Amante Conquistado escrita por leel


Capítulo 13
Capítulo 13




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Vishous soltou Alysia e voltou ao lugar onde tinha largado sua arma, para recolhê-la. A detetive sentia a cabeça girar, e sentiu-se deslizar pela parede, deixando-se cair sentada finalmente.

Então ele também a queria?

Ficou observando-o. Estava com o braço ferido, mas movimentava-se de maneira precisa, objetiva. Tinha recolocado a arma no coldre e viu-o deter-se um instante, pensando.

Para Alysia, também havia muita informação a ser processada. Vishous matara um homem na sua frente. Depois reagiu de forma animalesca quando mostrou aquelas presas imensas para ela.

No que ela havia se metido?

Não podia deixar de notar a ironia da situação em que se encontrava. Parecia um filme sobrenatural: quando a mocinha descobria que o mocinho era um monstro, sempre vinha a clássica pergunta: o que é você? Alysia sempre achara aquilo tudo tão patético. Sempre racional, sempre duvidando do que via. E lá estava ela, sem saber de fato o quê Vishous era. Qual era a verdadeira natureza dele, afinal?

E ainda havia… o beijo. Ele a beijara de uma forma primal, selvagem. Era pura energia sexual. Força da natureza... Eis o que Vishous era.

Antes que pudesse se dar conta, ele estava ali, diante dela. Foi quanto reparou no coldre peitoral que Vishous vestia. Havia uma adaga negra, com o cabo virado para baixo. Do outro lado, um espaço vazio, que deveria ser ocupado pela adaga que ele tinha numa das mãos.

Alysia assustou-se e tentou levantar-se, mas desequilibrou-se e caiu de novo. Vishous abaixou-se, encarando-a com aqueles olhos quase transparentes.

“Não acreditou quando disse que mataria por você? Por que acha que lhe faria mal?”.

“O que queria que pensasse de você, com essa adaga na mão? Precisa parar com essa mania de assustar as pessoas”.

Vishous riu levemente. Mesmo para uma policial durona como Alysia, era coisa demais para uma noite só.

“Jamais levantaria uma arma em sua direção, a menos que fosse para defendê-la.” Pensou melhor e guardou a adaga. “Levante-se. Precisamos sair daqui, mas tenho de fazer algo primeiro. Não vou esconder nada mais de você. Mas vou lhe pedir para não fazer escândalo sobre o que vai ver.”

“Está me chamando de barraqueira?”

V. ergueu uma sombrancelha.

“Digamos que você não é muito diplomática para resolver as coisas.”

Alysia revirou os olhos.

“Tudo bem, tudo bem. O que mais pode acontecer esta noite de tão extraordinário?”.

Vishous tirou novamente a adaga do coldre e observou Alysia. Pensou em mandá-la para o carro e tentar esconder dela o que iria fazer com o redutor, mas seria tolice. Ela o vira atirando naquela coisa. Ele mesmo mostrara suas presas. O que poderia ser pior? O estrago já estava feito. Mais mentiras só complicariam a situação.

Ergueu a adaga e apunhalou o redutor, que sumiu numa explosão de luz bem diante dos olhos de Alysia.

“Mãe… do céu! Então foi isso o que aconteceu com aqueles caras quando encontrei Butch?”

“Quase isso. Preciso lhe explicar muita coisa, Alysia. Mas longe daqui.”

Ela concordou com a cabeça.

“Acho melhor mesmo. Nada está fazendo sentido por aqui.”

***

Chegando no carro, Alysia postou-se junto à porta do motorista.

“O que pensa que está fazendo, fêmea?”

Alysia ergueu as sombrancelhas, resoluta.

“Ora essa, eu dirijo! Você está ferido no braço. Tem certeza de que não precisa ir a um hospital?”

Com o braço bom, Vishous afastou Alysia da porta.

“Nada disso. Não preciso dos favores de ninguém. Eu me viro sozinho.”

Alysia pareceu ofendida.

“Você não passa de um ingrato. Abrir mão do controle de vez em quando não lhe faria mal algum.”

O vampiro ficou de cenho franzido.

“Eu nunca abro mão do controle. Fique sabendo disso.”

Abriu a porta e deslizou para trás do volante.

Erguendo as mãos num gesto de descrença, Alysia deu a volta e sentou no banco do passageiro. Mas que homem danado de teimoso, pensava.

Quando ela se acomodou, o celular de Vishous tocou. Ele identificou Butch no visor e soltou um palavrão. Tinha esquecido completamente de que quando saíra, deixara o tira procurando Alysia.

“Ela está aqui comigo.” Ele disse ao atender.

“Graças a Deus,” Butch respondeu do outro lado da linha. “Já não sabia mais aonde procurar ou o que dizer para justificar a ausência dela. Mas como ela foi parar aí com você, cara?”

Vishous olhou de lado para Alysia.

“Não sei. Mas vou descobrir. Agora relaxe, tira. Está tudo resolvido.”

Resolvido não era nem o começo daquilo. Alysia tinha se tornado um imenso problema. E, graças ao que acabara de acontecer no beco, agora era um problema dele, Vishous.

O vampiro desligou o telefone e arrancou com o carro. O trajeto até a Mansão era feito no mais absoluto silêncio. Ambos absorviam os acontecimentos daquela noite à sua maneira. Era o silêncio daquilo que precisava ser dito sem que alguém tivesse a coragem de começar.

Quando Vishous decidiu que estava em um ponto seguro da estrada para o complexo, encostou a Escalade. Respirou fundo e encarou Alysia.

“Quer me contar como veio parar no beco?”

A detetive não conseguia encará-lo de volta. Olhava para o chão.

“Me escondi no carro. Queria fugir. Voltar para casa.”

E ficar longe de você.

“Teve uma chance de fazer isso. Por que voltou?”

Era a vez de Alysia respirar fundo.

“Porque não poderia deixá-lo sozinho naquele beco. Mesmo que você ache que não precisa de ninguém… não conseguiria fazer isso.”

Talvez também devesse lhe dizer que a simples possibilidade de alguém fazer mal a você me deixou apavorada.

Mais um momento de silêncio constrangedor. Alysia pensou que talvez não fosse inteligente ficar ali, num lugar ermo e a sós com Vishous. Mas ele não iria tentar nada novamente… iria? Talvez aquele beijo fosse uma reação exagerada ao estresse. Se ele não falasse naquilo, ela também não iria falar. Assunto encerrado. Pronto. Acabou-se.

Hum, talvez ela não quisesse que fosse assim.

Vishous soltou um muxoxo. 

“Você é impossível, Alysia. Não lhe dissemos para ficar conosco até entender tudo que está acontecendo? Não consegue perceber o perigo que você corre?”

“Achava que era um perigo imaginário até esta noite.”

E antes disso não sabia que estava apaixonada por você. Merda.

“Agora é a sua vez de me contar que história é essa de vampiro. Ainda não consigo acreditar no que vi.”, Alysia completou, ainda sem encarar o guerreiro.

Vishous estendeu o braço direito para forçar Alysia a encará-lo, mas desistiu. Maldita mão.

De todo modo, funcionou. Alysia olhou para ele.

“Qual é o problema com a sua mão? Por que está sempre com essa luva?” disse, e antes que V. pudesse pensar, Alysia segurou sua mão.

E nada aconteceu.

Ele ficou olhando por vários segundos para a pequenina mão que segurava a sua. Depois a apertou.

“É a primeira vez que alguém segura a minha mão assim.”

 “O que há de errado com ela?” Alysia insistiu.

“É… amaldiçoada.” E com cuidado, soltou-se de Alysia. Tirou a luva e mostrou sua mão tatuada e coberta com uma suave luz branca. “Pode matar, ou curar. Depende de quem eu toco.”

Alysia olhava, de queixo caído. De fato, não era um humano ali na sua frente. Não era possível que ele estivesse fazendo gênero com ela.

“Mas você… tem algo especial. Mesmo com a luva, minha mão não é totalmente segura. E está viva para contar que a segurou.”

Alysia observava o rosto de Vishous. Não era o rosto de uma pessoa comum. Todas aquelas tatuagens em volta do olho. Os olhos da cor do diamante. E agora, aquela mão.

“Devo supor que seu olho também é amaldiçoado?”

Vishous acenou com a cabeça.

“Costumava ser. Agora já não sei. Via o futuro através desse olho.”

Alysia deixou escapar um “nossa” baixinho.

“Prometi a mim mesmo que não iria mais mentir. Não é apenas porque corre perigo lá fora, Alysia. Está conosco porque coisas estranhas acontecem com você. Coisas que nem mesmo percebe.”

Alysia olhou sem entender.

“Quando encontrou Butch no beco, você nocauteou Phury quando ele a tocou. No quarto, me derrubou com facilidade. Estava envolvida por uma luz e teve força suficiente para neutralizar aquele redutor. Assim como fez comigo. Se não tivesse visto por mim mesmo, diria que é uma de nós.”

“Como pode ser isso?”

“É o que estamos tentando descobrir. Fica tão possuída que nem se dá conta. E por um motivo que desconhecemos, sou o único que você toca sem que nada aconteça.”

“Isso é loucura. Estão tentando me deixar maluca. Como vocês todos são. Uns loucos!”

Vishous sorriu abertamente. Deixou suas presas à mostra.

“Isso é falso.”

O vampiro colocou a luva de volta e pegou a mão de Alysia. Segurando o dedo indicador dela, a forçou a tocar suas presas.

“Não era isso o que queria quando estava bêbada aqui neste carro?”

Um pouco hesitante. Alyisia percorreu uma das presas com a ponta dos dedos. Depois, a outra. Ainda segurando a mão dela, Vishous mordeu-lhe delicadamente o dedo. Suas presas deixaram pequenas marcas.

V. deliciava-se com a expressão embevecida de Alysia. Ela estava surpresa, mas também ardia em excitação. Te peguei, ele pensou.

“Acho que esta é a hora em que o vampiro mata a mocinha para beber todo o sangue dela.”

Vishous soltou uma gargalhada gostosa. Cara, ela tinha esse poder.

“Absolutamente. Não matamos para nos alimentar. Comemos normalmente, não se lembra? E nos alimentamos do sangue do sexo oposto também. Sem matar.”

“De humanas?”

“Pode ser, embora não seja o costume e nem nos alimente direito. Falo da nossa própria espécie.”

“Ah”, Alysia disse, com uma ponta de decepção. Depois deu-se um sacolejão mental. Como assim ela sentia vontade de alimentar aquele… aquele…

Vampiro sexy como o diabo.

Droga.

“E por que vivem escondidos?”

“Não sabem como os humanos tratam aquilo que desconhecem? Veja quantas lendas criaram sobre nós. Já temos inimigos suficientes querendo nos exterminar.”

“Aqueles caras de cabelo branco?”

“Redutores. Humanos sem alma recrutados pela força maligna que quer nos destruir. São capazes de qualquer atrocidade.”

Alysia passou a mão pela testa.

“E essa história de que são imigrantes? Era tudo mentira, não era?”

“Não totalmente. Vivíamos muito antigamente em uma região que chamávamos de O Antigo País. Somos poucos agora. A colônia mais numerosa está aqui nos Estados Unidos.”

“E pensar que essas coisas escondem-se bem debaixo do nosso nariz.”

“Não sabemos o que há nas ruas a noite. O que acontece quando não estamos olhando...”

“O que vão fazer comigo agora… agora que sei tudo sobre vocês?”

“Ainda não sei. Mas não quero pensar nisso agora.”

Ligou o carro e deu meia-volta.

“Aonde estamos indo?”

“A um lugar onde possa pensar melhor.”

***

Vishous sabia que não estava sendo muito razoável ao levar Alysia para sua cobertura. No entanto, não queria voltar para a Mansão, onde seria crivado de perguntas. Queria pensar no que fazer.

Por outro lado, quando Alysia visse o que havia lá dentro, talvez parasse de ter pensamentos lascivos sobre ele. E não precisava ler sua mente, ainda que pudesse. Todo o corpo dela gritava o que estava em sua cabeça, como um letreiro luminoso.

E talvez ele também pudesse se controlar. Com todos os diabos, como ele a queria. E desejava tanto que as coisas fossem diferentes. Alysia era a única mulher que abalava seu mundo, que o enfrentava e não demonstrava o menor medo. E como ele gostava disso nela!

Talvez Butch tivesse razão quando lhe disse que Vishous nutria sentimentos por ele porque era o primeiro em tanto tempo a se importar com ele. Agora ele percebia que Alysia também se importava. E ele sentia-se confortável com ela. Dera todos os motivos para afugentá-la, e ela estava ali. Duvidava que ela permanecesse quando soubesse o quão pervertido ele era. Seria mais fácil esquecer aquela maluquinha se ela se assustasse. Parte dele queria que assim fosse, para protegê-la. E a outra parte queria desesperadamente que ela ficasse.

Poderia muito bem tentar relacionar-se com ela. Relacionamentos entre sua raça e os humanos nunca davam muito certo. Mas se ele, Vishous, andava na contramão de tudo o que os outros faziam, porque não? Podia jogar tudo para o alto, enfrentar a Virgem Escriba. Desejara tanto encontrar alguma paz, e por mais paradoxal que fosse, ali estava seu desejo: um metro e setenta de encrenca pura.  

 Teria de encontrar uma maneira de contornar a questão do Primale. Por ela, valeria a pena. Dependeria do que acontecesse em sua cobertura.

Mas então, a decisão estava nas mãos dela.


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