Abri meus olhos lentamente, sem noção de espaço ou de luz, retornei a consciência, e fitei um teto branco.

-Olá! Um par de olhos verdes tampou minha visão.

-AAAAAAAA!!!!!!!!!!

Berrei de susto, empurrando o que achava ser algum tipo de criatura monstruosa, mas era um garoto de aparência bela, cabelos curtos e orbes verdes, joguei-o no chão, me sentei no que parecia ser uma cama, ofegando de susto,

-Meu, já vi que a garotinha aí tem força hein! ele disse passando a mão no cabelo.

-Tenho 16 anos. Cuspi as palavras

Olhei ao meu redor, estava em um quarto, podia ouvir raios e trovões, com a claridade que saía de uma pequena janela, o garoto se levantou e deu alguns passos em minha direção, passei minha mão nas coxas, procurando uma de minhas facas, mas não tinha nada, tateei-me, mas só estava de shorts e com meu espartilho preto vazio, recuei para trás, grudando minhas costas na parede fria, mas ignorando essa sensação, ergui o rosto o encarando.

-Onde eu estou, quem é você, o que quer?

-Calminha aí!, primeiramente, deveria estar muito grata, por que foi o Bark que te salvou, se não todos aqueles bichos teriam te matado! Ele alterara o tom de voz.

Fitei o chão triste, abracei meus joelhos enterrando meu rosto vermelho neles.

-Me desculpa, eu só estou...confusa.

Senti ele suspirar.

-Ok, venha comigo, Arnos quer conversar com você.

Fite-o, apenas assenti com a cabeça, e o segui, ele abriu a porta, que dava para uma grande sala branca, com detalhes em ouro, toda carpetada em vermelho, me sentia desconfortável com minha pouca roupa, ele me conduziu até uma outra sala, onde haviam almofadas grandes combinando com o espaço, no chão de carpete, e em todas elas, estavam sentados garotos, com respectivamente minha idade, todos me olharam no momento em que entrei na sala, menos um garoto com olhos azuis iguais aos meus, meu cabelo escorria até a cintura, não me lembro de tê-lo soltado, pois geralmente, eu o prendo.

-Pode se sentar ali.

O moreno, que parecia ser mais velho apontou uma das almofadas, e eu me sentei, meio sem jeito, do meu lado, estava o garoto sério que ainda não me olhara.

-Seja muito bem vinda, eu sei que não deve estar acostumada com companhia, mas ficaremos muito felizes se você resolver ficar conosco.

Arregalei os olhos, como assim?!eu nem os conheço e eles querem que eu fique?

-Olha, eu não conheço vocês, não sei o que querem comigo, e eu...

-Você foi a escolhida, para se juntar a nossa matilha.

-Calma, calma, que matilha? ,escolhida?

Eu estava confusa, muito confusa.

-Rank seu idiota, não contou nada a ela?!

Comecei a soluçar, o que estava acontecendo? eu não entendia nada, só queria ir para casa, deixei as lágrimas escorrerem. por um segundo eles olharam para mim.

-Não precisa chorar, qual seu nome?

-B-r-riha, Briha Fox Waith, tenho 16 anos, e sou caçadora.

-Percebi pelo seu arsenal. indagou um garoto de cabelos castanhos e olhos mel, que sentava do meu outro lado.

-Mais respeito Dic! Arnos falou, deixe-me explicar para você, todos nós aqui, temos um elemento, e esse elemento, nos escolhe, tornando-nos criaturas obscuras, algo como um lobisomem ,entendeu?

-Lobisomens tipo lua cheia e..?

Eles riram.

-Não Briha, só podemos nos transformar, se estivermos com esse pingente, ele levantou um cordão, onde estava pendurada uma figura bonita, por um minuto fiquei fascinada, e quando dei por mim, estava segurando com as mãos o pingente de Dic, o garoto ao meu lado, como um choque, voltei a realidade, e soltei-o.

-Me desculpe, eu...

-Não precisa se desculpar, é por que o espírito de Kinarden, o grande lobo alfa está te chamando, você aceita ficar conosco? estamos caçando a criatura mais perigosa que existe, o Sarnífilis.

Pensei por alguns momentos, não conhecia quase nada sobre eles, mas eu iria aceitar ,com certeza, tudo para matar essa desgraçada criatura, que decretou morte a meus pais, respirei fundo e falei.

-Eu aceito.

Indaguei com toda certeza que viera na hora, Arnos se levantou, e caminhou até mim, esticando sua mão, segurei-a, me levantando a seu lado.

-Então está decidido, você ficará com nós, estes são, Dic, Bark, Hans e Rank, e eu sou Arnos como já deve saber, vai ser muito gratificante tê-la aqui conosco, e não se preocupe, suas coisas estão bem guardadas, Bark, mostre para Briha tudo o que ela precisará.

Bark, o garoto que estava sentado ao meu lado se levantou, seus olhos eram bem azuis, dentro, se enxergava bem o contorno preto de suas orbes, ele me olhou, e depois se voltou para Arnos.

-Por que eu?! Mande o imbecil do Dic, ele se virou, e saiu pisando duro, abrindo a porta com força. Sua voz era doce e aveludada, mas ele falou com raiva.

-Bark! Arnos gritou involuntariamente,

-Tudo bem, eu vou, será uma honra, Dic sorriu pra mim exibindo uma fileira de dentes branquíssimos, piscando seus olhos mel, corei.

Sorri de volta para ele, todos os garotos pareciam ser divertidos e alegres, menos o que mais me chamou a atenção, Bark.

Fui conversando com Dic por todo o caminho, ele era um pouco mais alto do que eu, outra coisa que me chamava a  atenção nos garotos, seus músculos, eram bonitos e bem delineados junto á eles, depois da morte de meus pais, eu nunca mais pude sorrir, mas Dic conseguiu arrancar-me várias risadas, com suas histórias.

Paramos diante de uma porta branca, antiga mais muito bonita, onde thavia uma entrada com um desenho.

-O que é isso Dic? Perguntei

-Briha, esse é seu quarto, mas ele só vai ser aberto, quando um dos elementos te escolher.

-E o que eu faço agora?

-Vou pegar para você o manto dos elementos, tire toda a roupa e vista apenas ele ok?

-T-toda a roupa? gaguejei com vergonha. ele riu

-Sim, não pode estar vestindo nada

Dic saiu, e em poucos minutos voltou com um manto branco, em baixo, era bordado de dourado, e estava escrito algo indecifrável, seu comprimento, era curto, mas acho que serviria em mim, agradeci com um sorriso.

-Quando terminar de vesti-lo, siga o corredor, e abra a porta negra de escrituras vermelhas, não tem como errar.

Entrei em um banheiro, e me despi, vestindo apenas o manto branco, como Dic havia falado, era curto de mais, me senti desconfortável por isso, mas ao mesmo tempo, aquilo me dava uma força e uma energia grande, saí de lá, descalço, pisando no carpete vermelho, o manto havia ficado bom em mim, era aberto na frente, com uma abertura em V, grande, nas costas, estava a figura de um lobo negro, com um colar de cruz, cravejada de rubis, mas não era um lobo comum, parecia mais...um demônio, deixei meus cabelos soltos, cheguei a grande porta negra, suspirei fundo, logo eu estaria com uma nova vida, entrei.

Tudo estava lindo, havia uma escadaria enorme, cuja mesma tomei o luxo de subi-la com orgulho, e de cabeça em pé, deixei os comentários pervertidos dos garotos de lado, Dic piscou pra mim, sorri de leve, cheguei até Arnos, todos os garotos estavam com um tipo de shorts preto, e sem camisa, todos estavam com seus pingentes, Arnos colocou-se a minha frente, e falou.

-Briha, está linda como sempre. Corei. Bom, vamos iniciar sua transição, conheça antes todos que fazem parte de nossa matilha, nossos elementos, Dic, o fogo, Rank, o vento, Hans a água, e nosso querido Bark, o último escolhido, por um dos elementos mais importantes que há, o sol, e eu, a natureza em si.

Olhei cada um dos garotos, depois Arnos voltou a falar.

-Peço que você suba, tire o manto, e sente-se olhando para o céu, deixe sua mente vaga, e repita as palavras: “Se você me escolher terá de me proteger, nos dias claros e nas noites escuras, pelo poder do Sol e a bravura da Lua obscura”, estique sua mão, e abra seus olhos, até que o elemento te escolha. Assenti com a cabeça, e caminhei até um círculo, onde havia uma estrela negra de cinco pontas, uma vela preta em cada ponta, parecia um tipo de sacrifico satânico, retirei o manto, e não olhei para ninguém, deixando a vergonha de lado, me ajoelhei no centro do círculo, e sentei em minhas pernas, apoiei minhas mãos nas pernas, tampando meus seios com os braços, olhei o céu claro ao meu redor, fechei os olhos, e não pensei em nada, em alto e bom tom, repeti as palavras de Arnos:

- Se “você me escolher terá de me proteger, nos dias claros e nas noites escuras, pelo poder do Sol e a bravura da Lua obscura”.

Abri meus olhos, e estiquei a mão para cima, pude ver um brilho surgir, tentei alcançá-lo, quando o peguei, senti algo cravando em meu peito, deitei-me no chão, contorcendo-me, até que a dor parou me levantei, e vesti o manto novamente, ergui o pingente, para observá-lo melhor, ele tinha a forma da lua, e irradiava um brilho intenso, olhei para os garotos, e todos me fitavam chocados, desci as escadas, sem perder meu orgulho, e minha serenidade, cheguei até Arnos, e ele me estendeu a mão, dei-lhe o pingente, e ele o pegou como se fosse uma flor, a ponto de despedaçar, com toda a delicadeza do mundo.

-Briha, você é a lua, que todas as noites nos ilumina você, é muito especial, você é quem guia a matilha todas as noites, e é o que nos dá forças para seguir em frente, como Bark, o Sol.

Me virei, ainda chocada, mas feliz, então foi a primeira vez, em que vi o tal Bark, me olhar ,no fundo dos olhos, senti algo estranho, me virei para Arnos, ele pendurou o pingente da lua em meu pescoço, na mesma hora, uma dor forte atingiu-me, contorci meu corpo para frente, quando fui cair, os braços fortes de Hans, me seguraram, havia alguma coisa dentro de mim, querendo tomar a liberdade de sair.

-Briha, concentre-se e deixe-a sair, é só relaxar..

Com dificuldade consegui falar.

-Deixar o que sair?!

-A criatura que tem dentro de você.

Me contorci no chão e cuspi sangue, muito sangue, nessa hora Arnos se afastou de mim, a última coisa que olhei, foi no fundo dos  olhos de Bark, que passou a língua nos lábios, e abriu um sorriso maldoso, apaguei.