Perspectiva escrita por mamita


Capítulo 4
Despedida de Solteiro


Notas iniciais do capítulo

# ATENÇÃO # Nesse capítulo há a descrição do Carlisle sobre os ferimentos da Rose. Tentei ser o mais técnica e respeitosa possível. Mas talvez alguns termos choquem.

Não se animem, nada de Striptease.



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PDV Carlisle

Eu e Esme estivemos conversando sobre o casamento desde que Rosálie e Emmet resolveram se declarar, como sempre minha esposa se comoveu e ficou felicíssima com a notícia, achando tudo muito romântico.

- Amor, isso é maravilhoso! Talvez agora ela possa se sentir finalmente feliz. Ela terá um motivo maior para existir, sabemos como o amor pode mudar o imutável, até um vampiro, você mesmo diz isso. A nossa mudança foi tão perceptível.

Eu a lembrei que boa parte desta mudança se devia ao amor físico e então ela percebeu a delicadeza da situação. Será que Rosálie será capaz de se envolver de forma tão íntima depois do que passou? Estamos apreensivos quanto à noite de núpcias e os efeitos que isto terá sobre ela.

Para dizer a verdade eu me sinto acima de tudo, culpado. Era uma noite fria de abril quando eu a encontrei, já era para estar mais quente aquela altura do ano. Isso é engraçado, nós vampiros não sentimos frio ou calor, mas podemos dizer com precisão a temperatura.

Eu a encontrei por conta do cheiro do sangue, depois tentando me lembrar não recordo de tê-la ouvido pedir socorro e tenho certeza que estava consciente todo o tempo (deveria ter sido mais atencioso).

Ao contrário do estado de Esme e Edward ela não corria risco de morte, apesar de seus ferimentos. Ela estava completamente nua, tinha uma clavícula deslocada, um dos pulsos torcidos, a mão luxada e com um hematoma(como se tivesse sido pisoteada), um corte no couro cabeludo, o lábio partido, o olho direito muito inchado, o nariz quebrado, contusões e arranhões. Era perceptível que os hematomas das coxas e quadril deviam-se ao esforço de lutar contra a resistência dela e mantê-la de pernas abertas, já os da barriga e lateral do tórax pareciam ser provenientes de chutes (não creio que tivesse alguma costela quebrada, pois respirava sem dificuldade).

No entanto, não vi as famosas marcas de defesa nos antebraços e mãos, ela devia conhecer o agressor.

Notei queimaduras pequenas e redondas em seus seios como se tivessem encostado charuto na pele. Senti então que teria que fazer o mais delicado: examinar as suas partes íntimas.

Havia muitas contusões nos lábios externos, hematomas e sangue coagulado, deixando o aspecto ainda mais revoltante.  Um filete de sangue fresco vertia intermitentemente, o que indicava um corte na parede interna da vagina, ou talvez (a julgar as marcas nos seios), uma queimadura.

Teria que suturar o períneo, pois estava completamente lacerado, talvez alguns pontos no reto também. Quanta brutalidade, por certo foi mais de um, eu diria muitos.

Se sobrevivesse ao frio, com os devidos cuidados e repouso, de certo se salvaria. No início comecei a tratá-la, depois parei para pensar e conclui que mesmo que ela sobrevivesse, aquilo tinha sido sua sentença.

Ela pertenceria à alta sociedade, era noiva do herdeiro dos King, seria logo desacreditada. Questionariam se não houve participação dela no ocorrido, se não se comportou indevidamente e depois se arrependeu, sendo surpreendida pela insistência do agressor.

Perguntariam:

-O que uma moça de estirpe fazia desacompanhada à noite? 

  Por que deu aproximação a homens estranhos?

  Por que não pediu por socorro?

  Onde estava a decência no portar-se?

Ela seria uma pária, ficaria marcada para sempre com a pecha de desonrada, a família também seria excluída da roda de amizades. A isolariam em um lugar escondido onde uma moça como ela jamais se acostumaria ou em um convento para limpar o nome. Ou pior, seria renegada à prostituição, ao meretrício.

Me ocorreu que ela era tão linda, talvez a humana mais bonita que já conheci e que Edward em algum momento sentiria a necessidade de ter uma companheira. Então eu resolvi, corri com ela para casa e antes mesmo que eles chegassem, eu a transformei. Ainda recordo de seus olhos assustados pensando que eu a machucaria mais.

Hoje toda vez que eu a vejo sinto uma culpa enorme, apesar de minhas melhores intenções eu me esqueci do elementar: pedir sua permissão.

De certa forma fiz o mesmo que aqueles homens e aproveitei seu corpo para meus propósitos, neste caso a felicidade de meu filho.

Fui da mesma forma cruel, e o que é pior, minha decisão era definitiva, aqueles crápulas a agrediram de forma brutal e violenta, mas eu a condenei a tortura pela eternidade.

Ela se lembraria e teria que conviver com as marcas daquela violência para sempre. No que eu podia me considerar melhor?

Edward discordou desde o início.

- Rosálie Halle? Ele me perguntou.

Acho que ela ouviu a mesma repulsa que eu, ele nunca foi de disfarçar seus sentimentos.

Não sei o que ela concluiu com isso, mas sempre que se lembra daquela noite corre para longe dele e os dois vivem em meio a rusgas e desentendimentos.

Para que a situação se amenizasse enquanto ela se transformava, deixei minha mente relembrar as considerações que me levaram a tomar a decisão: O falatório, a crueldade da exclusão, as acusações de nossa sociedade machista e (sendo um pouco dramático a fim de enternecê-lo) até a possibilidade da morte por hipotermia. É claro que ocultei meus planos de matrimônio, e a única frase coerente que consegui articular foi:

- Era muito desperdício!

Esme fez coro de pronto comigo, ele concordou, mas jamais aceitou de fato.

Me acusa de ser condescendente com ela e quase teve um ataque quando concordei que se vingasse de seus algozes. Ela não tem uma relação paternal comigo como meu filho e agora o Emmet, mas se apegou a nossa família como um abrigo e fonte de segurança depois do ocorrido.

Como me considera seu criador, me segue de forma incondicional e por isso sempre pede minha aprovação para tudo. Eu, no entanto, a vejo como minha filha também. Por detrás da máscara vejo-a tão graciosa e delicada, parece uma bonequinha de porcelana. É a imortal mais bonita que já conheci, nem mesmo Heide consegue suplantá-la.

Eu a observo e vejo além de seus subterfúgios, sua máscara de segurança e auto-suficiência, seus rompantes de fúria, seus silêncios, sua desconfiança exacerbada, sua irritabilidade.

Sei que ela se utiliza destes mecanismos para se proteger e tentar lidar com a imensa mágoa do que perdeu ao virar vampira; tenta esquecer a saudade da família e não pensar no quanto eles devem estar sofrendo por ela; tenta não dar vazão ao medo de ser agredida de novo (por mais irracional que isto possa parecer); tenta não sentir pena de si mesma e se obriga a continuar existindo; e o principal, ela tenta esquecer as dores. Ela não é de fácil relacionamento, mas sei que ela vale a pena todo o sacrifício, não perco as esperanças.

Depois da experiência com ela prometi a mim mesmo jamais transformar alguém, mas quando ela chegou com aquele homem todo ensangüentado, seu esforço em manter o autocontrole, percebi que (mesmo que fosse inconsciente) era algo que ela desejava muito e não pude negar. Devia ter desconfiado do rumo que iria tomar.

O Emmet foi uma grata surpresa para todos nós, nos deu um pouco de trabalho com todos aqueles músculos e o período de recém criado, mas é adorável. Acho até que o relacionamento entre Rosálie e Edward melhorou, sinto que ele se sente grato pelo irmão que ela encontrou para ele. E óbvio o amor entre eles a modificou completamente.

Terminei meu segundo cervo, não digo que não aprecie um carnívoro, mas na escassez prefiro deixar para os meninos. Eles finalmente encontraram um urso, posso escutar as gargalhadas do Edward se divertindo com a luta entre Emmet e a presa.

De novo essa sensação de irritação e injustiça. Engraçado ultimamente tenho tido um sentimentos estranhos, algo que parece não ser da vida humana, já que não consigo recuperar e foi depois que o Emmet chegou à família, quando penso nele.

PDV Edward:

Emmet estava se divertindo com o urso antes de atacá-lo, era hilário, será que jamais conseguirá superar a primeira derrota?

Na verdade eu visualizava dois ursos, tamanha era a semelhança do ataque dele e do animal, depois de muito sorrir eu intercedi em favor da presa:

- Emmet, acaba logo com isso, se você não chegar a tempo ela vai te trucidar.

Ele avançou e com a força de uma avalanche esfacelou o pescoço do pobrezinho.

Quando Carlisle se aproximou ele sorvia as últimas gotas de sangue.

Pude sentir a direção dos pensamentos de meu pai, o rosto de Rose, o afeto paternal, Emmet de mãos dadas com ela, irritação, sensação de injustiça. Era de igual modo divertido. Eu bati em seu ombro e disse:

- Papai ciumento, Dr. Cullen?

Ouvi ele concluir silente.

- É isso!  Não é uma sensação que já tive, nunca fui pai, por isso não reconheci. Eu o abrigo em minha família, ofereço casa e orientação e ele se engraça logo com minha filha? Tudo bem que o considero como filho e ele faz muito bem a ela, mas é minha menininha.

Sentiria falta do Emmet o tempo todo lá em casa, já que iriam ganhar uma e um pouco de privacidade devida aos recém casados, já não posso dizer o mesmo da azedinha. Por isso alteei o tom de minha voz e disse, como se falasse com Carlisle:

- Gosto da parte em que não divido o mesmo teto que a Rose. Só tenho pena do Emmet que mesmo que ganhe inúmeras casas vai ter de morar com ela por toda a eternidade.

Carlisle me olhou severo e Emmet soltou uma gargalhada estridente, deixando o ambiente mais ameno.

- Emmet, já ouviu dizer que o casamento é a morte de um homem?  Não se cansa de morrer pelas mãos da mesma carrasca não?

Ele carregou a carcaça do urso para perto de umas árvores e disse:

- Edward, quando meus males forem velhos o seu será novo, um dia encontrará aquela pela qual deseje morrer, como disse. E eu o verei indo como um bom cordeiro enforcar-se, pondo uma aliança no dedo.

  Sei que no fundo gosta dela, só está tentando me fazer desistir do casamento porque está com ciúme da irmãzinha.

Carlisle me olhou inquisidor e eu bufei antes de gargalhar retrucando:

- O nervosismo que atinge os noivos fritou seu cérebro Emmet. Carlisle faça alguma coisa para restituir a sanidade mental de meu irmão. Você é médico!

Vi na mente de Carlisle a satisfação do reconhecimento de nossa irmandade. Quando olhei para o Emmet ele me encarava.

- Eu também te considero meu irmão.

Ele disse e me abraçou.

- Emmet desistir do casamento tudo bem, mas virar de lado não. Eu não quis a Rose, mas ainda sou macho.

Ele me soltou e pigarreou.

- Sempre engraçadinho, mas eu perdôo. Você é meu irmão e irmãos se amam.

Então eu o abracei.

- Por este sentimento mesmo é que devo lhe dizer: Meus pêsames!

Eu disse e corri. Emmet era muito forte, mas sempre fui o mais veloz, quando consegui despistá-lo voltei para o lugar onde Carlisle nos aguardava pacientemente. Ao chegar senti a direção de seus pensamentos. Vi em sua memória a cena que sempre o assombrou: Rosálie completamente nua com muitos machucados, jogada na sarjeta.

Desta vez vi algo diferente, ela deitada numa maca improvisada na copa de nossa casa em Rochester com olhos apavorados e suplicantes e ele misericordiosamente tentando acalmá-la, dizendo:

- Eu não vou te machucar!

Tentei localizar a imagem em minha memória, mas não consegui, então conclui que era o momento de sua transformação, ainda não tinha chegado em casa. Estranhamente não era a culpa que sempre percebi quando se recordava destes momentos, aliás, culpa que pessoalmente achava desnecessária. Para mim ela era uma mal agradecida, isso sim.

Ele revivia a cena repetidas vezes: Os olhos de Rose estavam diferentes, não tinham a altivez e autoconfiança que sempre demonstrava, estavam clamando por misericórdia e ele concluía:

- Ela sentiu tanto medo que continuasse a machucá-la. Como será amanhã à noite?  O que será que vai acontecer quando ela estiver em um momento tão íntimo com um homem? É natural ele desejá-la afinal se amam, mas e ela como ficará?

Se ele percebeu minha aproximação, não fez nenhum sinal, então me sentei a seu lado. Ele me disse sem me olhar.

- Sabe Edward, sua irmã não é má pessoa. Ela só tenta se defender de uma dor que não passa ou ameniza apesar do tempo.

- Ela não se ajuda, fez questão de não deixar perder-se nenhum detalhe, aliás, fez um esforço enorme para manter a ferida aberta. Sempre remexendo, sem permitir que cicatrizasse. E se quer saber, vejo em seus pensamentos que vingar-se não mudou nada.

Eu me defendi.

- Sabe bem como os pensamentos podem ser obsessivos em um recém-criado e tudo foi muito ultrajante, não podemos culpá-la. Não sabemos o que faríamos em seu lugar e nunca saberemos, pois somos homens.

Rose é muito orgulhosa, acho que ela preferiu reagir se vingando e odiando ao invés de sentir pena de si mesma.

Não pode negar que jamais permitiu que sentíssemos pena dela ou a tratássemos com deferências e melindres por conta disto.

Ele a defendeu.

- então admite que ela seja difícil e orgulhosa?

Eu o acusei sorrindo.

- Nunca disse que ela fosse de fácil relacionamento, mas você também não facilita as coisas.

Ele devolveu a acusação e pensativo continuou:

- Nunca saberemos como é estar no lugar dela, somos homens, nossos corpos não são violados assim.

Vivemos em uma sociedade machista e paternalista, mesmo que desconfiassem que foi o Royce, haveria alguém para defendê-lo e ocultar o crime. Talvez o próprio pai dela, com medo de sujar a honra da filha e da família. Sabe como os humanos gostam de manter as aparências.

E mesmo neste caso sempre acham como por a culpa nelas. Diriam que ela foi culpada por andar desacompanhada e se aproximar de um grupo de homens á noite.

Sabe melhor do que ninguém que eles traem e elas nem podem reagir, se o fazem e abandonam o lar dizem que elas é que não souberam manter o casamento. Alguns as tratam como objetos ou empregadas e ela que se dê por satisfeita, por ter um “marido”.

Imagino às vezes os tipos de torpezas e obscenidades que deram origens aos ferimentos que encontrei em minha filha, como ela deve ter sentido medo e angústia, como o tempo deve ter custado a passar até que eles tivessem se dado por satisfeitos.

Pode ter empatia pelos pensamentos e sentimentos dos outros, mas não os vivenciou. Não foi sua carne, não foram suas lágrimas, não são suas dores meu filho.

As considerações de Carlisle me constrangeram. Devo admitir que nunca fiz esforço algum para compreendê-la. Lembro-me de sua mente humana tão fútil e não consigo admitir que ela tenha pensamentos tão complexos.

Mas para dizer a verdade ás vezes vejo em sua mente apenas um direcionamento de seus pensamentos que me fazem sentir um enorme aperto no peito, é um misto de desespero, sensação de injustiça, saudade, medo. Logo são substituídos por imagens dela própria, refletidas em qualquer superfície e a admiração narcisista. Pensando bem talvez ela não pense tanto em si mesma, ela só achou um jeito de usar sua personalidade para me distrair. Ela é inteligente isso não posso negar.

Ouvimos Emmet se aproximar e vi Carlisle se resignar à conversa que deveria ter com ele. Então me levantei e disse:

- Prometo me comportar melhor. Vai ser uma conversa muito longa, irei mais ao norte à procura de um puma ou leão da montanha. Talvez a sorte resolva me contemplar.

Carlisle agradeceu em pensamento à minha compreensão e se divertiu com minha expressão ao imaginar uma cena em que eu e Rose nos abraçávamos cheios de ternura fraternal.

Eu revirei os olhos e disse:

- Menos, bem menos.

Saí, dando a privacidade que eles precisavam no momento.

PDV Emmet

Eu realmente não consigo entender esta briga entre o Edward e a Rose, para mim os dois são ótimos. Ele é um excelente irmão, apesar da mania de ler a mente das pessoas. Foi assim que descobriu que eu estava me apaixonando por ela e como me sentia um traidor de sua amizade. Afinal de contas ela foi transformada para ele.

Depois de me torturar um pouquinho, ele me contou que jamais conseguiu pensar nela desta forma e que eu devia investir em nossa relação.

Ela é a luz da minha vida, não importa o quanto seja difícil para os outros conviverem com ela, para mim ela é a mais perfeita das mulheres. Sua beleza é incomparável, e quando estamos a sós sua máscara se desfaz me permitindo ver a pessoa vulnerável delicada, carinhosa, persistente e cuidadosa que é.

Talvez se ela permitisse que Edward a visse assim, as coisas pudessem mudar. Não é fácil conviver com os dois ao mesmo tempo. Quando não se ignoram, sempre arranjam um jeito de se implicarem. Escolhem sempre a mesma presa, resolvem ouvir música no mesmo instante, discordam sobre os lugares que devemos ir, até da cor da parede. Sem falar nas conversas cheias de ofensas veladas e indiretas. Se não fosse a intervenção constante de nossos pais (é assim que considero Carlisle e Esme), eles já teriam se esquartejado.

Mas onde se meteu o adivinho de Araque? Um dia eu ainda o pego de jeito, se ele não soubesse sempre o que estou pensando e como planejo atacar eu já tinha conseguido.

Retornei ao lugar onde estávamos, mas apenas Carlisle estava lá. Então eu perguntei:

- Cadê o sabe tudo?

Ele respondeu muito contrito:

- Foi ao norte em busca de um leão ou puma.

Eu quis fazer graça para animá-lo e continuei:

- Não me diga que agora o cabeçudo não dá privacidade nem para os animais, fica invadindo a mentalidade irracional deles. Onde foi que ele aprendeu a falar carnivorês?

Ele enfim sorriu, depois sério despejou em mim:

- Acho que queria nos dar um pouco de privacidade.

Eu sabia o que me esperava. O sermão de pai preocupado com a felicidade da filha, entregando-a para um vampiro muito novo, sem nenhum dinheiro no bolso a não ser o dos pais (que por sinal ele compartilha com a noiva). Então antes que ele começasse, eu fui logo discursando, muito rápido (devido ao meu nervosismo):

- Olha Carlisle eu só queria dizer que não foi nada intencional, o Edward mesmo sabe o quanto relutei em admitir meus sentimentos. Saiba que compreendo a seriedade do passo que estamos dando e que vocês consideram muito difícil que isto dê certo, mas este gesto é um símbolo do meu comprometimento com os sentimentos dela e com o respeito que nutro por você (aliás, por toda a família). Sei que ela tem muitos ressentimentos e Edward me alertou que talvez ela não retribua todo o amor que sinto, mas não estaria sendo sincero comigo e com vocês se não tornasse em matrimônio nossa relação.

Sei que julgam nossa atitude precipitada, mas não há razão em esperar anos para comprovar o que já tenho certeza hoje.

Eu a amo e quero compartilhar minha eternidade com ela, protelar isto é, em minha opinião, adiar o que já está determinado.

Prometo me esforçar para fazê-la feliz, para honrar a confiança que estão depositando em mim, digo em nós.

Estou lidando muito melhor com a proximidade com os humanos e logo poderei trabalhar, assim o mais rápido possível pretendo assumir o sustento dela, quer dizer nosso, e claro reembolsar tudo que tenho lhe custado.

O sorriso dele alcançou os olhos pela primeira vez e ele me olhou divertido enquanto dizia:

- Emmet, sei que não precisa mais respirar, mas eu agradeceria se falasse um pouco mais devagar, assim tenho como compreender o que diz.

   Suas palavras me pouparam uma parte da conversa, matrimônio não é para pessoas infantis e levianas. È necessário saber exatamente o nível de comprometimento que ele exige. Fico feliz em perceber que é muito mais maduro do que imaginava, se bem que considero Rosálie madura pelos dois.

   Quanto à questão financeira, em nossa família, e eu te considero da minha família, os recursos não são de um membro apenas. Todo o dinheiro que acumulamos é nosso. Portanto não precisa exigir de se autocontrole para ter um emprego, e muito menos me devolver nada, se insistir nisto eu me ofenderei.

    Mas meu assunto é muito mais delicado, filho.

Eu relaxei com as palavras dele, Carlisle tem o dom de saber exatamente o que dizer e como dizer. Permitindo assim que sua inseparável calma te envolva e você se sinta bem. Será que essa é a habilidade dele?

Mas depois da bonança sempre vem a tempestade.

- Quero falar com você sobre a noite de núpcias.

   Bem, o que você sabe sobre a história da Rosálie?

Eu fui sincero:

Que ela morava em Rochester, era a filha preferida de um casal de classe média. Ficou noiva do solteiro mais cobiçado da cidade, e pouco antes do casamento, ele a violentou e a largou na sarjeta. Você a encontrou e a transformou pensando que ela podia se tornar a companheira de Edward.  

Ele olhou o chão pensativo e disse:

- Bom de forma resumida, podemos dizer que isso é tudo.

Infelizmente o que ocorreu com ela não pode ser visto de forma resumida, as implicações daquela noite são muito mais complexas. O fato de ser vampira, por exemplo. Creio que ela odeie tanto esta condição por que a relembra os motivos pelos quais eu a transformei. Ela foi abruptamente separada da família e da única forma de vida que conhecia, perdeu as amigas e os sonhos, foi traída por seu noivo da forma mais vil, perdeu a possibilidade de ser mãe, ficou impossibilitada de envelhecer e até de morrer, presa a uma quase vida e quase morte.

Mas minha preocupação filho é com o que pode acontecer amanhã à noite. Você a ama tanto que a esta tornando sua legítima esposa, nada mais natural do que desejá-la como mulher. Todos os homens que se casam esperam ter uma vida sexual com sua companheira e com os vampiros não é diferente.

Nunca soubemos exatamente o que ocorreu naquela noite, durante a transformação seus pensamentos eram desconexos, ela repassava os rostos de seus pais e irmãos e o momento em que se encontrou com Royce (o noivo), depois tudo se transformava em gritos e agonia. Depois ela se concentrou na dor da transformação e em ouvir o que dizíamos, acredito que o distanciamento entre ela e Edward tenha nascido daí.

Quando despertou e descobriu que tudo que lhe disse era verdade, ela ficou transtornada, mas adorou seu reflexo no espelho, ficou extasiada com a beleza imortal.

Ela sempre foi muito esperta e logo percebeu que Edward podia ler seus pensamentos, mas que isso tinha limites espaciais. Então quando começava a se lembrar corria para o mais distante possível, até que tudo estivesse terminado. Ele diz que a vê se aproximar de Royce, ele exibi-la para um novo amigo e ordená-la a se despir, depois roupas são arrancadas, ele ouve risadas e ela conclui que eles gostam de vê-la sofrer.

Às vezes, ele vê o momento em que ele começa a violá-la, mas é o máximo que já viu.

Eles eram cinco, e pelos ferimentos que encontrei, foram demasiadamente cruéis.

Essa é nossa maior preocupação, a experiência pela qual ela passou foi muito traumática e ela tem subjugado de forma ferrenha as feridas que isso causou, tememos que o momento que deveria ser mágicos para vocês, possa trazer a tona todas as marcas que isso deixou nela.

- Me entende?

Eu demorei alguns minutos para responder, já que minha mente se recusava a admitir o que eu tinha ouvido. Eu, se quer, conseguia imaginar a possibilidade de tamanha brutalidade ter sido cometida contra alguém como minha Rose. Era inadmissível que eu não estivesse lá para protegê-la, que Carlisle não tenha tido tempo de evitar, que tenham sido tantos.

Mas precisava saber de tudo, por isso perguntei:

- Que ferimentos?

Ele demorou-se em responder, como se pensasse se me revelar teria algum sentido. Depois ele disse sem me olhar:

- Ela tinha contusões e hematomas o que me leva a crer que eles a espancaram, seus seios estavam queimados por charutos, e tenho quase certeza que eles a violaram de todas as formas possíveis? Entende o que quero dizer?

- Seja mais claro. Eu pedi.

- Eles a usaram pela vagina e pelo ânus, Emmet.  

O mundo se tornou vermelho, eu me levantei e urrei com todas as forças de meus pulmões, a neve que cobria algumas folhas caiu. Meus músculos pediam para extravasar a ira, então saí derrubando tudo em minha volta, sacrificando assim algumas árvores.

Carlisle esperou que eu me acalmasse e disse:

- Compreende a delicadeza da situação agora?

Eu esperei minha mente processar tudo, primeiramente pensei que talvez fosse melhor não forçá-la a esta situação.

Mas o que ela pensaria se eu a recusasse? Obviamente concluiria que eu a estava recusando pelo que aconteceu.

Eu a amava o suficiente para não tocá-la intimamente e ainda assim desejá-la como esposa. Ao contrário do que podia parecer eu não estava me casando com seu corpo, eu a amava por inteiro. Então fui categórico:

- Não vou tocá-la, não preciso deste tipo de contato para demonstrar o quanto eu a amo.

Carlisle me olhou incrédulo e depois disse:

- Filho, suas palavras me comovem, agora tenho certeza absoluta que este casamento irá ser eterno.

Mas não precisa renunciar a experiência única de compartilhar do amor físico com sua esposa. Só precisa construir com Rose uma intimidade onde ela se sinta segura e amada.

Não pode permitir que este episódio sombrio roube algo mais dela, precisa se esforçar por ela. Vai ser difícil e frustrante para você, já que possivelmente não conseguirá concluir todas as vezes que tentar.

Como pai, estou te pedindo um sacrifício para que minha filha possa desfrutar de toda a felicidade a que tem direito. Sei que também é meu filho e também me preocupo com sua felicidade, jamais te pediria isso se não estivesse tão desesperado por restituir as possibilidades que a transformação roubou dela.

Eu fiquei mudo e ele continuou:

- Posso te dar algumas orientações que (por minha experiência) tornem isso mais fácil.

  Primeiro descreva tudo o que irá fazer e peça permissão, por exemplo:

     

                           Vou abrir seu vestido agora. Posso querida?

  

Não fique sobre ela, nem a coloque em uma posição onde ela possa se sentir presa, sem possibilidade de saída.

Diga que a ama todo tempo, isso irá acalmá-la e deixá-la mais segura. Pergunte se a está machucando, se sentir algum desconforto dela pare no mesmo instante. Mas Emmet, isso é muito importante, não se afaste completamente, a abrace ou segure sua mão. Evite que ela se sinta culpada pela interrupção, sabe como ela é obstinada, se sentir assim irá obrigá-lo a continuar mesmo que isso lhe faça mal e isso pode causar um distanciamento entre vocês.

Seja delicado nos movimentos, só intensifique se ela pedir, e aí está o problema. Seu corpo vai querer avançar, mas precisa manter o controle, isso pode ser muito frustrante. Pode lidar com isso?

Eu ouvi tudo atentamente, ele foi bastante detalhista o que me deixou constrangido muitas vezes, apesar dele ter um discurso muito técnico. Por fim fui convencido de que podia compartilhar este tipo de amor com minha “Cachinhos dourados”.

(N/A: Desculpem a ironia, mas todo mundo escreve ursão e ursinha. Quis variar um pouco e esta história envolve ursos)

O telepata apareceu convenientemente no momento em que a conversa acabou, só encontrou um lobo pequeno. Voltando para casa (além do nervosismo natural dos noivos) eu agora me consumia com a noite que me esperava, em ser delicado e compreensivo, e especialmente se teria controle para isso.

Ela sentiu minha aproximação, sempre sentia, e me recebeu com um largo sorriso na porta de casa. Esme estava logo atrás e abraçou Carlisle compartilhando com ele um sentimento que não compreendi.

Logo ela me foi roubada por minha dedicada mãe, me prometendo uma noiva incomparável em algumas horas. Se ela soubesse que como a contagem das horas agora eram torturantes...

Depois que ficamos sós, Carlisle foi para o hospital e Edward me chamou ao seu quarto.

Assim que entrei, ele fechou a porta remexeu em seus pertences e me entregou um livro.

Quando li o título eu gargalhei, ele me olhou envergonhado e disse:

- É tudo que posso te ofertar, desculpe-me irmão. Sei que não estou sendo muito útil.

Eu o abracei e disse:

- Valeu a intenção.


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Notas finais do capítulo

Qual será o tal presente? No próximo capítulo o esperado casamento.