A Triste História de Um Homem Palito escrita por Saville


Capítulo 1
Uma folha de papel


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira história... hehe...
Faz um tempo que já escrevi isso, e só decidi postar agora. Bom, espero que aproveitem,



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Era um homem palito. Tinha a cabeça disforme e seu corpo era um risco, apenas. Suas pernas eram de tamanhos diferentes e seus braços eram tortos. O homem palito não tinha rosto, e mesmo se tivesse, não sorriria.

A não ser que desenhassem o sorriso. E ele seria obrigado a sorrir eternamente. Mesmo tento o coração tão pequeno para caber naquele corpo estreito. Era porque era triste.

A solidão naquela imensidão branca que era o papel. Não havia um único rabisco naquela face da folha, nada que lhe trouxesse consolo.  Apenas existia naquele papel branco esquecido em cima da mesa por alguma criança de precária noção motora.

A premissa de algo melhor era um sonho distante. De imediato queria apenas algo para lhe distrair, tirar seus pensamentos da depressão continua de estar sozinho num lugar infinito para seu tamanho. Olhos, ele precisava de olhos. Para notar o teto branco como a folha, a madeira escura.

Mas que importância teria o homem palito, com seu corpo estreito? Nenhuma, obviamente, e era por isso que estava esquecido ali, incompleto, num mundo inexistente. O pobre ser amaldiçoava o dia em que fora concebido na mente de alguma criança inconsequente preocupada em passar o tempo, esperando a chuva cessar.

E estava ali, jogado no espaço, implorando a algum ser de força maior que ao menos olhos pudesse ter. Ou que desenhassem, quem sabe, uma arvore para ele poder imaginar o barulho das folhas. Ou um cachorro.

Ah sim. Um cachorro seria o ideal. Ou um gato.

Uma companheira, quem sabe.

E os minutos pareciam horas, e as horas dias e os dias meses. O vento que vinha da janela aberta fazia a folha se mexer, empurrando-a aos poucos até a extremidade da mesa. Cair o homem palito iria, sem rosto, sem companhia. Sem o cachorro, o gato, a arvore, a companheira.

Apenas a imensidão branca e a cabeça torta, sem rosto.

Céus.

A folha suavemente voou até o chão, e a sensação foi a de puro esquecimento. Nunca mais seria achado, isso se fosse procurado. O que provavelmente não seria. Era insignificante demais para ser procurado, muito menos achado.

E então alguém o achou. Por acidente, mas ao sentir a imensidão branca se mover, o homem palito permitiu-se ter esperança. Por um único segundo os pensamentos pessimistas que povoavam o mundo de sua mente residente na cabeça torta foram substituídos por afirmações de alivio e agradecimentos.

 **

 **

A mulher olhou para o desenho feio e o levou até a filha, que brincava no jardim. A menina de cabelos louros estava distraída perseguindo uma formiga com o vizinho que aparentava ter a mesma idade que a garotinha.

Ao ver a mãe, a menina caminhou até a porta da casa, a passos lentos e vacilantes. Em sua mente infantil pensava que levaria bronca por ter deixado seu quarto desarrumado ou por ter importunado o cachorro enquanto ele dormia, naquela manhã.

Quando a menina se apresentou frente à porta, a mulher se agachou ao nível da filha, mostrando-lhe uma folha levemente amassada, com um desenho deveras feio infectando a brancura do papel.

- Vai terminar? – perguntou, largando o papel nas mãos infantis da filha – Ou posso jogar fora?

A menina pareceu refletir por um momento. Não se lembrava exatamente o porque de ter feito aquele desenho naquela manhã, e analisando-o naquele momento, o rabisco que antes parecera eficiente agora era feio a seus olhos.

Condenou a feiura da própria tentativa de desenhar o amigo que agora olhava curioso por cima do ombro da menina, esperando-a para voltar a caçar formigas.

- É muito feio – a criança deu de ombros – Pode jogar fora mamãe.

Após decretar o destino do desenho, a menina voltou a brincar com o amigo enquanto a mãe voltava para dentro da casa, rasgando o solitário homem palito ao meio.

Não tinha conseguido nem um rosto.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.