The Soul escrita por CaahOShea, Bellah102


Capítulo 19
Sozinha


Notas iniciais do capítulo

Olá minhas amoras! Tudo bem?
Mais um capítulo fresquinho pra vcs! Esperamos de coração que gostem e segurem esses coraçõezinhos, por que esse promete.
Bom queridas, queria agradecer mais uma vez a todas voces que continuam acompanhando a FIC e deixando seus reviews lindos. Há, e um agradecimento especial a ABia_Rodrigues pela recomendação LINDA! Obrigada linda, e espero que continue acompanhando a FIC!
Agora sem mais meus amores, vamos ler? Boa leitura e até lá em baixo!



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POV Ian:

Um vento frio e úmido cortava o Deserto, soprando sobre meu rosto. A lua brilhava no céu, juntamente com algumas estrelas perdidas. Jared e eu chegamos o mais rápido possível no Jipe. Benji precisava urgentemente daqueles remédios, ou a virose pioraria, afinal, ele era apenas um bebê indefeso, seu corpinho frágil não resistiria.

Minha mente não parava de pensar Peg. Meu amor. Doía muito ter que deixá-la assim, no meio da noite. Mas era um mal necessário. Era arriscado demais pra ela e eu NUNCA permitiria que algo acontecesse a ela ou ao nosso bebê. Não se EU pudesse EVITAR. Daria a minha vida sem pestanejar para proteger Peg e o nosso filho.

Jared se sentou no banco do motorista, suspirando, muito preocupado. Nunca tinha visto ele tão desesperado, tão apreensivo. Ele tinha medo de perder o filho, eu sabia disso, e entendia ele. Tinha pena dele. Mas tínhamos que tentar. Benji precisava da nossa ajuda.

– E então, qual o plano? – Perguntei, enquanto colocava o cinto de segurança.

– Não tem um plano – Jared falou, desolado – Ian, você sabe que sem Peg não temos nenhuma chance de sermos bem sucedidos... Vai ser impossível conseguir algum remédio sem sermos notados... Ian, eu nunca vou me perdoar se... – Ele disse muxoxo, e pude ver o brilho de suas lágrimas. – Eu não vou suportar se alguma coisa acontecer com meu filho.

– Ei Jared! Não vai acontecer nada com o Benji. É pra isso que estamos aqui não é? – Falei tentando encorajá-lo, mas no fundo, eu sabia que ele tinha razão, a situação não estava nem um pouco ao nosso favor.

Jared girou a chave no contato, fazendo o motor do carro roncar. E logo estávamos na estrada que cortava o Deserto em direção a Tucson. Jared estava concentrado na estrada, pisando firme no acelerador. Nós não tínhamos muito tempo. Cada segundo era precioso pra Benji. Então, eu tive uma ideia que poderia ajudar.

Era nossa única alternativa

>>>

– Chegamos – Jared falou, assim que estacionou o carro na frente da Estação de Cura. A mesma Estação que Peg e eu quase havíamos sido capturados. Agora, ela parecia completamente abandonada. As luzes estavam apagadas e a grande por porta principal parecia trancada.

– Parece mesmo abandonada.

Analisei.

– Espero. É a nossa única chance – Jared falou suspirando – Ian, você fica aqui no carro, vigiando. Eu vou entrar – Ele completou enquanto pegava a mochila no bando de trás do carro.

– Ok. – Respondi, tentado cooperar o máximo possível. Logo Jared estava andando em direção da Estação abandonada. Recostei-me no banco, fechando os olhos, tentando me acalmar um pouco. A falta de Peg já estava me afetando. Naquele momento, só queria poder tê-la em meus braços.

Dez minutos tinham se passado quando eu acordei, sonolento. Eu tinha cochilado! Droga, eu não... não devia ter feito isso! Atordoado, busquei algum sinal de Jared e... nada. Ele ainda estava na Estação, que continuava a me assombrar com terríveis lembranças do dia que eu quase perdi minha Peg. Senti uma fisgada no peito. Por que Jared estava demorando tanto? Tínhamos que voltar para casa o mais rápido possível, antes do amanhecer.

Esfreguei meus olhos, tentando clarear minha mente sonolenta. Então, decidi ir até lá.

– Jared? – Chamei-o baixinho, caminhando lentamente pelo saguão de Estação. Estava escuro, apenas a luz da lua e da minha lanterna iluminava aquele lugar que, parecia estar inabitado há vários meses. – Jared?

– Shh – Ouvi uma voz sussurrar, quase inaudível. Senti uma mão forte apertar minha boca, tentado impedir que eu fizesse qualquer ruído. Era Jared.

– Buscadores! – Ele disse com assombro, ofegante – Temos que sair daqui, agora!

Jared liberou a mão uma vez que eu havia entendido a mensagem. Apaguei a lanterna e tentamos sair pela porta de entrada, mas um vulto escuro como a morte tapou o luar a nossa frente. Tentamos recuar para a escuridão, mas era tarde demais. Ele já havia nos visto. Pegou uma lanterna pendurada no cinto, girou-a na mão com habilidade e a aponto para o meu rosto. Eu nunca me senti tão exposto na vida, afinal eu não tinha um reflexo prateado para oferecer a ele. Puxei Jared pelo braço para mais dentro do prédio. Ouvimos o Buscador gritar por reforços e depois seus passos atrás de nós.

– Esperem! Não vamos machucar vocês! – Gritou o Buscador que corria atrás de nós. Mas felizmente ele não conseguiu nos alcançar.

Passamos por corredores e mais corredores e subimos a rampa para o segundo andar. Eu sabia que qualquer uma daquelas portas seria nossa sentença de morte se não conseguíssemos uma vantagem. Chegamos pela rampa direto na Ala Psiquiátrica e puxei Jared para a primeira sala. Tranquei a porta, mas duvidei que segurasse os Buscadores por muito tempo. Para falar a verdade, duvidei que segurasse alguém. Estávamos encrencados.

– Qual o plano? - Jared perguntou.

– Não tem. - Respondi irônico, dando de ombros. Eu precisava de um e para ontem. Eu prometera para Peg estar em casa logo, e, além disso, Benji precisava da nossa ajuda, quanto antes possível. Sem falar que mesmo se ele se curasse sozinho milagrosamente ele precisaria de um pai a vida toda. Meu filho precisaria de um pai. Não podíamos ser pegos, pelo menos não daquele jeito idiota, como ratos em uma ratoeira. Fui até a janela e olhei lá fora, onde o luar prateado banhava tudo, tentando ao máximo bolar um plano. Um Buscador sondava o Jipe, desarmado e sozinho.

– OK, eis o plano. A gente apaga aquele com o Dormir e vai para casa. Algo a acrescentar.

– Ele vai nos ver pulando a janela.

–Muito bem. Plano B.

Escondi-me na parede abaixo da janela e puxei para baixo pela camiseta. Gritei a plenos pulmões como se um condor tivesse invadido a sala e estivesse arrancando meus olhos com seu bico afiado.

– O que está fazendo? - Jared sussurrou. Parei de gritar e sorri para ele.

– Minha mãe nunca deixava eu e Kyle comermos biscoitos antes do jantar. Então eu gritava lá fora e quando ela ia ver o que era, Kyle roubava os biscoitos do tabuleiro.

– Engenhoso.

– Não. A única coisa que nós concordávamos era que os biscoitos eram bons demais para esperar até depois do jantar.

Ficamos de joelhos e espiamos lá fora. Bingo! O Buscador corria em direção à Instalação de Cura. Almas não tinham o senso de obediência dos humanos, que aguentavam tudo o que podiam e mais para cumprir a ordem da Autoridade. Almas não eram capazes de cumprir ordens passando por cima do bem-estar geral. Tudo o que eu admirava em Peg agora iria salvar nossa vida. Espere-me acordada minha Peg, eu estou voltando!

–Pegou o remédio, certo?- Jared fez que sim – Então vamos.

Ele levantou-se e pendurou as pernas para fora, suspirando nervoso.

–O que acha da queda? - Ele engoliu em seco.

–Sobrevivível. Se eu cair certo, não quebro nada.

–Perf... - Antes que eu terminasse a palavra alguém forçou a porta, torcendo a maçaneta. Depois alguém tentou empurrar com o ombro, a tranca gemeu.

–Abram. Não queremos machucar vocês! - Disse um dos Buscadores.

– Podem esperar, desgraçados! - Xingou Jared. Sabia que ele estava preocupado demais com o filho para fugir e controlar as emoções ao mesmo tempo. Antes que ele tivesse chance de pular e me dar espaço para pular atrás dele, os Buscadores forçaram a porta, dessa vez com certeza havia mais deles, a tranca arrebentou. Rapidamente, como um tiro, joguei meu peso contra a porta, prendendo os Buscadores lá fora. O que eu estava fazendo? Ora era simples. Eles me pegariam de qualquer jeito. Se eu os parasse, Jared escaparia e conseguiria salvar Benji.

–Vamos logo Ian!

– Vai você, Howe!

Ele olhou em volta confuso, e preocupado.

–Que papo é esse?!

– Se eu sair eles pegam nós dois – Os Buscadores tentaram abrir a porta novamente, mas eu não cedi. Não cederia enquanto pudesse lutar – Se eu ficar você escapa e salva Benji. Vai Howe!

– E Peg? - Ele perguntou, ainda olhando para mim com confusão.

Ah Peg, meu anjo de olhos prateados.

O que eu poderia dizer que poderia amenizar seu sofrimento, e o do nosso filho, compensar os anos que ele viveria sem um pai? O que eu poderia dizer que expressasse tudo o que eu sentia naquele momento? Medo, confusão, isso não faria o menor sentido para ela, eram apenas palavras e ela precisaria mais do que isso. Nem com todo o tempo do mundo e com todas as palavras deste mesmo eu diria a ela tudo o que tinha para dizer em uma frase para que Jared a entregasse; Os Buscadores empurraram a porta novamente, me trazendo a realidade.

– Diga que a amo mais que tudo. Ela vai entender.

Jared ainda assim hesitou. O que ele tinha na cabeça?

– Ainda vou me arrepender disso. Você é meu amigo... Não posso deixa-lo!

–Agora não é hora para isso! Vai salvar seu filho!

– Mas... Ian...

– Você tem que ir Jared! Vai! Benjamim precisa de você! – Murmurei incentivando-o a ir. – Só me prometa uma coisa...

– Claro!

– Promete pra mim que vai cuidar da Peg, e do meu filho. Por favor, Jared. Promete que não vai permitir que nada de ruim aconteça a eles. – Pedi com os olhos marejados. Jared assentiu triste, e eu suspirei, aliviado. Sabia que ele iria cumprir a promessa, custasse o que custasse.

Relutante, Jared desapareceu janela abaixo, e ouvi o baque surdo dele caindo no chão arenoso. Momentos depois, ouvi o jipe arrancar e ir embora. Os Buscadores do outro lado da porta ficaram confusos e pude ouvir passos se afastando.

''Peg, eu te amo'', pensei enquanto voltavam a forçar a porta, dessa vez com menos força. Não acreditei que havia quebrado a promessa que havia feito a ela. Uma simples promessa de volto logo. Agora, assim como toda a minha personalidade e existência eu seria apagado, e nunca mais voltaria para ela. Aquilo doía mais do que qualquer coisa. Nem ao menos veria meu filho nascer, dar os primeiros passinhos, falar suas primeiras palavras.

– Com licença, deixem comigo. - Disse uma voz feminina do outro lado da porta. O golpe foi dado por apenas uma Buscadora, mas foi mais forte do que qualquer um deles havia sido. As dobradiças estouraram e foram bater na parede oposta com um tinido metálico. A porta caiu em cima de mim com imensa força me derrubando, senti uma dor lancinante no braço. Vi dois pares de botas desgastadas e sujas de areia entrarem e pararem a minha frente. Outros dois se abaixaram para me ajudar, levantando a porta e me tirando debaixo do meu braço machucado.

Vi o teto branco a minha frente até que um rosto entrou na frente, de pele oliva e cabelos castanhos escuros. Lacey? Quis perguntar, mas a dor em meu braço me forçou a ficar calado. Ela olhou em meus olhos e me cegou temporariamente com uma lanterna. Manchas ficaram na minha visão depois que ela a desligou.

–Muito bem Max, capturou seu primeiro humano! - Disse a Buscadora, satisfeita.

– Obrigada, Maya.

Ela tirou algo do bolso e espirrou a minha frente. O Dormir me colocou em um sono forte e profundo sem sonhos

Peg, me perdoe, eu falhei, pensei.

Mas ainda me restara uma opção. Eu irei lutar! Prometi a Peg que mesmo que fosse capturado, eu iria até o fim do mundo para tê-la de volta. E eu não iria quebrar minha promessa.

POV. Peg:

– Porque eles estão demorando tanto? - Perguntou Mel aflita pela milésima vez. O choro de Benji só se aplacara porque Doc lhe dera um pouco do seu último Dormir, para que o meu sobrinho pudesse descansar um pouco. Era uma cena triste de se ver. O pequeno Ben... Pequeno, bem humorado, tão doce, feliz e ativo, se debatendo febrilmente em seu sono forçado, com gotas de suor a escorrer pela face. Talvez a única coisa mais triste fosse o jeito como minha irmã parecia ter envelhecido milhões de anos, apenas observando o filho.

Aquilo era realmente de partir o coração de qualquer um.

– Eles vão voltar logo. Vão trazer um monte de Refrescar e Ben vai estar como novo, eu sei disso. - Ela balançou a cabeça, olhando desolada para o filho.

– Oh Peg... Eu não poderia viver se algo acontecesse ao meu anjinho... Eu simplesmente... - Ela me abraçou com a força de seu sofrimento, e eu correspondi tentando acalmá-la.

– Nada vai acontecer com Benji, Mel. Acredite em mim, você vai ver! Jared e Ian já estão voltando, eu aposto. Eles vão salvar o nosso Ben, você vai ver.

Ela fungou e terminou nosso abraço, enxugando uma lágrima do canto do olho com as costas da mão. Suspirou, voltou o olhar para a criança que descansava em seu leito e tirou uma mechinha de cabelo castanho que estava grudada em sua testa ensopada de suor. Suspirou e voltou a olhar para mim.

– Você pode buscar algo para eu comer, Peg? – Ela pediu. – Não saio daqui faz tanto tempo.

Fiz que sim e fiquei na ponta dos pés para beijar sua testa.

–Claro. Volto logo.

Saí do hospital com o coração pesado. Doía, e doía muito ver minha irmã sofrendo daquele jeito. Sem falar em ver meu sobrinho sofrendo, que não tinha culpa de ter nascido no mundo insano onde nasceu, era apenas um bebezinho indefeso. E o que piorava tudo, era a falta de Ian me abraçando por trás, dizendo que tudo ia ficar bem. Sem falar na sensação de impotência, de não poder fazer nada, e a sensação de algo daria errado.

Estava entrando no Refeitório quando vozes conhecidas atingiram meus ouvidos e me fizeram parar de chofre. Jeb e... Jared?! Eles já tinham voltado com a Cura para Benji? Ian estava ali também?

–... Escapou?

Peguei o fim da pergunta de tio Jeb.

– Foi por muito pouco. Achamos que a Estação estava completamente vazia, mas...

Não me contive por nem mais um segundo para ouvir ao que Jared dizia. Corri para dentro da sala com um sorriso estampado no rosto.

– Jared! – Chamei exultante. Ele levantou os olhos para mim e interrompeu o que estava dizendo. Seu rosto de repente retorcido de culpa fez meu sorriso murchar a cada segundo de silêncio. – Onde está Ian?

Perguntei, com o medo voltando a morder minhas entranhas, revirando meu estômago.

– Desculpe Peg. Me desculpe.

Ele pediu baixinho. Segurei na mesa para não cair quando o mundo sumiu por alguns segundos. Tudo voltou cedo demais. Eu caíra sentada no banco mais próximo. Por instinto, minha mão voou para minha barriga preocupada.

Ian.

Seu nome foi meu primeiro pensamento racional. Não, não, não, não, não. Ele não podia. Aquilo era para ser algo rápido, sem riscos, na calada da noite. Não havia perigo, ele havia me prometido que não haveria perigo! Era como se o chão tivesse sido tirado de baixo dos meus pés, como se não fosse mais do que um frágil tapete.

Comecei a respirar mais rápido porque o ar parecia se recusar a encher meus pulmões. Jeb e Jared vieram em meu socorro.

– Peg? Peg você está bem? - Perguntaram segurando meu ombro. Balancei para tirá-las dali. Só Ian tinha o direito de me tocar.

– Não me toque! - Gritei esganiçada.

Como Jared se atrevia a voltar sem Ian? Como tinha coragem de mostrar a cara dele para mim depois do que tinha feito? Não tinha tido a capacidade de trazê-lo de volta seguro para mim. Ele nos pedira ajuda! Não devia ter deixado Ian ir, não devia...

– Peg, por favor... - Ele pediu. Levantei-me e gritei novamente.

– Fique longe de mim!

– Peg, eu não quis que isso acontecesse, por favor... eu tentei impedir... eu juro – Jared balbuciava, tentando se explicar. Ele chorava, chorava muito. Talvez de culpa. Remorso.

Corri para fora do refeitório com apenas rumo definido em minha mente. As garagens. Eu não deixaria que invadissem Ian. Não deixaria que o tirassem de mim depois de tudo o que tínhamos passado. Não deixaria. Eu iria atrás dele, até o fim do mundo, se necessário.

Você disse "siga em frente''

Pra onde vou?

POV Mel:

Peg estava demorando na cozinha. Eu estava começando a ficar preocupada. Olhei mais uma vez para Ben, que continuava dormindo, seus lábios apertados como se mesmo dormindo, estivesse sentindo algum incomodo.

– Mel? Ah Mel!

Ouvi uma voz concentrada me chamar. Pensei que fosse Peg, trazendo comida, mas logo descartei essa opção. Levantei os olhos do meu pequeno Benji, que ainda dormia profundamente, sobre o efeito do remédio. Meus olhos pareciam não acreditar no que estavam vendo.

Jared! Jared tinha voltando! Eles tinham conseguido! Corri em direção a ele, pulando em seus braços.

– Jared! Você conseguiu meu amor! – Falei com os olhos marejados, vendo vários vidros de Refrescar na mochila em suas mãos. Doc, que estava dormindo em sua mesa, acordou ao ouvir minha voz. – Nosso bebê vai ficar bem! Cadê o Ian? Ele está bem

Assim que terminei a pergunta, notei que Jared estava estranho. Olhei bem pare os seus olhos, a luz azul improvisada do hospital iluminando-os. Respirei fundo, aliviada. Ele ainda continuava humano, então, o que estava acontecendo?

Ele não parecia feliz. Ao contrário, seu rosto estava contorcido com uma mistura de culpa e remorso.

– Ah Mel! – Ele murmurou me abraçando forte e chorando – Ian foi capturado! Ele se entregou para que eu pudesse escapar! Ele se entregou por nós!

– Meu Deus! – Balbuciei me segurando nos braços de Jared para não cair. Não, não podia ser. Peg, minha irmã, pensei dolorosamente. Isso não poderia estar acontecendo com ela! Ela não merecia isso, não merecia!

– Peg... Já sabe?

Indaguei.

Ele fez que sim.

– Sim, e ela não reagiu muito bem. Ela foi atrás dele, Mel. - Suspirou – Estou me sentindo tão culpado. A culpa foi minha. Não deveria ter metido Ian nessa encrenca - Chorou – Eles confiaram em mim, e eu falhei.

Fiz que sim, apertando-o contra mim.

– O que vamos fazer, Mel? O que?

– Eu não sei amor. Sinceramente, eu não sei. Só podemos esperar. Esperar pelo melhor. – Disse com o coração partido. Meu coração estava em migalhas por causa da minha irmã. Peg. E também por causa de Ian, ele era uma boa pessoa e graças a ele, o meu filho e o meu Jared estavam são e salvos. Mas eu sabia, que nenhum dos dois iriam desistir de lutar pelo amor deles.

Doc remexia na mochila de Jared, com a cabeça baixa. Eu pude ver lágrimas silenciosas caiam por seu rosto. Ian era querido por todos nas Cavernas. Sua perda com certeza seria um grade golpe para todos. Doc retirou um cilindro branco, chacoalhando-o antes de espirrar sobre o rosto de Ben.

Eu me aproximei, e vi toque a testa de meu bebê, juntamente com as mãos ossudas de Doc.

Suspirei, aliviada ao sentir a pele numa temperatura normal.

– A febre cedeu. – Doc comemorou, vendo o rosto de Benji perder o tom vermelho e sua pele esfriar – Benji está são e salvo,ele está bem agora.

Abracei Jared, chorando.

Abençoadas foram as palavras da irmã, Peg, quando disse que tudo iria ficar bem. Eu devia a Ian a vida do meu filho e doía saber que ele e Peg estivessem correndo perigo. Um perigo que nenhum de nós imaginava.

Peguei meu pequeno Benji nos braços, suspirando aliviada por saber que ele não corria mais perigo. E fiz a única coisa que estava ao meu alcance naquele momento. Pedia a Deus que protegesse Ian e Peg e que os trouxesse de volta em segurança pra casa.

>>>

O 4X4 subia e descia as dunas do deserto iluminado pela lua. A estrada não demorou a aparecer no horizonte como uma cobra atravessando a areia branca e fina com suas escamas negras como a morte. Empurrei mais o pé no acelerador, até o final, mas ele não me obedeceu. Eu já estava a 220 KM/H, mas meu coração pulsava mais rápido que o motor. Chegando à estrada, o carro pareceu rodar mais rápido, livre das ondulações das dunas. Olhei para o marcador, mas ele não deixava o 220 KM/H, Naquele ritmo eu chegaria a Tucson em menos de uma hora e então pensaria em um plano.

Distraí-me por um segundo pensando no começo de algum plano e quando percebi me dei de frente com dois pontos brilhando a frente dos faróis. Então o mundo parecer girar em câmera lenta.

Os olhos do coiote refletiram os faróis novamente e pude ver o medo dentro deles. Antes que eu pudesse frear, o animal já tinha desaparecido debaixo das rodas. Dois segundos mais tarde a roda esquerda frontal travou e a parte traseira do carro começou a empinar. O carro voou e apenas o cinto me manteve no lugar. O teto do carro tocou o chão, e bati a cabeça no teto com força, quando o carro voltava a ficar nas quatro rodas, bati no volante e este me cegou de branco. O carro capotou Uma. Duas. Três. Quatro Vezes. Depois, perdi a conta.

O carro deu mais duas voltas até eu perceber que era o airbag que me imprensava contra o banco. Ele parou de ponta cabeça quando terminou a terceira volta. Fiquei pendurada pelo cinto e imprensada pelo airbag observando os cachos louros balançarem a minha frente e as gotas de sangue pingarem uma a uma lentamente manchando a nuvem de airbag branca.

Enquanto o carro capotava pela pista, pela última vez, um filme, um Flash Back de toda minha décima vida percorreu minha mente. O Flash Back que todos dizem existir no fim da vida. Na hora da morte. Milhares de flashes do rosto de Ian, do seu perfume, do seu toque e dos seus olhos neve, safira, meia noite me fitando. Nem mesmo a morte me faria esquecê-lo. Eu sempre amarei Ian. Sempre.

A morte para mim era improvável, uma simples escolha, afinal eu tinha Ian para me proteger, minha família para me segurar ao planeta e a segurança das Cavernas para esconder meu segredo. Morte não era algo plausível, porém quando meu olhar tingiu-se de vermelho e o mundo escureceu achei que tinha morrido. Ali, ferida e sozinha na estrada para servir de comida aos coiotes e condores, incapaz de proteger quem eu amava. Meu filho morreria comigo e Ian seria apagado. Sem saída. Sem escapatória. Sem alternativas.

Eu me arrependo

Como eu pude me permitir

Deixar você ir

Quando o cheiro de GrapeFruit me acordou, a luz excessiva por trás das minhas pálpebras me assustou. Pisquei os olhos assustada e encontrei mais luz ainda, tão branca e forte que feriu meus olhos acostumados ao escuro. Procurei rostos amigáveis dentre as sombras que sondavam ao redor de mim, mas não encontrei. Encontrei apenas assustadores vultos desconhecidos. Aos poucos meus olhos foram se acostumando a luz e pude ver mais claramente os rostos dos vultos. Mais perto de mim se encontrava um homem com um sorriso amável, emoldurando os olhos cor-de-mel ferido pelo reluzente círculo prateado.

Um pouco mais atrás dele, observando tudo com uma atenção devotada havia uma moça com cabelos loiros presos em uma trança. Segurava a tampa do Acordar com ansiedade os olhos verdes, também invadidos pelas almas.

– Chame a família e ligue para Maya. - Instruiu o homem. A moça fez que sim sorrindo e saiu.

Outra mulher entrou pela porta que a outra tinha acabado de sair, arrumando o jaleco branco por cima de uma camiseta cor-de-rosa e uma calça Jeans. Ela era alta, esguia e forte, tinha cabelos negros presos em um farto rabo-de-cavalo e seus olhos eram azuis... Azuis não... Neve, Safira e Meia-Noite. Como os de Ian!

–Obrigada por cuidar dela enquanto eu almoçava, Hélices de Gelo.

–Não tem problema, Sophia. – Ele foi saindo da sala, mas deteve-se na porta. – Eu mandei Courtney ligar para Maya. Tudo bem para você?

A mulher suspirou e veio para perto do catre em que eu estava deitada. Ela olhou em meus olhos e pude ver claramente o prateado em seus olhos. “É assim que Ian deve estar”, lembrei com desgosto. Lágrimas molharam meus olhos e me afastei um pouco da mulher. Ela suspirou, deu um sorriso trêmulo e lançou um olhar ao Curandeiro na porta, que aguardava sua resposta.

– Isso não me agrada, sabe disso. Mas não há nada que possa fazer. Maya só quer ajudar certo?

Ele fez que sim e a mulher chamada Sophia desviou seu olhar para mim, torturando-me novamente com aquele olhos perfeitos, feridos pelas Almas. Mas, Sophia não é um nome humano?

– Não há mais nada a temer, Pétalas Abertas para a Lua. Tudo vai dar certo agora. Você está em casa.

Ela mentia. Simplesmente estava mentindo. Eu não estava em casa e aquele não era meu nome. Ela mentia, sim, mas como poderia saber? Não poderia. Ninguém poderia saber. Não podia deixar ninguém descobrir. Eu estava entre o inimigo agora.

–O que aconteceu? - Perguntei, sentindo minha voz rouca pela falta de uso. Tentei me lembrar do acidente, mas a única coisa que aparecia na minha mente eram os olhos do coiote brilhando como duas pedras preciosas na minha mente.

– Você atropelou um coiote, ele travou a roda e seu carro capotou na estrada. Teve muita sorte.

Eu tinha tido sorte? Minha mão voou pra minha barriga preocupada. A pequena elevação continuava ali, felizmente. Sophia percebeu minha ação e sorriu.

– Seu filho está bem. Saudável e crescendo. O airbag o protegeu.

Soltei o ar aliviada, acariciando a protuberância que crescia em meu ventre. Não podia ter perdido Ian e meu filho na mesma noite. Não podia perder os dois.

Quando levantei o olhar marejado da minha barriga, encontrei na porta paralisada, mais uma mulher para os novos rostos que eu estava vendo naquela Estação de Cura. Era uma mulher de cabelos ruivos cacheados e olhos cinzentos como os meus, assim como os de todos ali, invadidos pelas Almas.

–Pet! Meu bebê!

Lembrei-me do rosto das memórias de Pet, era a mãe dela, Fiandeira de Nuvens. Entrou na sala como um furacão, esvoaçando o vestido verde. Ela abraçou-me com força e me senti culpada por não ser a sua filha, por ter roubado o corpo dela. Mas não podia devolvê-la, porque Pet estava em uma viagem de 200 anos pelo espaço, e eu, bem... Eu estava ali.

–Oi... Mãe. - Eu disse com um gosto estranho na boa. Nunca havia tido uma mãe, alguém que me criasse e cuidasse de mim. Mel fazia esse papel as vezes, mas não era a mesma coisa. A única vez que eu havia dito aquela palavra com M, foi quando eu descobri que ia ser uma. Não fazia ideia do que dizer a ela, afinal, era impossível de explicar tudo o que acontecera sem entregar minha família verdadeira. Como eu explicaria que a filha dela tinha sumido por mais de um ano e voltara grávida, do nada, em um acidente de carro? A ignorância, percebi, era a melhor saída.

–O que aconteceu? Fiquei tão aflita quando me ligaram dizendo que acharam você...

–O carro dela capotou na estrada. Felizmente agora está tudo bem. - Explicou Sophia antes que eu pudesse abrir a boca. Os olhos cinzentos de Fiandeira de Nuvens triplicaram de tamanho.

–Pet, você nem sabe dirigir meu anjo! Como é que capotou um carro?

–Claro que sei dirigir mamãe. Já tenho 18 anos.

Respondi petulante. Pet tinha razão, toda aquela preocupação irritava mesmo, e olha que eu nem trocara duas frases com aquela Alma ainda. Felizmente nenhuma das duas pareceu reparar na minha irritação.

–E onde é que você estava esse tempo todo? - Ela perguntou. Engoli em seco, e esperei mentir bem o bastante para convencê-las.

–Eu não... Não... Eu não consigo me lembrar. - Disse, fingindo um rosto confuso. Ao que parece fui convincente, porque Fiandeira de Nuvens encarou Sophia preocupada, como se pedisse alguma explicação. A Curandeira olhou para mim consternada antes de começar a falar.

– Foi... Uma experiência traumática. Isso pode trancar certas memórias. Mas não é comum desde a invasão. Eu nunca havia visto.

Minha mãe acariciou meus cabelos, um gesto familiar ao corpo de Pet mas diferente do que eu já havia sentido. Era diferente do que Ian fazia. Sophia olhou-me pensativa, mas de um jeito curioso que não me fazia sentir desconfortável. Seus olhos me lembravam Ian, até no jeito que me olhava. Um misto de curiosidade e admiração.

– Como é seu nome? - Perguntou a Curandeira por fim, à “mamãe”.

– Fiandeira de Nuvens. Pet me chamava de Finny. Lembra disso querida?

Fiz que não. Ela fez uma careta desgostosa e seu lábio inferior tremeu quando voltou a acariciar meu cabelo com carinho.

–Você pode vir comigo um segundo?

Pediu Sophia. Fiandeira de Nuvens, ou Finny, como ela disse que eu a chamava antes hesitou um pouco antes de sair de perto de mim, mas por fim fez que sim e seguiu Sophia porta afora, deixando-me sozinha com meus pensamentos. Havia quanto tempo que eu estava ali? Ainda havia tempo de salvar Ian? Eu conseguiria salvá-lo? E acima de tudo, sem ele, quem é que ia ME salvar?

Oh você não vai vir

E arrombar a porta, e

Me levar embora?

POV. Sophia:

Pedi a Hélice de Gelo para explicar à Fiandeira de Nuvens tudo sobre o estado de Pétalas Abertas para a Lua. Pet estava sendo comentada por toda a Estação de Cura desde que chegara. Sumira por um ano da casa da mãe e reaparecera nesse acidente de carro, grávida e gravemente ferida. Eu havia trabalhado por várias horas a fim de Curá-la, foi um dos trabalhos mais difíceis de todas as minhas 5 vidas. Porém agora que acabara eu ainda queria conhecer aquela Alma, um desejo que nunca me acometera antes.

A curiosidade que meu corpo possuía sempre fora intensa e no momento, nada era mais curioso que Pet.

–Courtney. – Chamei no balcão circular de atendimento, onde Courtney escrevia algo em uma prancheta. Ela não me ouviu – Courtney, querida! – Chamei novamente. Ela olhou para mim fazendo a trança cor-de-mel ondular às suas costas – Pode me fazer um favor?

Ela fez que sim se aproximando, louca para ser útil. Courtney aspirava a ser Curandeira, e seria, tão logo terminasse seus estudos em Cura. Mas nesse meio tempo ela idolatrava todos os Curandeiros da Estação de Cura e estava sempre ansiosa para fazer parte de tudo o máximo que podia. Qualquer coisa que eu pedisse ela faria, sem questionar.

–Claro Sophia, o que for.

–Sabe o que é? Eu queria ser a confortadora daquela pobre Pet.

Ela mordeu o lábio inferior como sempre fazia quando estava confusa.

–Mas Sophia, você é um Curandeira Renomada, não um Confortadora. Seu lugar é aqui.

Não esperava por isso.

–Eu sei, mas... Quero muito ajudar essa garota. Ela vai precisar de mim. Por favor Courtney. Só quero ajudá-la

Ela fez que sim colocando a prancheta de lado e passou a mexer no computador, clicando com rapidez e habilidade aqui e ali.

POV. Peg:

A porta do quarto se abriu, exibindo uma Sophia sorridente, segurando uma prancheta nas mãos.

– Olá! Bom dia, querida! – A voz de Sophia me chamou, animada. – Como se sente hoje?

– Bem – Respondi soltando um riso muxoxo Já fazia dois dias que eu estava naquela Estação. Não aguentava mais. Eu tinha que sair dali.

Eu precisava que ir atrás de Ian.

– Tenho uma ótima noticia pra você, Pet. Você já pode ir pra casa. – Sophia anunciou alegre - Já avisamos sua mãe, ela deve estar a caminho, pronta para levar você para casa, não é ótimo?

''Ótimo'' pensei, frustrada. Eu estava me afundando cada vez mais num caminho sem volta. Mas não poderia deixar que eles descobrissem a verdade. Não poderia colocar minha família em risco. Ainda mais agora, que eu tinha uma nova Confortadora, a própria Sophia.

– Sophia, agora que você é minha Confortadora... - Pausei por alguns instantes pensando em como falar, enquanto Sophia me ajudava trocar de roupa, e tirava um a um os fios ligados ao meu corpo – Posso te pedir um favor?

– Claro Pet, o que precisar, querida.

– Eu queria te pedir que, por favor, não contasse a Finny que eu estou esperando um bebê - Respirei fundo. – Eu fiquei muito tempo longe de casa, e nem se que me lembro direito o que aconteceu. Essa gravidez vai ser um grande choque para ela, entende? E eu mesma gostaria de contar, quando for à hora certa.

– Claro, sem problemas. Isso é um assunto familiar. - Concordou – Sinta-se a vontade para contar quando julgar estar preparada. Não vou interferir nisso, está bem?

– Obrigada – Murmurei, acariciando protetoramente a pequena protuberância em meu ventre, sorrindo. Aquela era uma pequena parte de Ian, que eu carregava dentro de mim, era a minha força, minha pequena âncora.

Não demorou muito para Finny, minha mãe, chegar ao hospital com um sorrido são grande que fez meu coração doer de culpa.

– Vamos pra casa, minha querida? – Ela disse animada.

Eu suspirei, assentindo.

Aquela situação estava fora de controle.

A partir dali, eu teria que agir como Pet. Ser Pet. Por Ian, pela minha família, eu sabia que tinha que fazer, e não iria desistir. Eu iria encontrar Ian. Nunca serei capaz de viver sem ele. Mais uma vez me vi sozinha. Sozinha, grávida e sem Ian.

Dor era a única coisa que eu sentia. Mas era bom senti-la, pois ela era a prova de que Ian existia, de que por mais que ele não estivesse ali, naquele instante comigo, eu tinha a certeza dentro de mim que lutaria para reencontra-lo... Nem que para isso eu tivesse de mudar todos os meus princípios e receios, nem que para isso a verdadeira Peg tivesse de morrer, a boazinha e fraca tivesse que ser substituída... Agora serei forte, por mim e principalmente por ele.

‘’ Nos seus olhos eu gostaria de ficar ''

























































































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Notas finais do capítulo

E ai meus amores, gostaram?
Ai gente, acreditem, meu coração está partido nesse momento. Eu sei que vcs devem estar querendo nos matar por ter permitido que o Ianzinho fosse capturado, mas vcs vão entender mais para frente e esse capitulo definirá o rumo da história daqui pra frente. E a partir de agora, MUITA água vai rolar. Mas não esqueçam amores, Peg e Ian vão lutar até o fim por AMOR! Será que eles irão vencer mais essa barreira para permanecerem juntos??? Só a fic dirá se eles vão conseguir... kkkkkk
Bom amores, acho que o capitulo já foi bastante impactante, então, vou ser boazinha com voces, sem trecho do próximo capitulo dessa vez, mas não se acostumem. kkkkk. Mas nem pensem em perder o próximo capitulo ok? kkkkkkkkkkkk
Bom amores, é isso, esperamos de coração que tenham gostado do capitulo. E não se preocupem, a FIC ainda reserva MUITAS surpresas e emoções pra vcs! Bjus e até o próximo post!