Possível. escrita por Cari-chan


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Boa leitura.



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Chouji.

Ela era tão bonita.

Querem que comece por onde?

De baixo para cima? Ou de cima para baixo?

Sempre pensei que para a sobrevivência humana a comida era o suficiente.

A comida e o oxigénio. Afinal, há quem diga que não vive sem o amor, mas, eu achava que o oxigénio e principalmente alguma coisa comestível era muito mais importante.

Não agora. Neste tempo vi-me diante desse estranho sentimento e os meus pensamentos viram-se completamente mudados.

Posso dizer-vos, sim, ela é belíssima. Tem as pernas torneadas e uma cintura fina. Mas não é isso que vejo de mais belo naquela mulher. O que há de mais esbelto, é a forma graciosa como anda, como sorri, a maneira como pestaneja, a forma como os cabelos presos caiem-lhe pelas costas, como os olhos são de um azul intenso e me deixam arrasado por dentro lembrando-me do som ritmado das ondas quando vêem beijar o areal, que tem o som de uma gargalha que é melodia, que tem umas mãos delicadas que queria apertar contra as minhas, e se fosse possível ainda, estaria com ela deitado á noite envolvendo uma mão na cintura para que nunca mais partisse.

Se fosses tão simples declarar-se já o teria feito á muito tempo.

A questão é que tudo torna-se ainda mais complicado quando somos gordos.

Qual é a mulher que quer um homem com a barriga maior que ela caso estivesse grávida? Qual é a mulher que quer um homem com a cara em forma de lua cheia? Qual é a mulher que quer um homem que se cansa á mínima corrida? Que come por três se for preciso? Que ocupa demasiado espaço? Que é uma aberração como eu?

- Chouji!

Oh, não. O meu coração vai saltar-me do peito. Ela vai ouvir as batidas do meu lado esquerdo.

Concentra-te, concentra-te.

- Yo, Ino. – sorri. As minhas mãos estão a suar.

- Olha, quero fazer-te um convite. – como posso resistir aquele olhar inocente? – Apetece-te… Vir jantar a minha casa?

- O-O quê?! Jantar?! A tua casa?

- Ah, sim Chouji! Qual é o espanto? – ela põe as mãos na cintura resignada.

- Não, nada, mas e o Sasuke?

- O que é que tem o Sasuke-kun?

- Ele não se importa?

- É sobre isso que queria falar contigo. – ficou corada. – Vens ou não?

- Sim claro. – acabava de ganhar a lotaria.

- Espero-te ás dezanove horas em minha casa. – colocou-se nas pontas dos pés depositando um beijo na minha face. – Até logo. – a voz não passa mais do que um sussurro.

Hey, hey está aí alguém?! Podem dar-me um abanão? Um beliscão?! Isto foi real não foi?! Ela deu-me um beijo! A Ino beijou-me! Sim, foi um beijo daqueles que eventualmente dão quando partimos… mas Ino nunca beijara-me antes.

Nunca.

A imagem dela com o Sasuke veio-me á cabeça.

Sou estúpido não sou? A deixar-me iludir desta maneira, quando ela tem um namorado, que metade das mulheres da Vila, se não todas, dariam por ter. Atlético. Bonito. Atraente. Charmoso. Era o que elas diziam.

Baixei a cabeça e senti uma pontada de tristeza.

Era óbvio que nunca poderia ter Ino como queria, afinal, ela sempre fora apaixonada pelo Uchiha.

Enquanto eu não passava de um monte de banha ambulante.

Dezassete horas.

Pelo caso das dúvidas nada impedia de me arranjar um pouco para o jantar. Na verdade, já estava faminto.

Por comida? Ou pela sua presença?

 *

 - Sabes Ino, eu não me importava de comer uma salada.

Estávamos sentados diante de um banquete que parecia para um hokage. No sentido de que, aparentava ter sido feito para alguém importante, com todas as iguarias escolhidas minuciosamente, a mesa de um colorido de comidas.

- Não quero que te falte nada. – ela ia para o seu lugar, enquanto eu aprecei-me para afastar a cadeira. – Obrigada. – juro que vi um brilho no seu olhar.

Ino tinha um vestido simples lilás de alças. Não preciso de dizer o quanto ela fica bem com ele não é? Decidi-me por vestir umas calças pretas com uma camisa vermelha. A minha mãe disse que eu estava encantador. Será que ela pensaria o mesmo?

Ilusão. Maldita ilusão. Será que alguém sabe calar a esperança de um apaixonado?

- Espero que esteja tudo do teu agrado Chouji.

- Claro que vai estar. – provei do bacalhau com natas. – Huuum, Ino, isto está muito bom!

- Ainda bem que gostas. – o risinho que veio depois deixou-me completamente deliciado. O paraíso na terra. – Pensei em fazer churrasco, como tu gostas, mas…

- Está óptimo assim. – fiz menção logo em dizer. – Se eu soubesse que sabias cozinhar tão bem, já me teria deixado de churrascos!

- Não precisas de mentir, eu sei que não trocavas nada pelo teu churrasco.

- É verdade. – corei. – Mas nada impede de gostar do que fazes.

- Obrigada. – ela parecia ter sustido a respiração? – Mas, come, come estás á vontade.

- O Sasuke não se vai juntar a nós? – não queria que ele aparecesse, a verdade era essa, não queria confrontá-lo, mas também não queria ser apanhado de surpresa. Vê-lo a aparecer e beijar a mulher que amava.

- Não. – levou o garfo á boca com um legume pendurado. – Nós terminamos.

- Terminaram? – deixei o garfo suspenso no ar, olhando atónito para ela.

- Na verdade, eu acabei com a nossa relação.

- Porquê? – calei-me imediatamente. Será que ele? – Ino, ele magoou-te?! Traiu-te? Foi isso? O que se passou? Diz-me, que eu vou dizer umas palavras ao Uchiha. – a minha voz tornara-se repentinamente tensa.

- Não, não foi nada disso. – apressou-se a dizer. – É que eu gosto de outra pessoa. – vi-a a levar o guardanapo aos lábios, baixando o rosto.

- Ah. – os meus ombros descaíram. Ela estava apaixonada por outra pessoa. – E ele corresponde aos teus sentimentos?

- É isso que ainda não sei.

- Já tentaste falar com ele? – perdera repentinamente o apetite. A tristeza de não ser correspondido acabara por se abater.

- Estou a tentar…

- Não é fácil, eu sei, mas ele nunca deu indícios de gostar de ti? Talvez fosse mais fácil para te declarares? – tentei fazer-me de indiferente, como nada daquilo me afectasse.

- Gostas de alguém Chouji?

- Hum? Porquê essa pergunta agora? Não estamos a falar sobre ti?

- E se na verdade estivéssemos a falar sobre ti?

- O que… o que queres dizer?

Os olhos de Ino raiavam uma esperança. Um misto de possibilidades que a faziam ter receio em avançar.

O olhar de alguém apaixonado.

Ela levantou-se, suspirou, caminhando lentamente. Não consegui desprender o meu olhar do dela, enquanto se encaminhava até mim. Não queria perder aquele momento por nada. Ficamos a comtemplar-nos por algum tempo, até ter força suficiente nas pernas para me levantar.

- Tu estás a dizer-me que… - a minha voz era rouca e baixa.

- Sim, eu estou apaixonada. – a sua mão deslizou-me pela face. – Estou apaixonada por ti Chouji. – respondeu-me no mesmo tom que eu.

Desde quando? Como é que isso era possível? Alguém que me diga que não estou a sonhar. Por favor, alguém que me dê um sinal. Ino parecia ter comtemplado os meus pensamentos. Aproximou-se um pouco mais, e pôde sentir o cheiro do seu champô a mango, e o cheiro do seu perfume a flor de tiaré.

Sabia-os de cor. Fazia sempre de tudo para os sentir a entrar pelas narinas, para que nunca, nunca me esquecesse o quanto era bom ama-la.

- Não sei como isto aconteceu. – pousou as mãos delicadamente sobre o meu peito. – Eu não queria de forma alguma colocar-te nesta posição delicada, mas, também não achei justo estar a mentir a mim mesma, dizendo que não te amava, quando a verdade. – as partículas cristalinas que se formavam no olhar fez o meu corpo estremecer . – É que te amo.

Puxei-a para mim afundando o meu rosto por entre os seus cabelos. Beija-a no rosto devagar, descia pelo queixo, beijei as lágrimas que acabaram por cair. Agora percebia.

Que havia muito mais que nos unia do que nos separava.

- Eu também te amo, Ino. – coloquei uma madeixa por detrás da sua orelha. – Amo-te muito.

As minhas mãos seguravam a cintura, tinha medo de aquele momento acabasse, mas agora não podia pensar nisso, queria fazê-la sentir-se especial, mostrar como eu a queria, tanto como ela me queria. Com uma mão segurei o seu rosto depositando um beijo trémulo nos seus lábios. Ela tremia nos meus braços e eu não conseguia conter-me também. Os seus braços delicados envolveram-me o pescoço, pressionando os meus lábios, enquanto fomos intensificando o beijo, as nossas línguas a tocarem-se, a envolverem-se. As mãos dela foram até às alças do seu vestido, deixando-o cair sobre o chão, como se suspirasse.

Acabei por pega-la ao colo, estendo-a sobre a cama. Agora é que me lembrava.

Era gordo, medonho, perante aquele corpo esbelto, como uma deusa.

- Já volto.

Levantei-me apressadamente, e dirigi-me onde já sabia ser o banheiro. Fechei a porta atrás de mim.

A mulher que adorava correspondia aos meus sentimentos, queria amar-me, estava sobre a cama, sem roupa, e nunca pensei que ela pudesse ser ainda mais bela.

E eu o que tinha decidido fazer?!

Enfiar-me dentro do banheiro!

Estaria no meu perfeito juízo?!

O espelho tão grande diante de mim devolvia-me a minha imagem de corpo inteiro. Fechei os olhos com força. Enchi-me de coragem, e tirei a camisa, despi as calças de tecido. Ali estava eu, de cuecas. O verdadeiro gordo que era. A gordura que que não se podia esconder nem que me vestisse todo de escuro, o rabo suficientemente grande para ser notável a milhas de distância.

Ino não podia gostar de mim.

Não podia amar-me.

Não com este corpo cheio de gordura por todos os poros. Não tinha músculos, não tinha uma barriga lisa, não tinha pernas majestosas. A reacção que teria era óbvia.

Acabaria por desatar aos gritos e fugir.

Ouvi uma voz abafada, pela porta do banheiro.

- Chouji? – ela bateu devagar na porta. – Está tudo bem aí dentro?

- Estou bem! – “sou gordo.”

Já vais sair?

Não fui capaz de responder. A imagem que se reflectia no espelho fazia-me perder todas as esperanças. Como poderia apresentar-me a ela com aquele corpo? Ela teve o Sasuke antes de mim. Ela sabia o que era um verdadeiro corpo de um homem.

Repentinamente a porta abriu-se, e para meu horror, Ino estava a olhar para o que fazia.

- O que estás a fazer Chouji?

- Eu, hum, é que… - apressei-me a tapar-me com qualquer coisa. Estava a portar-me como uma mulher.

Pensam que só as mulheres sofrem de complexos.

Bem, eu neste momento estou a sofrer de vergonha ao ver Ino a olhar para mim desiludida. Estava a sofrer de incompetência e fraqueza.

Daria qualquer coisa por ter um corpo normal.

- Posso pedir-te que voltes para a cama? – aproximou-se, ficando a olhar o nosso reflexo. – Quer dizer, tu ainda nem lá estiveste. Chouji. – murmurou, tentando tirar-me das mãos aquilo que me tentava tapar inutilmente.

- Ino, por favor, não faças isso.

Os olhos que antes iluminaram-se perderam repentinamente o brilho, as mãos caíram-lhe ao lado do corpo, e deu um passo atrás. O compartimento ficou demasiado frio naquele instante.

- Desculpa. – baixou o rosto. – não precisas ficar comigo por pena. Eu compreendo Chouji, compreendo mesmo se não me amares. Sim, eu sei que nunca dei indícios de gostar de ti, mas, os meus sentimentos por ti são sinceros. Não quero forçar-te a me amares. – deu um sorriso forçado. – A nossa amizade vai continuar igual.

- Não. – virei-me para ela. – Não é isso, não me interpretes mal, é que eu, sabes é que eu. Eu quero fazer isto. Quero-te. Amo-te. E eu odeio esta palavra quando eu nem sei demonstra-la. – forçei-me a olhar nos seus olhos. – Só que tenho medo que… que não me queiras.

- Chouji, eu quero-te, quero-te comigo desde o momento é que me apercebi que estava apaixonada por ti.

- Porquê? Porquê eu? Porquê que me amas? Porque não o Sasuke como antes? Ou um outro homem? – ganhei finalmente coragem para lhe perguntar.

- Porque tu és inteligente. E engraçado. E corajoso. E tão encantador.

Os olhos de Ino faiscaram. Eu não dei mostras de estar convencido.

- Achas que não és? – obrigo-me a tirar o me cobria. – Olha para ti Chouji. – disse ela num deslumbramento. – Meu Deus. Como eu te quero.

Como não fui capaz de olhar novamente o reflexo, olhei para Ino. Nos seus olhos, não vi asco, não vi repugnância. Não vi que ela estivesse com medo de mim, do meu corpo.

- Deixa-me só mostrar o que vejo quando olho para ti.

Ela aproximou-se envolvendo o meu corpo num abraço, beijando-me apaixonadamente. Peguei-a novamente ao colo, e deitei-a sobre a cama. Deixei os meus dedos deslizarem pelo seu corpo. Deixei-a gemer aos meus ouvidos o meu nome. Deixei-me ser amado e amar.

No meio de tudo isso deixei de me preocupar em encolher o estômago,  e em vez disso, reparei como nos encaixávamos tão bem um no outro, como quando me libertava, passava a só haver espaço para nós.

Aprendi uma coisa. Amar não está na estatura. Está na intensidade dos sentimentos.

Ino amava-me, e agora eu sabia isso.

Não deixem que o receio apodere-se de vocês.

Porque, quem ama, ama com tudo o que tem e o que não tem.

Porque não é um corpo que faz a diferença.

Somos nós.

Porque no amor…

Tudo é possível.

 Fim.


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Notas finais do capítulo

Olá!

Bem .. espero que todos tenham gostado ..
E um review?

É bastante bem-vindo. ^^

Beijos,

Cari.



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