The Soul escrita por CaahOShea, Bellah102


Capítulo 12
Resgatada


Notas iniciais do capítulo

Repostado03/06Boa leitura! *-*
Música do capítulo:

Need You Now_Lady Antebellum

Memórias imagem perfeita
Espalhadas por todo o chão
Alcançando o telefone porque
Eu não consigo lutar mais
E eu me pergunto se eu já passei pela sua mente
Para mim isso acontece o tempo todo
São uma e quinze
Estou completamente só e preciso de você agora
Disse que eu não ligaria
Mas perdi todo o controle e preciso de você agora
E eu não sei como sobreviver
Eu só preciso de você agora

http://letras.mus.br/lady-antebellum/1539868/traducao.html



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POV. Peg:

O mundo foi voltando aos pouquinhos, lento, como se estivesse mergulhado em gelatina.

– Buscadora Maya, é sempre um prazer ouvir sua voz... – A voz ecoava como se estivesse muito, muito longe de mim. - Sim, sim sou eu. Sim, achei o que você pediu e agora preciso de um favor. Não. Não vou passar nada por telefone. Pessoalmente apenas... Estou em uma loja de conveniência perto de onde você me deixou no começo da busca... Ok... Te aguardo.

Abri os olhos pesados. Pisquei duas vezes e bocejei para afastar a sensação ruim em meus ouvidos. Minha cabeça estava mole e atordoada se recusando a funcionar direito. Sentei-me devagar, me apoiando nos cotovelos e olhei em volta. A primeira coisa que notei foi que estava escuro. Muito, muito escuro. Eu não estava nas cavernas, percebi pelo cheiro. Aquele lugar tinha cheiro de tempero e papel molhado.

Levantei do chão gelado de pedra onde eu estava deitada e dei dois passos vacilantes e dei de cara com uma parede de caixas de papelão que desabaram por cima de mim. Por sorte dei um pulo para o lado, mas as caixas caíram no chão, fazendo um barulho ensurdecedor no silêncio da noite.

– Peg? - Chamou a voz masculina que tinha falado no telefone antes. Austin, eu reconheci. Austin. Austin me apagara e me raptara.

Onde eu estava? Austin estava falando com uma Buscadora?! Eu precisava sair dali! Vi que do outro lado da parede papelão tinha um corredor de caixas idêntico ao que eu estava, mas tinha luz no outro. Pulei as caixas que eu derrubara e corri em direção à luz.

– Peg? Você acordou? Onde você está?!

Austin chamou. Cheguei à fonte da luz, uma janela. A lua cheia derramava-se sobre as caixas, e sua luz era um presente para os meus olhos. Tentei alcançar com pulos, mas a janela estava muito alta. Subi nas caixas e forcei o trinco, mas a janela estava trancada. Desci das caixas, torcendo para não fazer barulho quando meus pés descalços tocaram o chão.

Ouvi os passos de Austin percorrendo a sala à minha procura. Tinha que ir para longe da luz antes que ele me visse. Corri afobada até o fim do corredor que terminou abruptamente na parede de pedra idêntica ao chão cinzento. Virei o rosto e vi a porta de ferro branco do outro lado da sala. Pé ante pé até ela, espreitando todos os corredores de caixa para ver se Austin me esperava em um deles.

Quase soltei um grito de prazer ao sentir o metal da maçaneta contra minha mão.

–Peg... Espere aí! Onde você está?! Vamos conversar! Temos que conversar!

Girei a maçaneta. A boa notícia é que a porta estava aberta e a má é que o estrondo da tranca se alastrou pela sala e o rangido da dobradiça se arrastou preguiçosamente, ensurdecendo-me temporariamente, por isso só a abri o bastante para passar e deixei-a aberta.

Me vi na loja de conveniência que ficava na estrada, na entrada para o deserto. No escuro, ela parecia mais assustadora do que quando estava povoada por alienígenas parasitas apagadores de memória. A lua entrava pelas janelas altas e iluminava as mercadorias nas prateleiras e os chaveiros nos balcões de caixa.

Corri em direção às portas de vidro duplas, e usei meu ombro para tentar abri-las.

“-Trancada, trancada, trancada...” Pensei, desesperada. Os passos de Austin se aproximaram da porta pesada que eu deixara aberta. Pensei na cápsula de veneno em meu bolso. Não. Ainda não... Eu ia lutar antes. Me escondi atrás das prateleiras.

– Peg... Você está aqui?

Por alguma razão achei melhor responder. Precisava de um plano, e acima de tudo, de tempo.

–Sim, Austin. - Disse escondida. Escutei um passo de Austin para mais perto de mim.

–Você está bem?

–Estou, Austin.

–Você está assustada, não está? Eu assustei você? Desculpe-me... Vamos conversar, eu explico tudo...

Fiz que não mesmo que ele não pudesse ver.

– Você vai me explicar agora!

Eu disse, solene.

POV. Ian:

A situação estava cada vez pior. Minha vida sem a minha Peregrina se tornou um imenso vazio. Um abismo escuro. Eu não conseguia sorrir mais. Vivia carrancudo, com o olhar vago, perdido.

Kyle tentava constantemente me animar, contando histórias inusitadas de quando éramos crianças... Como quando Kyle quebrou o vidro da casa vizinha com um estilingue, e eu levei uma baita surra no lugar dele... Ou quando ele caiu do skate e quase fora atropelado... Quando pegávamos frutas na arvore da vizinha e quase fomos atacados por um rottweiler... Ou quando ajudamos a nossa irmã mais velha, Sophia, a ajudar uma cadelinha a parir seus filhotinhos.

Bom, ninguém nas Cavernas sabia, mas Kyle e eu tínhamos uma irmã mais velha... Mas há muitos anos não tínhamos contato com ela... Depois de ela ter se casado, ela se mudou pra longe, pra Washington. Mas logo depois começou a Invasão. Kyle e eu tivemos que fugir, e desde então, não tivemos mais informações dela... Nunca mais a vimos. Nem ao menos sabemos se ela está viva... Se ela sobreviveu a Invasão.

– Ian?

Chamou a voz masculina, batendo na porta do quarto que agora eu dividia com Aaron e Brandt. Logo reconheci aquela voz. Era Jeb. E com ele estavam Mel e Jamie.

– Olá – Jeb saudou – Olha, eu trouxe alguns alimentos pra você. Truddy me falou que você não está se alimentando direito! – Ele falou me estendendo uma bandeja de frutas e uma vasilha de sopa de cebola fumaçante. Mas ao contrário do que aconteceria normalmente, a comida não me atraiu. desde a minha briga com Peg, eu tinha perdido o apetite.

– Eu só estou meio sem fome.

– Não posso te forçar a comer Ian... mas acho que Peg não ia gostar de te ver assim. – Ele falou, e percebi uma enorme mudança no tom de sua voz. Vi de relance ele e Mel se entreolharem.

– Ian, tente não perder a cabeça, ok? – Mel falou, e só então notei que... Ela estava chorando. Talvez fosse coisa de hormônio de grávida. Ou talvez não.

– O que está acontecendo? Desembuchem – Perguntei confuso. Vi de relance Jamie abraçar forte a irmã e enterrar o rosto nos cabelos de Mel. – Cadê a Peg?

Silencio. Silencio total. Segundos agonizantes sem uma resposta.

– Ela sumiu!

Mel gritou entre lágrimas.

Um calafrio muito forte subiu e desceu pela minha coluna, arrepiando todo meu corpo. Um bolo invadiu minha garganta e me impediu de respirar por alguns segundos. Caí sentado na cama com a cabeça entre as mãos. Não. Não, não, não. Não podia ser verdade. Não Peg, não o amor da minha vida. Os som dos soluços de Jamie e Mel preencheram o ar por alguns minutos enquanto eu botava ordem na minha cabeça.

– Quando... A viram pela última vez?

Mel tentou se recompor, segurando as lágrimas e acariciando a cabeça de Jamie com afeto.

– Ela disse que ia tomar banho, faz quase um dia. Eu apareci lá mais tarde e ela não estava lá, mas as roupas lavadas dela estavam no chão... – Ela parou para soluçar um pouco. – Mais tarde eu fui ao quarto de vocês, mas ela também não estava lá. Procuramos por todo lugar e ela não está em lugar algum.

O silêncio pairou por todos nós como uma nuvem negra tapando o sol, anunciando chuva.

– Vou atrás dela. É o que vou fazer... - Eu disse, levantando-me, mas antes que eu pudesse dar três passos Jeb me deteu com a mão em meu ombro.

– Filho, entendo sua preocupação. Estamos todos assim, mas não sabemos o que realmente aconteceu. É muito perigoso. Não sabemos para onde ela foi, e nem se foi levada, e dar tiros no escuro não a ajudaria em nada certo?

– Eu tenho que tentar. - Eu disse contornando-os e saindo do quarto, rumando à sala de banhos.

Não havia ninguém lá, a não ser o fardo de roupas úmidas em que eu tropecei logo que eu entrei na sala. Erguendo a camiseta contra a luz do corredor, era inegável que era de Peg, ninguém mais caberia naquele tamanho de camiseta. Aí as coisas ficavam estranhas.

Eu entendia a vontade de Peg de sumir depois de tantas besteiras que eu fizera, mas porque ela deixaria as roupas ali? Ela sempre levava as roupas molhadas com ela e as pendurava para secar.

Deixando a camiseta de lado, varri o chão de pedra com as mãos, procurando mais alguma pista. Um tecido rústico e áspero, típico de panos de chão tocou meus dedos. Agarrei o tecido também úmido e o cheirei levemente. O cheiro tinha quase desaparecido, mas eu podia reconhecê-lo em qualquer lugar. Clorofórmio! Eu sabia!

Alguém tinha apagado Peg e a raptado, e eu podia apostar minha vida de que eu sabia quem fora. Austin! Só podia ter sido ele...

>>>>

A lua cheia estava quase no topo quando eu saí das cavernas rumo à nossa garagem mais próxima, onde o carro baleado e detonado que eu dirigira com Peg na noite em que ela fora baleada estava guardado. Apesar dos vidros estilhaçados, buracos de bala e bancos manchados de sangue, Jeb insistira para trazê-lo de volta.

Repousando no banco de trás ainda manchado com o escarlate sangue de Peg o revólver me encarava com sua frieza assustadora. Peguei-o com asco e coloquei-o no bolso de trás, tendo a sensação que ia precisar. Saí da garagem, me sentindo completamente perdido. Jeb estava certo. Aonde eu iria? A arma não me daria a direção, tampouco meu amor por ela, e vagar pelo deserto sozinho enquanto ela poderia estar correndo perigo não ajudaria em nada. Eu precisava de uma pista, uma pegada, uma razão para continuar, algo que me levasse até Peg.

>>> Deêm play na música: http://www.youtube.com/watch?v=eM213aMKTHg

Sozinho e desamparado, caí de joelhos e pedi a Deus que se algum dia, eu tivesse feito alguma coisa que ele gostasse, se eu tivesse qualquer crédito com ele, que ele usasse para me ajudar a salvá-la, e prometi que se ele me ajudasse, nunca mais pediria nada a ele, nem reclamaria de nada. Abri os olhos e para minha surpresa algo se destacava na areia banhada pela lua. Andei até o lá para encontrar um chinelo. Um chinelo laranja.

– Comprou um chinelo?

Perguntei a Peg, analisando suas compras depois de uma incursão que havíamos feito algum tempo atrás. O chinelo laranja-abóbora estava em minhas mãos, assim como o sorriso incrédulo em meu rosto

– Entra areia demais nos meus tênis, o que suja as meias e desgasta a palmilha. Isso deve dar um alívio para o coitado.
Ela respondeu a mim com um sorriso doce. Aquela era minha Peg, com pena até de um pobre tênis velho. ''

POV. Peg:

– O que você quer que eu explique primeiro? Prometo ser sincero. – Austin perguntou dando um passo para perto de onde eu estava. Dei um passo para o lado, procurando manter duas prateleiras entre nós. Isso me daria uma vantagem.

– Há quanto tempo estou apagada?

– Levamos mais ou menos um dia a pé para chegar aqui, você ficou apagada por todo o trajeto.

Fiz que sim, pensando na outra pergunta.

– Porque estava falando com uma Buscadora?

Ele fez silêncio por alguns segundos e ouvi alguns passos. Dei o mesmo número para o lado contrário.

– Eu não... Sou... Quem você pensa que eu sou, Peg?

– Já percebi. - Respondi em um tom grosso, tão gelado que seria digno de ser usado com Cassie.

– Eu sou... Um espião... Peg... Eu trabalho para as almas.

Suguei o ar com tanta força que quase me engasguei. Um espião?! Um traidor humano entre nós?! Passando informações à Buscadores esse tempo todo?! Minha família corria perigo! Eu tinha, eu precisava avisá-los agora!

– Por favor, não se assuste! Eu não contei nada a eles...

Fui andando devagar para o lado, ouvindo que ele tentava contornar as prateleiras entre nós. À minha frente uma flanela laranja entrou em meu campo de visão, ajudando um plano a se formar em minha mente. Peguei o pano e rasguei o lacre da etiqueta com os dentes silenciosamente. Eu esperaria ele contornar as prateleiras sem me ver, então eu correria, correria o mais rápido do que eu jamais correra e subiria novamente nas caixas para chegar à janela.

Ian havia me dito que se você enrolasse um tecido na mão, não só não doeria seu punho, como o vidro não faria barulho ao se quebrar com um soco. Desejei ter força o bastante para romper a janela. Continuei contornando a prateleira, ouvindo cada passo de Austin para mais perto de mim.

– Por quê? –Perguntei, temendo que ele achasse que eu já tinha fugido e corresse para ver minha rota de fuga. – Espiões passam informações não é?

– Essencialmente, sim. Mas... Eu... Peg, por favor, pare de brincar comigo! Não foi assim que eu planejei, preciso olhar em seus olhos.

Não respondi, escondendo-me na lateral de uma das prateleiras. Enrolei a flanela na mão, me preparando para correr assim que Austin chegasse perto o bastante. Ouvi-o suspirar como que agoniado.

– Eu... Me escolheram porque eu sempre simpatizei com as almas... Mas o que eu senti por você... Foi mais que simpatia, eu... Eu me apaixonei por você Peg.

Ian estava certo. Esse tempo todo, Ian estava certo. Enquanto eu me derretia de ciúmes pela inofensiva Cassie, ele estava certo de não confiar em Austin. Meu coração se apertou ao pensar nele, se aquele plano não funcionasse, eu podia nunca mais vê-lo.

Com os olhos cheios de lágrimas em pensar que eu poderia nunca mais ver Ian, dizer que o amava, e que ficaríamos brigados para sempre, acabei me distraindo dos passos de Austin e antes que eu pudesse me concentrar para voltar a ouvir, senti um cano de metal gelado encostado à minha nuca. Soltei um gemido de exasperação, pega de surpresa! Uma lágrima escapou sem querer.

– Pare de fugir, agora sim? Maya estará aqui em algumas horas, então, depois de responder algumas perguntas podemos viver felizes para sempre – Ele olhou para minha mão – Solte a flanela, e seja uma boa menina. Juro que não vou machucar você se não me dar razões para isso.

Outra lágrima atravessou meu rosto.

>>>

Austin andava de um lado para o outro, agitado. Ele olhava constantemente seu relógio de pulso, de forma impaciente. Quanto tempo havia se passado? A Buscadora ainda estaria longe? Será que já perceberam o nosso desaparecimento repentino?

Minhas mãos agora estavam amarradas com uma corda, e a minha boca amordaçada, para que eu não gritasse por socorro. Meu coração batia em desespero. Lágrimas agora floresciam sem controle, caindo sob meu rosto. Austin se aproximou de mim, enxugando as minhas lágrimas.

– Eu não vou te machucar Peg – Ele falou, tirando a mordaça da minha boca. – Vai ficar tudo bem.

Desesperada, tentei me soltar das cordas, mas Austin havia me amarrado muito bem. Era impossível me libertar!

– Calminha Peg! É melhor você não tentar se soltar, ou vai acabar se ferindo. Eu te amarrei muito bem, querida – Ele falou ,acariciando minhas mãos. Meus pulsos já estavam marcados pelas cordas.

Ficamos em silencio absoluto. Cada segundo parecia ser agonizante.

– Por que está fazendo isso Austin?

Perguntei soluçando.

– Por amor! Eu nunca amei ninguém como eu amo você Peg! - Ele disse, fitando seus terríveis olhos esmeralda nos meus – Olha, agora você pode começar uma nova vida. Esquecer todas as coisas horríveis que você passou. Todas as mágoas... Esquecer Ian!

– Você sabe que o meu coração sempre pertencerá a apenas uma pessoa, e essa pessoa é Ian! – Falei sentindo um aperto no peito ao me lembrar do meu amor. Agora ele deveria ser uma presa fácil nas mãos de Cassie. – É ele que eu amo e sempre vou amar!

Ian e eu estamos brigados, eu sabia disso. Mas apesar disso eu ainda o amava com toda força do meu ser. Eu jamais iria esquecê-lo. Nunca amaria outra pessoa. E naquele momento, tudo o que eu queria era estar protegida em seus braços. Sentir seu cheiro. Seu toque. Ouvir sua voz, me dizendo que tudo ficaria bem.

– Austin, por favor, me leva pra casa! Eu quero ir para casa! – Falei, choramingando.

– Sinto muito, Peg, mas isso eu não posso fazer. Você não pode sair daqui até Maya chegar. Você vai pra Chicago comigo

– Você não pode me manter aqui, presa! Eles vão notar o nosso sumiço repentino - Disse minha garganta apertando, em choque - E tenho certeza que Ian vai vim atrás de mim! Ele virá me resgatar!

– Se eu fosse você, não postaria minhas fichas nisso – Ele disse, irônico – Ian agora tem outras prioridades, Peregrina. Uma prioridade de seis anos, chamada Allie. Ah, com a Cassie por lá, creio que ele vai te esquecer rapidinho. Acredite, Cassie é capaz de enlouquecer qualquer homem... – Ele falou, mas eu sabia que ele estava apenas me provocando.

– NÃO! – Gritei – Isso não é verdade! Eu sei que Ian ainda me ama!

Será que Austin tinha razão? Será que Ian recomeçaria uma nova vida, me esquecendo para sempre?

POV Jamie:

Mel havia acabado de sair do quarto. Ela não estava se sentindo bem. Estava enjoada e com tonturas. Nós chorávamos com duas crianças desamparadas.

Eu encarava o teto, aflito, e também um pouco aborrecido. Não queria ficar ali de braços cruzados enquanto Peg estava sumida, por ai, nesse Deserto escaldante! Por que eu não podia fazer alguma coisa? Eu já tenho quinze anos! Não sou mais uma criança, como antes, um dia eles vão ter que ver isso!

É tão entranho às vezes... tudo em mim está mudando. Meu corpo, minha voz e mesmo assim a maioria me trata com se eu fosse um garotinho de dez anos!

Sinto falta de Peg.

Ela é uma pessoa importante pra mim. Ela é como uma segunda irmã, e às vezes até uma mãe, como Mel. Queria que ela estivesse aqui. Principalmente agora. Queria poder contar pra ela que acho que estou gostando da...

Meus pensamentos foram interrompidos.

– Jamie?

Chamou a voz de Alysson, batendo na porta.

– Pode entrar, Alysson!

Meu coração pulou descontrolado dentro do peito, e parecia até a bateria de uma escola de samba. Levantei-me rapidamente, ajeitando minhas roupas e meu cabelo desgrenhado.

– Oi!

Ela cumprimenta timidamente.

Alysson estava tão linda. Estava radiante com um short jeans e uma camiseta lilás, que realçava ainda mais o seus olhos claros e a sua pela bronzeada. Só então percebi que um sorriso brotava em meus lábios. Um sorriso de orelha a orelha.

– Oi – Respondi, meio sem jeito. Eu não sei por que,mas gostava de estar perto da Alysson e ao mesmo tempo fico totalmente sem graça, sem saber o que falar quando ela está por perto. Sempre quando ela está perto de mim, as minhas mãos suam, meu coração bate acelerado e parece que borboletas dançam no meu estômago.

– Eu fiquei sabendo do que aconteceu, Jamie. Eu sinto muito. Você deve gostar muito da Peg, não é? - Ela disse corando – Quero dizer... Como irmã.

Suas bochechas esquentaram.

– Gosto sim! Peg é como uma segunda irmã pra mim. Não entendo por que eu tenho que ficar aqui, de braços cruzados!

Murmurei emburrado.

– Eu entendo você. Meu pai e a minha tia Tracy fazem a mesma coisa comigo! Eles acham que eu ainda sou aquela garotinha que brinca com suas bonecas! Isso é tão frustrante!

– Então, bem vinda! Você acaba de ser aceita no clube, o AI – Falei sorrindo, tentando descontrair o ambiente.

– AI?

– Sim, Adolescentes Incompreendidos.

Esclareci.

Alysson sorriu docemente. Ela tinha um sorriso tão lindo... Tão cativante! Duas covinhas se formavam em suas bochechas enquanto ela sorria. Acho que devo parecer um bobo na frente dela. Naquele instante, não consegui para de olhar pra ela.. É como se um imã me atraísse, como se aquele sorriso tivesse me hipnotizado.

– Não se preocupe Jamie, a Peg vai ficar bem, você vai ver!

– Espero realmente que sim – Falei, suspirando. Alysson abaixou a cabeça e só então percebi que gostas caiam sobre a sua blusa.

Ela estava chorando.

– Alysson, você está... Chorando... O que foi?

– Não é nada. Só um cisco.

– Um cisco... Sei!

– Está bem, eu admito. É que – Ela pausou – Sinto falta da minha mãe. Da minha família. Queria que ela estivesse aqui, comigo. Faz tanto tempo que não vejo ela... Desde que... Ela foi capturada.

– Eu sinto muito...

– Tudo bem. – Ela disse, enxugando as lágrimas – Jamie, você tem uma família linda. Aproveite bem isso. - Pausou fungando - Eu queria muito poder ver a minha família junto de novo.

– Não chore. Não chore. Vai ficar tudo bem.

Eu me senti totalmente perdido naquele momento. Ela estava chorando e eu não sabia o que fazer, o que dizer. Queria poder ajudar. Até por que eu entendia o que ela estava sentindo... Eu também sentia muita falta dos meus pais...

Meio desajeitado eu a abracei. Foi tão estranho. Uma sensação que eu nunca tinha sentido antes. Me coração palpitava, parecia que ia sair pela boca. Então, feito uma patinha choca, ela aceitou o meu abraço e se aninhou nos meus braços, chorando ainda mais.

– Não chora, por favor. Vai ficar tudo bem. Olha, quando a Peg voltar, agente pode tentar encontrar a sua mãe. Agente vai encontrar ela. Você vai ver! – Prometi e um sorriso logo brotou dos lábios dela, iluminando seu rosto.

– Eu gosto muito de você Jamie

Murmurou segurando minha mão.

– Eu também gosto muito de você Alysson. – Falei. Era estranho admitir, mas era verdade.

Eu também gostava e muito dela.

POV. Ian:

A loja de conveniência estava escura quando eu cheguei lá com o carro mais rápido que tínhamos nas cavernas. A viagem levou mais tempo do que eu gostaria, a lua já estava quase indo se deitar no horizonte, pronta para ser substituída pelo sol e ir reinar absoluta em algum outro lugar do mundo. Estacionei silenciosamente à alguns metros da loja e desci com a mão que segurava a arma tremendo.

Caminhei sorrateiramente até a porta da frente e apenas espiei pelas portas duplas de vidro, confirmando as minhas suspeitas. Austin estava de pé na frente de Peg, que estava amarrada e amordaçada em um canto. Meu coração deu um pulo, apertando-se de medo no peito. Eu não podia arrebentar a porta e sair atirando. Eu podia acertar Peg. Eu precisava ter muito cuidado, e acima de tudo precisava de um plano. Olhei para Peg mais uma vez para ter certeza de que ela estava bem.

As cordas rudes machucavam seus punhos e as lágrimas caiam pelo seu rosto. A visão me encheu de determinação para salvá-la. Segui para os fundos, onde uma porta de madeira fora arrombada e pendia por apenas uma dobradiça. Adentrei um depósito pequeno e escuro com caixas empilhadas em corredores parecendo paredes de papelão. Atravessei o depósito com o máximo de silêncio que pude fazer. Uma porta de ferro meio aberta mostrava as costas de Austin que estava agachado ao lado de Peg.

Atravessei minha arma na sua tempora direita.

– Bu. - Sussurrei. Ele virou-se para mim tirando a arma do bolso de trás que eu não tinha notado, e apontando para mim. Eu devia ter prestado um pouco de atenção antes de entrar daquele jeito.

– Ora, mas não é que ele veio mesmo! – Austin falou, irônico – Parabéns Peg, você acertou! Só é uma pena, por que ele não vai poder te ajudar. Maya vai dar um jeito nele quando chegar. Seu corpo será muito útil para as Almas, O’Shea!

– Ian?

Peg gemeu baixinho.

Pude ouvir o medo emanando de sua voz e aquilo cortou-me o coração como uma chicotada cruel cortando a carne. Eu precisava tirá-la dali. Uma única ideia cutucou minha mente. Era muito arriscado, mas eu tinha que tentar, tinha que salvá-la.

– Então vai ser como nos antigos torneios Davis? - Austin me olhou com uma cara estranha.

– Que jogo está jogando, O’Shea? - Ele perguntou, hesitando com a arma na mão. Pude ver que ele mal sabia segurar direito.

– Dois apontavam as armas um para o outro. O primeiro que arregace perdia.

Austin deu um riso de escárnio.

–Tenho uma arma apontada para o seu peito que eu poderia facilmente apontar para a sua noiva, você quer mesmo me dar aula de história?

– Eu e você. Agora. O vencedor a leva embora. Senti-me sujo dizendo aquelas palavras, tratá-la como um troféu, mas era preciso. Eu faria qualquer coisa para salvá-la das garras daquele psicopata louco. Austin fez que sim e deu alguns passos para trás para tomar distância.

Peg me encarou.

–Ian, o que está fazendo?! - Ela sussurrou em tom de reprimenda. Abaixei-me ao seu lado e peguei seu rosto entre minhas mãos. Lancei um olhar nervoso na direção de Austin. Ele nos encarava carrancudo e apontava a arma para nós.

– Me ouça agora, sim? Não importa o que aconteça agora, assim que você ouvir o tiro quero que você corra. Nos fundos tem uma porta aberta e deixei a chave na ignição. Fuja e vá para casa entendeu? – Falei, desamarrando as cordas que prendiam seus punhos, sem que Austin percebesse.

Ela fez que não, se aproximando com os olhos marejados.

– Não... – Ela disse, agarrando na gola da minha camisa e afundou o rosto no meu pescoço, suas lágrimas encharcavam minha camisa.

– Amor não chora. Eu já volto, fique aqui! Está tudo bem.- Murmurei tentando acalmá-la, mesmo sabendo que eu poderia nunca mais voltar. Pelo menos, não vivo.

Afastei-a com o coração partido, ainda não acreditando que estava pedindo isso a ela, pedindo para que ela me abandonasse. Estava pronto para matar ou morrer naquela noite. Beijei seus lábios salgados de lágrimas por uma última vez e me levantei para ficar de frente para Austin, apontando minha arma direto para seu peito.

– Aqui não O'Shea. Peg pode ficar traumatizada. – Ele disse, fazendo com que eu abaixasse a arma – Tem um lugar, no fundo da loja, que seria perfeito.

Assenti, seguindo Austin. Talvez ele tivesse razão. Um de nos dois sairia morto daquela loja, e sensível como a Peg é, com certeza isso a traumatizaria pelo resto da vida. Mas, o que eu não imaginei é que tinha caído numa emboscada. O lugar era cheio de espelhos, por todos os cantos. O que tornara impossível desvendar o que era um reflexo ou o que era realidade. Era um truque. O velho truque dos espelhos.

Em todos os espelhos, eu podia ver o reflexo de Austin, andando de um lado para o outro. Mas, onde ele estaria de verdade? Com certeza, eu estava em desvantagem, ele poderia estar a alguns metros de mim e eu jamais saberia. Estava completamente confuso, enganado pelas imagens refletidas nos espelhos.

– No três, nós atiramos. – Instruí, sem hesitar. Austin engoliu em seco e pude ver o suor escorrendo pela arma enquanto ele a ajeitava na mão. – Um... – Lembrei-me de Peg, procurando minha motivação. Era por ela. Por ela eu faria aquilo. – Dois... – Eu não tinha medo de morrer. Desde que Peg escapasse, Austin poderia me fuzilar com uma metralhadora e eu não me importaria. Encarei os olhos esmeralda de Austin e respirei fundo. – Três.

POV. Peg:

Fechei os olhos com força e tampei o ouvido com as mãos, tentando não ouvir o tiro fatal. Lágrimas quentes escorriam pelo meu rosto. Contei até 3. Mas eu não podia fazer aquilo. Não podia deixar o meu amor morrer, por minha causa, eu tinha que fazer alguma coisa!

Corri desesperada, com a visão embaraçada pelas lágrimas. Lágrimas de medo. Angustia. Puro pavor. E se... O meu Ian, o meu amor, estivesse morto naquele instante?

Naquele momento, nada mais no mundo importava. Ele podia ser pai de todas as garotinhas de seis anos do mundo e podia ter namorado com todas as Cassies do planeta e todas elas poderiam aparecer para me enciumar, mas eu não me importava! Eu queria que Ian me abraçasse, beijasse, dizendo que tudo ia ficar bem.

O estrondo foi tão alto que deixou meu ouvido zunindo. Lembranças de tiros antigos e dolorosos povoaram minha mente, congelando meus pés no lugar. Tive que observar sem conseguir desviar os olhos à bala perfurar o peito e o corpo cair lentamente de joelhos e depois com o rosto no chão. Uma poça de sangue empapou o chão e foi se espalhando pelo piso de linóleo quadriculado, revirando meu estômago vazio. Cobri minha boca e tapei meu nariz para tapar o cheiro metálico.

– NÃOOOOOOOOOOOOOO!

Gritei.

Uma última lágrima escorreu pela minha bochecha e fechei os olhos.


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Notas finais do capítulo

Matando Austin em 3, 2, 1...
Meninas não nos matem, por favor! Sei que essa é uma parte tensa, mas a fic precisa de uma emoção né. Porém podem ter certeza que vcs serão recompensadas no próximo. Temos uma... surpresa bem legal pra vocês!E ah, quem será q levou o tiro fatal? Será que Peg vai conseguir fugir?
Será que a Buscadora Maya vai encontrar eles? Façam suas apostas! Haha
Bom, tudo isso e MUITO mais no próximo capitulo de The Soul! Não percam ok minhas lindas. (;
Beijos!Caah & Bella