Feliz. Ela se sentia feliz em muito tempo. Desde que seu irmão começara a estudar mais horas por dia e a ficar todos os dias até as 9 horas da noite na escola, ela se sentia mais aliviada. Por que ela sentia isso? Nem eu posso te explicar.

Sei que seu irmão sempre foi muito agressivo com a garota três anos mais nova do que ele e sempre a batia, desde pequena. Às vezes, achava que ele era um sociopata ou coisa pior.

Tudo o que ele fazia de errado ou qualquer coisa que acontecia com ele, era culpa dela. Mesmo quando ela não poderia fazer nada, ele lhe batia como um modo de dissipar sua raiva. As marcas continuavam no corpo dela e a garota fazia questão de escondê-las.

Quando estava com seus amigos, ela lhes contava tudo, sabendo que chegaria de algum modo aos ouvidos de seu irmão mais velho. Era um modo de vingança, porque seus amigos eram muito fofoqueiros com todos na escola.

Ela já se cortara com giletes e tesoura quatro vezes, exatamente, e parecia arranjar desculpas para se cortar novamente após a primeira vez. Seus machucados desde a última vez ainda cicatrizavam e ela já pensava em fazer mais alguns só para não se esquecer da dor.

Ele a deixara em paz por alguns dias depois da briga que tiveram. Fora um dia ruim, ela tinha que admitir.

No auge das brigas dos dois, ela assistia TV. Sua série favorita de assassinatos. Ele pulou por sobre ela e roubou-lhe o controle. Para retomá-lo, ela chutou o peito dele nem tão forte, mas pegou um pouco na sua cabeça e ele começou a socá-la com vontade. Sua mãe, percebendo a movimentação, se virou e começou a gritar com ambos. A garota, estarrecida, correu para seu quarto e bateu a porta com força, a trancando logo depois. Trancou a do banheiro quando ouviu sua mãe batendo e clamando por seu nome. Ela pegou um cinto e começou a socar a porta.

A garota abriu e levou chibatadas da mãe. Depois, ambas choraram juntas, dizendo suas angústias. A garota sabia que poderia confiar na mãe naquele momento, mas temeu contar seus segredos mais profundos. Decidiu por ficar quieta e reservá-los para si.

E assim ela ainda vive sua vida. Sua vida estranha e cheia de problemas devido à paranóia que adquiriu. Acha que merecia morrer de vez em quando, mas algo lhe impulsiona na Terra. Seus amigos e família, tirando seu irmão. Afinal, ele não é ninguém para ela.