Escolhas

Com o exército cansado, avariado porém vitorioso, Sesshoumaru caminhava em direção à seu reino, calculando a possibilidade de uma tentativa de ataque contra si. Por parte de seu semi extinto inimigo. O sorriso de seu exército pelo contrário, não se preocupava em calcular ou supor ou qualquer outra coisa que não fosse se alegrar, finalmente estavam livres de seu último grande adversário! Isso era motivo para comemorações de uma era!

No entanto, o líder do clã, estava com sua mente ocupada em procurar certos olhos achocolatados pelo campo de batalha, à muito vinha observando a pequena, sabia que ela era filha do chefe e a comandante líder do exército inimigo. Mas, seus olhos... Eram tão maravilhosos, tão penetrantes que mesmo se tornando de vermelho cortante e intenso, não perdiam a doçura. E apesar de tudo que continha naquele olhar havia submerso pelas camadas de retina certo pesar de piedade pelas vidas dolorosamente tiradas.

A pequena tinha seus belos cabelos curtos, penteados no molde da noite, seus grandes olhos piedosos, sua boca vermelha desenhada sob a pele completamente branca, pálida como a névoa que entra por entre frestas e passa por inúmeras árvores da floresta. Ela era maravilhosa. Todo o conjunto de seu corpo clamava por ela. Ele queria possuí-la, mesmo sabendo que este poderia ser seu fim. Ela seria a sua perdição que aceita de braços abertos pousaria a cabeça em seu ombro para valsarem antes de morder-lhe e tirar o líquido de vida. Seus devaneios o estavam assustando, como ela, que mesmo sendo inimiga o chamava para si podia causar-lhe tais efeitos?

-Sesshoumaru?!

Seus sonhos foram brutalmente interrompidos pelos gritos de seu meio irmão, o youkai a quem ele julgava ser o menos digno do lugar ao seu lado na hierarquia do clã. Mas, era este o desejo de seu pai. Como tal, ele deveria seguir! O que se tornava uma árdua tarefa quando Inuyasha cismava de quebrar seus raciocínios. Aquele era com certeza um youkai completamente idiota!

Apenas um olhar de desaprovação e o meio irmão se encolhia, mas estranhamente o sorriso em seu rosto se mantinha com o mesmo brilho de antes. Ele deveria estar com problemas de raciocínio lento, ou pensando em provocar Sesshoumaru até que o matasse!

-Sim, imbecil?

-Que é isso Sesshoumaru?

Inuyasha tomou saquê demais, já não estava com ares de são, e o irmão acreditava que ele cairia bêbado à qualquer momento.

-A guerra acabou vamos comemorar!

Inuyasha estava falando e agindo com o dope do álcool excessivo, e definitivamente não estava em juízo perfeito, agarrou os ombros de Sesshoumaru, oferecendo-lhe a garrafa da qual bebia. O líder deu um golpe no irmão e fê-lo cair com brutalidade no chão, com uma surda pancada, preparando-se para desembainhar sua espada Toukaijin.

-Sesshoumaru, anime-se. Agora podes casar-se com Selene.

As palavras tocaram Sesshoumaru com a força de um soco, ele estancou repentinamente, como se tivesse sido “colado” no lugar onde estava. O que Inuyasha disse era uma verdade ainda inexplorada. Ele teria de desposar Selene! Teria de cumprir a promessa feita em seu leito de nascimento.

O pai de Sesshoumaru, InuTayshou e o pai de Selene, Jurumaru fizeram uma promessa de sangue para que as terras do Norte e Oeste tornassem-se uma só. Com a união de seus filhos primogênitos e puros de sangue, seria finda e solidificada como o império de apenas um. Assim seria um grande império governado por apenas um senhor.

Mais de trezentos anos se passaram e hoje ele havia se tornado um frio youkai, que não se importava com sentimentos alheios, um grande senhor, com orbes dourados, pele alva, pelo prateado, estatura agradável e completamente estonteante, diga-se de passagem. Já ela, uma lindíssima cadela, com apaixonantes olhos azuis, que de tão claros poderiam ser confundidos com o azul do céu, cabelos prateados com leves, porém firmes reflexos em um azul Royal, pele alva como a de Sesshoumaru e um desejável corpo.

A prometida de Sesshoumaru, era sem sobra de dúvidas, a cadela mais linda de que já souberam existir, estava de veras apaixonada por ele e, era apenas atenção e carinho ao noivo. Já o comandante, não se sentia nem interessado, quanto mais atraído pela cadela. Não era boa idéia desfazer um acordo tão antigo, ele com certeza teria problemas se tentasse. Mas nunca tinha pensado desfaze-lo, até ser apresentado à charmosos olhos chocolate. E nunca havia nutrido reais esperanças de se apaixonar de verdade! Ela até o momento, era a opção mais confortável para ele.

Ele não estava nem meramente interessado na noiva, que mesmo com todos os esforços para seduzi-lo e te-lo, jamais conseguiu nada que frios acenos de cabeça, ou mesmo alguns toques infrutíferos. Ele não se importava com sinceridade nela. E apesar de saber disso, jamais deixou de correr atrás dele.

Desde a batalha que findara para sempre a disputa entre os youkais vampiros e os cachorros, ele não mais estava com seu olhar austero ou com sua posição de autoridade aparente. Pensava em tentar ganhar mais tempo antes do casamento, talvez inventar alguma batalha ou desafiar algum senhor para obter mais domínio... Qualquer coisa que o desse tempo. Ele queria pelo menos mais uma vez ver os olhos achocolatados, aqueles que o remetiam tanta dor e pesar por exterminar vidas. Ele se lembrava, claramente de vê-los guerrear e, ainda estava agradecendo por ela não estar no massacre que acabara de acontecer, não que isso mudasse a dor que viria a seu coração, mas, pelo menos ela esteve fora da carnificina.

Aquela expressão angelical, delatando a fúria do indomado coração. O corpo que dançava contra os inimigos, os fazendo de bobos ao se desviar de certeiros golpes com a leveza de uma borboleta. Os cabelos negros, curtos, porém dominantes em cor e leveza, como ela própria. Os dentes de branco mais puro que a neve, que por provar sangue humano e youkai se fortaleceram através dos séculos. E o vermelho intenso e perfeito dos lábios, que eram gentilmente acariciados pela língua lívida e molhada. Nada naquele ser amaldiçoado pela própria existência havia passado despercebido pelos furiosos e analíticos olhos de Sesshoumaru, e depois de tanto tempo lutando contra ela, se via completamente extasiado por apenas lembrar-se de sua imagem guerreando no campo. A armadura ausente, enquanto ela parecia decidida a seduzi-lo usando apenas um quimono vermelho assim como o vermelho presente em seus lábios, as insígnias que nele continham, de severo tom prateado que refulgia à luz do luar. Comandante Rin Tatsume!

Porque Kami-sama o colocava desta forma à tamanha prova, ele não seria capaz de resistir àquela filha que não lhe pertencia! Por mero segundo desejou sua morte, para que seus pensamentos o deixassem em paz e ele seguisse sem se recordar quão bela criatura ainda respirava no mesmo mundo que ele, sem que pudesse tocá-la. Mas este mero segundo fez com que pensasse em sua felicidade por poder passar o restante de sua vida com ela. Aturdido e sem chance de revogar ou mal interpretar o que sentia, rendeu-se.

O domínio que tinha sobre si, sobre o próprio corpo e faculdades... estava arriscado a ter doloroso fim!