Há muito tempo atrás, havia na Grécia uma família de comerciantes japoneses que se instalara na Grécia, vendendo seus produtos importados. Por sua beleza singular e muito diferente da ocidental, eram constantemente comparados ás divindades do Olimpo, ficando assim o Sr. Kagamine conhecido como o Deus de um Rio próximo, por onde haviam chegado com sua embarcação, e sua esposa como uma ninfa.

            O casal logo que chegara deu à luz um casal de gêmeos, chamando o garoto de Len e a menina de Rin. Diferentemente dos pais, possuíam cabelos louros e olhos do mais puro azul assim como grande parte da população grega. Desde cedo eram muito próximos em sua relação, faziam tudo juntos, a ponto de encontrar um ser certeza de achar ao outro.

             Rin em sua mocidade, distinquia-se das outras jovens de sua idade por seus hábitos masculinos. Diferentemente delas, vestia calças como os homens, saía para caçar e era travessa como um moleque, sempre se metendo em confusões com o irmão, ou melhor, o  metendo em confusões.

            Foi inclusive durante uma das vezes em que saíram para caçar juntos que o Len percebeu o quanto amava a irmã, e já não mais como uma familiar e sim como mulher. Mesmo a jovem portando-se como um garoto e vestindo as mesmas roupas que ele, o jovem sabia o quanto ela podia ser delicada, o quanto seu sorriso era radiante e o quanto suas personalidades completavam-se indiscutivelmente.

            Pouco depois de sua descoberta, no entanto, ocorreu seu aniversário de quinze anos, onde Len foi apresentado a uma moça a quem estaria comprometido. Revoltado, ele negou-se vertiginosamente, tão decidido que espantou até mesmo a irmã, a qual lhe apoiou em cada palavra tão abalada quanto. A mãe, porém, na desistiria tão facilmente do casamento arranjado, pois a família da jovem era muito rica enquanto os Kagamine passavam por dificuldades financeiras. Assim, ficou decidido que os gêmeos não mais dormiriam no mesmo quarto, além disso, deveriam cortar relações até a data do evento.

            Àquela noite os dois jovens conversaram como sempre faziam antes de dormir enquanto penteavam os cabelos um do outro, procurando fingir que tudo continuaria tal qual era antes. Ainda assim, em um dado momento o garoto não teve outra saída a não ser levantar-se e seguir em direção à porta, sussurrando “boa noite” cheio de ternura.

            Ao girar a maçaneta então o inesperado aconteceu, Rin pulou da cama e segurou sua camisa em um apelo mudo. O garoto tomou-lhe a mão, soltando-a delicadamente de suas vestes e então à levando aos lábios, beijando os longos dedos da loira, a fazendo corar.

            - Não apague a vela ainda, dormirei sozinha esta noite... Eu, EU NÃO QUERO AINDA! – Foram as palavras da moça, que tentava impedir a partida do irmão.

            - Ter medo de monstros é um tanto quanto infantil nesta idade minha princesa, não acha? – Perguntou sorrindo, mas os olhos marejados da garota que lhe fitava em súplica o roubaram de seus lábios.

            Seus tempos de dupla inseparável haviam acabado. Ambos sabiam que isto ocorreria um dia, mas ainda assim sonhavam em poder se casar e construir uma ávida como amantes, pois na época casos incestuosos não eram raros e até mesmo os Deus cometiam tal pecado. O problema era sua família que agora derrubava impiedosamente o castelo de sonhos que haviam tanto se empenhado em construir e agora ruía sem volta.

            Enquanto trancava a porta silenciosamente, Len fitava os olhos de Rin à procura de respostas, abraçados, antes que se desse conta estavam deitados na cama, com ele por cima. A loira acariciou os cabelos do irmão que sorrio e deitou-se ao seu lado até que a mesma adormecesse. Antes de ir embora para seu novo quarto, o garoto sentou-se na beirada e ficou a analisar os traços da irmã, tão delicada e angelical, mergulhada no mundo dos sonhos. Não pode resistir, inclinou-se e desferiu um beijo na boca da irmã, saindo logo em seguida.

            Escorado do outro lado da porta do cômodo que deixara segundos atrás, o jovem tocava os próprios lábios confuso, recriminando-se por não ter conseguido parar a si mesmo. No quarto, Rin sentara-se na cama e com os mesmos sentimentos, no mesmo ato de tocar a boca onde ainda podia sentir o calor do hálito doce do irmão.

            Mal sabiam eles que Eco, a jovem com quem Len se casaria, estava obcecada pelo rapaz e andava seguir-lhe por todos os lugares, e assim flagrara o ato incestuoso dos gêmeos pela janela. Tomada de fúria, deixou o sentimento de traição e loucura tomar conta de si mesma e naquela mesma  noite assassinou Rin com uma espada, que ironicamente lhe fora dada como presente de casamento.

            Len após aquele dia entrou em depressão, pensando que a irmã se suicidara por sua causa. Já não era capaz de comer ou beber, rir ou mesmo viver. Nada disso fazia sentido se sua irmã já não estava mais naquele mundo. Assim, o garoto fora definhando até que um belo dia, enquanto caminhava pelas redondezas onde costumava caçar com Rin, encontrou um lago belíssimo de águas cristalinas.

            Cansado, o jovem sentou-se em suas margens e neste momento, já em delírio pela falta de alimento, confundiu o próprio reflexo com o da gêmea. Ele não se importava se havia lógica ou não em sua visão, tudo o que conseguia pensar era que esta, arrependida, havia voltado para seus braços. Então sem mais delonga jogou-se no lago, onde seu corpo já sem forças para buscar a superfície afundou e Kagamine Len morreu afogado.

            Em seus últimos momentos de sanidade, já de baixo da água, ele perguntou-se se quando atingisse o solo e fosse capaz de tomar algum impulso, ao voltar à superfície já estaria no rio Aqueronte, localizado no reino de Hades. Um leve sorriso tomou-lhe a face, pois finalmente encontraria sua irmã e nada mais seria capaz de separá-los.