The Soul escrita por CaahOShea, Bellah102


Capítulo 7
Finalizada


Notas iniciais do capítulo

Ei! Mais um capítulo fresquinho em The Soul! * comemora*
Esse capítulo não existia na versão anterior, como algumas das leitoras que acompanharam anteriormente vão perceber. É que eu dividi o anterior em dois, então, tem cenas inéditas e fresquinhas nesse para vocês!
Sem mais, boa leitura!

Trecho+link da música do capítulo:

♫ Don't Cry _ Gun's Roses ♫

Fale comigo suavemente
Há algo nos seus olhos
Não abaixe sua cabeça de tristeza
E, por favor, não chore

Sei como você se sente por dentro
Já passei por isso antes
Algo está mudando dentro de você
E você não sabe

Não chore esta noite
Eu ainda amo você, querida
Não chore esta noite
Fale comigo suavemente
Há algo nos seus olhos
Não abaixe sua cabeça de tristeza
E, por favor, não chore

Sei como você se sente por dentro
Já passei por isso antes
Algo está mudando dentro de você
E você não sabe

Não chore esta noite
Eu ainda amo você, querida
Não chore esta noite

♫♫♫♫♫

http://letras.mus.br/guns-n-roses/17093/traducao.html



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Capítulo 7

Finalizada

Estávamos sendo seguidos.

Essa constatação fez com que meu corpo congelasse e meu sangue virasse gelo fazendo meus ossos doerem. E então as luzes azul e vermelha de repente se acenderam na noite escura atrás de nós. Elas refletiram em todos os espelhos, pontos brilhantes por todo o lado, o teto, os bancos, nossos rostos congelados e no painel que mostrava que estávamos dirigindo 15 Km/h acima do limite.

Minhas mãos apertaram com mais força a de Ian, que naquele momento vacilava com seus pés no acelerador fazendo o carro diminuir a velocidade.

Nós tínhamos furado um bloqueio dos Buscadores. E isso chamaria atenção deles. É claro que chamaria. E essa conclusão me fez vacilar, me sentindo a maior tola do universo.

– Pare o veículo no acostamento! Isso é uma patrulha policial. Não vamos machucá-los.

Ordena um dos Buscadores, com a cabeça para fora da janela do veículo, que estava prestar a nos alcançar, enquanto mantinha-o alinhado ao nosso lado direito na pista. Estava a apenas uns trinta metros de distancia e mesmo com a escuridão da noite podia vez uma sombra de longos cabelos ruivos e brilhantes no banco do passageiro. Ela tinha algo nas mãos. Era um radio comunicador. Provavelmente outra Buscadora chamando reforços.

– O que eu faço, agora? Me perdoe, Peg! Me perdoe!

Ian pergunta sua voz falhando agora.

– Continue Ian, não pare.

Minha voz de repente está firme, corajosa.

Ian assentiu a minha ordem e logo volta a acelerar o carro, o vento frio da noite do deserto soprando sobre minha pele branca, fazendo-a se arrepiar.

Se iríamos fazer isso teríamos de fazer a coisa direito. Eu não era uma lutadora nata, e nunca seria, isso fazia parte do ser que eu era. Mas, pela minha família eu era capaz de lutar. Lembranças remotas do dia que Kyle tentou me matar inundaram a minha mente

A sirene dos Buscadores está cada vez mais perto.

Ian parecia em choque demais para fazer outra coisa a não ser suspirar e observar o carro pelo qual estávamos fugindo se aproximar mais e mais de nós. Eu podia ver que ele tentava achar uma solução, um jeito de despistá-los ou fugir, nos esconder no deserto – sem levá-los para os outros. Sem entregar ninguém. Nós estávamos tão perto dos outros agora.

– Parem o veículo, agora!

Gritou a Buscadora de cabelos vermelhos e olhos flamejantes.

– NUNCA!

Ian acelera ainda mais o carro, pisando firme no acelerador fazendo nosso velocímetro alcançar em menos de cinco segundos 110 Km/h, deixando marcas de pneu no asfalto e meu estômago para flutuar agora.

Buscadores eram muito bem treinados. Treinados para não desistirem até que os últimos humanos fossem capturados. O lema deles tinha algo a ver com lutar até alcançar o alvo. Mas esse lema soava melhor na língua dos Morcegos.

Meu pensamento era quase um lamento.

– Eles estão nos alcançando! Merda, merda, merda!

Ian subitamente explodiu, batendo a mão no painel me fazendo pular assustada e meus olhos saltaram ao ver o carro adversário emparelhar com o nosso, forçando-nos em direção ao acostamento e por muito pouco não perdemos o controle na pista.

Um silêncio curto e doloroso se seguiu.

Parecia até mesmo uma corrida. Uma corrida onde os participantes disputam com seus carros velozes e turbinados para alcançar em primeiro lugar a linha de chegada. De certa forma, é uma corrida, mas uma corrida pela nossa sobrevivência.

De repente um estrondo tão alto que deixou meu ouvido zunindo, impedindo que eu conseguisse escutar por alguns segundos. Eu olhei para o rosto de Ian, aterrorizada, seus lábios se abriam e fechavam, mas eu não conseguia escutar o que saiam deles.

Então eu fiz a conexão. Estavam atirando o os constantes estrondos seguidos foram à comprovação disso, e assim que o vidro traseiro do carro em que estávamos se partiu em pedacinhos minúsculos, meu corpo se encolheu contra o banco. E pela primeira vez, uma lembrança antiga do corpo de Pet invadiu minha mente.

Uma lembrança humana.


A luz fraca do abajur estava ligada, criando nas paredes brancas sombras de lindas e coloridas borboletas dançantes. Uma garotinha de uns oito anos estava deitada na cama abraçada ao seu ursinho de pelúcia em forma de um lindo filhote de Husky Siberiano e coberta por sua grossa colcha das Princesas Disney.

– Venha Josefine, com sua máquina voadora, para cima ela vai, para o alto ela vai – Cantava a mulher de longos cabelos ruivos, sentada ao lado da filha, que mantinha olhinhos acinzentados sonolentos.

Fiandeira de Nuvens! A mãe Pet!

Meu coração acelerou com o pensamento.

– Mamãe?

A voz ainda infantil de Pet, ou seja lá quem ela fosse quando humana, soou hesitante fazendo a mãe parar de cantar.

– Sim, amor?

– Nós vamos ficar bem, não é? Os homens maus vão encontrar agente?

A mulher ruiva, que eu não sabia o nome quando humana, estremeceu ao ouvir a pergunta da filha. Aquele era uma pergunta que ela não poderia responder. Não poderia prometer, pois sabia que mais cedo ou mais tarde, acabariam como todos os outros.

Dominados.

Possuídos.

– É claro que vamos ficar bem, meu amor.

Respondeu por fim apertando com força a menina em seus braços quentes, acalentando-a, e logo a menina se aconchegou no colo da mãe soltando um pequeno bocejo.

Então o estrondo alto e gutural no andar de cima cortou o silencio da noite. Mesmo ainda pequena, a garota humana conhecia o som tão peculiar do disparo de uma arma.

Naquele momento sabia que nunca mais veria seu amado pai.

– Peg? Peg? Está me ouvindo?

Novamente a voz de Ian me tirou das minhas lembranças.

– Ian...

Meus olhos estavam marejados.

– Estão atirando Peg, eles estão atirando. Se abaixe! Se abaixe!

Disse Ian com olhos arregalados. Só então tenho a dimensão do estrago. O vidro traseiro no nosso carro espatifado, o porta malas antes intacto e brilhante agora estava repleto de perfurações de balas.

– Isso é comum? Buscadores atiram? Podem nos ferir?

– Eu... Eu... Eu não sei!

Falei agoniada enquanto Ian fazia uma curva em L na Rodovia, ainda sendo seguidos pelo carro dos Buscadores que não pareciam desistir.

Eu me encolho no banco, temendo ser atingida pelos vários disparos.

– Peg, as nossas vidas estão em suas mãos – Ian fala com a voz apreensiva tirando-me da minha letargia – Você tem que atirar.

– O que?!

– Você tem que atirar neles. Tem que atirar neles – Ele completa abrindo o porta luvas do carro e retirando de lá a arma que anteriormente nos salvara na Instalação. Os tiros parecem dar uma trégua. Talvez a munição tivesse acabado. – Não precisa machucá-los. Apenas assustá-los atirando no pneu.

– Eu não consigo, não posso. Não posso.

Nego afastando o objeto de metal gelado de minhas mãos.

– Por favor, Peg... – Ian murmura me encarando com um olhar de suplica. – Eu imagino o quanto isso seja difícil para você, mas, nós vamos morrer ou sermos pegos se não despistá-los agora. É nossa última chance. Eu sei que você consegue! Por mim, por Mel, por Jamie!

Hesitante e com as mãos extremamente trêmulas, pego o metal gelado, sentindo meus pelos se arrepiarem com o toque. As lembranças do dia que o pai biológico de Pet tirou a própria vida voltando a minha mente.

Em todas as minhas vidas, nunca usei uma arma. Não sabia nem ao mesmo como segurá-la corretamente já que elas insistem em escorregar por meus dedos.

– Apenas mire e aperte o gatilho, Peg. Eu confio em você.

A instrução de Ian me deixa mais confiante e de repente eu sou capaz de fazer.

Aspiro o ar com dificuldade na esperança de fazer minhas mãos pararem de tremer enquanto os Buscadores voltam a atirar.

Eu tenho que lutar. Por mim. Por Ian. Pela nossa família. Um pouco mais confiante coloco a cabeça para fora da janela

Mirei a arma no pneu direto do carro deles.

Apenas mire e aperte o gatilho.

Apenas mire e aperte o gatilho.

Apenas mire e aperte o gatilho.

Mesmo com as mãos trêmulas e ao mesmo tempo ágeis, eu consigo apertar o gatilho e novamente o estrondo forte e ensurdecedor corta a noite. Com uma mira certeira à bala acerta o pneu direito do carro adversário. E em câmera lenta eu observo-o rodopiar, os Buscadores gritando enquanto perdiam o controle do volante, acertando um poste de luz com força.

Minha boca se abre num ‘O’ surpreso.

– Peg... – Ian fala meu nome pausadamente – Você conseguiu, conseguiu amor!

Ian parece completamente extasiado. Mas cumprir minha tarefa de nos salvar não trouxe a alegria que eu esperava. Afinal eu não queria machucar ninguém e sabia que aqueles Buscadores precisariam de um Curandeiro encarando com urgência.

Sei como você se sente por dentro

Já passei por isso antes

Algo está mudando dentro de você

E você não sabe

– Acho que sim

Falo com um sorriso de lado um tanto forçado.

Ian pegou minha mão.

– Você foi ótima meu amor, você nos salvou.

Eu não respondi.

De repente, sou tomada por uma ardência aguda abaixo das minhas costelas. Não deveria ser nada demais. Comprimo meus olhos, tentando desviar a minha mente da dor, mas nada parece ser capaz de fazer parar de queimar.

– Você está bem, Peg?

Ian pergunta preocupado, diminuindo a velocidade do carro.

Apenas sou capaz de assentir e sorrir fracamente, voltando a me encostar ao banco. Penso em minha família nos esperando nas cavernas, tentando desviar a dor aguda.

Os minutos pareciam passar tão lentamente e mesmo com pensamentos longe a dor não cede. Abro os olhos lentamente, subindo minha blusa branca até a altura do estômago e de repente tudo parece parar por alguns segundos.

Um pequeno furo arredondado era perfeitamente visível, bem próximo as minhas costelas. A pele em volta do ferimento parecia um amontoado de tecido avermelhado, de onde uma quantidade considerável de sangue vermelho escorria, manchando minha camiseta. Toco o local com a ponta dos dedos soltando um grunhido de dor.

Meus dedos voltaram machados com o meu sangue.

Eu tinha sido baleada.

– Ian! Oh meu Deus!

Grito em desespero, minha voz soando como uma sirene.

Em algum momento durante o tiroteio eu havia sido baleada e nem ao menos tinha notado. Era estranho, mas agora passado alguns minutos, a dor parecia estar num estágio quase insuportável.

– Oh não, oh não. – Ian sibila com a visão do meu ferimento. – Isso está bem feio, Peg. Está perdendo muito sangue.

– Eles me acertaram durante os tiros.

Esclareci tentando soar calma apesar da dor.

Ian fez que sim, tentando manter-se calmo enquanto mantinha a atenção na pista. Mas eu sabia que por dentro ele estava em revulsão. Louco para estacionar o carro e me apertar em seus braços como se pudesse me proteger de todos os perigos.

– Tem que estancar... Ou irá desmaiar – Ele ordena pensando com mais clareza, enquanto o sangue continuava a ensopar minha blusa e também o banco do carro – Eu vou tirar minha blusa e você irá pressioná-la sobre o ferimento, está bem?

Faço que sim com a cabeça, vendo pela minha visão periférica, o vi tirar a própria camisa limpa e entregá-la a mim. Em outros momentos eu poderia até me sentir completamente envergonhada perto dele, enquanto ele estava sem camisa, com o tórax completamente exposto.

Mas não naquele momento.

Eu me contorcia de dor no banco, e agarrei com força o tecido macio, minhas mãos começando a ficar de repente frias e muito suadas enquanto eu apertava o pano em cima do meu ferimento. Eu tentava engolir os outros gritos que eu sentia vindo através da minha garganta.

– Peg, por favor, aguenta firme! – Ian fala com voz embargada acelerando o carro. – Nós vamos chegar a tempo, amor. Aguente. Vamos chegar até Doc.

De repente tudo ficou para trás. A Instalação. A perseguição dos Buscadores. Os tiros. A dor. Ainda podia sentir toda a dor queimar-me lentamente por dentro, mas a escuridão me chamava e não pude resistir, fechando os olhos lentamente.

>>>

Estava amanhecendo, o tom típico alaranjado das luzes solares aparecendo no horizonte quando eu abri meus olhos prateados novamente, completamente aturdidos. Minha voz não parecia querer sair, e notei que ainda estava dentro do carro.

Mas estranhamente, o carro estava parado.

Eu podia sentir meu corpo tremendo de frio, como se as temperaturas altas do deserto tivessem sido reduzidas a –0ºC. A dor insuportável e queimante ainda estava lá nas costelas, me tirando o fôlego quando tentava respirar.

Os braços Ian estavam firmes e apertados de Ian em torno dos meus ombros, Sentia seu peito subir e descer de acordo com a sua respiração pesada, dolorosa. Suas mãos quentes estavam sobre a minha mão gélida apertando sua camisa que agora estava encharcada de sangue vermelho-vivo.

– Já chegamos?

Perguntei desnorteada apertando as mãos de Ian.

– Não, amor. – Ele disse com voz dolorosa – Tivemos um pequeno problema.

– Pro-ble-ma?

Ele suspirou me ajeitando em seus braços.

– O motor do carro, não aguentou a pressão. Ficou sobrecarregado – Ele disse tentando sem sucesso manter o timbre de voz calmo – E agora parou de funcionar, estamos presos aqui, Peg.

– Oh não! – Disse tentando me sentar abruptamente no banco, porém a minha ação teve um efeito nada agradável, me fazendo gemer de dor. – Nós temos que ir para casa, temos que voltar. Temos... Que... Voltar.

– Eu sei, eu sei – Ian disse sua voz saindo ainda mais torturada. – Eu vou cuidar de você Peg, eu prometo. Nós vamos dar um jeito, só não durma.

– Estou com tanto sono.

Murmuro sentindo meus olhos se fecharem. A voz de Ian parecia estar um pouco mais distante e tento manter meus olhos focados em seu rosto e me assusto ao perceber que Ian agora não passava de um vulto. Uma forma embaraçada e distante, apenas identificava seu rosto branquíssimo e o negro do cabelo.

– Oh céus, isso dói!

Choraminguei, meio sem fôlego. Minha cabeça rodou. Eu toquei a costela com minha mão tremula e gemi sentindo liquido quente escorrer pelos meus dedos.

E eu soube o que estava acontecendo, claro que sabia. As forças do meu corpo frágil estavam se esgotando conforme o tempo se arrastava. Afinal, quando sangue eu havia perdido? Nada parecia ser capaz de contê-lo dentro do meu corpo, e a dor lancinante continuava a me castigar.

– Peg, não feche os olhos, fique comigo.

Ian implora, seus lábios em minha testa banhada de suor frio, seu corpo tremendo devido choro preso em sua garganta. Só então percebi que lágrimas salgadas banhavam o meu rosto, fazendo com que pequenos grãos de areia fiquem grudados no meu rosto, agora mais pálido do que costumeiro.

– Está com frio?

Eu penso com dificuldade sobre sua pergunta, tentando me concentrar no meu corpo. Estou trêmula, meus dentes batendo fortemente causando um barulho irritante, fazendo minha cabeça doer. Minha garganta parece seca demais, doendo a cada vez que eu tento engolir para falar.

– Continue pressionando o ferimento, eu vou dar um jeito nisso. Você está tão fria!

Ian fala enxugando as lágrimas intrusas em seu rosto com as costas das mãos. Apenas faço que sim apertando o pano banhado de sangue, tentando prever o que é que Ian irá fazer.

Seus dedos tocam o tecido da minha blusa de forma hesitante, e seus olhos buscaram o meus como se esperando meu consentimento. E então eu soube o que ele faria. O calor que emanava do seu corpo aqueceria o meu, que parecia prestes a entrar em hipotermia, e eu me aqueceria mais rápido se nossas peles se tocassem. Pele com pele.

Ian estava me salvando, pela segunda vez no dia.

Continuarei pensando em você

E nos momentos que tivemos, baby

– Obrigada.

Agradeço num sopro de voz, me sentindo mais quente quando seus braços me apertaram novamente contra si, a parte superior do meu frágil corpo coberta apenas pelo sutiã cor de pele e a calça jeans em minhas pernas sem forças.

Eu suspirei, analisando a situação em que me encontrara. Estamos a quilômetros das cavernas, e se Ian fosse buscar ajuda, provavelmente levaria um logo tempo e eu não sobreviveria até que ele voltasse. O tempo estava contra mim e eu também não tinha forças para a longa distancia que nos esperava.

Só me esperava esperar.

Esperar para viver, para morrer.

– Peg, por favor, não me deixe! Não me deixe!

Seus olhos brilhavam – queimando mais forte do que eu já havia visto – chamas azuis incandescentes, e eu vi ali estampada uma dor que nunca tinha encontrado antes. Somente quando pensei em morrer para devolver o corpo a Melanie. Senti um líquido quente cair sobre o meu rosto. São lágrimas. Ian está chorando – Eu não posso viver sem você.

– Eu te amo, Ian!

Murmuro com muita dificuldade.

– NÃO! Não se entregue! Lute Peg! LUTE!

– Me desculpe... Eu não... Posso... Mais.

Sinto a dor da culpa dilacerando meu coração. Eu o estava deixando. De novo. E dessa vez não é como se fosse uma escolha. Não havia escolhas. E não era bem assim que eu imaginava o meu fim, baleada pelos Buscadores e agonizando de dor. Mas eu estava feliz em morrer pelo minha família, pelos meus humanos.

Eles sofreriam a minha perda, é claro que sofreriam. Mas o tempo iria levando a dor aos poucos e tudo ficaria bem. Todos ficariam bem, como estavam antes de me conhecer.

Quanto tempo mais me resta? Minutos? Algumas horas? Eu realmente não sabia especificar. Meus olhos piscavam contra luz tentando manterem-se abertos. Mas agonizar até o último segundo com certeza não é a melhor forma de partir.

– Eu me lembro como se fosse hoje quando Jeb chegou afobado falando que Melanie tinha voltado, mas que não era uma de nós. – Ele disse com um riso forçado – E me lembro que quando eu vi seus olhos prateados, o odeio que queimou foi tão forte. Mas ele foi se apagando... – Pausou tocando meu rosto gelado – E eu me pergunto como posso amá-la e amá-la a cada dia que nasce e como aquela pequena intrusa, se tornou a minha vida em tão pouco.

– O... Universo... É... Estranho.

Repeti a frase que tínhamos usado ao que parecia muitas vidas atrás.

– O mais estranho de todos, minha Peregrina.

Ian respondeu, sorrindo entre as lágrimas.

E, por favor, lembre-se.

Que eu nunca menti

E, por favor, lembre-se.

De como me senti por dentro, doçura.

– Oh, Ian.

Eu gemi.

– Shh, Shh.

Os dedos de Ian pressionaram os meus lábios me impedindo de prosseguir.

– Ian, por favor... Eu... Preciso... Que... Me... Ouça... Agora. – Falei com a voz quase inaudível apertando suas mãos – Eu não quero agonizar até morrer... Por favor, acabe... Com o meu... Sofrimento.

– Peg... Você não vai morrer... Eu vou buscar ajuda!

Ian disse exaltado.

– Ian, não dá... Tempo. É tarde... Demais. Eu já perdi... Muito sangue. E você sabe... Disso, só há uma coisa a... Fazer – Murmurei devagar e um gemido alto de dor escapa de meus lábios.

– Você não está pensando em...

Murmura numa voz surpresa e cortante.

– Por favor, Ian... Atire... Em mim... Eu não vou... Suportar muito tempo... Está doendo muito... Não me... Deixe... Agonizar!

Suplico sentindo tudo em minha volta girar.

– Não Peg, eu não vou fazer isso. Eu te amo e não vou te matar!

Ian chorava em desespero enquanto abraça meu corpo mole.

– Por favor... – Agora não era mais um choro e sim soluços constantes que escapavam de meus lábios – Me... Livre... Da... Dor.

Essas foram às últimas palavras que consegui pronunciar. Minhas forças se esvaindo e a escuridão tornando a me puxar para ela com carinho.

– Eu te amo. Nunca vou te esquecer! – Ian balbucia e posso ouvir claramente sua respiração rápida, arfante. – Como foi eu vou viver sem você?!

– Você. Será. Muito. Feliz

Puxei o ar com sofreguidão, fechei os olhos logo sem seguida. Eu me sentia como se um trator tivesse passado por cima de mim pelo menos cinquenta vezes. Senti os lábios quentes de Ian tocar os meus, frios e quase inertes. Seus braços fortes me apertaram contra o peito, minha cabeça pousando em seu peito.

Dê-me um sussurro

E dê-me um sinal

Dê-me um beijo antes de

Me dizer adeus

– Você vai sentir dor?

Ian perguntou aos prantos.

Fiz que não.

– Não. – Eu gemi – Eu... Estarei... Livre... Dela.

Ele assentiu enxugando minhas lágrimas e pousando os lábios em minha bochecha. E senti quando o frio novamente assolando meu corpo quando ele nos afastou, apenas alguns centímetros. Eu gemi de dor. Liquido quente escorria pelos meus dedos, e foi aí que eu ouvi o som.

Um som que poderia ser assustador em outra situação, mas para mim era o sinal de alivio. Alivio e Redenção.

O click de uma arma.

– Adeus.

Essa foi à última coisa que pensei.

Não chore esta noite

Existe um paraíso acima de você.


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Notas finais do capítulo

#Momento dramático, peguem os lencinhos.

Como foi difícil escrever esse capítulo!

Nós sabemos, esse foi um momento que ninguém gostaria que tivesse, mas foi necessário. Peg e Ian passarão por uma prova de fogo.

Será que Ian irá realizar o seu pedido?

Será que ela vai sobreviver?

Como eles ficarão?

Superarão as perdas?

Bem, isso só no próximo capítulo.

hehe

Beijos!

Caah e Bella *-*



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