POV Sam

    É realmente foi exagero meu querer mudar de escola. Admito. Todas as meninas já haviam passado por isso antes, e eu fui só mais uma. Mas a humilhação era algo que eu não conseguia conviver. Então, inventei uma historia pra minha mãe, dizendo que já estava farta da mesma escola, mesmos alunos, mesmos professores e tal. A única pessoa que realmente sabe meu motivo real de ter saído, além de Fabiana, minha melhor amiga, é Carol, minha irmã. Ela é do tipo de irmã que você pode confiar. As vezes...

Flashback on:

     Eu, logo eu que já me acostumara a usar roupas largas e sem vida fui ao baile com um vestido preto, curto, tomara-que-caia, cheio de babados da cintura para baixo. Pela primeira vez em dois anos, apareci em publico com delineador nos olhos invés dos meus óculos. E pus um salto alto, cerca de oito ou dez centímetros, no lugar dos meus velhos e surrados tênis. Cheguei ate mesmo a deixar que minha mãe fizesse maquiagem em mim. Claro, no baile de primavera da escola, ninguém me reconheceu. Olhares curiosos me cercavam. Os garotos sorriam com malicia e as meninas cochichavam umas no ouvido da outra, me olhando com caras de nojo e inveja. Não sei se foi pela mudança drástica, ou foi pela mascara que eu usava. Pode ter sido uma combinação dos dois. Foi bem estranho. Eu não sabia se sorria ou se saia dali correndo enquanto ainda podia.

   Estava sentada tomando qualquer coisa quando um cara me chamou para dançar. Eu o reconheci apesar da máscara, pois ela não tampava aqueles olhos negros como noite sem lua. Usava uma calça preta social e uma gravata listrada, mesclando branco e azul. Sua pele morena ficava à mostra, também podia ver – e babar – em seus músculos. É, ele era realmente perfeito. Era o capitão do time de futebol americano da escola, Felipe Black. O mais cobiçado, e o cobiçador. Não pude dizer não, acabei me perdendo nos seus olhos e ficando hipnotizada. Bom, durante a noite, eu nem preciso dizer o que rolou. Vocês já sabem o que um cara desse tipo faz.

   Triste foi na manha seguinte, quando, ao entrar na escola, me deparei com fotos minha seminua. As aulas já estavam no final, por isso eu não fui mais à escola desde aquele dia. Inventei uma gripe forte para poder ficar em casa mais uma semana. Depois, convenci minha mãe a trocar de escola.

Flashback off.

   Faltava um dia para a volta as aulas. Eu ate sairia para curtir o ultimo dia de férias junto a uma amiga, mas eu não tinha amigas. Eu não gostava de ficar perto das pessoas e elas não gostavam de mim. Eu sempre fui do tipo que não se valoriza e que se esconde em óculos gigantes. Que está sempre com o cabelo preso em um rabo-de-cavalo frouxo. Que não pinta as unhas e que usa um aparelho dental que não te deixa falar direito.  Aquela pessoa que almoça sozinha e fica a tarde toda fazendo lição de casa. Aquela que nunca colou numa prova e que sempre sabe as respostas quando o professor pergunta. Aquela garota que eu era, eu já me cansei. (n/a: ah, e quem não cansaria?) Por isso, resolvi fazer uma mudança. Uma mudança em tudo! Comecei pelo meu quarto: antes, apenas uma cama, uma estante para colocar as roupas e um armário para os estudos. Agora, coloquei nele uma cama nova, branca, de solteiro; pintei as paredes de lilás e tinha meu nome escrito em uma delas, em um roxo bem escuro. Toquei o velho armário por um guarda-roupa, de portas de correr, branco e lilás. Tudo bem, por que tanto roxo e lilás? São minhas cores favoritas. Voltando... Coloquei uma estante bem grande, onde ficava meu novo computador. Sobrou espaço apenas para uma TV, que ficou na parede. 

   Mudei também o visual. Eu tinha olhos castanho-escuros e optei por ficar com lentes de contato, que eram melhor que os óculos “fundo de garrafa” que eu usava antes. Como já havia se passado um ano, eu enfim pude tirar meu aparelho, e agora já estava com a arcada dentária perfeita.  Meu cabelo, bem, minha mãe tinha uma amiga dona de um salão de beleza, e ela me fez uma escova progressiva. Ofereceu também manicure e pedicure. Furei a orelha pela primeira vez. (?) Fiz apenas dois furos em cada, porque quase morri de dor. (N/A: furar as orelhas dói?)

   As roupas foram direto para um bazar. Comprei tudo novo. Eu sempre tive um corpo delineado, mas sempre tive vergonha dele e sempre o escondi. Dessa vez, comprei blusas com decotes em V, mas nada exagerado. Abusei de calças jeans e all-stars. Comprei alguns sapatos de salto também e uns shorts de todas as cores e tamanhos.  Apenas vestidos pretos e vermelhos. Não comprei tantas saias, talvez só umas dez. Mas o resto....  Eu comprei muita roupa, muita mesmo!

    Não vou dizer que fiz todas essas mudanças usando o cartão de crédito da minha mãe, porque isso iria fazer parecer que sou uma adolescente mimada qualquer. Mas foi isso mesmo que fiz. Ela ainda acha que não tenho idade suficiente para ter meu próprio cartão, então sempre que preciso, ela me empresta o dela.

    Ah, me desculpe, esqueci de me apresentar. Me chamo Samantha Fill. Moro em um bairro nobre em Stratford, Canadá. Moro apenas com minha mãe, Clair,  meu irmão mais velho, Phillipe e minha irmã Carol.. Meus pais não são separados. E mau pai também não morreu. Acontece que eu fui... feita? É, pode ser. Fui “feita” em uma noite quando minha mãe e meu pai estavam bêbados e perderam a noção do que faziam, dentro de uma boate. Minha mãe nunca mais viu meu pai, ela nem sabia o nome dele, mas o que a bebida não faz, né? Já meus irmãos conhecem os seus pais. Quer dizer, o seu pai, porque é o mesmo. O seu nome é Jerry, mas ele e minha mãe são separados, foi o único casamento dela.

   Não gosto da minha classe social. Sou rica e odeio isso. (????) Acho um pouco injusto eu poder nadar em uma piscina dinheiro (que exagero, cara!) enquanto tem pessoas por ai pedindo alguns centavos para sobreviver. Por isso me isolo do mundo, não quero que ninguém saiba quem sou e como vivo. Já sei o que as pessoas pensam de gente rica: são metidas, patricinhas e mimadas. As pessoas têm muitas impressões erradas, e não quero isso para mim. Nessa nova escola que vou, nada vai mudar. Eu só não serei feita de boba novamente. E quando eu digo que nada vai mudar, digo que não muda nas pessoas. Porque se eu não serei feita de boba, é porque ocorrerá uma mudança em mim mesma!