O Exercício das Pequenas Coisas escrita por Imogen


Capítulo 2
Capítulo II - Nova vida, Novos Problemas




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A visita não durou muito e Draco logo foi embora, assegurando, no entanto, que no dia seguinte retornaria para levá-la para casa. Hermione se sentia estranha, tentava inutilmente recordar dessas crianças, mas sua mente parecia vazia, exceto por algumas lembranças de sua própria infância. Passou o resto do dia remoendo as palavras de Draco e tentando se lembrar de algo recente.

Enquanto isso, durante o jantar na mansão Malfoy, Draco tentava controlar os filhos; Precisavam ter uma séria conversa. Ele já havia dado instruções a todos os elfos domésticos e a Helda, sua governanta, sobre como deveriam se portar diante da “senhora Malfoy”, mas sabia que com crianças não seria tão fácil.

Draco gostava verdadeiramente dos filhos, mas tinha dificuldade de demonstrar; Eram meninos extremamente levados e de gênio muito difícil, e não raramente saíam de controle, mas ambos eram loucos pelo pai e na verdade tinham por único objetivo despertar sua atenção.

Estavam sentados a mesa e Adrian, provocava o irmão caçula, atirando-lhe ervilhas, enquanto o pequeno tentava revidar sem sucesso. Draco já havia ordenado que parasse inúmeras vezes, mas os garotos persistiam, até que, perdendo a paciência, o jovem homem bateu na mesa com força, despertando os filhos.

- Quietos, eu já disse! Quero falar com vocês! - disse quase gritando, enquanto os garotos rapidamente se endireitavam em suas cadeiras.

- Foi ele que começou, pai! - acusou Eric, enquanto recebia uma careta de Adrian.

- Não quero saber! Prestem muita atenção no que eu vou falar agora e não interrompam… Amanhã iremos receber uma mulher nesta casa; Ela sofreu um acidente e está um pouco confusa, então vocês vão tratá-la bem, a obedecerão como obedecem a mim e a chamarão de mãe.

- Mas ela não é minha mãe! - reagiu Adrian.

- Não discuta! Vai fazer o que estou mandando! - gritou Draco lembrando muito seu pai Lúcio e se arrependendo em seguida. - Essa moça é muito útil para mim, mas para que tudo dê certo, eu preciso que me ajudem! Será que podem fazer o que estou pedindo? - tentou num tom mais suave, recebendo acenos positivos em resposta.

No dia seguinte, Draco aparatou na sala da mansão acompanhado de Hermione. A jovem olhava o lugar, mas não conseguia perceber nenhum traço de familiaridade. Não gostava daquela decoração sombria, sentia falta de cor e não conseguia se imaginar vivendo ali.

- Eu moro aqui? - ela perguntou desconfiada.

- Sim. - respondeu Draco sem hesitar. - Venha, você ainda precisa de repouso! Vou te levar até o nosso quarto.

Hermione permaneceu deitada por quase duas horas, mas não conseguia dormir. Sofria com a angústia de não conseguir se lembrar da própria vida; Era uma sensação de vazio terrível, mas não podia continuar daquela maneira. O médico havia lhe alertado que aquele estado poderia se estender por dias, meses ou anos e não havia nada a fazer além de esperar que seu corpo reagisse. Reuniu forças para levantar e ao sentar na cama, foi surpreendida por um par de olhos azuis-acinzentados lhe observando.

Eric estava um bom tempo observando sua “mãe” da porta do imenso dormitório; O garoto sabia que não podia entrar ali sem permissão e por isso permaneceu no corredor, olhando através da porta entreaberta; Era uma criança linda e extremamente parecida com o pai… Cabelos loiros e muito lisos, olhos claros, pele muito branca. Hermione assustou-se com a presença do pequenino, mas procurou se conter.

- Oi. - disse a castanha, imaginando o que o garotinho estaria pensando.

- Oi. - respondeu o loirinho a encarando.

Permaneceram em silêncio por algum tempo e Hermione não entendia porque Eric não se aproximava. Aquela atitude era muito estranha. “Porque seu próprio filho parecia ter medo de se aproximar dela?” - pensava.

- Você não quer vir até aqui? De tão longe, mal posso vê-lo… - começou a castanha, tentando uma aproximação e a resposta foi imediata. Prontamente Eric correu ao seu encontro e se sentou bem ao seu lado, fazendo com que a moça pudesse o observar em mínimos detalhes.

- Eu sou o Eric. - disse o menino sem olhar para ela.

- Por que está me dizendo isso? - perguntou Hermione, estranhando o comportamento do garoto.

- Papai disse que você bateu a cabeça e não consegue se lembrar de nada. - respondeu com a típica sinceridade infantil.

- Entendo. - respondeu a jovem, enquanto aproximava sua mão da cabeça do menino na intenção de lhe fazer carinho, mas Eric imediatamente se esquivou e saiu correndo. Era como se ele não soubesse o que ela ia fazer e sentisse medo.

As informações eram muito confusas. Aquele garotinho tinha deixado Hermione muito intrigada… Por mais que se esforçasse não conseguia reconhecer e, Eric o menor traço seu. E o modo formal como ele a tratou, pareciam dois estranhos; Horas depois, ela ainda estava confusa e perdia-se em pensamentos, quando ouviu alguém bater na porta de seu quarto.

- Senhora, o senhor Malfoy pediu que lhe avisasse que chegará tarde em virtude de uma reunião; Deseja jantar agora na companhia dos garotos ou prefere esperá-lo? - perguntou a governanta.

-Jantarei agora com os garotos, obrigada. - decidiu após pensar por alguns segundos.

Em poucos minutos estavam reunidos na imensa mesa de jantar e aguardavam o jantar ser servido. Hermione sentou-se na cabeceira, lugar obviamente reservado à Draco, mas que lhe dava uma maior proximidade dos meninos. Quanto mais os observava, mais ficava intrigada. “Essas crianças só tem pai!” - dizia a si mesma observando Adrian, que também havia herdado os traços de Draco, exceto pela boca, que era diferente, mas ainda assim compunha perfeitamente o rosto do rapazinho.

Hora do jantar, hora das habituais provocações entre os irmãos, que pareciam ter se esquecido da presença da estranha. Adrian era muito esperto e adorava se vangloriar de ser mais forte e mais inteligente do que o irmão. Eric acreditava nas palavras do irmão e ficava sentido, mas se esforçava para parecer forte; Sabia que Malfoys não podiam chorar.

A brincadeira incomodou profundamente Hermione. Aquilo não era uma mera implicância entre irmãos; Adrian aproveitava-se de seus conhecimentos para humilhar Eric, que ficava visivelmente abalado e não tinha como se defender. Decidiu dar um basta na situação, ordenando que Adrian pedisse desculpas ao irmão.

- Já chega! Seu irmão é menor do que você, mas nem por isso é menos inteligente… Você devia se envergonhar de tratá-lo assim. Os irmãos mais velhos devem ajudar e proteger os irmãos menores e não implicar com eles. Por favor, peça desculpas ao Eric. - falou séria.

- Não! Ele é um bobão e você não manda em mim! - disse Adrian começando a se levantar da mesa, quando Hermione o interrompeu.

- Sente-se! Peça desculpas ao seu irmão ou ficará de castigo! - disse enfática.

- Eu não ligo! - respondeu Adrian com os olhos brilhando de raiva e se levantando de uma vez.

- Helda! Por favor, peça a todos os empregados da casa que não sirvam nada para Adrian esta noite. Depois eu mesma me encarregarei dele. - disse tentado manter a calma.

- Se a senhora me permite, eu estou acostumada a lidar com este tipo de situação e posso aplicar o castigo necessário.

- Não será preciso. Eu mesma quero resolver isso; Mas agora peça que sirvam o jantar… Tenho certeza que Eric está faminto.

O pequeno Eric estava em choque; Não conseguia acreditar que aquela mulher o tinha defendido. Normalmente, Adrian saía vitorioso, mas dessa vez ela não apenas o havia apoiado, como também deixou bem claro, que ele era inteligente. Hermione não sabia, mas com este gesto havia conquistado completamente o garoto.

Mas o jantar não foi tão tranqüilo. Quando a comida foi servida, Eric fechou a cara ao encontrar salada no seu prato e ordenou de forma grosseira a elfa que lhe trouxesse um hambúrguer imediatamente. Deixando Hermione atônita.

- Com quem você aprendeu a falar assim? Ela é um ser vivo e merece ser tratada com respeito e educação! Nunca mais faça isso! - repreendeu. - Peça desculpa a ela imediatamente.

- Desculpa, Gily! - disse o garotinho sem ousar desobedecê-la.

- Assim, está melhor! Agora vamos jantar em paz! - disse Hermione.

Como poderia ser possível? Aqueles garotos pareciam não ter nenhuma educação e por algum tempo ela se perguntou se poderia ter sido uma mãe tão negligente… Mas independente do que houvesse acontecido no passado, ela decidiu que as coisas iriam mudar.

Quando o relógio marcou onze horas da noite, ela procurou encontrar a cozinha e pediu a um elfo que lhe providenciasse uma bandeja com um copo de leite e um sanduíche simples de queijo e presunto. Subiu as escadas e procurou o quarto de Adrian.

Entrou devagar, desviando de uma imensa quantidade de brinquedos quebrados espalhados pelo chão. Parece que aquela era a forma do garoto extravasar sua agressividade.

- O que você quer? - perguntou zangado.

- Vim conversar com você e te trazer um lanche, mas se você não quiser, posso ir embora… - disse a moça se virando em direção a porta.

- Não, pode ficar. - respondeu o garoto tentando parecer indiferente, mas visivelmente tentado pelo sanduíche.

- Tudo bem! - disse a moça se sentando na cama.

Em poucos segundos Adrian havia devorado o lanche e agora ambos se encaravam.

- Por que você tratou seu irmão daquela maneira? - perguntou Hermione.

- Ele é um bobão! - respondeu o menino tornando a fechar a cara.

- Não, não é verdade. Eric é menor do que você e ainda não teve chance de aprender tantas coisas como você. Mas você poderia ensiná-lo! Aposto que tem muitas habilidades… - disse Hermione fazendo com que o menino pensasse.

- É… Eu sou muito bom no videogame e posso correr muito rápido. - começou o garoto.

- Irmãos devem ser amigos, e mesmo que briguem de vez em quando, um sempre deve procurar ajudar ao outro. Acha que pode tentar ajudar o Eric de vez em quando? - perguntou olhando para o garoto.

- È, acho que posso… Mas só de vez em quando! - respondeu o menino com um sorriso meio debochado, recebendo um abraço de Hermione, que ele repeliu.

- O que foi? Não gosta de abraços? - perguntou curiosa.

-Não sei. È estranho. - respondeu, deixando a jovem completamente desconcertada. “Que espécie de mãe sou eu? Eu nem sequer abraçava meu filho?” - pensava enquanto seus olhos se enchiam de água.

- Adrian, já está tarde… Porque não se arruma para dormir, enquanto dou uma olhada no seu irmão? Daqui a pouco eu volto e se você quiser posso ler uma história… - tentava se redimir pela aparente negligência.

- Não precisa… Quando eu quero, leio sozinho. - respondeu deixando a moça de coração partido.

- Tudo bem! Então boa noite, querido! - foi tudo o que conseguiu dizer.

Atravessou o corredor e entrou no quarto de Eric, onde o encontrou adormecido entre alguns brinquedos. Respirou fundo e se aproximou devagar acariciando os cabelos extremamente lisos do pequenino. Recolheu os brinquedos e o cobriu com muito cuidado, apagando a luz e se retirando em seguida.

Fechou a porta se sentindo péssima e quando se virou esbarrou acidentalmente em Draco, que havia acabado de chegar em casa. Ele observou a expressão preocupada no rosto da garota e ficou um pouco nervoso, mas não permitiu que ela percebesse. Cumprimentaram-se de maneira quase formal e seguiram em direção ao quarto principal.

- Como se sente? - perguntou Draco, enquanto afrouxava a gravata.

- Fisicamente estou bem… Mas na verdade estou muito confusa. - confessou a moça.

- É natural. - respondeu seguro.

- Posso fazer algumas perguntas? - pediu insegura.

- Quantas você quiser… - respondeu sem encará-la.

- Que idade tem os meninos?

- 8 e 5 anos.

- E eu?

- Você o quê?

- Quantos anos eu tenho?

“Acho que ela era um pouco mais nova do que eu…” - pensava antes de responder. - Vinte e seis.

- Fiquei grávida com dezoito anos?

- Sim.

- Você se casou comigo por causa disso?

- Sim.

- Nos amávamos naquela época?

- Acho que sim.

- Entendo…

O mundo estava desabando. Que vida era aquela? Sofria por não conseguir reconhecer nada e mais ainda por constatar que havia fracassado. Seus filhos foram criados sem carinho e sem nenhuma educação e seu marido parecia esforçar-se para mantê-la por perto somente para que desempenhasse os papéis de mãe e esposa, mas sem nenhum sentimento.

Não conseguia imaginar como as coisas poderiam ter tomado este rumo, mas estava convencida de que era hora de se redimir. Dormiu planejando milhares de mudanças, que estava decidida a por em prática.


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Notas finais do capítulo

Eu gostaria de saber o que vocês estão achando da fic, então deixem suas opiniões e sugestões!