Qual é a utilidade disso?

Essa porcaria dessa coisa inútil pelo qual nós damos nossa vida, o amor?

Aliás, qual é a utilidade dessa vida?

As pessoas me chamam de amargurada, e tudo mais.

Tenho que ser, não há nada mais de importante nisso.

Algumas das dores horríveis que eu sinto me dão essa opinião, e conselheiros que se danem.

Pro inferno vocês e seus conselhos, malditos, se um dia vocês sofrerem o que eu sofro, vocês entenderiam.

As minhas piores dores não vêm do meu corpo, da minha carne, desses ossos.

Minhas pernas já não se movem, e minha coluna dói.

Seus olhares de piedade não me ajudam, eles me lembram daquilo que eu perdi, daquilo que eu guardava mais profundamente em meu coração.

E se sinto meus olhos lacrimejarem, e meu rosto arder, é por sua culpa.

Mas eu sei que ela não me abandonou, eu sei.

Aqueles olhos castanhos, aquele sorriso entreaberto entre os lábios, aqueles lábios que eu uma vez beijei.

Eu ainda vejo ela, mas não como eu gostaria de ver.

Eu vejo ela em meus sonhos, sua carne ferida, seus olhos umedecidos com lágrimas, sua boca entreaberta em um grito de terror.

Não como ela era, mas como eles a tornaram.

Ela viveu algum tempo além disso, mas ela estava morta por dentro.

Sempre chorando, sempre com medo.

Eles fizeram isso a ela.

Não tinha sido por ela que eu tinha me apaixonado, não era ela ali, aquele ser não era a pessoa que eu amava.

Os olhos castanhos não brilhavam mais, e o sorriso que eu amava, ninguém via mais.

Qual é a utilidade dessa vida, se só vivemos pelo amor?

E qual é a utilidade desse amor, que só nos faz sofrer?

Eu continuarei a me arrastar, mas jamais voltarei a viver.

E só viverei novamente na morte, que é onde encontrarei-me com ela, novamente.

E nos reuniremos, para todo sempre.