Quando o relógio marcou sete horas, levantei-me da cama e fui tomar um banho. Quando acabei, fui até ao meu quarto e vesti-me calmamente, não estava com pressa. Nem me apetecia ir à escola. Depois de ter tentado comer alguma coisa, caminhei calmamente até à escola. Ainda era cedo, por isso não estava muito cheia. Entrei e dirigi-me para a minha sala de aula. Tirei um caderno e pus-me a desenhar, até o professor entrar dentro da sala.
As aulas da manhã passaram a correr. Ainda não tinha visto ninguém. Eu saía de uma sala e punha-me noutra. À hora do almoço, dirigi-me para o refeitório. Pus-me na fila para ir buscar comida e depois fui até à mesa onde eles estavam. Já lá estavam todos, incluindo a Helena que conversava alegremente com a Rose. Sentei-me ao lado do Jasper em silêncio. Ele virou-se para mim com um olhar interrogativo e eu beijei-lhe. Tinha tantas saudades dos lábios dele. Ontem mal lhe tinha tocado. Ele correspondeu o beijo com a mesma urgência que eu. Acabámos por nos separar, ofegantes.
- Podemos ir passear, hoje à tarde? – Perguntei-lhe ao ouvido. Eu queria que ele dissesse que sim. Queria estar um tempo com ele. Queria que o que estava a sentir fosse apagado e só estando com ele é que isso, iria acontecer.
- Podemos. – Respondeu ele sorrindo. Sorri um pouco para ele e de seguida comecei a comer. O resto do almoço passou-se tranquilamente. Não falei muito mas falei mais do que ontem. Sempre que eu apanhava a Helena a olhar para o Jasper, uma raiva estranha aparecia dentro de mim. Eu tentava controlar-me. Afinal, a Helena não estava a fazer nada, estava apenas a olhar para ele e isso não era proibido. Quando o almoço acabou, dirigi-me para a minha sala para ir ter a minha última aula.
- Eu vou ter contigo à tua sala. – Disse o Jasper antes de eu sair do refeitório.
- Está bem. – Respondi sorrindo.
A aula passou-se num instante. Eu arrumei as minhas coisas e depois fui para a porta da sala. Fiquei à espera dele uns cinco minutos. Quando ele apareceu, fomos em direcção ao seu carro e ele dirigiu para a praia de La Push. Íamos passear na praia, eu adorava isso. A tarde passou-se como se nada tivesse acontecido. Como nos tempos em que não conhecíamos a Helena. Eu gostei disso. Fez-me esquecer do sentimento que sempre se apoderava de mim quando os via juntos. Eu não falei de nada ao Jasper e ele também não deve ter notado nada, porque não tocou no assunto. Passeámos os dois à beira-mar, sentindo as ondas baterem-nos nos pés. Eu adorava essa sensação. Rimos muitos e namorámos um pouco. A tarde foi perfeita e desde que a Helena apareceu nas nossas vidas eu não me sentia tão segura e amada. Quando começou a escurecer, o Jasper levou-me para a instituição.
- Até manhã. – Disse beijando-o. – Amo-te mais do que tudo. Não te esqueças disso. – Sussurrei mas ele ouviu. Ele olhou para mim um pouco confuso mas sorriu.
- Eu não me esqueço. – Disse sorrindo, acariciando a minha bochecha. Sorri para ele também e saí do carro, entrando dentro da instituição. Sentia-me mais feliz e mais leve por não estar a carregar aquele sentimento comigo. Tomei um banho rápido e depois fui jantar. Depois de jantar acabei por ir dormir. Estava exausta por não ter dormido quase nada na noite passada. Para além dos pesadelos do costume aparecerem, dormi razoavelmente bem. Levantei-me na manhã seguinte, mais bem-disposta e fui para a escola. Nem mesmo sabendo que ia ter matemática já à primeira aula, me punha maldisposta. Ainda estava feliz pela tarde de ontem. Entrei na sala de matemática e sentei-me na minha mesa. Com o passar do tempo, a sala foi enchendo até que vi o Jasper entrar com a Helena. Ele sentou-se na mesa com ela e nem sequer veio ter comigo. A felicidade da tarde de ontem foi-se desvanecendo de dentro de mim. E voltei a ficar triste e a raiva voltou a aparecer. Decidi que ia eu falar com ele. Eu não o podia perder, eu amava-o tanto. Se eu ficasse sem ele, o meu mundo desmoronava como um castelo de cartas atacado pelo vento. Quando me ia a levantar, o professor entrou na sala e eu não pude ir ter com o Jasper. Passei a aula toda desatenta. Pus-me a rabiscar no meu caderno. Quando tocou para a saída, arrumei as minhas coisas e decidi ir ter com o Jasper, mas ele já tinha saído da sala. Eu não podia acreditar que ele não se tinha lembrado de mim. Era a única aula que nós tínhamos juntos. Andei tristemente até à minha outra sala. E passei o resto da manhã assim. Não o encontrei mais antes da hora do almoço. Ao almoço comi em silêncio absoluto e pareceu que também ninguém se importou. O resto do dia, passou-se lentamente e quando fui para a instituição, deitei-me na cama e não saí de lá. Acabei por adormecer. O resto dos dias até sexta-feira foi igualmente doloroso. Todos já tinham aceitado a Helena, todos gostavam dela. Era como se ela fosse nossa amiga há anos e não há dias. Eu tentava agir normalmente ao pé deles, mas era quase impossível. Aos almoços, muitas vezes eu permanecia calada. Pedia ao Jasper para irmos passear à tarde os dois juntos mas ele dizia sempre que naquele dia que não dava, ou porque tinha o projecto de música, ou porque tinha o trabalho de matemática. Eu não insistia, também tinha que adiantar os meus trabalhos. Mas ficava triste, eu queria apenas passar algum tempo sozinha com o Jasper. Tinha saudades de estar com ele.
Tinha acabado de tocar para sairmos da última aula da manhã. Fui em direcção ao refeitório e depois de ter ido buscar um pouco de comida, sentei-me na mesa do costume. Como já se tinha tornado normal, comecei a comer em silêncio. Apenas ouvia a conversa animada deles.
- Alice. – Ouvi a Rose chamar-me baixinho. Virei-me para ela com um olhar interrogativo. – Temos de falar. – Disse simplesmente. Concordei com a cabeça e ela deu a simples desculpa de irmos ao banheiro. Levantámo-nos e fomos para um sítio que não tinha muita gente para nos dar mais privacidade. – O que se passa contigo? – Perguntou ela um pouco irritada. Fiquei confusa.
- O quê? – Perguntei.
- Não te faças de desentendida. Tens andado distante. Aos almoços, não falas. Quando te convidei para ires para a piscina connosco, recusaste. Já não vais lá a casa, depois das aulas. Já não estás com o Jasper de tarde.
- O Jasper é que não quer, Rose. Todos os dias lhe pergunto se ele quer ir passear de tarde e ele responde sempre que não pode, porque tem trabalhos para fazer. – Constatei. – Não fui à piscina porque não queria exibir as minhas cicatrizes a pessoas que mal conheço e por fim, o que queres que eu fale aos almoços? Vocês estão sempre numa conversa tão animada com a Helena. Nem sei o que hei-de dizer. – Acabei por dizer um pouco sarcástica. Mesmo quando eu falava, mal me davam atenção.
- Isto tudo tem a ver com a Helena, não tem? O que tu tens contra ela? – Perguntou a Rose. – Ela é simpática e uma boa amiga.
- Para além de ela gostar do Jasper, nada. – Afirmei aquilo que há alguns dias tinha estado a pensar. Ela sentia mais do que amizade por ele. Eu conseguia perceber e era isso que me dava raiva. Desde que ela apareceu, o Jasper não me tem ligado nenhuma.
- Ela gosta do Jasper como uma boa amiga, Alice. Estás a ver coisas onde não existem.
- Não estou, Rose. Acredita que não estou. Desde que o Jasper começou a dar-se com a Helena, eu praticamente não existo. Desde a tarde de segunda que ele se recusa a ir passear comigo de tarde. Aos almoços, é como tu vês. Ele até se esqueceu que tem aulas de matemática comigo. Terça-feira, ele entrou dentro da sala, nem veio ter comigo e quando deu o toque de saída eu ia ter com ele, mas ele já se tinha ido embora com a Helena.
- Tu estás com ciúmes, Alice! – Disse a Rose um pouco exaltada. – Estás a deixar-te afectar por ciúmes, ainda por cima sem razão. A Helena é apenas uma boa amiga para o Jasper e ela não gosta do Jasper como estás a dizer. Como disse, estás a ver coisas onde elas não existem. – Ela estava irritada. Irritada por eu dizer que a Helena gostava do Jasper. A defender uma pessoa que conheceu há dias. Eu pensava que ela era minha amiga. Pensava que ela iria perceber o meu lado. – Ainda por cima estás a desconfiar do meu irmão!
- Eu não disse nada disso!
- Mas deste a entender! – Gritou ela. – Alice, quando perceberes que estás errada, vem falar comigo. Não é justo o que estás a fazer. – Disse ela indo embora.
- Rose… - Chamei-a.
- Alice, a sério. Eu não quero discutir mais contigo, do que já discuti. – Disse ela com um olhar sofrido. - Percebe que não tens razão. Eles são apenas bons amigos, apenas isso. Estás a afastar-te de todos por nada. Não estás a dar uma oportunidade a uma rapariga fantástica como a Helena para ser tua amiga. Estás a desconfiar do Jasper. Apenas por ciúmes estúpidos. Pensa no que estás a fazer, Alice. – Acabou por dizer um pouco mais calma. De seguida, virou-me as costas e foi-se embora. Fiquei estática. Ainda estava a assimilar tudo o que ela me tinha dito. Senti as lágrimas quentes a delinearem-me as bochechas. Levei a mão à cara para limpar as lágrimas. Não queria chorar, não mais. Saí dali a correr e fui para fora da escola. Sentei num sítio onde ninguém ia e fiquei ali a chorar. Eu não conseguiria conter as lágrimas, não dava. A Rose não tinha percebido como eu me sentia. Nem sequer se tinha posto no meu lugar. Mas eu tinha a certeza do que eu estava a dizer. Eu via isso na maneira como a Helena agia perto dele, como sorria para ele e como lhe olhava. Eu quando o conheci, era assim com ele. Podia não perceber muito de sentimentos, mas eu sabia o que aquele olhar significava. Eu olhava da mesma forma que eu para o Jasper. Era um olhar apaixonado, de admiração, de carinho. Quando me consegui acalmar minimamente, já tinham começado as aulas. Também não me estava a apetecer, assistir a uma aula. Provavelmente, nem iria prestar atenção. Fui até ao refeitório, que a esta hora estava vazio e peguei na minha mala que ficou por ali perdida. Saí, de seguida, da escola e fui em direcção à instituição. Andei o mais lento possível. Não queria ir para lá, mas também não tinha mais nenhum sítio para ir. Quando lá cheguei, enfiei-me no quarto e pus-me a estudar. Não queria pensar no que tinha acontecido, hoje, à hora de almoço. Não queria pensar, porque provavelmente, choraria e eu não queria voltar a chorar. Concentrei-me nos livros a tarde toda. Por volta da hora de jantar, deu-me a fome e fui comer um pouco. A instituição estava pouco barulhenta. Normalmente, ouviam-se as crianças a falar entre as brincadeiras, ou algumas a discutir por causa da televisão, ou por demorarem muito tempo no banho. Desta vez não, elas estavam mais sossegadas do que o costume, mas falavam aos murmúrios com medo que alguém as ouvisse. Estava com demasiada fome, para pensar nisso. Peguei num pouco de comida e fui comer para a sala. Mal acabei de comer, fui pôr o meu prato na cozinha e depois fui para o meu quarto, outra vez estudar, até o sono vencer.