"Uma possibilidade que eu precisava devorar ou destruir. Porque até hoje
não consegui conquistar essa disciplina, essa macrobiótica dos sentimentos, essa
frugalidade das emoções."

(C.F.A)

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Light Yagami não era insone – além da necessidade de um horário rígido para aulas, estudo, cursinho, ele realmente não tinha interesse em passar a noite inteira ouvindo o bater de teclas em um notebook e olhando para telas brilhantes.

Mas ele estava acorrentado a alguém que sofria – ou não – de insônia, então, não tinha muita opção.

Olhando para a janela, com o Sol ameaçando a aparecer, o céu ficando claro, o jovem já ficava irritado.

- Ryuuzaki, por favor, vai dormir. – cochichou mais uma vez para o detetive, sentado ao outro lado da cama, recebendo somente o silêncio em resposta.

Bufou, tentando abafar um xingamento com o travesseiro. Como esse infeliz consegue ter energia?

- Não estou te impedindo de dormir, Light-kun – L disse, sem dar muita importância ao garoto.

- Está! – Light rosnou, já com o mau-humor de quem não dormia bem há tempos – Pelo amor de Deus, algumas horas de sono são tão difíceis assim pra você?

L desviou seus olhos negros da tela do notebook para o garoto deitado.

- Você está bem alterado hoje – comentou.

- Ah vá? – o jovem se revirou na cama – Talvez por que me acusam de ser um assassino em série e me acorrentam a um maluco insone e que não me deixa dormir também!

- Isso foi meio rude.

- VOCÊ proporciona isso. – mais uma bufada por parte de Light.

Alguns minutos em silêncio, se escuta o notebook de L se fechando. O garoto sente uma movimentação na cama e na corrente em seu pulso. L estava deitando-se, indo para baixo das cobertas junto a Light.

Isso fez com que o garoto se agitasse um pouco.

Não sei se foi uma boa idéia pedir pra ele dormir.

Mas como estava cansado demais pra pensar em coisa alguma, fechou os olhos, e teve um curto e merecido descanso.

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Pela manhã, Yagami sente a luz do Sol ultrapassar as janelas e bater em seu rosto. Abre os olhos e boceja, então, quando vai se movimentar, lembra-se da algema. Arrisca uma olhadela ao detetive, dormindo encolhido para o outro lado.

Nunca pensei que eu ia dividir a cama com um homem.

Ao pensar isso, quase não consegue conter uma risada. As minhas idéias são as melhores. Pensar nisso enquanto tem um assassino a solta.

O moreno vira-se na cama. Os cabelos negros um pouco pelos olhos, a boca entreaberta.

- L-Light-kun...- diz, em meio ao sono.

Light arregala os olhos e quase dá um solavanco pra trás.

É bom que ele não esteja...

As mãos de Ryuuzaki fecham-se em punho, agarrando o travesseiro.

Ok...isso é perturbador.

Olha de novo para L em profundo sono, hesitando se deveria acordá-lo ou não. Mas talvez privá-lo das poucas horas de sono que tinha...

Ficou observando o detetive enquanto ele voltada a ficar com o corpo inerte. Ele mal parecia fazer um simples momento para respirar.

Com essa pele pálida ele até parece um cadáver.

Se eu fosse Kira seria tão fácil mata-lo agora...tão indefeso.

Assustando-se com o próprio rumo dos pensamentos, o jovem envergonha-se de si mesmo.

O garoto se movimenta na cama novamente, acaba por decidir não acorda-lo e tentar dormir novamente, sem sucesso. Limitou-se a fechar os olhos e pensar.

Será que L descobrira algo novo sobre o caso Kira? Obviamente teria que ter outro suspeito. As mortes continuavam mesmo com ele sob “condicional” – acorrentado ao próprio chefe de investigação. Logo Ryuuzaki deveria solta-lo, mas o caso não estaria encerrado.

E não conseguia parar nas suas semelhanças com Kira. Os dois tinham alta capacidade de raciocínio e Light não discordava tanto assim de matar criminosos. L tinha tantas outras incontáveis teorias...

E sabia que o detetive estava arriscando todas as fichas na investigação. Revelar o rosto a um suspeito...

Mas eu não sou Kira, então não há problema – pensou mais uma vez. Mas Light via a obstinação de L a pegar Kira – não só pegar, como derrota-lo e provar que L era superior – Light sabia que L corria risco de vida, que L podia morrer. Então lembrou-se de L deitado a seu lado inerte com pele cadavérica e...

Será que Kira...

Abriu os olhos para checar mais uma vez se o detetive estava bem e se depara com duas esferas negras e grandes olhando para ele.

- AH! – dessa vez, Light de fato deu um solavanco para trás. – Mas que diabos...?!

- Light-kun – L massageou os lábios com o polegar – está tudo bem?

- Você merecia mais um soco na cara – o jovem respondeu rispidamente.

- Eu estava só preocupado com você.

- Esqueça. Eu quero ir ao banheiro. – o mais novo fez menção de soltar as correntes.

- Light-kun...receio que...não posso deixa-lo ir sozinho – respondeu o detetive com a mesma voz de sempre. – Você faria algo suspeito e...

- Que seja! – Light levantou-se bruscamente, levando L junto.

E eu estava preocupado com ele. Detetive idiota.

No banheiro, todo absurdamente branco, Light se inclina para lavar o rosto na pia. A água corrente e gelada bateu no rosto do rapaz, fazendo-o acordar de vez.

Havia dois grandes espelhos no banheiro, um em frente à pia e outro em frente ao mesmo. Assim, quando Light foi contemplar o próprio rosto, viu Ryuuzaki logo atrás, fitando o nada.

E Light Yagami nunca tinha visto aquela expressão em ninguém antes.

L estava com o olhar perdido e parecia absurdamente...

Solitário.