Atlantis - os Dois Reinos escrita por LadySpohr, Tay_martins


Capítulo 8
Dúvidas




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Úrsula

Vidas acorrentadas por um simples acaso

Sentados no crepúsculo das Eras

Entre milhares, éramos três

No incessante movimento da roda do destino

Começamos a desenhar um amanhã

Estranhamente repetido,

Como em um novo passado

Não podia acreditar que tinha metido Ariana em toda aquela encrenca. Maldita hora que resolvi atender a visão! Aquilo não me fazia bem, não me trazia nada de bom e agora estava sendo ruim para a única pessoa que era boa comigo.

Ela me olhou com um desespero, eu quase podia tocar na sua angústia, mas estranhamente não era ela quem mais me preocupava, não era por ela que meu sono estava atormentado. Era por ele.

Não conseguia entender o porquê de tanta preocupação, ele nem ao menos era um colega, era só mais um na escola. Repeti isso por horas, como se uma mentira contada várias vezes se transformasse em uma verdade, mas não, não era. Ele nunca poderia ser considerado mais um, ele era como nós, diferente.

Agora os dois estavam em sérios apuros, tudo graças a minha mania de ajudar os outros. Toda aquela bagunça tinha começado por minha causa, não era justo que eles tivessem que passar por tudo aquilo.

Não conseguia continuar deitada, sentei. Da janela do meu quarto, que dividia com mais duas garotas, podia ver o corredor que levava até o alojamento dos garotos. Ele teria que passar por ali quando fosse dormir. Claro que nada aconteceria com ele, era óbvio que não podia ter matado o Gustavo, afinal estava na sala e foi informado do infortúnio depois que ele já tinha acontecido. Só quem não tinha um bom álibi era eu, e mesmo assim não me importava com o que aconteceria comigo, apenas eles me importavam, a felicidade deles seria a minha. Que sentimento mais absurdo. Sofrer por uma pessoa que você mal conhece...

A Ariana era minha amiga, era certo que me sentisse mal com o que lhe acontecia, mas e ele? A coisa mais inexplicável em tudo aquilo nem era a morte misteriosa do garoto mais irritante da escola, não, isso nem chegava a me abalar, apesar de sentir muito que um crime como aquele ocorresse tão perto de mim, o que me tirava o sono era o medo de que ele fosse acusado.

____ Ei, lesado, como está?

Ele estava vindo pelo corredor, avoado como sempre, olhando para o teto e mordendo a própria mão, que costume mais estranho. Será que ele se dava conta que parecia ridículo cravando os dentes na palma da mão?  Institivamente olhei para o teto também, quem sabe lá eu não encontraria o que buscava, mas não, lá não tinha nenhuma resposta.

Nenhum olhar, nenhum comentário, nem o menor indício que estivesse me ouvindo. Ele apenas passou, se mordendo, e andou na direção do seu alojamento me deixando com mais perguntas na cabeça. Queria ter ficado com raiva, queria sentir ódio, mas não podia, esse sentimento parecia não estar guardado para ele, não lhe pertencia.

Tive sonhos confusos, onde a Visão ia e vinha, e eu não conseguia diferenciar o que era uma legítima premonição do que era apenas um conjunto de imagens aleatórias de alguma vida passada, de alguma lembrança perdida.

“Do mar...sua desgraça será o mar...teus tormentos começarão e terminarão onde tudo tem início e fim!”

Essa frase martelava em minha cabeça, a cada sobressalto que eu tinha no sono, eu podia ouvi-la e a voz que me dizia aquela estranha profecia não era a minha, era a de Ariana. Talvez ela estivesse tendo a mesma visão agora. Ou seria apenas um sonho?

Acordei sem o menor indício que ao menos tivesse adormecido, meus pensamentos continuavam atormentados por uma mesma dúvida: De onde vinha meu desejo de protege-lo? Levantei com a preguiça habitual, tomei um banho rápido, vesti meu uniforme e fui para o pátio, tentar voltar a levar minha vida, da forma mais normal possível.

____ Pequeno Urso! Pequeno Urso! Úrsula!

Ariana corria em minha direção, gritando e acenando pedindo para que a esperasse, e mesmo que ela fizesse muito barulho eu demorei alguns instantes para conseguir entender que era a mim que ela chamava.

____ O que houve Ariana? Eles te fizeram algum mal?

Já podia sentir minhas mãos esquentando, já estava começando a perder o controle só de pensar que alguém poderia ter ferido minha melhor amiga.

____ Calminha garota!

Senti o fogo abrandando, como uma ordem, a voz dele percorreu minhas entranhas e me fez estancar. A fúria estava aplacada novamente, e mais uma vez minha mente se encheu de perguntas. Eu queria lhe fazer inúmeras perguntas, mas todas morriam em minha garganta, como se fossem ofensas.

____ Achei que você fosse um pouco mais controlada, com essas suas...coisas!

____ Sinto muito, geralmente eu tenho controle, mas todos esses acontecimentos estão me deixando um pouco abalada.

____ É, e pelo visto esse idiota não está ajudando muito! Afinal, o que você quer aqui? Nós não te queremos por perto, é melhor dar o fora.

Ariana, com sua delicadeza habitual, parecia ainda mais enfurecida do que era seu costume. Os olhos zangados e aflitos mostravam que aquelas palavras não eram brincadeira. Ela só esqueceu um detalhe: eu também estava ali.

Quando Dante estava saindo, com ar de quem se divertia atormentando a paciência da minha amiga, eu tomei a primeira atitude inteiramente impulsiva em muito tempo.

____ Não! Eu quero que ele fique! Eu preciso que ele fique!

Os dois me encararam com a mesma expressão de ódio, era evidente que um não suportava a presença do outro, mas eu sentia que tinha de estar perto dos dois. Talvez fosse apenas uma impressão passageira, mas naquele instante eu pensei que minha vida estava ligada à deles de uma forma permanente. E ele ficou, não porque eu pedi, eu podia ver que ele não se importava com o que era fundamental para mim, sei que ele ficou apenas para contrariar Ariana, que continuava bufando, emburrada ao meu lado.

____ Então, o que vamos fazer  para provar que você não teve nenhuma relação com aquele crime?

Ariana estava calma novamente, mas dessa vez eu vi o que tinha acabado de acontecer. Um toque, ele podia nos controlar, não restava dúvidas, desde o primeiro momento eu o analisei, mas só agora me dei conta de que ele podia nos subjugar com um mísero toque. Mas o que será que aquilo queria dizer?

____ Vocês duas eu não sei, mas eu comecei uma caçada!

Dante nos deu as costas e saiu, mas dessa vez eu não pensei em lhe pedir para ficar, ele me dava medo, ele podia nos usar, nos manipular e aquilo era assustador. Estremeci de leve pensando em todo o potencial daquele estranho poder e em que tipo de armas poderíamos ser nas mãos dele.

Em cada canto da escola eu podia ver as pessoas me encarando, com caras espantadas. Talvez eles estivessem certos, eu era algum tipo de aberração, com fogo nas mãos e visões desencontradas do futuro, acho que também teria medo de mim. As irmãs evitavam me tratar diferente, para que os alunos seguissem o exemplo, mas era inútil, sempre uma palavra ou outra trazia o cadáver de Gustavo de volta ao centro das discussões e novamente todos me olhavam apreensivos e assustados.

Tive um dia de desafios, não tinha controlado minha fúria tão bem, apenas por duas ou três vezes pude ver as chamas já formadas na ponta dos meus dedos e mesmo assim consegui apaga-las.

____ Você está péssima, sabia?!

Era a primeira vez que ele me dirigia a palavra sem que a Ariana estivesse por perto para se irritar e eu senti que aquele era o momento certo para fazer todas as minhas perguntas, mas ele foi mais rápido.

____ Ainda tendo visões?

Então ele lembrava das visões, claro estávamos lá desde muito antes dos meus acidentes, mesmo que ele fosse quase invisível por ali, eu não era e os boatos sobre minhas visões correram por aqueles muros durante um longo tempo.

____ Sim. Mas não gosto delas, prefiro isso.

Consegui conjurar uma pequena labareda na ponta do dedo indicador e rapidamente a apaguei para que mais ninguém visse. Ele não falou nada, deu apenas um meio sorriso e já estava indo embora quando se voltou.

____ É, vermelho e quente é mais a sua cara.

Sim, naquele momento vermelho e quente era bem a minha cara, era assim que meu rosto estava. Fiquei meio atrapalhada, tentei sorrir e não consegui, acabei fazendo algo entre uma careta e um tremor nos lábios. Ele apenas virou e continuou seu caminho, sem ao menos notar o quanto eu tinha ficado constrangida.

____ Oi  Pequeno Urso! Aquele idiota já estava te atormentando outra vez?! O que ele queria agora?

Pensei em contar a ela tudo que tinha acontecido, mas achei melhor não, ela nunca iria entender. Ele era um mistério que apenas eu podia decifrar.


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