“Venha para mim”

“Venha para mim”

“Venha para mim”

A voz dele era como uma oração em meus ouvidos. E por mais que eu tenha tentado ignora-la eu a segui.

Meus olhos se abriram instantaneamente fitando o tão conhecido teto na cor azul celeste.

Eu estava em meu quarto.

Era manhã. Percebi.

E, eu havia sonhado.

Havia um canto baixo de pássaros sobre a minha janela.

Olhei ao redor procurando por algum sinal de Sasuke, mas, ele não estava ali.

Fechei meus olhos novamente tentando dormir.

Eu estava com tanto sono que poderia ter dormido aquele dia todo.

Então quando o barulho agudo do despertador tocou, quis chorar.

Levantei-me tão lentamente que era como se não me movesse.

Sentia-me entorpecida. Como se tivesse dormido demais.

Meu corpo estava dormente e quase cair quando tentei firmar meus pés no chão frio.

Senti uma dor estranha no meu pescoço e levei as mão automaticamente onde sasuke sempre mordia.

Não havia nada. Nem mesmo um inchaço devido aos caninos dele. Somente a dor que latejava fracamente.

Liguei o chuveiro deixando a agua fria me despertar e fragmentos do sonho que tive durante a noite dançaram em minha mente.

Era um pouco confuso. Eu não conseguia lembrar com exatidão, somente pedaços dele, do sonho, vinham em minha cabeça.

O precipício.

Sasuke.

A queda.

A dor.

Mas, a voz de Sasuke me chamando era tão nítida e me fazia lembrar seus olhos rubros brilhando na escuridão.

Aquele havia sido o sonho mais real que já havia tido.

Um sentimento de raiva tomou conta de mim quando pensei que talvez Sasuke tivesse usado suas ilusões em mim novamente.

Com certeza havia sido isso.

Só as ilusões dele explicariam o fato de ter sido tão real o sonho.

Sentir meu coração se apertar com aquela constatação.

– Sasuke... – Sussurrei baixinho para mim mesma e senti uma angustia imensa no meu peito.

Tudo aquilo me deixava exausta.

As ilusões, acusações. E o pior era que eu sabia que nunca teria um fim.

Eu me sentia um condenado a cadeira elétrica aguardando o dia da execução.

Respirei fundo tentando me acalmar. Eu não queria surtar novamente.

Não queria me desesperar com pensamentos sobre meu futuro ou, a falta dele.

Futuro.

Cada vez que parava para pensar em como seria minha vida depois que terminasse o ensino médio nada de bom me vinha a mente.

Eu só via Sasuke me cercando, prendendo-me por causa de sua vingança ridícula.

Ridícula. Sim. Aquela vingança era ridícula.

Sasuke me fazia pensar em vilões sem convicções. Aquele tipo que mesmo sabendo que sua ações não o levaram á lugar algum, ainda continuam, insistem em algo que não lhes dará nada, talvez, só mais ódio e magoas para guardarem dentro de si.

Na realidade teve vezes que tentei me colocar no lugar dele, tentei entender todo aquele ódio por ter sido traído e deixado para trás.

Tentei pensar em como seria se tivesse sido ao contrário. Se fosse ele o me deixar.

Se fosse eu que tivesse sofrido, se fosse eu quem tivesse alimentado o ódio dentro de mim por duzentos anos.

E naquela vezes, que me colocava em seu lugar, perguntava-me se agiria como ele e, sempre, eu respondia-me que não.

Eu não me vingaria. Não o faria sofrer.

Eu o amaria, talvez, bem mais do que já o havia amado um dia ou a duzentos anos atrás.

Eu amaria assim como o amava naquele momento, mesmo que nunca fosse revelar isto a ele.

A intensidade de meus sentimentos por Sasuke as vezes me confundia, assustava-me.

Eu sentia raiva dele com a mesma intensidade com o que o amava. Eu o queria longe com a mesma intensidade com que o queria por perto.

Eu o temia com a mesma força com que confiava nele.

Eu estava enlouquecendo.

Enlouquecendo com todos aqueles turbilhões de sentimentos guardados dentro de mim.

~0~

Tudo pareceu acontecer em câmera lenta naquele dia.

As aulas praticamente se arrastaram.

Até Tenten que era uma “pilha de energia” pareceu-me mais lenta.

– O que há com você? – Perguntou-me na hora do almoço.

– Nada. – Lhe respondi.

– Como nada?, parece que ainda está dormindo.

– Estou cansada... – Menti. – Quase não preguei o olho na noite passada.

– Por que?

– Bom... – Demorei um pouco para responder a ela. – Chiharu me pareceu meio desanimada
ontem, estou preocupada.

Aquilo não era bem uma mentira.

– Entendo – Tenten disse. – Mas, você mal tocou na sua comida. – Pontuou.

Baixei meus olhos para o prato constatando que ainda se encontrava cheio.

– Se ficar doente não poderá ajuda-la com o que quer que a deixou desanimada.

– Tem razão. – Disse-lhe simplesmente começando a comer.

– Você tem que se alimentar melhor - Ela disse depois de um tempo. – Você pode acabar anêmica – Continuou. – Sendo a principal fonte de alimento para o Uchiha você não pode se descuidar de sua alimentação.

Ela me fez lembrar Ino e meus olhos se encheram de lágrimas.

Já fazia tanto tempo que não a via que qualquer lembrança me deixava saudosa.

– Qual o problema? Tenten perguntou. – Por que está com os olhos marejados?

– Você fez-me lembrar de Ino. – Respondi.

– Ahhh – Ela disse. - Ela faz falta, né?

– Muita.

– Mas, ela é uma ingrata – Tenten disse de repente.

– Por que? - Perguntei sem entender.

– Bom... Ela não fez nenhuma tentativa de contato até hoje. - Explicou.

– Nós também não. – Falei.

– Mas, pelo menos nós pensamos em invadir a Ala Sul.

– Talvez ela também tenha pensado em algo assim e não teve como.

– Não a defenda... Ela é um ser sobre natural com certeza poderia ter entrado em contato conosco telepaticamente.

– Tenten – Disse. – Acho que os poderes dela não estão a este nível.

– O que você sabe sobre o nível dos poderes dela? – Perguntou-me irritada.

– Nada. – Confessei. – Mas, porque toda essa revolta contra ela? –Perguntei.

– Não estou revoltada..

Não falei só arquei as sobrancelhas em um claro sinal de dúvida.

– Tudo bem... -Tenten disse fazendo careta. – Mas, você não pode negar que seria bem mais fácil para ela entrar contato conosco do que nós com ela.

– Talvez.

–Preciso que se encontre comigo hoje a noite no jardim.

– Para quê? – perguntei curiosa.

– Te conto na hora.

– Tenten.... – chamei-a desconfiada.

– Você vai?

– Bom, se o Sasuke aparecer vai ser um pouco difícil, mas, prometo que se ele não aparecer até as oito eu vou.

– Ótimo!

– Mas o que você pretende?

– Já disse que te conto a noite.

– Mas...

– Só vista roupas pretas – Ela disse se levantando. – E não se atrase.

~0~


– Droga... – Xinguei enquanto procurava roupas pretas em meu guarda-roupa.
Eu quase não possuía nenhuma.

Somente roupas em tons claros.

E não era por que não gostava de preto. Na realidade eu gostava muito, mas, é que quase nunca era eu que escolhia minhas roupas.

Minha mãe sempre fora muito controladora nessas questões.

Eu posso me lembrar perfeitamente dela dizendo:

“Flores querem dizer suavidade e pureza, o preto não combina com elas”

Claro que eu também sabia que minha mãe podia ser muito brega as vezes.

– Ótimo! - Exclamei quando achei bem no fundo do guarda roupa uma calça jeans preta e uma blusa de mangas compridas na mesma cor.

As vesti rapidamente não me importando muito com o fato de que estavam um pouco amarrotadas.

Fiz uma trança francesa em meus cabelos e coloquei minhas botas pretas.

Quando me olhei no espelho me senti uma gótica.

Gostei.

Olhei o relógio marcando 20:15 da noite. Eu estava atrasada.

Sai pela janela utilizando a arvore, mas, não antes de trancar a porta do quarto.

Tive que tomar muito cuidado para que os monitores não me vissem.

Quando finalmente consegui encontrar Tenten no jardim ela estava irritada.

– Porque demorou tanto?

– Havia monitores.

– Você é a única que tem problemas para passar por eles. – Disse-me irônica.

– Eu não tenho superpoderes como você – Brinquei. - Onde vamos?

Ela virou-se, e com a expressão mais inocente do mundo disse.

– Para Ala Sul.


Continua...