome?

- Luanna!

“Luanna Carvalho” lembrou-se Melanie. Ela conhecia seu rosto da foto de seu perfil no facebook que ela fuçara durante as investigações superficiais.

Ainda vasculhou mentalmente seus arquivos do caso Tanuki e lembrou-se de que o Finger Point já havia dedicado duas linhas para Luanna e suas gordurinhas.

- Mil perdões, Luanna! – Exclamou Melanie – Posso dar uma olhada no estrago?

- Não foi um estrago tão grande... – Disse Luana passando a blusa para Melanie.

Melanie estendeu a blusa diante de seus olhos, mas não para ver a marca dos restos de milk-shake, e sim a etiqueta da blusa.

Four on the floor

“Nunca ouvi falar dessa marca...” pensou Melanie consigo.

- Isso sai fácil! – Disse Luanna, pedindo a blusa de volta e lavando o local sujo com pouca água – Agora eu só tenho que esperar secar... Eu me admiro que você estava realmente tomando esse milk-shake...

- Por quê?

- Por que é horrível! Aqui perto existem dois outros locais onde vendem milk-shakes mais baratos e mais gostosos que esse aqui... Você o comprou na lojinha da esquina, não foi?

- Er... Na verdade foi um amigo que me deu o resto do que ele havia comprado... – Mentiu Melanie – De qualquer maneira eu não conheço muito dos locais onde eu posso comer aqui perto...

Melanie parou para pensar e uma ideia iluminou-se em sua cabeça.

- Na verdade... – Melanie tirou o bloco de notas do bolso – Enquanto esperamos a blusa secar, você poderia ir me dizendo os melhores locais para se comer aqui nas proximidades do campus!

Luanna franziu a testa, aquele não era um pedido muito comum de se ouvir.

- Oh, me desculpe! Eu nem me apresentei! Eu sou do primeiro período de jornalismo e estou tentando reativar o jornal do campus! Acho que uma matéria sobre os melhores locais para se comer seria bom para deixar os calouros informados...

A veterana fica em silêncio por algum tempo, ainda achando o pedido esquisito, mas no fim concordou e começou a falar tudo para Melanie.

A caloura, porém, nem se deu ao trabalho de anotar o que Luanna estava dizendo. Ao invés de fazer isso, começou a anotar os vícios de linguagem, e a maneira como ela se expressava, para futuramente comparar com o modo de escrita do The Pointer.

...

Ao som de Iron Maiden, dois geeks estavam se divertindo com jogos online numa sala isolada do campus.

Um deles era alto e magro e fazia o quinto período de Jornalismo, o outro era um pouco mais baixo e gordinho e estava cursando o terceiro período de Filosofia.

A música “The Clairvoyant” já tinha tocado seu último sustenido e logo começou o riff da música “Fear of the Dark”. Os dois, no calor e na euforia dos MMO’s que jogavam, começaram a tocar air guitar imitando as notas da música.

Alguém começou a bater na porta. Não bater normalmente, mas sim a empurrar a porta com bastante força, como se quisesse derrubá-la.

A medida que as notas do riff ficavam mais graves, com mais força a porta era forçada, e os dois nerds estavam estáticos, somente observando, com medo de abri-la.

- Ei! – Disse uma voz feminina do outro lado da porta – Abram essa droga de porta!

O veterano de filosofia apressou-se em baixar o som enquanto o de jornalismo abria a porta para sua visita inesperada.

Melanie entrou na sala de supetão e observou os dois geeks atônitos que não estavam entendendo nada do que estava acontecendo.

- Quem é o chefe por aqui? – Perguntou Melanie.

O nerd alto e magro que cursava jornalismo ergueu a mão. Melanie jogou-o contra a parede e puxando sua gola, disse:

- Eu preciso de sua ajuda!