Diario de um Semideus 2 - As Portas da Morte escrita por H Lounie


Capítulo 25
Todos os fins


Notas iniciais do capítulo

Então, aqui vai o último capitulo. Não era esse meu plano, mas imprevistos acontecem.Quero deixar aqui um obrigada do tamanho do Olimpo aos que acompanharam a Lyra até aqui, por mais que esse fim(?) possa ser um pouco decepcionante para alguns.Talvez eu escreva a continuação, 'A última filha' quando eu conseguir tempo (e se tiver alguém interessado, que deixe isso por review), mas por hora, vou continuar apenas com 'Until the very end', que se tornou minha paixão, porque tenho que escrever um livro pra escola SOFRE/, e isso vai ocupar muito do meu tempo e criatividade Q Sem mais.



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‘‘Você será a protagonista, mas não terás o seu final feliz. Morrerás devagar, eu quero apreciar sua carne empalidecer, a respiração oscilar e o coração desacelerar. O peão inesperado dará o xeque-mate.’’

10 de janeiro

Querido diário,

Acho que não sinto mais meu corpo, é isso. Tudo parece tão estranho. Talvez o que vou escrever agora seja apenas um acumulo de memórias criadas pelo acaso ou por algo que eu não conheço e simplesmente não controlo.

Agora parece que meu cérebro trabalha de maneira automática e inconsciente, como novas engrenagens ansiosas de uma fábrica em pleno auge de produção, idéias e idéias surgem sem que eu tenha consciência delas. Os olhos não servem mais apenas para ver. Basta fechá-los para encontrar-me em um mundo distinto e completamente desigual, basta desejar e entregar-me a facilidade e a comodidade de que qualquer deus dispõe e ter qualquer coisa que queira.

Divido-me entre o desejo quase incontrolável de provar mais dessa sensação de poder e entre o medo do desconhecido e o desejo de voltar a aquilo que concebia como real. Sinto saudades do que um dia eu fui e ao mesmo tempo quero explorar o que ainda posso ser, e parece que isso vai acabar comigo aos poucos.

Mamãe disse que eu sempre fui capaz de ver as possibilidades, papai que eu sempre pude ver coisas concretas. Os dois juntos acreditam que eu sou perfeitamente capaz de ver qualquer fim que possa haver para toda e qualquer coisa que existe. A deusa de todos os fins, ‘um oráculo super poderoso’, como Hermes disse. Isso de certa maneira me deixou desapontada, afinal, a maioria das pessoas não quer saber o fim, elas acham que querem conhecer o fim de tudo, mas no fundo sabem que isso não é bom e nem necessário. ‘Não é por aí’ papai tentou argumentar ‘As coisas não são assim’ garantiu mamãe. Hermes ao invés de me apoiar decidiu manter-se neutro na situação, como se as suas idéias o houvessem abandonado.

Como forma de dar boas vindas, meu avô Zeus presenteou-me com o que, segundo papai, passará a me representar: Uma ave Fênix, a única que não conhece um fim, já que quando morre renasce das cinzas. Irônico não? Bem, eu acho que sim. A deusa dos fins tem como símbolo a única coisa no mundo que não conhece um fim. Hilário. Decidi chamá-la de Às, embora eu não saiba explicar o porquê. ‘As’ até onde eu sei é a primeira das cartas do baralho. Acho que no fim das contas quis manter a ironia.

Meu pai e Hermes mantêm certo distanciamento que eu não entendo. Segundo Hermes isso é apenas ‘ciúmes de pai’, mas como Apolo nunca fez o tipo paternal, eu chego a duvidar disso.

Afrodite anda fazendo tudo o que pode para nos aproximar, mesmo que eu demonstre certa resistência. Prefiro passar noites intercaladas entre o palácio de Hermes e o de meu pai, sem nunca aceitar os convites de passar ‘uma noite de mulheres’ no palácio rosa espelhado que pertence a ela. Acho que o bom do Olimpo é isso, em um lugar tão grande e cheio, você sempre tem muitas opções, nada nunca é limitado.

Fiquei surpresa ao perceber que uma companhia que realmente me agrada é a dos meus meio irmãos Eros e Harmonia. E da esposa de Eros, Psiquê. Outra pessoa com a qual posso manter uma conversa é Ariadne, não sei como ela sendo tão adorável, consegue suportar o Sr. D. Evito os deuses grandes, com exceção a papai, mamãe e Hermes. Não me sinto segura para manter diálogo com qualquer outro deles, apenas vez ou outra troco algumas palavras com o senhor dos mares, quando ele está de bom humor, ou até mesmo com Zeus, quando isso é realmente necessário. E tem Lara, minha Protetora, que bem... Ela não conversa, no sentido literal da palavra, mas fala através de sussurros com aroma de louro, quando ela os joga em uma fogueira. Era ela quem eu vi junto de minha mãe em um sonho há muito tempo atrás, quando eu estava desmaiada em Sonoma Valley, antes de lutar com o rei gigante. Encontrei Sky um dias desses, ele anda todo cheio de segredinhos com Hera. Já sei no que isso vai dar no final,mas, vou apenas aguardar, sei que duros dias de batalha então por vir, temo por todos, especialmente meus irmãos e os outros do acampamento. Até meu pai irá sofrer, a garota sem nome está para chegar, aquela da profecia de Cassandra, a que vai quebrar a maldição. E desde já não me parece algo bom.

Mas voltando ao assunto, não é raro me encontrar com Ártemis, na zona do crepúsculo, quando vou ajudar o meu pai com o fim do dia mortal, mas esta não me dirige a palavra e eu prefiro assim. Quanto mais longe eu estiver dela e de suas caçadoras, melhor é.

Outro fato que me deixou incomodada foi o encontro nada animador com Hades, na noite do solstício de inverno, em 21 de dezembro. O homem coração de pedra me encontrou descendo as escadarias da sala dos tronos e com um simples olhar me fez sentir medo de uma forma que jamais senti. Era um olhar de raiva e mágoa, um olhar que eu já conhecia. Olhar que vi em Nico naquele fatídico dia no acampamento. Será que o senhor dos mortos me odiava pelo que fiz ao seu filho? Parecia-me pouco provável, uma vez que Hades não parecia se importar com o garoto, mas Apolo estava se mostrando um pai protetor, por que Hades não poderia também o ser? Isso realmente me assusta, não deve ser bom ter um dos grandes como inimigo, já me basta ter Hera e recentemente, Hefesto e Ares (Sim, eu já esperava por isso, a revolta do marido traído e do amante matador). Afinal, eu não sou uma filha de Afrodite com um mortal, mas sim com um deus.

Pelo o que eu ouvia dos outros, depois de ter recebido a imortalidade minha aparência mudou. Eros brincava que eu era uma versão mais inocente de Afrodite, enquanto Psiquê e Harmonia defendiam a tese de que fiquei ainda mais parecida com meu pai. Eu apenas sorria, achando tudo uma grande besteira, eu era apenas Lyra, ou Helena, como já estava acostumada a ser chamada por Afrodite, não deveriam me comparar à beleza sem igual de meu pai ou de minha mãe. Eles eram únicos e incríveis a maneira deles e ninguém poderia se comparar a aquilo, a perfeição da beleza masculina e feminina.

Aos poucos tento me acostumar a tudo que acontece, tento absorver cada detalhe que me cerca. Mesmo cercada dos carinhos daquele que me jurou amor eterno, não posso deixar de sentir que algo me falta, de que apesar de tudo que faz por mim, Hermes não é tudo o que eu preciso. Acho que nesse ponto tenho apenas Afrodite como conselheira, mas apesar de meus lamentos e reclamações, ela apenas me diz para esperar, que no fim dará tudo certo e quer saber? Eu conheço todos os fins agora. Essa conversa não serve para mim mais, não me é suficiente. Apesar de ver as possibilidades e de ver as coisas concretas, eu não vejo uma saída para mim, eu não vejo um fim que venha para sanar toda e qualquer dor que possa surgir nesse longo para sempre.

Outro fim está chegando, é hora do crepúsculo, meu pai chama por mim.

See you later,

Lyra.

É claro que qualquer tipo de paz é apenas um prefácio para o caos. A cidade se curvava, enevoada e fria no inicio da manhã pouco iluminada, o sol era apenas um rumor e a noite ainda uma ameaça. Deslizando entre as ruas escuras atrás de mim, eu sentia os ecos e sombras do vôo matinal de Às. Minhas mãos suavam, era como se aquele grande acontecimento fosse ainda maior do que parecia.

– O melhor que podemos dizer agora é que poderia ter sido pior. – Sussurrou Hermes, tomando minha mão direita.

– São as palavras mais tristes que você poderia dizer. De onde veio? Não o vi chegar.

Ele sorriu, envolvendo-me em um abraço. Era a primeira vez que eu pisava no mundo mortal como deusa e isso simplesmente me parecia um tipo errado de situação.

– Ainda tenho a sensação de que há mais problemas pela frente. As cartas foram embaralhadas contra ele.

– Eu sabia que iria encontrá-lo aqui hoje. – Sorri, meu olhar parando em uma figura alta parada em nossa frente. – Papai? – Chamei o homem que observava atento a criança. O deus olhou para mim e seu sorriso desapareceu. Ele mais do que ninguém sabia que não deveria estar ali. – Acho que estive esperando por este fim. – Conclui, desvencilhando-me do abraço de Hermes.

Ampulheta concluída, o tempo se esgotou aqui. Ou talvez isso não seja um fim, no final das contas, talvez um começo. Chego a pensar que talvez eu mesma alimentei essa obsessão pelo fim. Ao desviar o rosto de meu pai, percebi um par de olhos negros a me encarar. O garoto observava minha mão unida a de Hermes, com as suas fechadas em punho, fazendo as veias saltarem por sobre o pulso, fazendo-me perceber o ruído outrora despercebido que agora eu tinha certeza de que era meu coração batendo acelerado, ameaçando pular do peito. As palavras fugiram, não havia nada ao alcance de minha mente. Descobri naquele momento que poderia lutar contra tudo, menos contra o meu desejo. Controlei o impulso de abraçá-lo, vendo que aos poucos eles se afastava, voltando para as sombras. Hermes continuava rígido ao meu lado, limitando-se a observar.

– Ele é um imortal agora – Disse rapidamente.

E essa foi a melhor noticia que recebi em dias. Com uma última olhada, despedi-me de meu pai e de sua já amada ‘garota sem nome’, logo depois disso o vento - o adorador de todos os fins - se fez presente, levando com ele um último suspiro de pesar, enquanto a caminhada lenta de volta para casa trazia consigo a esperança de melhoras. Ainda havia esperança.

Sim, esse não é o fim, nem é o começo. É como um intervalo. Um intervalo que vai determinar muitas coisas. Tempos turbulentos estão por vir. A incerteza da certeza, começa em cada ponto enfim, o fim.

"And when the last one falls, when it's all said and done it gets hard but it won't take away my love"

(‘E quando o último cair, e quando tudo estiver dito e feito, isso se tornará mais difícil, mas eu não vou desistir do meu amor')

(Here Without You – 3 Doors Down)

FIM (?)

Continuação (https://www.fanfiction.com.br/historia/168136/The_Last_Daughter)


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