Diario de um Semideus 2 - As Portas da Morte escrita por H Lounie


Capítulo 4
As mentiras começam




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– Prometeu? – perguntei atônita. – Mas, mas como? Ele não havia, quero dizer, Héracles o tirou de lá e...

Alguma coisa ali não estava certa, nenhum pouco certa. Sabia que prometeu foi aliado dos titãs na guerra, então talvez isso tenha sido um motivo mais do que suficiente para Zeus condená-lo mais uma vez.

– Vamos embora Luke, não vamos nos meter nisso, Thânatos logo pode perceber o que fizemos e...

– Lyra, temos que ajudá-lo.

– O que? Você está louco?

– Não, não estou, mas não podemos deixar que Zeus faça isso.

– Ah, suponho que depois de salvar Prometeu nos iremos até Atlas no alto daquele morro e vamos tomar o peso do céu para deixá-lo livre. – Disse sarcástica, apontando para o topo do monte Tam.

Luke me ignorou e começou a andar, seguindo uma trilha que daria no alto das rochas onde estava Prometeu.

– Ei, me espere! – Disse por fim. Eu não podia deixar ele ir sozinho.

Seguimos pela trilha por algumas horas, quanto mais andávamos, mais alto ficavam os gritos de Prometeu. A águia arrancava-lhe carne e sangue a cada nova bicada.

– Luke, isso é horrível, porque os deuses fazem isso?

Luke não disse nada, apenas segurou firme minha mão, me puxando para cima, para que continuasse andando.

Uma última pedra e estávamos ao lado do homem negro. Ele nos olhou perturbado, depois sorriu.

– Luke! – Disse ele. – Você aqui! Ora, por essa eu não esperava!

Luke olhou sério para Prometeu, como se estivesse editando suas palavras.

– Eu... Bom, algo me trouxe de volta.

A águia avançou contra Prometeu mais uma vez. Ele gritou e eu escondi meu rosto no ombro de Luke.

– Como pode ver, as coisas não estão tão bem para mim, meu velho amigo. E vejo que está bem acompanhado. – Ele riu.

– Acho que escolheu o lado errado da guerra, Prometeu. – Comentei baixinho.

– Suas feições não me são estranhas, você parece alguém que eu conheço. Filha de Apolo?

– Sim.

– Você se parece muito com o garoto arqueiro.

– Já me disseram isso. – Meu tom de voz não mudou, continuava baixo.

Era ruim vê-lo ali, me fazia sentir mal.

– Como tiramos você daqui? – Disse Luke, depois de um grande silêncio.

– Arranje um imortal que esteja cansado de viver. – Prometeu riu, mas em seu riso não havia humor.

– Luke, eu estava tentando te dizer. Não temos como tirá-los daqui. O castigo dele é como o de Atlas, só que no caso de Prometeu, não basta ser um herói, deve ser um imortal.

– Como ele saiu da primeira vez? – Perguntou Luke.

Eu conhecia aquela história. Como Héracles fez o acordo com Zeus, como Quíron teve participação naquilo e por que.

– Quíron. Quíron sacrificou sua imortalidade para que Prometeu saísse e a humanidade pudesse utilizar o fogo.

– Mas como? Quíron está...

– É uma longa história rapaz. – Interrompeu Prometeu. – Imagino que vocês não tenham um imortal, certo? – O titã riu mais uma vez, mas parecia cansado demais até para isso. – Mas a garota de Apolo está certa, eu escolhi o lado errado dessa vez. Sabe, os deuses jogam dados, mas o destino joga xadrez e o pior de tudo, você não descobre até que seja tarde demais que ele esteve jogando com duas rainhas o tempo todo. Vão embora semideuses, façam o que lhe foi pedido, tenho a leve impressão de que nos veremos em breve e...

Suas palavras foram interrompidas por bicadas da águia outra vez.

– Vem Luke, vamos. Não há nada que possamos fazer aqui.

Luke assentiu e retomamos a descida. Quando acabamos de descer, já deviam ser perto das 14 horas, ou duas da tarde.

– Com fome? Vamos ao Parkside café, vou ver o que consigo lá.

Depois do lanche roubado por Luke, começamos a andar pelo lugar, Luke queria procurar um carro.

– Hum, Lyra, fique aqui. Eu volto em um minuto.

O minuto chegou e passou e nada de Luke. De repente, um conversível preto surgiu, parando cantando os pneus na minha frente.

– Rápido Lyra! – Berrou Luke de dentro do carro.

Fiz o que ele disse, entrei e disparamos pelas ruas, em minutos víamos apenas árvores, sem mais pessoas ou casas.

– Onde achou isso?

– Em frente a Stinson beach library. – Ele riu malicioso. – Gostou?

– Que carro é?

– É um camaro. Rápido o suficiente para fugirmos daqui.

Há uma enorme diferença entre conhecer o caminho e percorrê-lo, pode acreditar. Chegamos até San Rafael, quando a gasolina finalmente acabou. Durante todo o caminho conversamos coisas sem sentido, rindo de nossa falta de sorte e fazendo piadas sobre morte.

Já era noite quando paramos. Luke sugeriu que comecemos algo e encontrássemos um lugar para dormir. No outro dia, quando acordei fui procurar Luke fora do horrível quarto de hotel que dividimos, o vi juntando as coisas e colocando em outro carro, meio chamativo em minha opinião. Passamos mais alguns dias na estrada, a essa altura nos encontrávamos a metade do caminho. Havíamos roubado meio mundo, passados por umas poucas e boas na estrada com pequenos monstros sem significância relevante e agora estávamos exaustos, mal dormíamos devido a pressa e a ânsia de chegar.

– Kansas City. É, chegamos longe Lyra.

Estávamos tão acostumados um com o outro que parecíamos nos conhecer desde sempre. Eu já havia aprendido suas manias, seus gostos e o mesmo parecia ter acontecido com ele.

A noite se arrastava, aquele era apenas mais um hotel barato de beira de estrada que encontramos. Nele havia apenas duas camas de solteiro e uma televisão velha sobre uma mesa antiga.

– Prometo que na próxima ficaremos em um hotel melhor. – Ele riu. Era bom vê-lo rir.

– Estou bem, sério. Não ligo para o hotel, a companhia me agrada.

Ok, menos Lyra, bem menos. Sorri, tentando disfarçar.

– Agrada, é? – Ele pulou de sua cama, vindo deitar perto de mim. Isso complicou as coisas, mal cabia eu naquela cama, e não, eu não sou gorda. – Também gosto da minha companhia.

Luke afagou meus cabelos, sua boca movia-se perigosamente perto da minha.

– Ao menos uma coisa boa nesse mar de problemas, não é?

Eu já estava ficando nervosa com aquilo, estava tentando não demonstrar, mais isso era realmente difícil.

– Sim, ótimo na verdade. Ei, já disse que você é linda? – Ele sorriu, sorriu daquele jeito... Luke, não se explicar. A cicatriz em seu rosto brilhou, ele parecia malvado e sexy ao mesmo tempo.

Desviei o olhar, baixando meu rosto, mas Luke parecia querer que o olhasse ou qualquer coisa assim, pois puxou o meu rosto para perto dele, até estarmos a centímetros de distância.

Sem que eu percebesse ou pudesse evitar, ele iniciou um beijo. Um tipo de beijo urgente, sensual e provocativo. O garoto sabia provocar e aquilo era bom, mas não me parecia certo, eu tinha alguém, eu já tive alguém que me fazia sentir bem quando me beijava.

– Nico. – Não foi mais que um sussurro, mas o suficiente para afastar Luke.

– Nico? Quem é esse? – Ela pareceu irritado, me soltando de seu abraço no mesmo instante.

– Ele é... ele era... meu...

Não disse mais nada, apenas escondi a cabeça nos travesseiros. Luke beijou meu rosto e foi para sua cama. Depois de chorar boa parte da noite, finalmente dormi.

Na manhã seguinte saímos sem dizer uma palavra um para o outro e foi assim até a metade do dia, quando Luke parou para pegar nosso almoço e novas roupas.

Depois disso, conversamos apenas coisas necessárias, não era mais a mesma coisa, e foi assim por muitos dias, até que resolvi dar um jeito nas coisas, já estávamos na Filadélfia.

– Vamos ficar nesse impasse até quando? – Fui direita, me sentando na cama do velho hotel.

– Que impasse?

– Luke, por favor. Vamos para com isso, sim? Desde aquela noite em Kansas City as coisas tem estado bem ruins.

– É que Lyra, eu devo ter algum problema. – Ele também sentou-se na cama, andei até lá, me ajoelhando perto dele no chão.

– Por que Luke?

– Porque gosto das pessoas erradas, que não dão a mínima para mim. Primeiro Annabeth, depois você.

– Do que está falando?

– Ah, esquece, não é nada.

Ele se jogou na cama, escondendo o rosto no travesseiro. Deitei ao seu lado, passando a afagar seus cabelos, tentando entender o que ele falava.

– Luke, olha pra mim. Posso ficar aqui a noite toda, se você quer fazer do modo difícil.

Ele riu, virando-se para mim. Dei um beijo rápido e seus lábios.

– Quero fazer do modo difícil, vai ter que ficar aqui a noite toda. – Sua voz saiu baixa.

Ele me puxou para um abraço e eu dormi rapidamente. No outro dia estávamos mais animados, isso era visível. Nossa viagem estava quase chegando ao fim.

– Long Island, aqui vamos nós.

Seguimos pelas estradas, passando tudo sem olhar. E depois de muito tempo, podíamos ver a colina. Luke parou a vários quilômetros de distância, teríamos que seguir a pé.

– O que vamos dizer quando chegarmos? Oi, estamos vivos, como vão? Isso não parece certo. – Comentei.

– Isso vai ser realmente difícil, nem imagino como seremos testados até que eles confiem em nós novamente, principalmente em mim.

– Ah, daremos um jeito.

Quando chegamos aos pés da colina, vimos que alguém – ou algo – nos esperava.

– E que comece um novo jogo. – Falei despreocupada, enquanto Luke empunhava sua espada e estraçalhava algum monstro que não pude identificar. A coisa fez um barulho horrível, realmente ruim de se ouvir.

Depois de vencer tal monstro, subimos a colina, vendo que já haviam pessoas lá, devido ao escândalo da criatura. Elas nos encaravam sem dizer uma palavra. Eu mal estava respirando de tão nervosa.

– E algumas coisas nunca mudam. – Luke estava sorrindo, aparentemente feliz por vencer o monstro, nem ligando para as pessoas que nos observavam.

– Algumas coisas nunca mudam. – Concordei. – Não importa o quão morto você esteja.

Nos livros, os heróis podem cometer erros à vontade. Não importa o que façam, tudo sempre vai acabar bem. Eles matam os monstros com uma facilidade incrível, eles acertam as coisas com uma rapidez impressionante. Já a vida real é horrível. É difícil e cruel. A realidade não se importa com heróis e finais felizes e com como as coisas devem ser e acontecer. Na vida real, acontecem coisas ruins. Os finais dificilmente são felizes. Pessoas morrem. Lutas são perdidas. O mal sempre vence. E as mentiras começam.


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