Crazy escrita por Guardian


Capítulo 18
Escuro. Ardência. Dor.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/128700/chapter/18

 Matt não conseguiu conter o grito que escapou de seus lábios tão logo o mais velho retirou a mordaça de sua boca. Exprimiu em um único som, toda a dor acumulada nas últimas horas, gastando praticamente toda a sua voz e o seu fôlego nisso.

 - Já deixo avisado para você não nutrir qualquer esperança - Alex disse sem se afetar pelo barulho - Estamos em um local absolutamente isolado, pode gritar o mais alto que conseguir que ninguém irá ouví-lo.

 Matt ofegava. Logo que Alex começou a se "divertir" com ele, depois daquela primeira queimadura, seus olhos foram vendados por um pano escuro que foi descuidadamente amarrado por detrás de sua cabeça, envolvendo alguns dos seus fios vermelhos no nó apertado, puxando e machucando caso ele tentasse mover muito a cabeça. Lágrimas escorriam por debaixo da venda, correndo por seu rosto machucado.

 Seus braços, peito e abdômen estavam preenchidos por diversos pequenos cortes e queimaduras. Alex Corliss ora aproximava a quente chama em sua pele, ora fazia um pequeno rasgo com a faca.

 E depois de cada pequeno machucado, Alex simplesmente se afastava e ficava em silêncio, sentado na cama. Claro que Matt não podia ver o monitor o encarando fixamente com seus estranhos olhos verdes. e isso era o que tornava tudo pior ainda.

 Matt sabia, aquilo era muito mais uma tortura psicológica do que corporal. Lógico que doía, mas o intervalo de tempo entre um machucado e outro, sem saber quando mais um seria infligido, parecia aumentar ainda mais a dor. 

 E foi nesse tempo que Matt se deu conta de uma verdade: "Ao se perder um sentido, todos os outros funcionam duas vezes melhor para compensar a falta do outro". Sem conseguir enxergar, tendo apenas a escuridão à sua frente, qualquer contato com sua pele parecia ser multiplicado.

 Primeiro, ouvia perfeitamente o som do monitor se aproximando. Segundo, conseguia sentir o cheiro nauseante de sua colônia. Tudo isso funcionava como uma espécie de preliminar, antecipando o que o mais velho faria a seguir. E terceiro, com seu tato sensibilizado pela falta da visão, ele sentia o que havia antecipado e um pouco mais.

 - Por que... - Matt tentou dizer, fraco. Tinha razão, parecia que usara toda sua voz antes.

 - Disse algo? - Matt ouviu o rangido da cama, quando Alex se levantou, já pegando outra vez a faca.

 - Por... Por que você veio à Wammy's? - tentou outra vez, a voz saindo baixa e tremida.

 Mesmo que não pudesse enxergar o outro, Matt ergueu o rosto.

 - Por que? - Alex pareceu ficar genuinamente surpreso com a pergunta, demorando alguns segundos para responder - Sabe a coisa que eu mais odeio no mundo? Tédio. E o tédio é algo irritantemente insistente. Descobri sobre esse orfanato por puro acaso, e pensei "por que não?" - por algum motivo Matt o imaginou sorrindo quando ele acrescentou - Posso dizer que foi realmente uma ótima idéia.

 - Doente...

 - Como?

 - Você é doente - Matt tentou fazer a voz sair forte, mas se pareceu mais com um lamento.

 - Obrigado - Alex falou antes de passar lentamente a lâmina pela lateral do pescoço do ruivo. Novamente, não fundo, mas o suficiente para a ardência e a dor invadirem um pouco mais Matt.


 Estava... Quase... Mais um pouco e... Conseguiu!

 Depois de todo aquele tempo, Mello finalmente havia conseguido passar uma das mãos pela algema. Não precisava olhar para saber que seus pulsos estavam em uma situação extrema. Imaginou que se tivesse algo para servir de lubrificante, conseguiria se soltar, e no fim, o sangue que sentia escorrer para suas mãos era o que tinha servido.

 Desdobrou devagar os braços, doloridos por ficarem naquela posição por tanto tempo, e analisou o estado de seus pulsos.

 Tinha razão, não precisaria nem ter olhado. Estavam esfolados e sangravam consideravelmente. Doía muito. Mas conseguiu se soltar. Tirou o pano de sua boca e movimentou algumas vezes a mandíbula dolorida.

 Olhou para Near. Precisava soltá-lo também.

 Engatinhou pelo quarto, não confiando em suas pernas para levantar, e torcendo muito para aquele piso velho não ranger.

 Claro que seus pulsos não aceitaram muito bem a pressão exercida por suas mãos.

 Mello realmente havia conseguido. Impressionante, como sempre. Mesmo em um momento como esse, Near ficava surpreendido com ele. Não, principalmente em um momento como esse.

 Observou o loiro engatinhar por todo o cômodo, a procura de algo.

 Quando finalmente pareceu achar, foi do mesmo jeito até Near.

 Foi devagar até Near, a dor aumentando a cada movimento que fazia. Tentou ignorá-la.

 Tinha achado o que procurava. Aquele quarto estava cheio de lixo, e entre ele, Mello encontrou um pequeno pedaço de metal. Um arame na verdade.

 Se posicionou ao lado de Near, tateando para encontrar a fechadura de suas algemas, e assim que a achou, introduziu a ponta do metal.

 Não era um grande desafio; tivera muita experiência com essas coisas junto ao Matt. Ou pelo menos não seria se não estivesse escuro, se não tivesse que se manter em silêncio, se não estivesse com medo de onde aquela situação toda daria, e principalmente, se suas mãos não tremessem levemente por conta da crescente ardência em seus pulsos.

 Near aguardava absolutamente parado conforme Mello tentava abrir suas algemas.

 Um fato que achou estranho foi que as algemas que os prendiam não eram daquelas grossas e apertadas, e sim daquelas algemas policiais. Talvez Alex nunca tenha cogitado a idéia de que eles conseguiriam se livrar delas.

 Mas Mello conseguiu.

 Near olhava de soslaio para o loiro. Seu rosto contorcia-se em uma careta de dor de vez em quando e pressionava os lábios um no outro, como se tentando impedir que qualquer gemido ou xingamento saísse de lá.

 O menos arregalou os olhos para os pulsos que estavam praticamente em carne viva.

 Ouviu alguma coisa próxima.

 Olhou para Mello. Parecia que ele não havia percebido.

 - Hmmmm - tentou chamar a atenção dele.

 O que ele estava fazendo numa hora dessas?!

 Mello levantou o rosto para Near, sem entender. O menor indicava a porta com a cabeça sem parar, com um olhar urgente e preocupado.

 O que... Merda, aquele cara devia estar voltando!

 Tinha que voltar rápido para o seu canto e fingir que continuava preso!

 Os passos iam ficando cada vez mais próximos. 

 Mello tinha que conseguir voltar a tempo. Senão...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu acho que me empolguei um pouquinho na parte do Matt ô.ô

Ps: gente, minhas aulas voltaram e eu fiz uma promessa a mim mesma de não entrar no pc até sexta, então eu vou tentar atualizar durante os fins de semana (posso me atrasar um pouco por conta das aulas de sábado, mas mesmo assim). E se eu estou lendo a fic de algum de vocês, peço imensas desculpas pela demora >.< Mas é assim, com o tempo que me sobra, eu tenho que escolher entre um dos três: ler fics, responder reviews ou postar novos capítulos. Estou tentando me organizar, mas tá difícil...

Enfim, até o próximo capítulo e por favor não me matem.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Crazy" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.