Evil Angel - OneShot escrita por Juffss


Capítulo 1
Meu Anjo - Capítulo único




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Havia escurecido, era tarde e as lâmpadas das ruas estavam acessas. Estava frio, frio até demais já que estamos no final de abril. Eu havia passado a tarde bebendo com meus amigos que haviam chegados para o casamento que aconteceria dali a uma semana. Eu não estava acostumado a beber, nunca controlei minha embriaguez, talvez um ou dois copos em uma festa, no máximo. Eu definitivamente não sei beber, portanto preferia não fazê-lo.

Nós já estávamos bêbados quando encostamos-nos a um poste quebrado e começamos a rir. A rir alto de mais. Eu sabia que aquele local era apenas algumas ruas até a casa de Rosalie. Era muito perto. Foi então que a vi. Usando um casaco de ombro, um dos meus presentes. Caminhei cambaleando até ela. Peguei seu braço com força, puxando-a para perto de mim.

- O que foi que lhe disse John? – perguntei ao meu novo amigo de Atlanta – Não é a coisa mais adorável de todas as belezinhas vindas da Geórgia? – falei calmo.

- É difícil dizer – foi o que ele me respondeu – ela ainda está completamente vestida – sua voz soou divertida antes de voltarmos a rir.

Mas não era isso que queria, eu queria que eles admitissem que minha futura esposa era a mais bonita de todas as mulheres. Sem pensar duas vezes eu rasquei o seu casaco de ombros arrancando os botões de bronze, que se espalharam pela rua.

- Mostre-me como é, Rose! – disse enquanto puxava o seu chapéu. Os grampos arrancaram seus cabelos pela raiz e ela gritou. Gritou de dor. Mas ainda ele não havia admitido que ela era a mais bonita. E eu arrancaria cada peça de roupa até que eles admitissem isso.

(...)

Acordei naquela manhã com uma péssima dor de cabeça. Estava jogado sobre minha cama com as roupas da noite passada. Não me lembrava de nada. Não me lembrava do que fiz ou do porque estar daquele jeito.

Caminhei até meu espelho, mas não me olhei. Na verdade, assim que me vi refletido, segui para o banheiro para tomar banho. Era basicamente apenas para confirmar que eu estava ali, vivo.

Arranquei minha roupa, sem prestar atenção aos detalhes, e deixei que a água quente depositada na banheira me relaxasse. Não havia motivos para me sentir inseguro, nervoso, com medo... Mas me sentia assim, me sentia mal, e não era apenas pela dor de cabeça.

Havia algo mais, algo que me subconsciente sabia que existia, mas minha memória se recusava a lembrar. Algo que sabia que iria me fazer sofrer, mas o que era?

Sai da banheira e coloquei minhas roupas intimas. Limpei o espelho, embasado, do banheiro e senti repulsa a me ver refletido. Não conseguia me encarar. Passei a mão pelas roupas a pouco tiradas e sai dali.

Voltei a me deitar na cama. O que fiz ontem, meu Deus? Abri minhas roupas sujas para procurar manchas de batom, eu queria confirmar que não havia a traído, que não havia ficado com outra as vésperas de nosso casamento. O que vi me trouxe medo. Não havia manchas de batom, mas havia sangue. Sangue já seco. Senti meu corpo gelar, minhas mãos tremerem, meus olhos lagrimejarem, minha visão embaçar...

- O que eu fiz, Meu Deus? – perguntei ao ar com minha voz embriagada de tristeza, de medo, de repulsa por mim mesmo.

Foi ai que me lembrei. Eu a matei.

Meu coração parou. Eu era um monstro. Senti o ódio se afundar em meu peito quando me lembrei de sua face angelical tomada de dor. Não havia como voltar atrás, mas daria tudo para fazer isso.

Senti culpa, não só por isso, mas de nunca ter a beijado como merecia, de nunca ter a tratado como a dama que era... Como me dói pensar nela no passado. Ela havia morrido.

Eu havia a matado.

Eu não podia contar isso pra ninguém. Não queria ser preso. Omitiria esse caso e nunca mais voltaria a tocar nesse assunto.

- Royce – minha mãe entrou no quarto com uma cara preocupada – Eu quero conversar com você.

- Sim mamãe, sente-se – autorizei e ela se sentou ao pé de minha cama

- Eu sei que faltava menos de uma semana para o seu casamento, mas eu não... – Ela parou de repente puxando o ar e me olhando com ternura e compreensão – Ele não irá acontecer. – ela falou timidamente, como se temesse minha reação.

Eu apenas levantei da minha cama e rumei para o banheiro mais uma vez. Eu precisava de um tempo sozinho, eu havia acabado de perceber que eu matei a mulher que eu amava e eles não querem que eu aceite isso com tanta rapidez. Não é possível que eles queiram.

Mamãe não desistiria de falar comigo tão fácil. Ela não se daria por vencida a me ver levantar e correr para o banheiro como sempre faço quando algo realmente me atinge emocionalmente, afinal ela era minha mãe, não podia desistir tão fácil.

Deixei que meu corpo se encurvasse sobre minhas pernas enquanto eu sentia a parede deslizar sob minhas costas. Tudo estava errado e eu era o maior erro no meio de tantos menores.

Deixei que as lágrimas rolassem sobre minha face afundada entre as pernas e não me importei com mais nada. A culpa era minha. E eu sabia que Rose nunca me perdoaria – se pudesse – por isso.

Passei algumas horas chorando o que havia feito antes de voltar para o meu quarto e deixar que minha mãe me acolhesse em seus braços e me explicasse o que já sabia. E ela o fez de uma forma tão doce que a cada palavra o meu ódio por mim mesmo duplicava. Eu merecia a morte, mas tinha medo de enfrentar a mesma.

Os dias seguintes foram duros, para falar o mínimo. A minha rotina tinha se feito em levantar, ir para a casa dos Hale, ir a delegacia procurar as não-provas, voltar para casa e chorar até cair na inconsciência.

Eu parecia uma criança assustada com tudo isso e mais nada poderia ajudar a me salvar de mim mesmo. De certa forma teria que concordar que “o homem é o lobo do próprio homem”. Eu havia feito minha ruína, minha própria morte.

E não importava o tempo que se passava, ainda permanecia certa confusão sobre a morte de Rosalie Hale. Dúvidas por se explicar, detalhes absurdos, contradições nos depoimentos das não-testemunhas, lacunas diversas.

Continuei mantendo contato com meus amigos daquela noite. Cada um carregava a parte da culpa, mas somadas eu tinha certeza que não cobria parte da culpa que inflamava as feridas do meu coração.

Mas coisas estranhas começaram a acontecer aos poucos. Algo me falava que Rose não estava morta como todos pensavam. Algo lá no fundo me falava que ela estava viva, de certa forma, e que sofria, a cada dia, com o que aconteceu. E isso só me enfurecia mais, me fazia sentir mais culpado.

Aos poucos coisas estranhas foram acontecendo. Por diversas vezes eu me senti observado por olhos vermelhos como o sangue e era como se eu pudesse ver o ódio que transbordava deles. Raramente via vultos brancos pela escuridão, num movimento tão veloz que me assustava. Seja o que fosse aquilo não era normal, não era humano.

Mas não era somente eu que estava tomado pelo medo. A cidade toda estava apavorada com esses acontecimentos. Rochester não era uma cidade tão pequena, mas todos os seus habitantes sabiam o que havia acontecido e todos estavam assustadoramente assustados com isso. Não se saia mais após as 19h00min, não se saia sozinho...

Com o decorrer dos meses parecia que o medo ia se esquecendo aos poucos, mas apenas para os moradores das casas perfeitas daqui. O meu pavor continuava vivo dentro de mim, e me consumia a cada segundo. Com os dias que se passavam velozes eu me sentia cada vez mais observado, cada vez mais assustado.

O contato entre eu e aquelas pessoas foi se perdendo e parecia que nós havíamos esquecido o ocorrido. Parecia. Normalmente nos encontrávamos em eventos da sociedade, aos quais era obrigado a ir, e riamos um pouco, bebíamos socialmente... Vivíamos, ou fingíamos viver.

Tony havia deixado de aparecer nesses eventos após certo tempo, parecia que algo estava errado e somente eu sabia disso. Dias depois anunciaram sua morte por algo surpreendentemente sobrenatural. Não havia digitais, a coisa havia o matado em segundos e depois desaparecido em menos tempo ainda. O medo voltou a despertar no coração dos moradores. Ninguém mais estava seguro.

A vez de Jerry não tardou muito. Ele apenas sumiu, sem deixar pistas. Seu corpo foi encontrado na floresta, ensangüentado e morto. O boato que se espalhou foi que ele e um lobo brigaram. Isso explicava os cortes em seu corpo e seus ossos quebrados, mas não explicava o aparecimento de um animal tão feroz por aqui. Eu podia ter sido criado em um mundo de aparências, em um mundo de plástico, mas eu sabia perfeitamente que nessa cidade não havia registro de animas desse porte.

Foi assim também com Peter. Um animal, dessa vez um urso. Ossos quebrados, sangue em todas as partes de seu corpo... Todos que estavam presentes aquela noite estavam morrendo, como se fosse o pagamento por tê-la matado. John ainda estava vivo e com medo, eu estava nervoso e apavorado. Por alguns dias eu queria que o meu final chegasse logo, mas os atentados pararam. Como se deixasse tudo como uma coincidência gigantesca.

Seja o que fosse, parou. Apenas para nos acalmar, ou nos deixar com mais medo. Das duas uma. John se convenceu que era uma coincidência e voltou a fazer tudo o que ele fazia normalmente, e, isso, estava relacionado a abusar sexualmente de mulheres inocentes. Como não percebi isso antes? A culpa de ter matado Rose era dele, em sua grande parte, eu só queria provar pra ele... Mas isso não justificava o que fiz, e de tudo eu estava errado.

O meu medo só vinha aumentando, eu sabia que o final estava perto e estava ficando louco por conta disso. Não conversava com mais ninguém, não confiava em mais ninguém... Rosalie estava viva, eu tinha certeza, mas não era humana. Talvez um fantasma que decidiu se vingar, mas ela não estava de tudo morta!

John faleceu congelado nas ruas daquele inverno. O seu corpo foi encontrado nu, pálido, com lábios roxos de frio, espancado... Ele havia sido deixado para morrer, isso era óbvio. E estava mais nervoso e com medo do que nunca.

Esconder-me seria minha única tentativa de salvação. Eu não queria morrer, não ainda. Mas rápido do que a notícia da morte de John se espalhara, eu me trancara em um quarto sem janelas e com uma porta grossa como a de um cofre de banco. Contratei atiradores para que me protegessem, eu precisava de segurança e que fosse da melhor. Eu tinha esperanças que uma bala poderia acabar com a vida do que tentaria me fazer mal. E eu sabia que algo iria tentar fazer isso.

Era hora do jantar quando a porta de abriu, e eu vi aquela quantidade de tecidos brancos que não contrastavam em nada com a pele pálida da pessoa que os usava. Os cabelos loiros estavam presos em um penteado ornamentado com uma tiara de ouro branco e um véu que prendia ao final. Eu não contive um grito que veio do fundo da garganta quando meus olhos encontraram os dela.

O vermelho de seus olhos parecia ser líquido e se movia com tamanha intensidade quanto o ódio. Ela sorriu e eu me apavorei. Ela estava viva afinal? Mas porque tão pálida? Com olhos vermelhos? Cadê o azul-violeta tão doce e terno que jazia ali?

- Ro-Rosalie? – Minha voz soou roucamente nervosa como cada átomo que existia em mim. – Você está viva?

- Não, Royce – sua voz saiu como um tilintar de sinos, perfeita – Você me matou. Naquela noite. – porém a cada palavra eu via o ódio aumentar, se fazer presente.

Ela avançou deixando para trás o buquê de rosas que carregava em suas mãos. Eu devo ter gritado, muito. Gritado como nunca gritei em minha vida, mas não havia salvação, não mais. Era o que ela queria, era o que eu merecia. Ela estava correta, eu tinha que sentir o que ela sentiu naquela noite.

Suas mãos frias deslizaram por meus cabelos arrancando uma porção de fios pela raiz. Ela não era a doce Rose que conheci, a mulher de defeitos imperceptíveis. Ela havia se tornado uma Rose de ódio e rancor por um homem orgulhoso de mais. E eu me culparia a cada dia que existisse. Eu merecia a morte.

Meus braços foram contraídos e eu senti o baque da parede contra minhas costas. Ela estava forte, mais forte do que o mais forte dos homens. Forcei meus olhos se abrirem e eu pude encarar a tristeza que se fazia atrás do rancor. Isso só me fez sofrer mais do que antes. Eu a amava e nada iria mudar isso. Consegui esboçar um sorriso fraco antes de me sentir inconscientemente morto sobre o chão do quarto. Eu só queria que ela fosse feliz.

Porque, talvez, ela tenha sido apenas um anjo do mal.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Minha primeira One e daqui virão muitas.
Espero que gostem.

Juuh.



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