A garota de pele alva abre os olhos e encara o teto daquele pequeno e aconchegante armário. Algo a fez perder o sono naquela madrugada chuvosa. A morena resolve sair e dar uma caminhada, antes de estranhar a ausência de um certo garoto de cabelo laranja na cama.

- Estranho... - diz ela reparando o lugar vazio.

Já que era madrugada, não haveria problema nenhum ela ir até a cozinha beber um pouco de água.

Ao descer a escada, a moça repara que não há ninguém na sala e nem na cozinha, em seguida ela encara a janela. A chuva estava mesmo fortíssima.

- O que esse cabeça dura do Ichigo está aprontando?

Rukia senta-se ao lado da janela e encara a queda daquela intensa tempestade.

Atitude rara e estranha. O que ele faria na rua em plenas cinco da manhã? O frio contagiava tanto aquela pele branca, a ponto de fazer o pequeno corpo da shinigami tremer. Será que ele foi atrás de algum hollow? Não, ele não iria sem avisá-la. A morena começa a ficar preocupada, mas qual era o motivo de tamanha preocupação? Estava tão apegada assim ao garoto? Não compreendia.

A pequena levanta-se, dirige-se até a porta, veste um casaco, pega a sombrinha e sai em direção à rua.

--X--

Aquele frio, aquela chuva e aquela tristeza. O garoto presenciava a queda da chuva de joelhos, em frente ao túmulo de sua mãe. Ele estava com o rosto cheio de olheiras e seus olhos estavam avermelhados de tanto transbordar suas lágrimas. Estava definitivamente acabado. Havia tido um pesadelo em que sua mãe estava morrendo, mas desta vez, Ichigo já tinha seus quinze anos e estava transformado em shinigami. No sonho ela estava sendo brutalmente morta por um hollow, mas por algum motivo ele não conseguia protegê-la.

- Me desculpe, por ser um fraco e não poder te proteger. - diz ele ainda chorando.

De repente ele sente que a chuva pára de cair sob sua cabeça. Ao encarar o céu, o ruivo depara-se com os belos olhos violeta de Rukia, realçados com um pequeno sorriso meigo. Ela estava em pé com uma sombrinha em mãos. A morena percebeu que o garoto estava meio destruído por dentro. Sentia-se ferida ao ver o amigo daquele jeito, como se ela também pudesse sentir a sua dor.

O coração do ruivo sentiu-se iluminado ao ver aquele doce e sincero sorriso. Os olhos de Rukia reluziram as gotas daquela intensa chuva.

- Rukia? - pergunta fracamente.

- Até que enfim te achei. - responde ainda sorrindo.

O garoto volta a encarar o túmulo.

- Vamos para casa. - diz ela.

- Não. 

- Por que gosta de se torturar?

Ele começa a encará-la.

- Por que ainda se culpa por algo que não fez? - pergunta ela.

- Você não entende como eu me sinto! - exalta-se o garoto.

- Posso não entender como se sente, - começa a chorar e ficar entristecida. - mas sei o que se passa em seu coração.

Rukia começa a lembrar-se de Kaien e seus momentos juntos.

- Posso nunca ter tido mãe, Ichigo. Mas já conheci o amor.

Ichigo enxergou sofrimento e seriedade nas palavras de Rukia. Depois de seu pai, Rukia foi a segunda pessoa que conseguiu acalmá-lo em um momento como aquele.

A garota ajoelha-se ao lado do ruivo e começa a acariciar a cabeça do mesmo. Ichigo começa a se sentir em paz e seu coração fica mais calmo ao sentir aquela gélida mão em sua cabeça.

- Nunca mais guarde suas dores para si. Procure compartilhá-la com seus amigos, do mesmo jeito que você compartilha suas alegrias. - diz ela voltando a encarar Ichigo com aquele antigo sorriso.

O ruivo vira-se para a pequena e a envolve em um abraço, fazendo-a soltar a sombrinha, expondo assim os dois para debaixo da chuva.

- Obrigado, Rukia.

Ichigo afogou-se aos prantos no peito de Rukia, e a mesma o envolve em seus braços como se ele fosse uma criança pura e frágil que precisava de proteção. A morena percebera que fortaleza emocional não era o ponto forte de Ichigo. O shinigami sentia-se seguro e calmo envolvido naqueles pequenos braços.

Logo os primeiros raios solares começaram a iluminar o ambiente, diminuindo assim a força da chuva. Os dois levantam-se e Ichigo limpa seu rosto antes de encarar a sepultura com um meigo sorriso.

- Vamos para casa. - diz ele encarando a garota que estava ao seu lado.

- Ah, depois de você ter me feito pegar chuva, agora que você quer voltar? - responde a pequena sarcasticamente.

- Vamos logo. - diz ele pegando a garota pela mão.

- Seu idiota. - diz ela entrelaçando seus dedos nos do ruivo.

O casal sai daquele cemitério de um jeito diferente do qual entraram: sorrindo e juntos, como se nada estivesse acontecido, pois, eles sabiam que a partir daquele momento, tudo seria diferente. 

             ***FIM***