Os dias até ao Sábado passaram a correr. Nesses dias, fui tentando estruturar um discurso coerente. Eu não tinha muito jeito para falar em público, mas eu queria falar, eu queria explicar o porquê do desenho. Era importante para mim, demonstrar isso. Não tinha nada muito definitivo, apenas umas ideias, era difícil para mim, extrair este tipo de sentimentos, enquanto toda a minha vida, não os tive. Tinha passado a noite toda às voltas na cama, devido à ansiedade e de manhã estava um pouco elétrica, devido ao nervosismo. Levantei-me e fui até à cozinha para comer qualquer coisa. Ainda não estava lá ninguém, mas também ainda era cedo. Preparei algo para eu comer, mas não muita coisa, pois o meu estomago já estava embrulhado, por causa dos nervos e da ansiedade.
- Já levantada, querida? – Perguntou a Esme assim que me viu na cozinha. Sorri para ela mas não falei, pois estava de boca cheia. – Nervos? – Perguntou simplesmente enquanto preparava uma chávena de café para ela.
- Muitos! – Respondi.
- É normal. – Disse a Esme dando-me um beijo na testa de seguida. – Pelo menos dormiste alguma coisa? – Perguntou com uma ponta de preocupação na voz.
- Mais ou menos. – Respondi sinceramente. – Andei um pouco às voltas na cama.
- Alice, Alice! – Disse ela com um sorriso divertido no rosto. – Pelo menos, sentes-te descansada? – Perguntou.
- Sim, não me sinto nada cansada. – Respondi.
- Pareces elétrica, querida. – Disse a Esme rindo um pouco. Ri-me também e continuei a comer o que tinha preparado. Ela sentou-se ao meu lado e comeu também o que tinha preparado para ela. Continuámos a conversar animadamente, enquanto comíamos. Mas quando acabei, fui para o meu quarto para ir tomar um banho. Demorei algum tempo, para ver se os nervos iam embora. Quando me pareceu que estava um pouco mais calma, saí da banheira e enxuguei-me. Enrolei a toalha ao meu corpo e fui até ao closet para escolher uma roupa para vestir. Não queria vestir algo muito exuberante que chamasse muito a atenção, mas sim algo simples. Peguei numa saia de cintura alta com um padrão florido em tons de rosa e um caicai preto. Como eu não gostava de andar com os braços destapadas devido às cicatrizes, peguei num casaco de malha no mesmo tom de rosa que as flores da saia e vesti-o. Assim que acabei de me vestir, fui até ao espelho fazer uma maquilhagem simples e depois decidi fazer algo com o cabelo. Ele estava enorme, tinha crescido imenso nos últimos tempos. Decidi fazer uma trança lateral, meio embutida e um pouco bagunçada. Custou um pouco mas ao fim de um bocado, acabei de a fazer e até ficou bonita. Fui outra vez até ao closet para encontrar uns sapatos. Não queria ir de saltos altos, não gostava muito, aleijavam-me os pés, então decidi pegar numas sabrinas pretas que eram muito mais confortáveis. Quando acabei de me arranjar, olhei para o relógio e percebi que já tinham passado duas horas. Já deviam estar todos acordados. Decidi descer. Quando cheguei à sala não estava lá ninguém mas eu ouvia vozes vindas da cozinha. Decidi ir ter com eles à cozinha.
- Bom dia! – Disse assim que entrei na cozinha. Estavam lá todos a tomar o pequeno-almoço.
- Bom dia! – Responderam eles, passando a olhar para mim.
- Uau, Alice! Vejo que te arranjaste para o nosso encontro! – Brincou o Edward, vindo dar-me um beijo na bochecha. Apenas corei e ri um pouco.
- Calma aí, Ed! Chegaste tarde demais, ela pertence-me! – Disse o Jasper entrando também na brincadeira. Ele esticou o braço como um convite para eu ir para o colo dele. Claro que eu aceitei. Sentei-me no colo dele e recostei-me no seu peito.
- Sabes, Alice. Cadeiras é coisa que não falta cá em casa! – Comentou a Rose, provocando-me por eu me ter sentado no colo do Jasper. Apenas lhe deitei a língua de fora. Ela só se riu e continuou a comer.
- Ei! Essa é a minha torrada! – Resmungou o Edward, assim que eu lhe roubei a torrada e comi um pouco. Ele comia torradas com doce de morango, eram ótimas, mas eu nunca tinha paciência para as fazer.
- Só queria provar um bocadinho! – Disse.
- Alice, sei muito bem que adoras as torradas com doce, e só não as fazes porque não tens paciência. Por isso, dá cá a minha torrada. – Comentou ele. Passei-lhe a torrada e voltei a recostar-me no Jasper.
- Muito nervosa? – Perguntou-me ele ao pé do ouvido.
- Um pouco. – Respondi com um sorriso nervoso.
- Vai tudo correr bem. – Incentivou ele.
- É o que eu espero. – Disse.
- Querida, não queres comer nada? – Perguntou a Esme como sempre preocupada.
- Não, estou bem, Esme. Mas obrigada. – Respondi. Fiquei com eles até acabarem de comer. Quando todos acabaram, decidiram ir vestir-se. Eu fui com a Rose para o quarto dela. Enquanto ela tomou um banho rápido, eu fiquei sentada na cama dela a ler um livro que ela tinha na mesa-de-cabeceira. Assim que ela voltou do banho, pediu-me ajuda para escolher a roupa dela. Depois de muita procura no armário dela, ela decidiu vestir umas calças de ganga, justas com um top vermelho que era rendado. Calçou uns sapatos com um pouco de salto vermelhos e deixou o seu cabelo solto, que por sinal, estava lindo.
- Alice, não me vais dizer o que desenhaste? – Perguntou ela a décima vez. Ela estava curiosa com o que eu tinha desenhado e queria saber a todo o custo. Mas eu queria que eles vissem, antes de eu dizer. Eu não conseguia explicar muito bem o que tinha desenhado, queria que eles vissem com os próprios olhos e não imaginassem.
- Na exposição vês, Rose. Já não falta assim tanto tempo. – Respondi-lhe, sorrindo.
- Mas eu estou curiosa! – Resmungou ela, enquanto se penteava.
- Eu sei que sim. – Respondi rindo. – És a pessoa mais curiosa que conheço. – Ela riu-se comigo. – Vá, posso dizer que tem a ver com a Esme e por isso é que estou um pouco nervosa. – Desabafei.
- Como assim?
- Não sei como ela vai reagir ao que eu desenhei. O desenho reflete o que eu sinto em relação a ela e eu tenho medo que ela, de certa forma, não goste. Não sei explicar, Rose. Mas estou com certo medo. – Expliquei-lhe o melhor possível.
- Tenho a certeza que seja o que for que desenhaste, a minha mãe vai gostar. Alice, tens de perceber que a minha mãe olha para ti como olha para mim. A minha mãe é tua mãe! Ela vê-te como filha e como tal tem imenso orgulho em ti. – Disse ela. – Não tenhas medo. Descontrai e depois logo vês como ela reage. Está bem?
- Está bem, Rose. – Respondi sorrindo um pouco.
As horas estavam a passar mais rápido que o esperado. Depois de a Rose estar pronta, descemos as duas para ir almoçar. Já eram quase duas da tarde e a exposição começava às três. Eu cada vez me encontrava mais nervosa. Mal consegui comer, estava com o estômago embrulhado por causa dos nervos. A Esme percebeu, então não me obrigou a comer mais. Ajudei a Esme a arrumar a cozinha e a pôr a loiça para lavar e depois fomos todos para a exposição. Já estava bastante gente quando chegámos. Gente que eu não conhecia. Os nervos pioraram o que fez que eu nem passasse da porta de entrada da galeria. Só tinha vontade de voltar para trás e esquecer isto.
- Alice. – Chamou o Edward assim que percebeu que eu parei à porta da galeria. – Anda, já estamos um pouco atrasados.
- Eu sei. – Disse com a voz a tremer. Ele percebeu o meu estado e veio ter comigo.
- Ei! Então, estavas tão feliz, o que se passa? – Perguntou carinhoso.
- Nervos. – Respondi simplesmente.
- Alice, tudo vai correr bem. É só chegares ali e dizeres o porquê de desenhares o que desenhaste. O que é que aquilo representa para ti. Sê verdadeira e expressa os teus sentimentos.
- É isso que me deixa nervosa, falar em público! – Expliquei.
- Pensa que estás sozinha, que não tens ninguém à tua frente. E fala, expressa-te! Vais ver que resulta! – Disse ele.
- Vou tentar. – Falei num tom mais confiante.
- E eu sei que irás conseguir! – Disse ele. – Vá, vai lá que o teu professor já está à tua espera. Boa sorte! – Desejou ele, abraçando-me de seguida.
- Obrigada, Ed. – Agradeci. O resto da família desejou-me “boa sorte” antes de eu ir ter com o meu professor. Assim que cheguei perto dele, ele explicou que ia falar primeiro para explicar no que é que o projeto consistia e depois ele dava-me a palavra e eu fazia o meu pequeno discurso. Assim que toda a gente percebeu que o meu professor ia começar a falar, calou-se tudo e sentaram-se numas cadeiras que se encontravam disponíveis. Vi a minha família na plateia e sorri com isso. Eles estavam todos a sorrir para mim e saber que eles me estavam todos a apoiar, deixava-me extasiada.
- Boa tarde, a todos! – Começou o meu professor. Ouviu-se um “boa tarde” vindo da plateia e depois ele continuou. – Antes de mostrarmos o projeto que toda a gente almeja ver, vou explicar como tudo isto começou. Eu propus à minha turma de desenho, fazerem um projeto ao longo do ano sobre uma palavra que previamente retiraram de um saco. A Alice, a autora deste projeto, retirou a palavra happiness. – Ouviu-se um burburinho pela sala. – Difícil, eu sei mas ela conseguiu e fez um trabalho maravilhoso. Não vou fazer vocês ficarem mais nessa ansiedade! Vamos mostrar o projeto e depois a Alice fala. – Informou o professor. Assim que ele acabou de falar, alguém retirou o pano que tapava o meu projeto e todos os olhares da plateia se concentraram nele. Eu apenas tomava atenção a uma expressão, era a única que me importava. Apenas olhava para a expressão da Esme. A expressão dela passou de curiosa, a surpresa e por fim ficou emocionada. Sorri aliviada para ela e assim que ela percebeu que eu olhava na sua direção, sorriu para mim com os olhos marejados. Ela voltou a olhar para o meu projeto que tinha eu e a Esme desenhadas. Encontrávamo-nos as duas de perfil e ela estava a beijar a minha testa ternamente como muitas vezes fazia. Eu tinha um sorriso feliz no rosto e os olhos fechados como se tivesse a apreciar o momento e ela olhava para mim carinhosamente sorrindo. Por fim, em baixo, no rodapé do projeto, estava escrito: “Há só uma felicidade nesta vida, amar e ser amado.”