O espelho.

Capitulo Único.

“Porque essa necessidade não me faz bem"

As luzes piscavam intensamente na arvore como se vários vaga-lumes tivessem pousado ali.

A sua frente à imagem refletida no espelho, hora aparecia, hora sumia. Seguindo constantemente o piscar que as luzes de natal proporcionavam ao quarto escuro.

A TV ligada no volume mudo iluminava quase todo o quarto mais era como se o lugar que ela estava fosse amaldiçoado e a luz simplesmente não chegava.

Ela continuava a observar sem nem piscar, em sua mente devaneios. Era como se ela estivesse mais ao mesmo tempo não estivesse no seu corpo.

Como se o espelho tivesse roubado sua alma, sugando-a para dentro dele, perdida em pensamentos ela não queria acreditar na imagem refletida ali.

Desde pequena a menina nunca acreditou nas imagens refletidas diante dos espelhos.

Sempre achou que tudo não passava de uma grande conspiração para instigar as pessoas a se acharem feias ou bonitas, assim gastando mais e mais ou para ficar bonitas ou apenas para dar uns retoques na aparência.

Não sabia por que mais nunca confiou em espelhos, talvez fossem as varias vezes que viu o filme em que o espelho ajudava a madrasta, tornando-se um símbolo de maldade para a princesa indefesa que queria apenas viver um conto de fadas.

Ou talvez fosse por conta dos vários desenhos animados em que o espelho mostrava algo inexistente, talvez por causa daqueles filmes em que a mocinha era arrastada por um espelho indo parar em um mundo sóbrio e nebuloso.

Espelhos lhe causavam arrepios e lhe assustavam a noite com seu próprio reflexo, mesmo assim ela tinha uma pequena obsessão por espelhos, sua casa era cheia deles.

Mais a noite ela se recusava sair do quarto. Ficava lá observando o único espelho que o enfeitava, esperando, talvez ansiosamente para que ele lhe sugasse mostrando-lhe um mundo novo ou que ele simplesmente mostrasse o reflexo verdadeiro de sua alma.

Sempre pensou que o espelho fosse infiel. Por todos esses anos lhe mostrando apenas o que ela queria ver, mais jamais lhe mostrando o que ela deveria ver.

Achava que o espelho manipulava sua mente, até que talvez ele fosse uma porta para uma nova dimensão. Seus devaneios lhe levavam sempre a um mundo em que o espelho lhe observava minuciosamente esperando o momento certo para lhe mostrar como o tempo havia passado e ele nunca havia lhe mostrado a realidade.

Ironicamente essa mesma mulher que um dia foi uma menina, morreu ao lado de um espelho, as marcas do tempo eram vistas no rosto da jovem senhora que dormia eternamente com um sorriso plantado em seu rosto.

Talvez o espelho tenha sido piedoso e tenha lhe proporcionado seu ultimo e único desejo por todos esses anos. Ver o mundo real como ele era ou simplesmente ter lhe levado a outra dimensão mostrando-lhe o mundo que os espelhos escondem diante de suas mil faces.