As vezes na vida, parece que caímos dentro de uma novela mexicana.

Bem, eu tenho motivos para isso.

Meu nome é Lisa Origliasso. Sim eu tenho uma banda junto com a minha irmã... Na verdade, vamos sair em turnê no próximo sábado. Isso se eu não morrer até lá.

Não, eu falo sério. Acabei de vir do consultório de neurologia de Sidney. Tenho um aneurisma irreversível na cabeça. O aneurisma é como uma bomba relógio armada. Eu posso morrer daqui a seis meses. Ou eu posso morrer amanhã.

Bem, como eu falava antes de me auto-interromper, eu tenho motivos para me atirar em uma cama, ficar deprimida e distribuir patadas e palavras carregadas com veneno. Mas ao invés disso eu vou aproveitar a vida como se cada dia fosse o ultimo. Até porque um dia será. O céu cinza e a chuva não me deram um ar de pobre coitada andando pela chuva. Ao contrário eu corri e dancei sozinha no meio da rua. Quase deixei meu disfarce cair.

Dei meu conversível a uma mulher com dois filhos.

Dei minhas jóias a um orfanato.

Dei um beijo em um fã bonitão que me reconheceu.

Fui correndo para casa.

Ao chegar na portaria dei uma bela gorjeta ao James, nosso porteiro, coisa de 10.000.

Topei com Rob saindo do elevador.

Robert. Noivo da minha irmã Jess. Ele levou dois anos até convencer Jess à se casar com ele. Eles entraram em um acordo e agora estão noivos. Eu o odeio. Ele sempre me “confunde” com a Jess, e se aproveita por sermos gêmeas. Isso quando não espalha por ai que dorme com as duas irmãs Origliasso. Não como minha irmã o agüenta. Mas meu humor estava estranhamente bom, e isso não me afetou.

- Vê se fala com a sua irmã. – eu bufou e saiu porta à fora.

Ignorei e subi pelas escadas. Sim. 15 lances de escada. Abri a porta do apartamento e ouvi o barulho do chuveiro. E foi então que eu notei: eu estava disfarçando o nervosismo com a felicidade. Eu estava super nervosa. Era melhor eu não contar à ela. Não quero passar meu últimos dias – semanas ou meses – com piedade alheia.

Abri a porta do banheiro.

- Mana! – eu entrei no Box e lhe dei um abraço.

- Lisa sai daqui! Mas que droga!

- Eu te amo. – eu beijei a bochecha dela.

E não se empolguem, Não foi nada incestuoso.

- Você é uma idiota! Sai daqui. Aproveita e sai do meu apartamento.

Notei que ela chorava. O que foi que eu fiz? Foi quando me lembrei que o idiota do Rob tinha saído todo irritadinho. Afastei-me.

- O que houve dessa vez?

- Eu acabei com ele! – ela me abraçou e desabou chorando. Tive vontade de rir.

- Eu não quero ser insensível, mas essa não é a 4ª vez que você termina com ele essa semana? – afaguei suas costas. – faça o que só você sabe fazer. Faça-o sentir-se culpado, ele vai pedir desculpa, te mandar flores, você vai se derreter e vocês voltam.

Ela ainda fungava.

- V-você acha m-mesmo? – ela pegou o condicionador.

- Sim. – contive-me para não revirar os olhos.

Eu já estava encharcada e a minha blusa La Coste gritava de agonia, juntamente com os meus sapatos Prada.

Eu sai do Box e comecei a tirar os sapatos.

- Jess. Você não me acha mesmo irritante né? – eu me perdi em pensamentos.

- Acho sim. Uma perfeita idiota. – ela brincou.

- Retira o que disse. – eu usei um  tom de voz ameaçador.

- Não.

- Retira. – botei a mão sobre a descarga.

- Não.

Eu apertei a descarga e sai correndo. E fiz bem. Após ela gritar e se recuperar da água escaldante ela arremessou todo tipo de coisas em mim. Ela saiu puta do banheiro enrolada na toalha.

- Lisa! Sério, isso já está enchendo o saco. Chega.

- Deixa de ser rabugenta! Se prepara que depois do ensaio agente vai jantar. Eu e você. Agente podia ir viajar. Aproveitar a vida.

- Não Lisa! – seu tom de voz foi duro. – eu estou cansada e eu marquei de ir no salão. Sozinha!

- Mas, eu quero ficar com você. Eu não quero ficar sozinha hoje.

Um nó se formou em minha garganta. Meu maior medo é morrer sozinha, sem poder dizer a Jess o quanto eu a amo.

- Lisa, agente canta junto, agente mora junto, agente viaja junto, agente até nasceu junto! Mais que isso só sendo siamesa.

- É mas se eu morresse amanha você sentiria minha falta.

- Que nada, eu ia dar uma festa. Chata do jeito que você está.

- Não fala isso. Jess nunca mais fala isso. – eu contive o nó na garganta.

- Calma to brincando.

Eu engoli em seco e me fiz de forte.

- Você quer passar o dia comigo? – ela revirou os olhos

Abri um largo sorriso.

- Com certeza!