O sol batia em seus olhos, tanto por incidência direta, quanto por reflexão. Ele bufou por um momento, soltando seu habitual “tsc” ao pensar que deveria ter trago uns óculos escuros.

Suspirou já abatido e entediado com a sequidão do deserto. Preferia um lugar mais fresco e arejado, como a varanda de sua casa, seu futon, seu tabuleiro de shogi e até mesmo as nuvens apáticas de Konoha.

Shikamaru se sentou em uma pedra solitária que apareceu no caminho desértico de Suna. Reparou num lagarto que se arrastava pela areia e desejou por um momento ter o sangue frio do animal para amenizar o calor.

- O que foi, preguiçoso? Ainda falta metade do caminho até Suna! – resmungou aquela voz problematicamente mandona e prepotente.

Ele simplesmente suspirou, fechando os olhos enquanto bebia água em seu cantil.

- Fracote e preguiçoso... – tornou a resmungar Temari, agora se sentando ao lado de Shikamaru.

Rapidamente, ela tirou o cantil das mãos do chuunin e bebeu longos goles de água.

“Abusada e impulsiva” pensou.

Ao ver que ela já estava acabando com sua água, bronqueou:

- Essa era a minha última reserva de água! Não sou como os cactos daqui... como os lagartos daqui... como as corujas daqui... como os ratos daqui...

- Você reclama demais. – disse Temari. “Bebê chorão”, pensou.

- Você é problemática demais e vive num lugar problemático demais...

- Por que veio então? Podia muito bem ter vindo sozinha.

- Obrigação ninja. – disse. “Ou não”.

Eles ficaram quietos por um instante. Shikamaru olhava a contragosto a paisagem nada atrativa a seu redor.

- Qual o problema? – perguntou Temari, agora se abanando com um leque de bolso. “Há sempre um problema...”.

- A areia, tsc... – respondeu. A mulher do deserto percebera que quando ele fazia aquele som peculiar significava que estava contrariado.

“Sempre cheio de ‘tscs’ e ‘problemáticos’”.

- O que tem a areia?

- É problemática. – respondeu. – É escaldante, cega meus olhos, entra nos sapatos, me faz ficar com sede, me faz tossir, gruda na pele, além de ser completamente invencível e incansável por me fazer fracassar na tentativa de me livrar dela.

- Você vê problema em tudo. – disse Temari suspirando. – Mas farei você gostar da areia.

- Ah é, co... – Temari nem esperou Shikamaru terminar de falar e colou seus lábios nos dele.

Shikamaru olhou assustado para uma Temari de sorriso maroto e provocante. Ainda atônito, não conseguiu falar muita coisa.

Ela se levantou, ajeitando o kimono e olhando para o horizonte, disse em um tom imperativo:

- Apresse-se! A areia faz a noite ficar gelada no deserto.

Shikamaru observou Temari caminhar alguns passos a frente e, ainda sentado na pedra murmurou:

- Tsc... problemática como a areia.