Amante Conquistado escrita por leel


Capítulo 4
Capítulo 4




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No vestíbulo da Mansão da Irmandade, Wrath andava de um lado para o outro. Quem diria que sua ansiedade algum dia se resumiria a esperar sua shellan para uma noite fazendo compras.

Por trás dos óculos escuros, seus olhos brilhavam e ele sorria. Ele não se sentia nem um pouco impaciente com Beth, mas sempre ficava algo ansioso quando ela pedia para irem juntos a algum lugar.  Queria estar logo com ela, vendo-a feliz, desfrutando de sua companhia.

Ora, ora. O rei dos vampiros, guerreiro por natureza, agora era um homem de família. O que o amor não era capaz de fazer.

Wrath já estava a ponto de ver por que Beth demorava tanto para descer, quando as portas da frente da mansão se abriram e um pequeno tumulto irrompeu vestíbulo adentro.

Phury e Rhage apoiavam o tira, completamente extenuado, e Vishous tinha uma mulher nos braços.

Doce Virgem do Fade, aquilo só podia ser problema.

“Meu senhor”. Phury disse, enquanto sustentava Butch. “Precisamos ter uma conversa em particular. Agora mesmo”.

Wrath levantou um pouco os óculos e esfregou os olhos. Essa coisa de ser rei só piorava a cada dia. E Beth não iria gostar de ter seu passeio interrompido.

“Espero que vocês tenham uma boa explicação para trazer uma estranha para a Mansão. Deixem Butch com V. e venham me encontrar em minha sala. Preciso avisar Beth que vamos adiar o que pretendíamos fazer”.

“Vou acomodar nossa hóspede involuntária”, Vishous disse. “Posso pedir a Fritz para arranjar um dos quartos vagos, meu rei?”.

Wrath olhou para o vampiro com uma expressão de surpresa. Desde quando Vishous era dado a gentilezas?

“Não vou largá-la em qualquer canto”, V. respondeu, sustentando o olhar.

“Como quiser, Vishous”. Wrath disse. “Junte-se a nós depois de cuidar do seu garoto”.

***

Vishous deixou Alysia em uma cama forrada de lençóis de cetim negro, em um dos quartos vagos da mansão. Aquela sensação de paz ao tê-la junto dele tornava mais difícil deixá-la sozinha, mas V. decidiu não pensar muito nisso. Ele não a conhecia e não podia sequer pensar em ficar de algum modo ligado àquela humana. Acomodou-a do melhor jeito que pode e saiu. Ainda tinha de cuidar do tira antes de decidir o futuro daquela desconhecida junto com o restante da Irmandade da Adaga Negra. Ou quase. Butch precisaria descansar mais um pouco e Zsadist estava às voltas com a gravidez de sua shellan e por isso não tinha saído naquela noite, não presenciando a confusão no beco.

No escritório, Phury e Rhage explicavam a um incrédulo Wrath o que havia acontecido no beco. O Rei Cego ajeitou-se na cadeira, pensativo. Chegava à conclusão de que havia algo diferente com aquela humana. Não que entendesse muito da espécie. Mas até onde sabia, humanos não davam choques ao sentirem-se ameaçados.

Pensava no que fazer para resolver o problema, quando Vishous entrou no escritório.

“Meu senhor”.

“O tira está bem?”.

“Agora está”.

“E a humana?”.

“Ainda dormindo, no quarto”.

Wrath respirou fundo. E anunciou aos Irmãos o que planejava fazer.

“Vishous, quero que fique no quarto com a humana até que ela acorde. Como você e o tira não sofreram nada ao tocá-la, e você é o único entre os dois que pode apagar memórias, quero que o faça imediatamente após o despertar dela. Rhage, Phury. Algum de vocês pegou sua bolsa?”.

Rhage se adiantou.

“Está comigo, meu rei”.

“Ótimo. Veja onde ela mora, Vishous. Leve-a para a sua casa logo tão logo apague suas lembranças”.

V. afundou o gorro dos Sox na cabeça.

“Será feito, Wrath”.

***

Alysia acordou e soube imediatamente que aquela não era a sua cama. Sentia o toque macio dos lençóis, a maciez do travesseiro e o conforto não era o mesmo de seu colchão.

O que tornava praticamente nulas as possibilidades de um pesadelo envolvendo três gigantes vestidos de negro – um dos quais calhava de ser seu ex-colega Butch.

Abrindo lentamente os olhos, constatou que estava mergulhada na mais completa escuridão em um quarto desconhecido. Virou-se e deu de cara com um vulto imenso, sentado em uma cadeira junto a sua cama.

Ah, não, outro daqueles grandalhões. O que era aquilo? A Irmandade dos Traficantes Crescidos?

Só podia ser algo assim. Ela vira o que não devia, os traficantes a levaram, e agora iam matá-la. Porque não o fizeram ali no beco era um mistério para ela. Não, espere. Ela se lembrava de que eles tentaram segurá-la no beco, mas depois daquilo tudo era uma tela em branco.

Eles não pareciam do tipo que deixavam sujeira para trás, já que os dois cadáveres no beco sumiram de maneira igualmente misteriosa. Teriam pensado que ela estaria morta, se enganaram e a colocaram numa cama? Mas porque um quarto com tanto conforto?

Então, era isso. Hora de dizer até logo ao mundo. Tinham deixado um deles ali com ela para matá-la. Quem sabe torturá-la antes. Alysia preparava-se para o pior.

Seus olhos acostumaram-se à escuridão e ela pode vislumbrar os contornos da mobília do quarto, e uma tênue luz que vinha do corredor. Olhou para seu futuro algoz mais atentamente. Pôde ver que ele tinha um gorro enfiado na cabeça, e um cavanhaque. Olhava fixamente para ela.

Repentinamente, velas se acenderam no quarto. Como? E ela prendeu a respiração quando finalmente viu o rosto do assassino. Era assustador: tatuagens nas têmporas, ao redor de um olho. Expressão letal, tão fria quanto a cor de seus olhos.

Os olhos dele... Eram límpidos. Da cor do diamante. Alysia nunca imaginou que alguém pudesse ter olhos daquela cor.

Sentiu-se tomada de verdadeiro terror. O homem era a morte em pessoa e parecia querer atravessá-la com os olhos. Queria gritar. Adiantaria? Devia estar no meio do nada. Não havia para onde correr. Talvez ela pudesse levantar, com muita sorte acertá-lo com um golpe. Mas com certeza haviam tomado-lhe os pertences, e sem a arma ela não era muito mais que uma mulher indefesa. Abriu a boca, mas nenhum som saiu. Tentava obrigar-se a ficar calma, mas o coração parecia querer saltar do peito, tamanha a rapidez das batidas.

Preparava-se para sair da cama, fazer qualquer coisa para tentar se salvar, quando o homem levantou.  Ouviu-o resmungar um palavrão, saindo em seguida da sala, deixando-a trancada.

Alysia levantou-se atrás, bateu com toda a força que tinha na porta, mas ninguém respondeu.

***

“Não consigo acessar a mente dela”. Vishous disse, ao entrar no escritório de Wrath.

Todos se viraram para ele.

“Como?” O Rei Cego quis saber.

“Não consigo apagar as lembranças dela. Sua mente é como um cofre blindado. Sem chance de entrar”.

“Merda”, Rhage disse. “O que faremos agora?”.

Phury olhava por uma das janelas, pensando. Não demoraria muito a amanhecer. Assim como seus problemas não demorariam a aumentar. Uma humana com estranhos poderes era algo absurdamente preocupante, ainda mais ali, entre eles.

Wrath esfregou as têmporas, tenso.

“Como pode essa humana ter atravessado nosso caminho? Mas que droga”.Parou um instante, meditativo. “A única coisa em que consigo pensar é em uma audiência com a Virgem Escriba. Mas ela está incomunicável, desde que iniciou os preparativos para a cerimônia do...”.

Vishous captou o fim da frase. “Pode continuar, meu senhor. Sei o futuro que me aguarda”.

“... para a cerimônia do Primale. Mas tentarei explicar que é um caso urgente, quem sabe ela possa jogar alguma luz sobre esse assunto. Enquanto isso, Vishous, você ficará de guarda. Não a deixe ir para lugar nenhum. Cuide para que fique confortável, mas não lhe diga nada. Não precisamos piorar essa situação”.

V. concordou com a cabeça, apesar de não gostar nada de servir de babá de quem quer que fosse. Mas não iria contrariar uma ordem de seu rei, não agora.

E não queria admitir, mas de certa forma queria ficar perto daquela humana problemática. Merda. Algum parafuso caíra de sua cabeça, só podia.

“Agora vamos tentar dormir”, Wrath disse. “Vai amanhecer. Já tivemos agitação demais por essa noite”.

Sim, senhor, pensava Vishous. Como se, depois de tudo que andava acontecendo com ele, fosse capaz de dormir. A humana estava trancada no quarto. Iria ao Buraco antes de instalar-se com a “hóspede” novamente. Ele iria precisar de muita vodca e cigarros enrolados. Ah, se iria.

***

 Alysia desistiu logo de bater na porta. Ninguém viria em seu socorro. Caso alguém aparecesse, seria para terminar o serviço inacabado, que no caso era a vida dela. Deixou-se cair pela porta até o chão, um começo desespero apoderando-se dela.

Pense, Alysia, pense. Você é uma policial. Já viveu tantas situações de tensão. Não deixe a iminência da morte enlouquecer você.

Conseguiu dar um meio-sorriso. Incrível o que situações-limite podem fazer com uma pessoa, não é? Mas toda a situação era inusitada: o fato de ter ido parar naquele beco. Ter visto Butch com aquele pessoal estranho. Depois, seu desmaio quando tentaram segurá-la. Agora estava num quarto cheio de confortos, apesar de ter certeza de que aquilo não era um bom sinal.

Que tipo de gente era aquela que andava matando pessoas à noite e morava em mansões com camas confortáveis cobertas com roupa de cama preta? Sim, aquele quarto só podia pertencer a uma mansão. O mobiliário era pesado, de madeira. Lindo.

Ela só conseguia pensar em máfia ou tráfico de drogas. Os caras eram capazes dos hábitos mais estranhos.

Respirando melhor, Alysia levantou. Tinha de pensar em algo para sair daquele quarto. Olhou as persianas. Eram de aço, não deixavam a menor nesga de luz passar. Impossível saber se era noite ou dia. Sem chance de pular a janela. Nem podia saber a altura do piso onde o quarto estava. Aquele lugar era uma verdadeira fortaleza. E, sendo assim, o que encontraria lá fora, ainda que pudesse pular, não facilitaria muito a sua fuga.

Precisava arranjar um jeito de atrair a atenção do guarda que estava a cargo dela. Quem sabe conseguisse encontrar algo para bater nele. Ou distraí-lo. Olhou para as velas que tinham sido deixadas acesas no quarto. Sorriu com a idéia que lhe surgiu na mente. Hum, quem sabe desse certo? Se a tirassem do quarto talvez conseguisse fugir. Estariam distraídos demais para pensar em matá-la naquela hora.

Tudo era possível. Situações desesperadoras exigiam medidas igualmente desesperadas.

Vasculhou o quarto à procura de qualquer coisa que pudesse provocar um incêndio forte o suficiente para acionar o alarme de incêndio (haveria um, não haveria?) e trazer alguém para dentro daquele quarto. Encontrou algumas revistas. Cetim também pegava fogo fácil. Juntou tudo num monte, foi até o banheiro do quarto e pegou o cesto de papeis, que estava vazio, e o encheu de água. Se todo o mais desse errado, apagaria o fogo e não morreria sufocada lá dentro. Depois de preparar a fogueira, pegou uma das velas, respirou fundo e iniciou o espetáculo.

Agora, era só esperar.


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