The Soul escrita por CaahOShea, Bellah102


Capítulo 25
Nostalgia


Notas iniciais do capítulo

Oie minhas amoras! Que saudade de vocês! Nossa, eu não aguentava mais de saudade de vocês, de The Soul! =D
Lindas, mil desculpas pela demora em postar esse capítulo, foi uma correria só e o Nyah também entrou em manutenção, mas enfim, estamos de volta!
Uhuuuuuuuuuuuu!
Gente, de coração eu queria agradecer a todas vocês que acompanham a história e um agradecimento especial a PaulaStryder e a JulieB-Stark pelas recomendações LINDAS! Muito obrigada mesmo, vocês nem sabem como eu e a Bella ficamos HIPER felizes com elas!
Bom, sem mais, bora ler? Mais um capítulo fresquinho de The Soul! Boa leitura e até lá em baixo!



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POV. Espectro de Fogo:

Peg e eu estávamos numa das salas da delegacia, fazendo alguns relatórios das nossas últimas buscas em Tucson. Já tinham se passado trinta minutos desde o fim do nosso experiente, mas se não terminássemos aquele relatório, Maya nos faria de picadinho e aquela semana, ela não estava com um humor muito bom.

– TPM - Ian disse zombeteiro. Tempo para matar.

– Como se o humor dela fosse dos melhores.

Lembrei Ian.

– Tenho que concordar com você.– Ian riu Vocês Almas não deveriam ser pacíficos, bondosos e tudo mais, como Peg?

Maya sempre vivia com o rosto fechado, dificilmente sorria. Ordens eram sua especialidade, depois claro, de encontrar humanos resistentes. Por sorte, no tempo que estávamos aqui, nenhuma outra colônia tinha sido encontrada, o que facilitava nosso trabalho. Exceto claro, pelo jovem humano que tínhamos encontrado, já sem vida, num dos becos da cidade enquanto fazíamos uma ronda. Estremeci com a lembrança.

– Bem, a maioria de nós é. Parece que alguns absorveram demais o comportamento humano.- Expliquei

– A parte desprezível dele, pelo visto.

Um silencio constrangedor pairava na sala. Nem eu nem Peg sabíamos como lidar com a situação. Eu sabia que ela sentia uma imensa saudade de Ian e que a minha presença a fazia sofrer ainda mais. Às vezes, eu a pegava me fitando, ansiando que Ian estivesse ali, não eu. Era uma situação delicada, como pisar num terreno instável, porém, tentávamos lidar da melhor forma possível.

– Hum, Espectro... - Peg perguntou cautelosa, quebrando o silencio.- Eu posso te fazer uma pergunta?

– É claro

Respondi, deixando os relatórios de lado.

– Ian... - Disse, hesitante - Como ele está?

Ah sim, Ian.

– Bem, hum, ele... Ele sente muito sua falta. - Disse, sem precisar consultar Ian. - E ele gostaria muito de estar com você, por completo. Ele faz de tudo para se manter presente e está feliz que esteja segura.

Aquela era a primeira conversa que tínhamos sobre tudo o que aconteceu. E meu senso de justiça não me permitiu esconder nada dela. Eu quase podia sentir o riso presunçoso de Ian crescendo. E devido as circunstâncias, eu deveria ser o mensageiro de Ian, que parecia mais confortável e feliz por estar ao lado dela.

– Amolecendo o coração, Espectro?

Brincou, descontraído.

– Apenas sendo justo, companheiro.

Respondi, voltando a encarar Peg. Ela me olhava com o rosto corado, um brilho fora do comum nos olhos. Um brilho que só poderia ser traduzido por esperança. De repente, senti uma ponta de inveja. Ah, como gostaria que um pouquinho daquele amor, mas ele jamais me pertenceria e isso me ajudava a manter o foco e ajudá-los.

– Eu tbm sinto muito a falta dele, a cada segundo do meu dia. Nós sentimos... Não é bebê? – Ela disse baixinho, tocando de leve a barriga - Bom, vamos terminar logo esses relatórios, parceiro?

Apenas assenti, sorrido levemente. Peg puxou novamente os relatórios para mais perto de si, recostando na cadeira, soltando um grunhido baixo de dor.

– O que foi?

Perguntei, alarmado.

– Não foi nada. Apenas o bebê que acertou minhas costelas, está tudo bem. - Me tranquilizou, massageando as costelas com cuidado - Ai, cuidado baby, assim você machuca a mamãe.

Fiz uma careta. Aquilo me parecia um bocado doloroso. Mas eu tinha que admitir, era mágico. A gravidez era mágica aqui. Muito diferente do que era para os da nossa espécie.

– Você deve estar cansada, eu posso terminar os relatórios por aqui. Quer que eu te leve para casa?

Propus, hesitante.

– Oh não, obrigada, eu estou bem. Só preciso de mais um pouco de cafeína para sobreviver por algumas horas.

Brincou, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha. De repente, lembranças da nossa patrulha em Sentinel Peak invadiram minha mente.

Antes que eu pudesse perceber eu me aproximava devagar. Ela desviou seu rosto para mim ainda sorrindo quando nossos lábios se tocaram.

Ela deixou cair os braços e o coelho se colocou de pé assustado e correu para o meio dos espinhos, e Peg retribuiu ao beijo mais e mais profundo. Eu nunca havia sentido nada como aquilo antes, era como estar de volta ao Planeta do Fogo. Fogo, Calor, Lava e Explosões para todo o lado! Meu corpo agradeceu ao beijo como nunca havia feito com nada antes. Ah, fogos de artifício.

– Espectro? – Ouvi a voz de tilintada de Peg me chamar, distante. – Espectro, está me ouvindo?!

– Foco, Espectro! Foco! Não perca o foco!

Ian repreendeu, uma ponta amarga de ciúmes assumindo seu tom de voz.

– Desculpe Peg... Eu me distraí.

– Tudo bem. Pode levar esses relatórios pra Maya?

– Sim, claro. – Falei, pegando os relatórios da mão de Peg. O simples contato com mão de Peg, fez Ian estremecer dentro de mim.

– E... Hum, poderia trazer um daqueles cupcakes da sala de café? – Peg perguntou com uma carinha de pidona que eu não pude resistir. - Eu posso até sentir o gosto deles na boca.

– Claro. Desejo de grávida é? – Perguntei e ela assentiu, acariciando a barriga elevada de seis meses com carinho.

Ian não conseguia parar de sorrir diante da cena, tomado pela vontade de tocar a barriga de Peg. Eu tentava conter suas mãos, pois sabia que isso talvez fosse desconfortável para ela, afinal, por mais que fossem as mãos dele, eu estava aqui agora, fazendo parte do pacote.

– Volto logo, está bem?

Falei fechando a porta e antes de sair, vi Peg bocejar, sonolenta. Com certeza, ela estava cansada. Eu via isso em seus olhos. Ela estava trabalhando demais para uma mulher grávida.

– É tudo minha culpa – Ian disse penalizado – Seu eu não tivesse sido capturado... Ela estaria segura.

Ian, você não tem culpa de nada. – Falei interrompendo-o – Você só quis protegê-los. Proteger sua família.

– Obrigado por nos ajudar, Espectro. Obrigado por protegê-los.– Agradeceu , tomado pela emoção – Você é um bom amigo.

– Não precisa agradecer, proteger vocês se tornou minha missão agora. - Respondi sinceramente– Desculpe por tirá-lo da sua família, Ian. Gostaria de poder mudar as coisas.

– Você não teve culpa de nada, todos somos vitimas. Espero que um dia, essa guerra acabe.

Ian e eu ficamos em silencio depois disso. Ele parecia absorver cada palavra do que tínhamos acabado de conversar. Rumamos em silencio até a sala de Maya, que era a primeira do corredor. Maya – Buscadora Chefe – Dizia a placa pendurada na porta da sala dela.

Estranhamente, a porta estava entre aberta, me fazendo estancar. Maya era sempre cuidadosa, sempre deixava a porta fechada.

– Então, como anda a investigação, docinho? – Ouvi a voz de Spencer perguntar. Spencer é o Delegado Sênior,o único com mais poder que Maya, de acordo com a Hierarquia. Não que as Almas se apegassem a hierarquia, mas, usavam para manter a ordem. – Você me parece um pouco tensa, hum?

– Acho que perdemos alguma coisa nessa história Espectro.– Ian disse, surpreso – Docinho?! Mas que porcaria é essa?!

– A investigação está indo muito bem, querido. Tenho algumas provas guardadas no meu cofre. Incluindo o diário de minha irmã, Lacey. – A voz Maya soou satisfeita – E poderia estar melhor se Austin não tivesse estragado parte do plano. Dá pra acreditar?! Eu dou a ele a oportunidade de continuar humano e ele acaba com um tiro no meio do peito!

Congelei no lugar, estático. Maya continuava com a investigação! O quão perto ela estaria de achar a localização das Cavernas?! Eles estariam perigo agora?!

– Eu não vou desistir Spencer. Não vou desistir enquanto não encontrar aqueles humanos que levaram minha irmã. Não vejo a hora de encontrar aquele esconderijo nojento deles e colocar minhas mãos neles. - Estalou a língua - Será que posso contar com você?

– Claro, querida, sempre.

– Oh oh, isso não me parece nada bom.

Continuei escutando atentamente a conversa sussurrada deles e passei a espionar por uma pequena fresta na porta. Como sempre, Maya estava sentada em sua cadeira giratória. Atrás dela, estava Spencer, que estava com o sorriso de sempre, enquanto distribuía beijos na nuca e nos ombros de Maya, até alcançar finalmente seus lábios. Eles continuaram se beijando, sem ao menos me notar. Eles estavam... Juntos?! Eles eram um casal?!

– Senti sua falta, docinho. Você nunca mais apareceu no meu apartamento. - Resmungou, com uma expressão insatisfeita. Maya revirou os olhos, sem dar importância, puxando-o pela camisa para um novo beijo sôfrego. - Uau, espero que isso queira dizer que também sente a minha falta...

– Eu tenho que ir agora – Maya disse, afastando-o – Agente se fala depois, agora, não deixe ninguém te ver saindo aqui, ok?

Sai dali, atordoado, antes que me vissem.

– Eu acho que temos sérios problemas.

Ian disse, assombrado.

POV Peg:

– Ei Espectro, está tudo bem? – Perguntei alarmada, quando Espectro entrou mais branco que um papel na sala. E nenhum sinal dos meus cupcakes nas mãos.

Ele me encarou, os olhos arregalados e respiração arfante, como se tivesse corrido uma maratona.

– Maya...– Sussurrou ofegante - Ela está investigando, Peg.

– O que?!

– Eu... Ouvi uma conversa entre ela e Spencer... -Pausou, respirando fundo - Ela tem provas Peg. Provas que podem levá-la até sua familia. - Provas?!– Ela falou até do tal espião, Austin! E ela está tentando encontrar as cavernas!

– Oh, não! - Cai na cadeira, sem forças. Meu coração doía de pensar em minha família em perigo. Todos eles corriam risco nas mãos de Maya. Senti meus olhos marejarem - Nós temos que fazer alguma coisa, Espectro.

Ele assentiu, andando de um lado para o outro da sala.

– A sala de Maya... – Ele disse, parecendo pensativo. – As provas estão lá. Temos que encontrá-las e sumir com elas, o mais rápido possível.

– Mas... Espera... Não podemos entrar lá. Ela vai perceber o sumiço das provas. É muito arriscado, entende?

– Não se fizermos direito- Ele disse com um sorriso conspirador – Ela não me viu lá, então, ela não faz ideia que sabemos de alguma coisa. Então, o único suspeito seria... - Pausou, deixando a ideia vaga no ar.

– Spencer, é claro! – Falei boquiaberta – Ele provavelmente é o único que tem a senha do cofre, além de Maya.

– Vem comigo. Eu tenho um plano.

[...]

– Espectro, anda logo com isso, por favor...– Disse baixinho, completamente assustada por ter invadido a sala da minha chefe, e estava prestes a roubá-la. Mas era por um bem maior, por isso tentava ignorar os avisos da minha consciência.

A adrenalina pulsava na minha veia, e meu coração palpitava desenfreado enquanto Espectro tentava abrir o cofre de Maya. Segundo ele, era ali que ela escondia as provas. Para mim, a qualquer momento Maya abriria aquela porta, e nos flagraria roubando suas provas. E então, tudo estaria acabado.

– Senha Incorreta... De Novo. Nunca vamos conseguir abrir esse cofre. – Espectro falou, frustrado. – Só temos mais uma chance. Se errarmos, a senha será bloqueada.

– Tente... Lacey. – Falei nervosamente. Era tão óbvio que chegava a ser cômico, é claro que Maya não colocaria o nome da irmã como senha, não é?

Meio segundo depois, a resposta veio. O cobre finalmente se abriu com um click, revelando um envelope lá dentro.

– Deu certo! – Espectro comemorou, sussurrando – Você é um gênio!

Respirei fundo, aliviada.

– Vem, vamos pegar logo o que precisamos, e sair daqui.

Olhei atentamente para dentro do cofre. Com certeza, Maya escondia muitos segredos ali. Além de uma imponente arma, havia muitos papeis. Relatórios e dossiês desde que ela se tornara Buscadora, e até mesmo alguns jornais antigos. Um deles falava sobre o desaparecimento misteriosos de Almas, dos mais antigos até os mais recentes. Uma das manchetes, destaca o desaparecimento de uma Buscadora e imediatamente reconheci a foto. Era Lacey. Ela estava com o cabelo mais curto do que eu me lembrava, mas ainda sim, aqueles olhos marcantes ainda me faziam estremecer.

– Espectro, olha só... - Sussurrei mostrando a ele a foto. - São anos de investigação aqui!

Ele assentiu, abismado.

No meio de todos os papeis, escondido, tinha o que procurávamos, um pequeno caderno com capa dura, cheio de anotações e informações que vinham desde que eu fui inserida no corpo de Mel. A última peça do quebra cabeça para Maya. Aquele era o diário de Lacey, quando era Buscadora. Com todas aquelas informações, ela iria juntas as peças que faltam, e encontraria as cavernas, antes mesmo que nos déssemos conta.

– Espero que isso dê certo. – Sussurrei baixinho.

– Peg, veja isso... – Espectro chamou, mostrando uma folha amarelada, castigada pelo tempo. Mesmo eu um milhão de anos, eu reconheceria aquela foto. O mapa oculto. Era a foto deixada por tio Jeb, com o mapa que Mel e eu usamos para encontrar Jamie e Jared.

Arfei, surpresa. Ela estava a um passo de descobrir a localização da minha família. Senti o meu bebê se agitar dentro de mim, sentindo também o meu nervosismo.

Mel, Jamie, Benji, Jared, Tio Jeb, Doc. Todos eles corriam perigo se Maya decifrasse o mapa oculto naquela foto. Um barulho diferente interrompeu meus devaneios. Oh oh não, agora não! Alguém estava girando a maçaneta da porta, prestes a entrar no escritório.

Espectro engoliu seco, e olhou em minha direção querendo dizer algo, porém não entendi. Eu estava em pânico. Se Maya entrasse por aquela porta, estaria tudo perdido.

De repente, senti Espectro me puxar suavemente para mais perto dele, o mais perto que a minha barriga de grávida permitia, e no minuto seguinte, seus lábios estavam sobre os meus, num beijo lento e caloroso.

Eu resisti empurrando-o pra longe de mim, tentando empurrá-lo com os braços, me perguntando o motivo para ele ter cometido essa loucura pela segunda vez. Mas foi apenas quando consegui me desvencilhar dele, que entendi o motivo.

Ainda próxima a porta, Alicia, a secretária, nos encarava com os olhos arregalados, tampando a mão com a boca, como se estivesse prestes a gritar. Eu perdi a fala, sem saber o que dizer. Ótimo, agora ela pensaria que estávamos aos amassos na sala de Maya.

– Céus, Espectro! Pet! - Levou as mãos aos olhos, tampando-os – Me desculpe, eu não queria interromper. Eu, hum, estou saindo. – Disse, completamente, sem graça, saindo feito um furacão da Sala.

– Essa. Foi. Por. Pouco. – Falei ainda com as mãos tremulas. – Por que não fechou a porta?!

– Droga, me desculpe. Eu pensei que tivesse trancado a porta. - Disse, claramente nervoso. E me desculpe também pelo... Beijo. - Suspirou - Foi ideia do Ian.

Franzi o cenho. Será?

– Tudo bem, agora, vamos dar o fora daqui. – Disse, recolhendo todas as provas.

Tinha sido por um fio, mas tínhamos conseguido. Claro, depois teríamos que nos explicar pra Alicia, mas aquilo não importava no momento. Minha família estava segura de novo e é isso que importa.

– Obrigada Espectro... Obrigada me ajudar a proteger minha família.

# Horas Depois#

POV. Peg:

Bocejei novamente, completamente esgotada. Meu filho havia se aquietado fazia algum tempo, provavelmente dormindo dentro de mim. Sorte a dele, não tinha nenhum relatório para terminar. Eu estava esperando Finny vir me buscar enquanto terminava meus deveres. Tomei mais um gole do meu café que já estava gelado e suspirei, anotando tudo o que fizera o dia todo, o que vira entre outras coisas que Maya insistia em ter no arquivo. Estava tão cansada que sentia que ia cair em cima dos papéis a qualquer momento. E ainda havia o beijo que Espectro tinha me dado mais cedo. Eu não sei, mas... Não parecia algo que fosse ideia de Ian. Mas eu não tinha como descobrir de qualquer maneira.

Era só que... Fora diferente do que no dia que Maya descobriu e era mais parecido com o beijo em Sentinel Peak... Ouvi um barulho nos fundos, onde ficavam as mesas com os computadores. Será que Alicia tinha esquecido alguma coisa quando saíra duas horas atrás? Levantei-me e fui com cautela até a sala dos fundos. De início tudo parecia bem. As luzes estavam apagadas e os computadores desligados. Os ventiladores estavam ligados para que não cozinhássemos no dia seguinte e as portas escancaradas... As portas o que?! Foi então que eu vi. Um vulto curvado sobre um computador ligado. Quando ele levantou os olhos para mim, não havia reflexo algum. Ele era humano.

POV. Espectro de Fogo

–Não acredito que esqueceu o casaco na delegacia. Quantos anos você tem? Seis?

–Desculpa está bem? Não foi minha culpa.

–Eu sei. Estava distraído demais pensando em beijar a mulher dos outros para lembrar do casaco. Eu quero dormir Espectro, meu corpo está cansado.

–Está bem! Só vou pegar o casaco e vamos para casa!

Entrei na delegacia completamente apagada. Na sala de conferência ainda tinha uma luz acesa, o que estranhei. A delegacia devia estar fechada havia horas, quem mais estaria ali? Fui até a sala onde eu e Peg havíamos passado a tarde trabalhando nos nossos relatórios. Havia um único abajur aceso sobre a mesa onde papeis de formulário estavam espalhadas e empilhadas ao acaso. Passei os olhos por tudo e olhei a capa do relatório em que uma caneca de café repousava já gelada.

Buscadora Pétalas Abertas para a Lua.

–Peg?

Foi quando eu ouvi o barulho nos fundos na sala dos computadores. Ian disparou na minha cabeça, desesperando-se, pensando em tudo em tudo de ruim que podia estar acontecendo naquela na sala naquele instante. Corri o mais rápido que pude, abrindo com um estrondo as portas duplas no fim do corredor. Havia um homem de pé e eu peguei sua frase no meio.

Peg estava parada no meio da sala, entre mim e o homem estranho, parecendo paralisada de medo. Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, o homem foi mais rápido, chegando a ela antes de mim, prendendo seu pescoço com uma chave de braço e os braços atrás das costas, virando-a para mim, tirando do bolso algo preto.

O primeiro impulso de Ian foi levantar os braços até a cabeça em um gesto de redenção. Eu estava completamente paralisado. Aquele homem estava seriamente apontando uma arma para a cabeça de Peg? Matá-la? Acabar com tudo o que ela um dia fora sem ao menos conhecê-la? Como alguém podia ao menos pensar nisso. Involuntariamente, o controle passou para Ian que parecia tentar se manter frio, traçando milhares de planos na nossa cabeça.

–Calma... Calma, cara. Ela é humana. Não vai querer ferir alguém da sua própria raça não é?

–Minha raça nada, seu demônio! Essa linda menina um dia foi da minha raça, e aposto que ela adoraria que eu atirasse nela para livrar-se desse ser que a está possuindo, não é verdade querida?

Ela fez que não, sufocada pela dobra do cotovelo do homem, respirando profundamente, lutando para permanecer calma.

–Peg, você está bem? - Ian perguntou, dando um passo a frente. O homem deu um passo atrás e pressionou mais o revólver contra a cabeça de Peg, deixando a pele macia marcada pelo vermelho. Ela gemeu assustada.

–Claro que não, Espectro! Ele está com uma arma apontada para a minha cabeça!

Exclamou exasperada.

–Olha cara, é o seguinte. As câmeras desse lugar estão todas desligadas, e a porta de trás está aberta. Minha parceira está grávida, por favor, não faça nada a ela.

Ian tentou dar mais um passo a frente e o homem arrastou Peg para trás novamente, apertando com mais força ao redor de seu pescoço o braço dobrado.

–Não se aproxime!

Peg estava tremendo. “Não tenha medo Peg, Pensou Ian, Não tenha medo, vai ficar tudo bem”.

–Está bem. Quer que eu vá embora? Eu vou. Juro que vou. Vou passar por aquela porta, você a prende no armário e vai embora. Eu volto em meia hora, a tiro de lá, e esqueceremos que você existe, para sempre. O que acha?

O homem pensou um pouco e balançou a cabeça afirmativamente, dando mais um passo para trás. Ian, ainda com os braços acima da cabeça foi indo para trás devagar. Retomei o controle do meu corpo no ato.

“-Como pode pensar em abandoná-la Romeu? Não era você que a amava acima de tudo?!”

Perguntei inconformado. O humano pareceu ficar mais alerta aos meus movimentos.

“-Nunca duvide disso, Alma! Agora devolva meu corpo, eu sei o que estou fazendo.”

“-Não!”

“-Espectro, estamos jogando um jogo perigoso aqui, esse cara não é nosso amigo. Ele vai matar Peg se dermos chance a ele. Agora faça o que eu digo e tire esse traseiro da sala.”

Peg olhava diretamente para os meus – Nossos – olhos, pedindo que ficássemos, pedindo, ou melhor dizendo, implorando por ajuda. Mas não podia arriscar, nisso Ian estava certo, aquele homem não era confiável. Com o esforço que recolhi do meu âmago mais profundo, dei mais dois passos para trás, cada vez mais longe de Peg.

–Me desculpe.

Precisei murmurar antes de passar pelas portas brancas.

“-Você fez o certo. Agora, novidade, Peg não vai ficar em um armário por meia-hora enquanto Ian O’Shea estiver no caso. Agora ouça exatamente o que nós vamos fazer...”

POV. Peg:

Ian havia me deixado. Espectro de Fogo havia me deixado. Ambos haviam me deixado. Eu não conseguia conceber tal ideia. Aonde iriam enquanto eu ficaria trancada em um armário? Comer um hambúrguer e depois vir me resgatar? Era bom que trouxessem fritas! Por alguns segundos depois da sua partida, a sala ficou em silêncio quase completo, exceto pelos antigos e barulhentos ventiladores de ferro enferrujados.

–Seu amigo foi... Nobre?

–Ele não é meu amigo.

Respondi com rispidez, com os olhos brilhando com as lágrimas.

–Ah não? Você está grávida dele. Se ele não é seu amigo é o que?

–Ele está invadindo o amor da minha vida. Ele não é meu amigo. - Disse, certa de que Ian não estava presente quando seu corpo abandonou a sala, e eu não podia perdoar Espectro por isso, e mesmo que ele não estivesse ali, queria deixar aquilo claro.

–Espere um pouco... Se uma Alma invadiu o amor da sua vida, ele é um...

–Humano, eu sei. – Disse fungando – Loucura, não é?

Eu não sabia porque estava contando aquilo àquele homem. Talvez fosse para ajudá-lo a sentir-se melhor quanto ao mundo, talvez por um sentido cármico, se eu fizesse algo legal para ele, ele faria algo assim para mim, ou talvez fosse a minha impressão de que ele não me trancaria em armário algum e que quando Espectro voltasse em meia hora seria tarde demais. O homem atrás de mim riu e com a mão que segurou o revólver me empurrou ao chão, tirando o braço com o qual prendia meu pescoço. Caí de joelhos no ladrilho e trinquei os dentes de dor, levando a mão à barriga, que havia acrescentado mais peso à minha queda. Sentei-me o mais rápido que pude, levantando os olhos para ele, que apontava a arma direto para a minha cabeça como um sádico.

–Parece que a humana dentro de você te pregou uma peça muito maldosa...

–Não há nenhuma...

–Não sei como ela não está se contorcendo de ciúmes dentro de você. Eu estaria...

–NÃO HÁ NENHUMA ELA! EU O AMO, ENTENDEU?! EU! - Gritei a ele, que riu novamente, como se eu contasse algum tipo de piada.

–É uma pena ter que acabar com uma história tão... Bonita.

Eu estava certa, pensei balançando a cabeça afirmativamente. Envolvi os braços em torno de mim mesma, envolvendo meu bebê, que jamais sairia dali.

–Apenas... Vá rápido. Já fiquei agonizando com um tiro e não é agradável.

–Vou dar o meu melhor tiro.

Fiz que sim e fechei os olhos esperando o fim. Não devia ser muito diferente do que naquela noite no carro com Ian, mas dessa vez eu não estaria distraída, e nem agonizaria. Não precisaria dizer que o amava como se me despedisse, nem pronunciar minhas últimas palavras. Tudo o que eu era e representava acabava ali. Era quase um alivio poder sentar, respirar e pensar que havia acabado. Apesar de todas as maravilhas que encontrei na minha ultima vida humana, as coisas ruins nos cansavam rápido. Eu me sentia idosa, com o peso do tempo caindo sobre os ombros enquanto esperava até o estrondo final, revendo tudo o que eu fizera. Todos os planos, sorrisos e beijos que eu e Ian demos antes de tudo... Antes de Espectro e Cassie e tudo o mais... Tanta felicidade... Tudo para acabar ali... Eu só queria ter salvado Ian antes.

O tiro estava demorando. Abri um olho, e depois o outro e encontrei Espectro segurando o homem exatamente como ele me segurava alguns momentos atrás, e dessa vez, Espectro era quem tinha a arma. A chave de braço estava tão apertada que o homem mal conseguia falar. Espectro o arrastou até as portas brancas dos fundos e desapareceu. Por alguns segundos mal consegui me mover, e por fim, levei as mãos à boca maravilhada. Eu e meu filho tínhamos mais uma chance de salvar Ian!

POV. Ian:

Quando arrastei o homem longe o bastante da Delegacia, joguei-o no chão e bati em sua cabeça com o revólver. Com a força da minha raiva quando o vira apontar aquela mesma maldita arma para Peg eu retomara o meu corpo, e Espectro não fizera nenhuma objeção, tendo em vista que ele não fazia a mínima ideia do que fazer. O homem caiu no chão com estrondo, espalhando a areia branca por todo o lado.

–Ian, pare com isso. - Disse Espectro usando a minha boca. Ele podia retomar o controle quando quisesse, pensei com desgosto.

–Ele a machucou Espectro, ele a machucou e vai pagar.

–Não é assim que as coisas funcionam... - Ele disse novamente.

O homem olhou para mim assustado, sem entender o que se passava dentro de mim. Amaldiçoei Espectro por estar certo. Abri o pente da arma e tirei as balas. Joguei o revólver no chão e encarei bem nos olhos negros do homem à minha frente.

–Suma.

Virei e voltei a andar na direção da Delegacia. Em alguma parte do caminho, Espectro retomou o controle. Eu estava muito cansado. Só queria saber que Peg estava bem, pegar a droga do casaco e ir para casa ter o merecido descanso. Passamos pelas portas, duplas e Peg ainda estava no chão onde a tínhamos deixado, sentada sobre os joelhos dobrados, as mãos sobre a barriga elevada, porém agora as lágrimas se permitiam cair. Espectro foi até ela e se ajoelhou ao seu lado.

–Você está bem?

Ela levantou os olhos brilhantes de lágrimas para nós sem dizer uma só palavra, como se estivessem congeladas em sua garganta. As mãos não saíram de cima da barriga.

–O bebê está bem? Está doendo em algum lugar?

Ainda sem dizer nada, ela passou as mãos ao redor do pescoço dele e desatou a soluçar. Ele a abraçou e acariciou as costas dela também sem dizer nada.

–Vem, eu te levou para casa.

Ele disse erguendo o peso dela e do bebê nos braços. No caminho passamos na sala de reuniões, desligamos as luzes e pegamos o Benedito do casaco. Quando colocamos Peg deitada no banco de trás ela se enrolou feito uma bolinha e fechou os olhos, ficando quietinha até o fim da viagem até a casa da “mãe”.

# Meses Depois #

– É melhor você esperar a chuva passar. – Disse Sophia, enquanto eu olhava distraidamente o temporal cair. As árvores eram chicoteadas pelo vento forte e intenso, que lutava junto à chuva. Suspirei, cansada.

92 dias. 92 dias tinham sem passado desde que eu tinha encontrado Mel e minha querida família. Aquela situação estava se tornado cada dia mais insustentável pra mim, como uma bomba atômica, prestes a explodir. A cada dia que passa, sinto que tudo está prestes a ruir, que logo todos descobririam a verdade e seria o meu fim.

Minha gravidez já está avançada e logo chegaria a hora do parto. Não poderia adiar por muito tempo. Minha barriga está a cada dia mais elevada, até mesmo pra uma gestação de oito meses e dois dias. Agora, até mesmo uma simples caminhada pra mim parece um desafio, e meus pés vivem inchados e muito doloridos. E a falta de Ian, tornava as coisas ainda mais difíceis. Por mais que nos vemos todos os dias, eu sei que continuamos duramente separados por Espectro. Como eu queria ter Ian do meu lado, sentindo nosso filho chutar, realizando meus desejos de grávida, escolhendo o nome do nosso bebê.

Quando dei por mim, eu já estava chorando. Aquele seria mais um dia, sem Ian.

Estou tão cansada de estar aqui

Reprimida por todos os meus medos infantis

E se você tiver que ir, eu desejo que você vá logo

Pois sua presença ainda permanece aqui;

– Ei, por favor, Peg, não chore. – Ouvi Sophia murmurar baixinho, sentando-se ao meu lado no sofá. Ela sorriu fracamente pra mim e enxugou com a ponta dedos as lágrimas que insistiam em cair.

– Eu não aguento mais Sophia – Desabafei reprimindo os soluços – Não aguento mais fingir. Não aguento mais ver uma alma tomando conta do corpo de Ian. Não aguento mais ter que sorrir, quando na verdade, o que eu quero é acabar com tudo isso e voltar pra casa.

– Peg... Eu sei que você está cansada e como deve ser difícil pra você toda essa situação. Eu entendo. Mas você não pode entregar os pontos agora! – Sophia disse segurando meu rosto para que eu pudesse encará-la. Deparei-me com seus olhos me olhando compassivamente. Seus olhos Neve, Safira, Meia Noite, mas ainda sim, com resquício de alma. – Pense em Ian. Pense no seu filho, no meu sobrinho. Eles precisam de você mais do que nunca.

– Eu sei. Eu sei. Mas às vezes tenho a impressão que não vou aguentar.

Essas feridas parecem não querer cicatrizar

Essa dor é muito real

Isso é simplesmente muito mais do que o tempo pode apagar

– Sabe Peg, a minha mãe... Quer dizer, a mãe de Sophia sempre costumava dizer que '' Por mais difícil que seja o caminho e por mais escura que seja à noite, um novo dia sempre surge para que possamos seguir em frente’’. Vai ficar tudo bem Peg, tenho certeza que logo tudo vai voltar ao normal. Acredite.

Mordi o lábio inferior, tentando conter as lágrimas e os soluços que brotavam na minha garganta. E foi naquele momento, que uma lembrança invadiu minha mente.



‘’ Estávamps há alguns dias em Incursão e naquela noite, decidimos passar a noite em um Hotel.

Outra vez eu olho para o relógio ao lado da mesinha de cabeceira que está ao lado da cama. 02h15min da manhã. Parece que o tempo estava custando a passar. Eu saí da cama, não que eu estivesse muito nela, afinal Ian estava todo esparramado, dormindo profundamente, como sempre.

Na frente da janela, eu posso ver a grande e bonita lua cheia no céu, ela ilumina o quarto inteiro. Tão linda, tão romântica e tão enigmática.

Eu estava tão absorta em meus pensamentos que quase gritei de susto quando mãos me entrelaçaram pela cintura. Mas logo reconheci pelo perfume. Era Ian.

– Amor, que susto! - Falei sentindo meu coração pular no peito – Pensei que estivesse dormindo.

– Perdi o sono – Ele disse casualmente me dando um beijo na bochecha – E você? Por que não está dormindo? Eu não estava ocupando muito espaço, estava? Eu derrubei você da cama?

– Não. Eu estou um pouco sem sono. - Respondi sem desviar meu olhar da lua.

– Está uma noite linda hoje – Ele sussurrou no meu ouvido, fazendo os pelinhos do meu braço se arrepiar. Depois, ficamos ali, minutos a fio apenas observando a lua. E foi ai que algo brilhante cortou o céu, no pegando de surpresa. Uma estrela cadente.

– Olha Peg, uma estrela cadente! Faça um pedido amor.

– Ian... Eu não sei se acredito muito nessas coisas sabe. Será mesmo que dá certo?

– Sabe, quando Kyle e eu éramos pequenos, a minha mãe sempre costumava dizer que sempre devíamos ter fé, acreditar. Ela sempre dizia que ‘’ por mais difícil que seja o caminho e por mais escura que seja à noite, um novo dia sempre surge para que possamos seguir em frente’’.

Talvez Ian tivesse razão. Então, fechei os olhos e fiz meu pedido, torcendo para que ele fosse finalmente atendido.

Quando abri os olhos, Ian estava de olhos fechados, fazendo seu pedido.

– O que você pediu Ian? – Perguntei curiosa.

– Quer mesmo saber? – Ele perguntou franzindo o cenho. Eu assenti. – Eu pedi pra passar o resto da vida minha ao seu lado Peg, até o meu último suspiro. ‘’

– Peg?

Ouvi a voz de Sophia me chamar, me tirando dos meus devaneios.

– Sim.

– Eu acho que tenho uma coisa que pode ajudar! – Ela disse sorrindo – Espera aqui um pouquinho, eu já volto.

Sophia me deixou sozinha por alguns minutos. Suspirei, enterrando meu rosto em minhas mãos. Eu me sentia esgotava, tanto mentalmente, como fisicamente.

Ela não demorou muito a voltar, e logo se sentou ao meu lado. E para minha surpresa, ela tinha algo nas mãos.

– O que é isso? – Perguntei franzindo o cenho.

– É um álbum de fotografias. Acho que você vai gostar de ver. – Ela disse me estendo o álbum de fotografias que parecia castigado pelo tempo. Pelo visto, ele devia pertencer a Sophia, irmã de Ian, e por algum motivo ela não conseguira se desfazer dele.

Curiosa, comecei a folhear uma a uma as fotos do álbum e logo percebi que o meu palpite estava certo. Era mesmo um álbum de antes de Invasão. Nele tinha fotos de Sophia, Kyle e Ian pequenos. Sorri ao ver uma foto em que os três estavam vestidos para uma festa a fantasia. Ian estava com uma fantasia de Peter Pan. Muito fofa, mas ele não parecia estar muito a fim de tirar aquela foto, estava emburrado. Ele devia ter uns seis anos, a idade da Allie.

Congelei no lugar quando vi a última foto. Era uma foto de Sophia, e ela estava abraçada com um homem que eu não conhecia e...Grávida! Estava com uma linda barriguinha de quatro meses. Em volta dela, havia várias roupinhas de bebê; Olhei a data da foto. Era de sete anos atrás.

– Sophia... Você... Espera... Você tem um filho? - Falei boquiaberta.

– A minha hospedeira... Sophia... Tinha uma filha, na verdade. Hoje ela completa sete anos. – Ela disse parecendo triste. – Sabe, ela sente muita falta da filha, desde que... Ela não á vê desde que eu fui... Inserida.

– Então... Você não sabe o que aconteceu com ela? – Perguntei e ela negou. Então, ela me contou toda a história de Sophia. Depois de ter se casado, ele se mudou para Washington com o marido. E não muito tempo depois, a Invasão começou. Ele e o marido conseguiram escapar e logo ela descobriu que estava grávida. Quando estava com oito meses de gravidez o marido dela, John, foi capturado e nunca mais voltou. Ela teve que dar a luz a uma menina, sozinha numa noite em uma casa que havia sido abandonada pelos antigos donos.

Sophia e a filha conseguiram escapar das almas por seis anos. Até que um dia, num pequeno Hotel de estrada, elas foram encurraladas por Buscadores. Numa última tentativa desesperada, ela colocou a garotinha em uma tubulação embaixo da cama e... Sophia não conseguiu escapar dos Buscadores.

Quando Sophia terminou de relatar os acontecimentos, foi com se uma luz tivesse acendido em minha mente. Então, Ian tinha uma sobrinha... Uma sobrinha que agora tinha sete anos... E... Espera! Allie! Allie deve ser a filha de Sophia, a sobrinha de Ian! Agora tudo se encaixara perfeitamente! Por isso a semelhança nítida entre eles!

– Sophia, qual o nome da garotinha? – Perguntei com meu sangue pulsando de curiosidade.

– Allie. Por quê?

– Sophia, olha, eu nem sei como começar...

– Pelo começo oras! Fala logo Peg, está me deixando nervosa.

– Allie está viva! E está bem! Ela está lá nas Cavernas!

– O que? Isso é verdade?

– É sim. Ela está segura lá e se a Sophia quiser, podemos voltar juntas para lá.

– Ela disse que sim. E que está morrendo de saudades da filha. – Sophia disse sorrindo, dava pra ver que ela estava numa conversa interna com a irmã de Ian.

– Sophia – Chamei baixinho enquanto ela parecia distraída revendo o álbum de fotos.

– Sim Peg.

– Sabe, logo vai chegar a hora do meu filho nascer e eu não quero dar a luz a ela ou ele aqui sabe. Se Maya desconfiar por um milésimo de segundo que esse filho é de Ian, está tudo perdido... Então... Acho que está na hora de... Voltar. E trazer se irmão de volta.

– Mas Peg... Como Curandeira eu diria que é muito arriscado pra você agora. Você está de oito meses. Acho melhor esperar o bebê nascer.

– E arriscar a vida do meu filho? Arriscar cair nas garras de Maya? Não mesmo. Vamos trazer Ian de volta agora, e eu já tenho um plano! – Falei decidida – Posso contar com você?

– Qual o plano?

Quando você gritou eu lutei contra todos os seus medos

Eu segurei a sua mão por todos esses anos

Mas você ainda tem tudo de mim

POV. Espectro de Fogo.

– Bom dia, cidade de Tucson! São exatamente seis da manhã e para muitas pessoas o dia começa a-go-ra !O radialista dizia, me fazendo dar um pulo da cama. Dei um tapa no rádio, enquanto me recompunha do susto. Ele desligou instantaneamente. Levantei preguiçosamente da cama, já que uma garoa fina e preguiçosa caia na cidade.

– Bom dia Ian – Falei, percebendo que Ian também estava acordado. Ele não respondeu. – Até quando vai ficar nesse tratamento de silencio hein, dá pra me falar?

– Até você me levar até Peg! – Ele falou, objetivo – Será que você não entende? EU a amo! Ela está grávida! Está esperando um filho, o MEU filho!

– Pode tirar o seu cavalinho da chuva por que eu não vou fazer isso! E você não vai me convencer, ok?

– UGH! Eu te odeio!

– É uma pena, por que eu até me simpatizo com você!

De repente, senti uma tristeza profunda emanar de Ian. Ele voltou a ficar em silencio absoluto, muito distante em seus pensamentos. Não demorou muito e lágrimas salgadas escorriam pelos meus olhos. Mas não eram minhas lágrimas. Eram lágrimas dele.

Ele sentia mesmo muita falta dela. 24 horas por dia, era ela que ocupava seus pensamentos. E, ele se sentia sozinho, perdido, desamparado e sem esperanças. Tentei vasculhar sua mente, tentando descobrir o que mais ele estaria pensando, mas ele bloqueou. Ele colocou uma forte barreira entre nós dois.

– Me deixa em paz! Eu quero ficar sozinho! – Ele falou, jogando milhares de flashes de Peg. Mil golpes do sorriso dela, seus olhos, seus lábios nos meus, suas mão na minha pele...

– Ian, olha ,desculpa. Ok? Mas você tem que me entender.

– Por favor, me deixa pelo menos tentar! Eu sei que vamos conseguir. Eu quero voltar pra Peg. Sabe que logo o meu filho vai nascer. Não temos muito tempo. E... Despois do que aconteceu na Delegacia... Ela quase morreu Espectro, ela quase morreu por MINHA culpa!

– Tenho medo. Eu gosto daqui. Gosto muito da minha vida na Terra. Não quero acabar indo pra outro planeta, ou morrendo... E se a sua colônia não me aceitar?

– Se trabalharmos juntos, não tem como dar errado. Mas você tem que me ajudar.- Ele falou e senti uma ponta de esperança nascer dentro dele – Olha, depois que tudo se resolver, agente pode encontrar um outro corpo pra você! Você pode morar com agente, nas Cavernas... Assim como Peg, Sunny... Mas temos que por um fim nisso, e logo!

– Ok, eu prometo pensar nisso.Mas agora, podemos tomar nosso café da manhã? Estou faminto! – Falei, caminhando em direção à cozinha do apartamento.



POV. Peg:

Meu coração batia descompassado à medida que nos aproximávamos do endereço marcado. Então, Sophia estacionou o carro silenciosamente na frente de um enorme prédio residencial, no Centro da cidade.

– Chegamos Peg! É aqui! – Ela falou, animada.

– Estou tão nervosa Sophia. Tenho medo que esse plano dê errado. – Falei sentindo gotas salgadas caírem sobre meu rosto. Aquela talvez fosse à única chance. A única chance de ter meu Ian de volta, e se alguma coisa desse errado, eu podia nunca, nunca mais vê-lo novamente. Era assustador pensar nessa possibilidade, mas se algo desse errado teria que dar adeus ao meu amor, ao meu marido e pai do meu filho. Acariciei carinhosamente minha barriga com as mãos trêmulas. Meu bebê chutou na minha barriga, deixando claro que ele também não gostava daquilo.

– Vai dar tudo certo, Peg. Confie em mim. Eu só vou sair daquele apartamento se Ian estiver comigo, ok? – Ela falou, enxugando minhas lágrimas – Agora se acalme. Nervosismo faz mal ao bebê.

Eu assenti, tentando me acalmar. Sophia se olhou no espelho pela ultima vez, colocando óculos escuros, e prendendo o cabelo num coque, para evitar se reconhecida por alguém que talvez a conhecesse. Ela apertou minha mão, me animando e saiu do carro, fechando a porta, e indo em direção ao prédio.

Eu estava tensa, e muito apreensiva. Estava sozinha no carro, esperando que naquela manhã chuvosa, tudo pudesse dar certo e a minha vida finalmente voltasse ao normal. Milhares de duvidas e receios minavam na minha mente a cada minuto agonizante que se passava.

Será que ela conseguiria trazer ele para o carro? Será que a alma dentro dele acreditaria na historia de que algo teria saído errado na Inserção?

Por via das duvidas, decidi me esconder debaixo de alguns cobertores no banco traseiro do carro, segurando nas mãos o pano com ‘’Dormir’’ que usaríamos para fazê-lo apagar, até tirarmos alma dentro dele. E espero que Ian me perdoe por isso.

Se algo desse errado, Sophia e eu cairíamos de novo nas mãos de Maya, e seria muito difícil escaparmos das garras dela, de novo. Fechei os olhos, pedindo pela primeira vez algo a Deus. O ser Supremo que os humanos acreditavam ter criado todo o Universo. Pedi a ELE que olhasse por mim naquele momento, e trouxesse Ian são e salvo de volta pra minha vida, depois de quase nove meses de dor, sofrimento, e perda.

Eu tentei tanto dizer a mim mesma que você se foi

Mas embora você ainda esteja comigo

Eu tenho estado sozinha todo esse tempo.

POV Espetro de Fogo

Estava terminando de tomar café da manhã quando a campainha do apartamento tocou, avisando que tínhamos visitas. Mas quem poderia ser àquela hora da manhã?

Pousei a xícara sobre a mesa e fui anteder a porta. Uma mulher alta, de óculos escuros e cabelos presos num coque estava parada no sopé da porta, esperando, com a cabeça baixa.

– Pois não senhora – Falei, observando uma aliança em sua mão esquerda. Ela era casada – Em que posso ajudar?

Assim que ela ouviu a minha voz, levantou o rosto e me viu, sua expressão se tornou de pura surpresa, gratidão e alivio. Ela tirou os óculos e pude fitar seus olhos safira, neve meia noite pela primeira vez.

– Olá, eu me chamo Sophia – Ela se apresentou. Não sei por que, mas algo dentro de mim me dizia que eu conhecia aquela mulher – Eu sou Curandeira. Posso entrar?

– Claro, fique a vontade. - Falei sorrindo.

Estranhei Ian estar relativamente quieto. Aquilo não era muito dele. – Ian? - Chamei-o. – Temos visitas.

– Visitas? – Ele pensou distraído. Seu coração se encheu de esperança ao pensar que poderia ser Peg. Então, assim que ele viu a Curandeira sentada no sofá, ele ficou paralisando. Completamente boquiaberto. – Sophia?

– Você a conhecesse? - Perguntei confuso - Quem é ela?

– Eu... eu... não é nada. Acho que eu a confundi com outra pessoa – Ele falou desconcertado, e percebi que ele estava mentindo, tentando me enganar.

– ‘’Ian, não tente me enganar! Você a conhecesse?’’

– Não!

– ‘’Conhece sim!’’

– Não conheço não!

– ‘’Ah não, então eu vou vasculhar todas as suas memorias. Vamos ver se você não a conhece mesmo.’’

– Ok, está bem Ela é... Quero dizer... O corpo dela era da ... – Ele tentava se explicar, mas fomos interrompidos por Sophia. – Salvo pelo gongo – Ian pensou.

– Então, eu fui informada pela sua Curandeira, como é mesmo o nome dela? – Ela começou a explicar.

Flores Iluminadas pelo Sol – Respondi e pude ver por algum motivo desconhecido, que ela estava nervosa.

– Isso. Flores Iluminadas pelo Sol entrou em contato comigo, e me informou que – Ela pausou – Houve um pequeno problema na sua Inserção.

– Problema, que tipo de problema? – Perguntei confuso.

– Ainda não sabemos bem, mas achamos que a sua Inserção possa estar comprometida. – Ela disse calmamente – Talvez tenhamos que mudá-lo de corpo. Parece que o corpo de seu hospedeiro foi danificado.

– Danificado? – Perguntei horrorizado. Esse corpo não parecia danificado... Ele funcionava muito bem... O que estaria errado? Será que é por isso que Ian não teria sucumbido? Será que é por isso que ele ainda falava comigo?

– Sim, e creio que terá de me acompanhar até a Instalação onde eu trabalho – Ela explicou mais tranquila – Para realizarmos alguns exames e ver se realmente há algum problema com a sua Inserção.

POV Ian:

–‘’ Ian?’’ – Me chamou a alma, tirando-me dos meus devaneios – ‘’Temos visitas. ‘’

– Visitas? – Perguntei, distraído. Mas logo senti meu coração se encher de esperança ao pensar que poderia ser Peg. Será que Peg veio atrás de mim?

Então, quando vi uma mulher alta e de longos cabelos negros sentada no sofá se virar em nossa direção, tive uma enorme surpresa. Fiquei paralisado, boquiaberto. – Sophia?

Eu não podia acreditar. Minha irmã, minha irmãzinha estava viva! Ela estava aqui, a menos de 10 metros de mim. Eu queria poder gritar, falar pra ela que eu ainda estava aqui, que eu estava bem, pedir a ela que protegesse minha Peg e o nosso filhinho. Pelas minhas contas, Peg estava prestes a completar os nove meses de gravidez.

Logo senti a dor me aplacar quando vi a luz refletir os olhos de minha irmã, fazendo-os mudar de neve, safira, meia - noite para prata. Havia uma alma! Tinha uma alma dentro da minha irmã, e era possuída por uma Curandeira!

– Então, eu fui informada pela sua Curandeira, como é mesmo o nome dela? – Ela começou a explicar.

– Flores Iluminadas pelo Sol – Espectro respondeu, através dos meus lábios, e pude ver por algum motivo desconhecido, que ela estava nervosa.

– Isso. Flores Iluminadas pelo Sol entrou em contato comigo, e me informou que – Ela pausou – Houve um pequeno problema na sua Inserção.

– Problema, que tipo de problema? – Ele perguntou, confuso. O Que? Como assim problema na Inserção? Em minha opinião a Inserção tinha ocorrido muito bem, afinal, agora tinha uma alma comandando meu corpo. Eu não tinha mais controle dele. Tinha me tornado como um fantasma, uma voz na cabeça que agora era ocupada por Espectro de Fogo.

– Ainda não sabemos bem, mas achamos que a sua Inserção possa estar comprometida. – Ela disse calmamente – Talvez tenhamos que mudá-lo de corpo. Parece que o corpo de seu hospedeiro foi danificado.

– Danificado? – Perguntou Espectro de Fogo, horrorizado.

– Sim, e creio que terá de me acompanhar até a Instalação onde eu trabalho – Ela explicou mais tranquila – Para realizarmos alguns exames e ver se realmente há algum problema com a sua Inserção, antes que seja irreversível.

– ‘’Ian, o que você acha?’’ – Ele perguntou – ‘’Acha que devemos confiar nela?’’

Eu não sei... Sinceramente eu não sei.

– Me desculpe por isso. – Ela murmurou baixinho, e tirou um frasco de Dormir da bolsa. Antes que eu pudesse me situar, ela já tinha espirrado em meu rosto e eu estava adormecido.

Evanescence - My Immortal


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Notas finais do capítulo

PE E ai, e ai, gostaram? Esperamos que sim!
Que tal reviews, recomendações?
Pois é gente, The Soul está chegando na reta final! Buaaaa! Mas não se preocupem, ainda tem muitas emoções e surpresas pra vocês até o final. hehe. Bom, e ai e ai, quem gostou do Espectro/Ian salvando a Peg??? Euuuuu! Ficou muito linda essa parte!E bom, finalmente chegou a hora tão esperada, a Peg vai trazer o Ianzinho de volta. O que será que vai acontecer ein??? Será que vai dar certo??? Agora, é esperar pra ver como essa situação acaba néh.
Ah, falando no próximo capítulo, aqui vai o trechinho do próximo capítulo que vocês tanto amam.hehe. Mais um aviso: Cuidado, segurem esses coraçõezinhos e resistam a vontade de nos matar. hahahahahahaha.


O corpo de Ian começou a se contorcer na cama, se debatendo fortemente, como se estivesse sendo eletrocutado com uma corrente de 2000 volts. Todo esse tempo, o seu rosto estava vazio inconsciente. Ele se sacudia de uma forma selvagem e o agitava com força. Sangue escorria de sua boca, de seu nariz.
— Sophia? O que está acontecendo? Gritei desesperada, enquanto Sophia verificava seu pulso, conferindo suas pupilas. Ela iluminou-as com uma lanterna seus olhos inconscientes e observou suas pupilas dilatarem. Ela encostou o ouvido na caixa torácica de Ian.
— Hemorragia interna. Ela disse alarmada. O coração dele está parando!
O que será que vai acontecer hein?!= O. Deixei vocês curiosas néh?
Bom isso só no próximo capítulo amores! Não percam hein!
Bjos e Até o Próximo Post!



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