O Pequeno Lord escrita por TassyRiddle


Capítulo 25
Capítulo 25




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O estádio de Quadribol estava irreconhecível. Uma sebe de seis metros corria a toda volta. Havia uma abertura a seu extremo, o que Harry reconheceu como a entrada para um imenso labirinto, cuja passagem além parecia escura e sinistra. As arquibancadas, porém, não demoraram a se encher, o ar vibrando com as vozes excitadas e os ruídos dos pés de centenas de estudantes que ocupavam seus lugares. O céu se tornara azul profundo e límpido, e as primeiras estrelas começaram a surgir.

- Um cenário promissor, não acha? – a sarcástica voz de seu pai o despertou.

- Sem dúvida, papai.

Uma orquestra improvisada começou a tocar quando os campeões ingressaram no local. Um por um eles se colocaram no centro do estádio, acompanhados de seus responsáveis. Primeiro entrou Fleur e Madame Maxime, a última sorria radiante enquanto a menina tentava arrumar o lenço na cabeça com uma expressão claramente deprimida. Em seguida, Victor e Karkaroff se colocaram ao lado das duas, o diretor de Durmstrang com o olhar orgulhoso para o pupilo que parecia incomodado com aquilo. Cedric e seu pai, Amos Diggory, foram os próximos e era evidente o orgulho do mais velho que sorria como nunca, levantando o braço do filho, como se indicasse o verdadeiro campeão. E por último, mas não menos importante, Harry e o Lord ingressaram no local, o mais velho abraçando o ombro do filho de maneira impessoal, a primeira vista, mas que expressava o seu orgulho e sincero encorajamento. Os aplausos, com a entrada dos dois, ao contrário do esperado, fizeram-se ainda mais intensos com a grande euforia que corria por entre os Slytherins e os Comensais que estavam presentes para fazer a guarda do Lord.

Mas algazarra logo cessou, pois Dumbledore se dirigiu aos campeões para dar as próximas instruções, seu olhar não pousando no Lord nem por um segundo:

- Meus queridos, a terceira e última tarefa está prestes a começar, o que vocês precisam fazer é encontrar a Taça Tribruxo que o professor Moody escondeu no labirinto mais cedo, mas cuidado, as coisas mudam dentro do labirinto, entenderam? – sorriu falsamente para Harry, que apenas arqueou uma sobrancelha com desdém, imitando o pai – Qualquer problema, lancem faíscas vermelhas com suas varinhas, assim, na mesma hora, vocês serão trazidos de volta para cá.

Todos assentiram em silêncio.

- Quando eu apitar, Harry e Victor poderão ir, depois Cedric e por último a senhorita Fleur. Preparados?... Três... dois... um!

Dumbledore soprou com força o apito e Harry e Victor correram para a entrada do labirinto. Desde o seu lugar, o Lord das Trevas não tirava os olhos das costas do filho, na qual o nome "Riddle" estava gravado em letras negras adornando o vestuário verde-escuro.

"Boa sorte, pequeno" – desejou pela conexão. E Harry apenas sorriu, lançando-lhe um breve aceno.

Começava a terceira e última prova do Torneio Tribruxo.

As sebes imensas lançavam sombras escuras sobre a trilha, e talvez porque fossem tão altas e densas ou porque fossem encantadas, o barulho dos espectadores que as cercavam silenciou no instante em que os adolescentes entraram no labirinto. Harry quase se sentiu novamente embaixo da água. Puxou a varinha, murmurou um "Lumus" e ouviu Victor Krum fazer o mesmo atrás dele.

Depois de andarem uns cinqüenta metros, os garotos chegaram a uma bifurcação. Entreolharam-se.

- Boa sorte, Krum – desejou Harry, e tomou a trilha da esquerda, enquanto o outro se dirigiu para a da direita lhe desejando o mesmo.

Harry ouviu o apito de Dumbledore pela segunda vez. Cedric acabara de entrar no labirinto. Na mesma hora se apressou. Ele virou à direita e continuou depressa, mantendo a varinha acima da cabeça, tentando ver o mais longe possível. Mesmo assim, não havia nada à vista.

Não demorou muito e o apito do diretor soou ao longe pela terceira vez. Todos os campeões agora estavam no interior do labirinto.

Harry não parava de olhar para trás. Tinha a sensação familiar de que alguém o vigiava. O labirinto foi ficando mais escuro a cada minuto que se passava, pois o céu no alto ia ganhando um matiz azul-marinho. Sob este cenário, o pequeno Lord chegou a uma segunda bifurcação.

- Me oriente – sussurrou ele, em parsel, à varinha, segurando-a deitada na palma da mão.

A varinha fez um giro completo e apontou para a direita, para a sebe maciça. Para ali ficava o norte, e ele sabia que precisava seguir para noroeste para chegar ao centro do labirinto. Faria melhor se tomasse a trilha da esquerda e tomasse a seguir para a direita assim que pudesse. A trilha à frente também estava vazia e quando Harry chegou a uma curva à direita e entrou por ela, encontrou mais uma vez o caminho livre. Harry não sabia o porquê, mas a falta de obstáculos começava a deixá-lo nervoso. Tinha impressão de que o labirinto o estava induzindo a uma falsa sensação de segurança. Então ouviu um movimento atrás dele. Ergueu a varinha, pronto para atacar, mas seu facho de luz recaiu sobre Cedric, que acabara de sair correndo da trilha do lado direito. Cedric parecia em choque. A manga de suas vestes fumegava.

- Os explosivins de Hagrid... – murmurou ele – Aqueles monstros enormes! Escapei por um triz!

- Acalme-se, Cedric.

- Harry, por Merlin, você precisava ver!

- Respire, Cedric, respire... – afagou suas costas com cuidado e o castanho pareceu se recuperar depressa – Agora é melhor você seguir por aquela trilha, bem longe dos explosivins, não é mesmo?

A trilha indicada, obviamente, afastava-se do centro do labirinto. Mas Cedric sequer pensou em discordar e com um ligeiro sorriu seguiu o caminho induzido por Harry, cuidando em se afastar o máximo possível dos monstros de Hagrid. Com um sorriso malicioso, mas claramente divertido, o pequeno Lord retomou seu caminho. Então, ao fazer uma curva ele viu...

- "É, estava demorando" – pensou com sarcasmo.

Um sinistro Dementador deslizava em sua direção. Três metros e meio de altura, o rosto oculto pelo capuz, as mãos podres e cobertas de feridas estendidas à frente. Ele avançava às cegas, tateando em direção ao garoto. Harry ouviu sua respiração vibrante, sentiu um frio horrível se apoderar dele, mas sabia muito bem o que precisava fazer. Chamou à mente o pensamento mais feliz que pôde, se concentrou no pensamento de sair do labirinto com a taça da vitória nas mãos para comemorar com seu pai e seus amigos, assim, ergueu a varinha e exclamou:

- Expecto Patronum!

Um pequeno, mas imponente Basilisco, surgiu da ponta da varinha de Harry e avançou deslizando no ar para o Dementador, que recuou depressa, mas logo se viu dissipado pelo poderoso patrono. O pequeno Basilisco, então, desapareceu e Harry continuou seu caminho o mais depressa e silenciosamente que pôde, apurando os ouvidos, com a varinha mais uma vez erguida no alto.

Esquerda...

Direita...

Novamente à esquerda...

Em duas ocasiões ele foi dar em trilhas sem saída e aquilo começava a irritá-lo.

Harry executou o Feitiço dos Quatro Pontos mais uma vez para se orientar e descobriu que se afastara demais para o leste. Retrocedeu, tomou a trilha à direita e viu uma estranha névoa dourada flutuando adiante. Aproximou-se cautelosamente, apontando para a névoa o facho de luz da varinha. Parecia um tipo de encantamento, que não estava lhe agradando.

- Dissipo... – ele murmurou em parsel, usando uma das mãos para afastar a névoa.

Um horrorizado grito, porém, rompeu o silêncio.

- Delacour? – murmurou consigo, caminhando pela trilha que fora liberada da névoa. Parou na junção de duas trilhas e olhou para os lados à procura de algum sinal da campeã de Beauxbatons. Tinha certeza de que fora a garota que ouvira gritar.

Ele tomou a trilha à direita. E após alguns passos se deparou com a assustada menina se debatendo para fugir dos galhos de uma planta que parecia ser Visgo do Diabo. Tonta, pensou, será que ela não sabia que um simples Lumus Solem poderia salvá-la? Com um sorriso malvado ele se lembrou do arrogante sorriso que ela conservava nos lábios rosados quando convidou Draco para o baile.

Seria cruel de mais lançar uma maldição na indefesa menina agora?

É claro que sim. Seria no mínimo cruel e desumano.

Mas ele era um Riddle no final das contas.

- Crucio!

O raio vermelho deixou sua varinha e impactou no corpo da adolescente, que na mesma hora começou a se contorcer, lançando ao ar gritos horrendos de dor. Os olhos esmeraldas contemplavam a cena com frieza e cruel diversão. Ela com certeza pensaria duas vezes antes de olhar para o seu namorado de novo, isto é, se ela recuperasse sua consciência algum dia.

- Papai tem razão, a vingança é um delicioso prato que se come frio.

Após alguns minutos, quando a menina finalmente desmaiou, Harry continuou seu caminho com um malicioso sorriso nos lábios. Por um segundo ele pensou em lançar faíscas vermelhas ao céu para que os professores viessem retirá-la, mas logo mudou de idéia, afinal, não era problema seu.

Por uns dez minutos ele não encontrou nada, exceto trilhas sem saída. Quando finalmente encontrou um novo caminho, começou a andar depressa por ele, a luz da varinha oscilando, fazendo sua sombra se distorcer pelos lados a sebe. Então ele virou mais uma vez e deu de cara com um explosivim, um animal semelhante a uma lagosta sem casca, naquele caso, uma lagosta gigante, deformada e pálida, com inúmeras pernas saindo dos lugares mais estranhos e sem cabeça visível.

- Cedric tinha razão... – murmurou, afastando-se alguns passos. Era enorme. E como se não bastasse, possuía um imenso ferrão que lançava bolas de fogo e que, naquele momento, estava apontado para ele.

Quando a primeira bola de fogo veio em sua direção, Harry conjurou um poderoso escudo que a fez ricochetear. Não que ele não se importasse com as criaturas mágicas – pelo contrário, ainda se sentia culpado por matar o Dragão na primeira prova, afinal, adorava Dragões – mas aquilo que lançava bolas de fogo contra o seu escudo não se comparava a um belo Dragão, ou um imponente Basilisco, muito menos com um doce unicórnio, então, o pequeno Lord não pensou duas vezes antes de lançar um simples, mas poderoso:

- Avada Kedrava!

Que na mesma hora fez o animal cair derrotado. Assim, Harry seguiu pela trilha da esquerda, mas não encontrou saída. Ao executar o Feitiço dos Quatro Pontos, retrocedeu e escolheu uma trilha que o levasse para noroeste. Já ia caminhado apressado pela nova trilha havia alguns minutos, quando ouviu alguma coisa na trilha paralela à sua, que o fez estancar.

- O que é que você está fazendo? – berrou a voz de Cedric – Que diabos você pensa que está fazendo?

E então Harry ouviu a voz de Krum.

- Crucio!

Estranho, o menino pensou, será que o búlgaro sentia tanto ódio assim do castanho? O mesmo ódio que ele sentia por Fleur? Os gritos de Cedric, porém, interromperam seus pensamentos e Harry avançou correndo por sua trilha, tentando encontrar uma passagem para a de Cedric, quando finalmente encontrou viu Cedric se debatendo e gritando no chão, sob o olhar de Krum. Obviamente não era um Cruciatos tão poderoso quanto o seu, mas parecia bem eficiente mesmo assim.

- Estupefaça!

O feitiço de Harry foi certeiro e fez Krum desmaiar na hora, livrando Cedric da maldição. Apenas para garantir, o menino ainda lançou um Incarcerous para deixar o campão de Durmstrang firmemente amarrado. E logo se aproximou para ajudar o castanho.

- Você está bem?

- Não muito... – murmurou dolorido.

- Nossa, o que você fez para ele?

- Aquele não era o Krum.

- Não?

- Não. Seus olhos estavam completamente brancos, como se ele tivesse possuído ou algo assim. Foi como o professor Dumbledore disse, as pessoas podem mudar no labirinto.

- Oh... Talvez ele tenha atacado Delacour também – comentou casualmente – não vi nem sinal dela.

- É provável – suspirou, mas logo deu um pequeno sorriso – Obrigado, você me salvou Harry.

- Disponha – piscou-lhe um olho. Os dois agora andavam lado a lado na trilha – Eu geralmente faço isso.

- Eu não sei... – as palavras de Cedric, porém, morreram em seus lábios.

Um intenso tornado se aproximava depressa pela trilha em que eles estavam. E Harry não pensou duas vezes antes de gritar:

- CORRE!

E eles correram como se suas vidas dependessem disso. Em meio à adrenalina eles avistaram uma bela luz adiante e logo reconheceram a Taça Tribruxo, que brilhava num pedestal a menos de cem metros de onde estavam. Eles pararam de repente e se entreolharam, em seguida, voltavam a correr como nunca, o objetivo agora era pegar a taça antes do outro.

Cedric ia chegar primeiro. O rapaz estava correndo o mais rápido que podia em direção à Taça, e Harry percebeu que dificilmente o alcançaria. Cedric era muito mais alto, tinha pernas bem mais compridas... Então, Harry viu um vulto imenso por cima da sebe à sua esquerda, deslocando-se ligeiro pela trilha que cortava a sua, ia tão depressa que Cedric estava prestes a colidir com ele, e com os olhos não Taça, o castanho não vira o vulto.

- Cedric! – berrou Harry – À sua esquerda!

O garoto virou a cabeça a tempo de se atirar para além do vulto e evitar colidir com ele, mas, em sua pressa, tropeçou. Harry viu a varinha voar da mão dele, ao mesmo tempo em que uma enorme aranha entrava na trilha e começava a avançar para o rapaz.

- Estupefaça! – Harry conjurou o primeiro feitiço que lhe veio à mente. Este atingiu o gigantesco corpo da aranha, negro e peludo, mas produziu tanto efeito quanto se o garoto tivesse atirado uma simples pedra nela, a aranha, então, estremeceu, virou-se e correu para Harry.

O menino sequer teve tempo de conjurar outro feitiço quando o inseto se ergueu no ar com as patas dianteiras debatendo ameaçadoramente. Harry não pensou duas vezes e se jogou para o lado, mas as pinças da aranha conseguiram atingir sua perna e no momento seguinte ele sentiu uma dor alucinante.

- Estupefaça! – ouviu Cedric gritar, mas o feitiço do rapaz produziu o mesmo efeito que o seu. A aranha estava prestes a atacá-lo outra vez, mas Harry sentiu a fúria combinada com a dor lhe invadir e ignorando completamente a presença de Cedric, conjurou a maldição:

- Avada Kedrava!

Sob o potente raio verde a aranha sucumbiu, tombou de lado, achatando uma sebe próxima e espalhando na trilha um emaranhado de pernas peludas.

Cedric nunca vira alguém conjurar a Maldição da Morte. E a doce voz de Harry ao fazer aquilo, tão próximo a ele, deixou sua mente num momentâneo estado de choque. Um pequeno gemido de dor, porém, fez com que se recuperasse depressa e lançasse um preocupado olhar ao menino.

- Você está bem? – perguntou quando chegou ao seu lado.

- Não! – foi a sincera resposta. Harry examinou sua perna, que sangrava muito, e reparou numa grossa secreção que saíra das pinças da aranha em suas vestes rasgadas. Tentou se levantar, mas a perna tremia de mais e se recusava a sustentar seu peso. Ele se apoiou na sebe, tentando recuperar o fôlego e olhou para o castanho ao seu lado. Este o encarava com preocupação, mas de minuto a minuto lançava um olhar ávido à Taça a poucos passos de onde estavam.

- Harry...

- Pegue a Taça!

- O que?

- Pegue a Taça, Cedric, você está em condições de chegar até ela. Pegue-a!

Mas o Hufflepuff não se moveu. Continuou parado olhando para Harry. Em seguida, virou-se para olhar a Taça. E se virou mais uma vez para Harry, que agora se amparava na sebe para se manter de pé. Então, com um profundo suspirou ele contestou:

- Não. Você deve pegá-la, você salvou minha vida duas vezes neste labirinto, você é que deveria vencer.

- Por Salazar! Não são assim que as coisas funcionam! – grunhiu Harry. Estava com raiva, sua perna doía muito, seu corpo doía inteiro do esforço para se manter em pé, e o obstinado Hufflepuff querendo lhe entregar a vitória como se ele fosse um pobre coitado qualquer estava acabando com a sua pouca paciência. Ele queria a vitória, queria esfregá-la na cara de Dumbledore, mas não assim, não pela compaixão de terceiros. Aquilo era ridículo.

- Pegue a maldita Taça, Cedric! – insistiu.

- Não!

- Pare de ser nobre!

- Eu não quero a glória eterna, Harry, eu quero você!

O pequeno Lord, obviamente, não esperava aquelas palavras. No mesmo instante suas bochechas se viram tingidas por um adorável tom de vermelho e inconscientemente ele desviou o olhar. A intensidade com a qual Cedric dissera aquelas palavras havia acelerado seu coração, ofegara, sem que pudesse evitar.

- Não é hora para ser galanteador... – conseguiu murmurar - Pare com essa bobagem!

- É o que eu penso. O que eu sinto, Harry.

O maior se aproximou e de repente, seus corpos estavam juntos de mais, Cedric o segurava firmemente pela cintura para sustentar seu corpo e evitar uma possível queda devido à ferida na perna, e Harry olhava para o lado, deslocado, as bochechas mais vermelhas do que nunca.

- Harry...

Antes que os lábios do castanho pudesse se unir aos seus, Harry se adiantou:

- Os dois! – exclamou. Talvez efusivo de mais.

- Que?

- Vamos pegar a Taça ao mesmo tempo! Ainda é uma vitória de Hogwarts! Empatamos!

Cedric o encarou com cautela, escondendo a ligeira decepção por não poder provar daqueles rosados lábios que pareciam chamá-lo.

- Você tem certeza?

- Tenho, é claro! Nós dois nos ajudamos. Você me deu a pista do Dragão e do ovo, eu salvei sua vida aqui, chegamos a este ponto juntos.

Por um instante, Cedric se perdeu na beleza daquele rosto enquanto o ouvia, então, seu rosto se abriu num sorriso.

- Negócio fechado. Então vamos lá.

Segurando com firmeza a cintura de um envergonhado Harry – pegando-o bem ao seu corpo para ampará-lo – Cedric o ajudou a mancar até o pedestal onde estava a Taça. Quando a alcançaram, os dois estenderam a mão para cada uma das asas.

- Quando eu disser três, certo? – disse Harry – Um... dois... três!

Ele e Cedric seguraram as asas.

Instantaneamente Harry sentiu um solavanco dentro do umbigo. Seus pés deixaram o chão. Ele não conseguiu soltar a mão da Taça Tribruxo, ela o puxava a diante, num vendaval negro e cinza, Cedric ao seu lado. Com uma expressão desgostosa no rosto, o pequeno Lord se lembrou de que conhecia muito bem aquela horrível sensação.

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Harry sentiu seus pés baterem no chão, a perna machucada cedeu e ele caiu para frente, sua mão finalmente largando a Taça Tribruxo. Com uma leve expressão de dor, ele ergueu a cabeça.

- Onde estamos? – perguntou.

Cedric sacudiu a cabeça. Levantou-se, ajudou o menor a ficar de pé e os dois olharam a toda volta. Estavam inteiramente fora dos terrenos de Hogwarts, era óbvio que tinham viajado quilômetros, talvez centenas de quilômetros, porque até as montanhas que rodeavam o castelo haviam desaparecido. Os garotos, agora, viam-se parados no meio de escombros, em meio às ruínas do que parecia ser o que sobrou de uma casa abandonada e inteiramente destruída. Em volta, havia mais ruínas, como se outras casas tivessem desmoronado também, num cenário mórbido de pós-guerra. Parecia, aos olhos dos adolescentes, um povoado completamente destruído e abandonado. Uma pequena praça mais à frente, talvez no centro do povoado, parecia tudo o que restara, as árvores mortas, o lago completamente seco e os bancos de mármore aos pedaços.

- Tenho a sensação de que este lugar não me é estranho – Harry murmurou consigo.

Cedric não escutou. Olhou para a Taça Tribruxo e depois para Harry.

- A Taça... A Taça é a chave de um portal!

- Sim, Cedric. Acho que isso ficou bastante óbvio.

Com o rosto ligeiramente corado, o castanho perguntou:

- Será que isso faz parte da tarefa?

- Não sei – respondeu com certo nervosismo. Por mais que tentasse, Harry não conseguia abrir a conexão com seu pai, parecia haver uma barreira mágica envolta deles. Aquilo não era nada bom.

- Varinhas em punho, não acha melhor?

- É.

Os dois puxaram as varinhas. Harry não parava de olhar para todo lado. Tinha, mais uma vez, a estranha sensação de que estavam sendo observados.

- Vem alguém aí – disse de repente.

Apertando os olhos para ver na escuridão, eles divisaram o vulto que se aproximava, andando por entre os escombros sempre em sua direção. Harry logo reconheceu aquela silhueta. O andar sereno, a barba comprida, a túnica púrpura brilhando sob a luz da lua. Sim, seria impossível não reconhecê-lo.

- Professor Dumbledore! – um aliviado Cedric exclamou. Aquilo, para o Hufflepuff, significava que a prova havia terminado.

- Ora, ora, ora... Você chegou aqui como esperado, Harry, mas não imaginei que fosse trazer uma carga extra.

As palavras frias e o sorriso cruel deslocaram Cedric. O pequeno Lord, porém, apenas estreitou os olhos.

- É claro que isso é uma armação sua.

- 10 pontos para Slytherin! – sorriu divertido.

- Eu sabia que tinha o seu dedo podre nisso.

- Ora, mas veja o lado bom, agora o papai não está aqui para salvá-lo.

- Seu desgraçado...

- Mas vamos acabar com a sua carga extra primeiro, assim, ainda poderei culpá-lo de assassinar o seu colega. É claro que você já estará morto para se defender.

Cedric estava boquiaberto diante da cena. O bondoso diretor de Hogwarts ameaçava claramente seus dois alunos e para Harry aquilo não parecia ser novidade. Tão chocado estava o Hufflepuff que não viu o raio verde vindo em sua direção, pôde apenas sentir o corpo de Harry se jogar contra o seu – indo parar os dois no chão – para salvá-lo da Maldição da Morte.

- Ele tentou...?

- Sim – Harry exclamou irritado, arrastando o maior para se esconder sob as paredes desmoronadas – não é a primeira vez, Cedric.

No instante seguinte, Harry observou meia dúzia de vultos dourados aparecerem ao redor do diretor, que sorriu com deleite e gritou ao menino:

- Não adianta se esconder, Harry! Vamos, apareça, quero que conheça algumas pessoas!

Harry, no entanto, não pensou duas vezes e conjurou um poderoso escudo desilusório. Tal escudo funcionava com o mesmo meio defensivo de um camaleão, confundindo-os com o cenário para garantir a proteção. Mas ele sabia que apenas aquilo não seria o suficiente. O que Harry não sabia era que os recém chegados, que pareciam tão hostis quanto o próprio diretor, eram nada menos que integrantes da famosa Ordem da Fênix, ou seja, eficientemente treinados para seguir as ordens de Dumbledore. Contudo, Harry reconheceu uma pessoa, o professor Moody e na mesma hora associou as coisas: ele colocara o seu nome no cálice a mando de Dumbledore e obviamente, ele transformara a Taça Tribruxo na chave de portal, garantindo a sua presença ali e o que parecia ser a sua prematura morte.

- Precisamos sair daqui... – murmurou mais para si mesmo, mas Cedric concordou rapidamente.

- Pare de se esconder, Harry – o diretor continuava a gritar – Ou você está matando a saudade da casa da mamãe e do papai?

O menino arqueou uma sobrancelha, ouvindo-o continuar:

- Isso mesmo, estamos em Godric Hollow, que chegou a ser um lugar muito bonito antes de Voldemort o destruir.

- "Godric Hollow?" – pensou – "Então é isso..."

- Não seja uma pequena serpente covarde e apareça, Harry, ou eu vou buscá-lo.

- Cedric... – Harry o chamou num sussurro – Tenho um plano.

E o castanho logo se pôs a escutar com atenção. Tal plano consistia em Harry distrair Dumbledore, enquanto Cedric pegava a Taça para voltar a Hogwarts e contar o ocorrido ao Lord das Trevas, que num estalo de dedos estaria ali para ajudá-lo. Obviamente seria mais fácil eles convocarem a Taça com um simples "Accio" e saírem dali, mas sob o escudo de Harry seria impossível e no momento em que este anulasse a proteção, Dumbledore, é claro, estaria pronto para atacá-los. Assim, precisavam agir rápido.

- Entendeu?

- Sim.

- Então vamos!

- Harry... – disse apreensivo – Você vai ficar bem?

- Não se preocupe, Ced – um grande sorriso se formou nos lábios do maior ao escutar o novo apelido – Apenas conte para o meu pai onde estou e tudo ficará bem.

- Certo.

- Pronto? Um... dois... três!

Tudo aconteceu rápido de mais. Harry anulou o escudo e se jogou para o lado esquerdo, desviando da luz verde que na mesma hora deixara a varinha de Dumbledore, Cedric, por sua vez, lançara-se para a direita e rapidamente convocou a Taça Tribruxo, desaparecendo no instante seguinte. Agora, Harry se via rodeado pelos desconhecidos bruxos que o tinham na mira de suas varinhas.

- Ora, ora, parece que o seu amiguinho o deixou aqui.

- Ele percebeu que era um assunto pessoal – comentou com sarcasmo – Talvez os seus amigos pudessem ir embora também, o que acha?

- Não seja mal agradecido, Harry. Eles queriam tanto conhecer você. O famoso "eleito", o menino da profecia que garante o diferencial na balança da luz e das trevas.

- Luz e trevas? – revirou os olhos – E é o suposto bando da luz que pretende assassinar um adolescente ferido?

- Eu queria você conosco, Harry. Mas se não é assim, vou garantir o equilíbrio.

- Oh, faça uma boa proposta e eu prometo pensar a respeito... – sorriu. Precisava urgentemente ganhar tempo.

- Você teve a sua chance...

- Mate-o de uma vez! – a irritada voz de Alastor Moody se fez escutar.

- Sim, estamos perdendo tempo, professor – uma jovem de cabelos cor-de-rosa acrescentou.

- Alastor, Ninfadora, acalmem-se – sorriu com benevolência – Ele precisa de uma lição primeiro.

Harry não gostou nem um pouco daquilo. No instante seguinte, estava sob efeito de um poderoso Cruciatos. Ele não gritou, não deixou escapar nem um pequeno gemido de dor, apenas apertou os olhos e se deixou contorcer no chão. Merlin... Onde seu pai estava? Por que a demora? Dumbledore não parecia disposto a perder mais tempo.

Frustrado com o silêncio do menino, Dumbledore encerrou a maldição e com um sorriso vitorioso nos lábios, começou a murmurar as palavras definitivas:

- Avada...

- CRUCIO!

O raio vermelho impactando diretamente em suas costas, porém, deteve o diretor de Hogwarts. Tal raio vinha da varinha de ninguém menos que um enfurecido Lord Voldemort. Este e mais de uma dezena de Comensais da Morte, que rodeavam os membros da Ordem da Fênix – sendo dois Comensais para cada membro da Ordem – acabavam de aparecer no local, a varinha a pino, prontos para colocar um ponto final naquela história. E ao observar a cena, Harry não pôde conter um suspiro de alívio, a seguir, os fortes braços de seu pai o rodeavam.

- Você demorou.

- Você está bem?

- Poderia estar melhor... – sorriu.

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Minutos antes, Cedric aterrissou no gramado do Campo de Quadribol, sob os aplausos e assobios das arquibancadas, e sequer parou para cumprimentar seu pai, que vinha correndo ao seu alcance, seguiu imediatamente para o Lord das Trevas, que estava sentado com seus Comensais na arquibancada das serpentes. Voldemort, quando observou a assustada expressão do garoto, logo se deu conta de que algo estava errado. Até porque o Hufflepuff com certeza não se aproximaria dele se não houvesse um bom motivo, ou seja, se não fosse por algo relacionado a Harry.

- Senhor, por favor, o Harry... Ele está em perigo!

No mesmo instante o Lord se pôs de pé, assim como todos os Comensais a sua volta. Draco e os demais companheiros de Harry se agitaram, preocupados, enquanto o resto dos espectadores não entendia absolutamente nada, pois a maioria não podia ouvir a conversa, mas observavam a consternada expressão do Dark Lord.

- Onde ele está?

- Errr... Eu... Eu...

A mente do pobre Hufflepuff estava em branco devido ao susto.

- Diga de uma vez, garoto!

- Ele... Eu... Err...

Mas o Lord não estava com tempo, muito menos paciência para aquilo, assim, usou um poderoso Ligilimens no adolescente e na mesma hora teve a resposta que precisava.

Godric Hollow.

- Sigam-me! – demandou aos Comensais, então, eles desapareceram como fumaças negras deslizando para o horizonte.

Aquele maldito Dumbledore estava brincando com fogo.

E acabaria se queimando.

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Seu corpo estava dolorido por causa da maldição, sua perna dava pontadas alucinantes de dor a cada instante, e como se não bastasse, uma poderosa febre começava a invadi-lo. Mesmo assim, Harry sorria com deleite, nos braços do Lord, sabendo que agora tudo se resolveria. Dumbledore errara mais uma vez. O papai aparecera sim para salvá-lo.

- CRUCIO!

Os gritos de dor do velhote eram música para os ouvidos de Harry.

E enquanto o Lord usava a Maldição de Tortura em sua potência máxima contra Dumbledore, os Comensais da Morte se digladiavam com os membros da Ordem, que por sua vez estavam em clara desvantagem. Era um verdadeiro show de luzes em meio à morbidez daquele cenário. As maldições voavam de um lado para o outro em clarões de verde, vermelho, roxo, cinza... Mas Harry sabia que estava protegido de todas elas. Estava protegido de tudo. Estava nos braços de seu pai. E o Lord – agora que Dumbledore conseguira se livrar da maldição – usava todo o seu conhecimento em Magia Negra para acabar com o diretor de Hogwarts, que a cada instante se via submetido às piores maldições.

- Desgraçados! – Alastor Moody gritava, enquanto lançava feitiços hostis com o seu cajado de madeira.

Seus gritos, porém, viram-se abruptamente interrompidos.

Ele acabava de ser atingido pela Maldição da Morte.

- Isso é para você aprender a nunca mais mexer com o meu afilhado – Lucius Malfoy murmurou friamente, observando o grotesco corpo do professor cair inerte no chão.

Em quanto isso, Dumbledore sentia todos os ossos do seu corpo serem esmigalhados, e como se não bastasse, a poça de sangue a sua volta só podia sugerir uma hemorragia externa, e a dor aguda em seu corpo, seguida das suas tosses impregnadas de sangue, uma hemorragia interna. Se continuasse sob a fúria do Lord das Trevas por mais tempo acabaria por fazer companhia aos pais de Harry. E não era isso o que ele queria. Oh não, poderia perder uma batalha agora, mas a guerra seria sua.

- Senhor...! – Ninfadora Tonks, cujos cabelos agora estavam negros como a noite e salpicados de sangue, chegou apressada ao lado do diretor, ajudando-o a conjurar um escudo protetor para conter as maldições do Lord – Precisamos sair daqui!

- Ora, não diga bobagens!

- Todos estão mortos, senhor! – murmurou aflita, e olhando ao redor, Dumbledore se deu conta da realidade – Não temos a mínima chance! Precisamos ir embora ou vamos morrer também!

Aquilo era um fato.

Dumbledore sabia disso. E sua vista turva, assim como seus ossos aos pedaços, e o sangue que banhava suas vestes, urgiam um hospital imediatamente se quisesse viver para futuramente ganhar aquela guerra.

- Onde está broche com a chave do portal?

- Está aqui, senhor.

- Ótimo.

A seguir, sob o assassino olhar escarlate do Lord, Dumbledore desapareceu, fugindo covardemente de sua morte.

- Aquele filho da...!

- Papai – Harry o interrompeu – Vamos embora, por favor.

É claro que ao observar as belas esmeraldas, ligeiramente turvas devido à febre, a expressão de Tom suavizou e ele apenas assentiu em silêncio. Seu filho precisava de cuidados. E Harry sempre seria sua prioridade.

-x-

As semanas passaram voando na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts desde a prova final do Torneio Tribruxo, na qual Harry Riddle e Cedric Diggory se consagraram como vencedores, após os juízes analisarem a Taça para conferir que o Hufflepuff dizia a verdade: ambos haviam segurado a Taça Tribruxo no mesmo instante para compartilhar a vitória. O incidente com Dumbledore permaneceu oculto, pois Harry não queria a imprensa vasculhando sua vida mais uma vez e apenas seus amigos ficaram sabendo do ocorrido. Todos os outros pensavam que o pequeno Lord permanecera no labirinto, mesmo após pegar a Taça com Cedric, e que este fora buscar o Lord porque o menino estava passando muito mal devido ao ataque da aranha.

Naquela noite, quando Harry chegou sigilosamente ao castelo nos braços de seu pai, seguiu na mesma hora para a enfermaria, onde Madame Pomfrey o cuidou com esmero, dando-lhe algumas poções eficazes que o deixaram novo em folha logo após uma tranqüila noite de sono zelada por seu pai. O diretor de Hogwarts, contudo, não teve a mesma sorte. Era de conhecimento geral que este fora para o Hospital St. Mungus em estado deplorável e que ainda hoje, semanas depois do seu ingresso no hospital, permanecia desacordado e seu quadro era grave. Um grande mistério para o Mundo Mágico. Assim como o desaparecimento do professor Moody era um mistério para os alunos de Hogwarts, exceto para um seleto grupo de serpentes e para um Hufflepuff em especial.

Agora, porém, acontecia o encerramento do ano letivo em Hogwarts, o qual era presidido por Minerva McGonagall por razões óbvias. E os estudantes não podiam estar mais animados.

- Eu realmente não sei como o Lord não o matou.

- Simples, Pan, aquele covarde fugiu antes disso – Harry suspirou. Ele e seus amigos estavam desfrutando do seu último café da manhã como alunos do quarto ano. Em algumas horas eles pegariam o Expresso Hogwarts para voltarem para suas casas.

- Típico – Draco revirou os olhos – O Profeta disse que ele não vai sair de St. Mungus até o início do próximo ano letivo.

- É bem provável, papai colocou seu repertório de maldições em dia com ele.

- Sinceramente, Harry – Blaise suspirou – Eu não sei como o Lord permite que você estude em Hogwarts.

- Ora, meu pai sabe que eu sei me cuidar. E por via das dúvidas, ele sempre vai aparecer nas horas em que eu preciso. Afinal, não é como se o velhote fosse me matar colocando veneno no meu suco de abóbora ou me lançando um Avada pelas costas depois de uma aula de Herbologia, não é o estilo dele, ele não quer ser incriminado facilmente e não quer me matar sem ter a chance de me torturar um pouquinho. Hum, como se ele conseguisse fazer um Cruciatos decente.

Antes que seus amigos pudessem dizer alguma coisa, uma conhecida voz se fez ouvir às costas de Harry:

- Com licença, Harry, podemos conversar?

- Não – duas vozes responderam ao mesmo tempo.

O aludido, porém, apenas revirou os olhos e ignorando Draco e Theodore, fez um breve aceno para Cedric, concordando.

- Em particular – o castanho acrescentou.

Vendo que Draco e Theodore mantinham o olhar assassino sob Cedric, o menor decidiu se apressar e seguir com o Hufflepuff para fora do Salão Principal. Alegando aos demais, é claro, que logo estaria de volta.

- Pois bem, Cedric – sorriu. Os dois se encontravam numa sala de aula vazia ali perto.

- Eu...

- Você?

- Bom, eu estou me formando este ano...

- É mesmo! Parabéns!

- Obrigado – sorriu fracamente – Espero vê-lo em breve.

- Também espero, Cedric. Sinto-me lisonjeado por dividir a glória eterna com você – brincou – E tenho certeza de que vamos nos reencontrar um dia.

Com um lindo sorriso, Harry abraçou o maior, mas quando se dispôs a se afastar, um par de musculosos braços rodeava firmemente a sua cintura.

- Cedric...?

Harry não pôde continuar a frase.

Os lábios de Cedric acabavam de se unir aos seus.

Foi um beijo rápido, apenas um suave unir de lábios, pois rapidamente o moreno se afastou. E balançando a cabeça negativamente, Harry deu um pequeno sorriso, que contrastava com o radiante sorriso do mais velho.

- Faça uma boa viagem, Cedric.

- Até algum dia, Harry.

Quando o pequeno Lord saiu da sala de aula, deixando Cedric com um sorriso bobo, parado no mesmo lugar, não reparou em duas sombras que observavam a cena com um brilho furioso em seus olhos.

- Aquele maldito Hufflepuff...!

- Acho que ele precisa de uma lição, Malfoy.

- Concordo plenamente, Nott.

Quando ingressaram no Expresso Hogwarts naquele tarde, Harry observou com curiosidade a expressão de dor no rosto de Cedric, que parecia ter levado uma surra, ou pelo menos algumas maldições, devido às marcas no seu corpo. E ao observar o satisfeito sorriso nos lábios de Theodore e Draco, este abraçando possessivamente a sua cintura, Harry apenas balançou a cabeça e suspirou, pois se dava conta do que havia acontecido.

- É uma pouca vergonha!

- Cale a boca, Zabini!

- Mas é um absurdo mesmo, seus pais...

- Cuide da sua vida!

- Ora, onde já se viu, se despedir aos beijos daquele nojento búlgaro!

- E isso é da sua conta por que...? Oh, é mesmo, isso não é da sua conta!

Harry, Draco e Theodore observavam a cena em silêncio.

- Eles são tão óbvios – Harry suspirou. E os outros dois apenas assentiram.

-x-

Home sweet home.

Lar doce lar.

O aconchego da Mansão Riddle sempre fazia um sincero sorriso se apoderar dos rosados lábios de Harry ao final de cada ano letivo. Era tão bom observar o perigoso, porém exótico bosque que rodeava sua mansão, um bosque completamente diferente do obscuro e desinteressante Bosque Proibido que circundava Hogwarts, pois no seu não havia somente criaturas com as quais lidar com cuidado, mas belíssimos unicórnios, ninfas e outras belezas do Mundo Mágico que sempre apareciam para saúda-lo quando ele ingressava por entre aquelas imponentes árvores para espairecer um pouco em sua forma animaga. E o seu quarto? Oh, como sentia falta do seu quarto. Não que as masmorras forrem ruins, pelo contrário, adorava-as, assim como adorava dormir com Draco e seus amigos, mas definitivamente não havia nada que se comparasse à sua cama enorme e aconchegante, nem ao seu closet pessoal, ou à sua decoração que desprendia um charme puramente nobre e aristocrata equiparando-se aos aposentos de um príncipe. Todavia, o que mais gostava naquela mansão, era a companhia de seu pai, de Nagini, dos elfos Kinky e Lucy, e dos demais – Bella, Rodolphus, McNair, entre outros – que sempre apareciam para alguma reunião com seu pai, ou para suas aulas particulares, e arrumavam alguma maneira de mimá-lo um pouco mais.

Ao contrário do que o senso comum poderia pensar, era o amor, sim, o amor que existia por entre aquelas paredes, que sempre fazia um deslumbrante sorriso se apoderar dos lábios de Harry ao pousar seus olhos esmeraldas na Mansão Riddle, na sua mansão, no seu lar.

- Não coma apenas os morangos, Harry, aprecie as outras frutas também.

- Mas os morangos são os meus preferidos – fez um gracioso biquinho, colocando outro morango regado com chocolate na boca já lambuzada.

O Lord, por sua vez, apenas revirou os olhos, seu filho não tinha jeito mesmo. Os dois se encontravam sentados no elegante tapete persa da Sala de Estar saboreando Fondue de Chocolate Suíço sob o delicioso calor da lareira. Nagini e Morgana, que estavam com eles, cochilando próximas à lareira e milagrosamente sem se matar, de vez enquanto lançavam olhares divertidos aos dois, observando como Harry se apoderava da bandeja de morangos e desprezava visivelmente as outras exóticas frutas ao seu redor. O menino, é claro, estava encantador com as bochechas lambuzadas de chocolate e seus expressivos olhos verdes irradiando alegria, e Tom não podia deixar de sorrir ao observar o filho.

Ambos se divertiam com o fato de que Dumbledore, mesmo após um mês internado no hospital, permanecia gravemente ferido e desacordado. O Lord, pessoalmente, quis ir até St. Mungus matá-lo, mas Harry o deteve, alegando que a queda de Dumbledore deveria ser testemunhada por todo Mundo Mágico e que os crimes do diretor de Hogwarts precisavam vir à tona, para este sucumbir tendo o seu nome e o seu suposto prestígio na lama.

- Estou certo de que no próximo ano ele vai pensar duas vezes antes de sequer olhar para você.

- Se ele conseguir abrir os olhos até lá...

- De fato – riram.

Qualquer mago ou bruxa que não conhecesse Tom Riddle, que soubesse apenas dos cruéis feitos de Lord Voldemort, jamais poderia conceber a imagem de uma noite tranqüila em que o Lord e seu filho desfrutassem de um momento de diversão regado a chocolate suíço e muitas risadas e burlas para com a situação do diretor de Hogwarts. Este momento, porém, era uma constante para a retorcida família Riddle e apreciadíssimo pela mesma.

- Draco não parava de se gabar para o pobre do Theo dizendo que o padrinho acabara de uma vez por todas com aquele louco do Moody.

- Já era hora daquele velho caolho ir para o inferno mesmo – comentou com simplicidade. Sua mente, no entanto, ao ouvir o nome daquele loiro abusado, arquitetava a melhor forma de entrar num delicado assunto com seu filho, um assunto que ele sempre adiou o momento de se conversar.

Contudo, respirando fundo, o Lord decidiu perguntar:

- E a sua... relação... com o pirralh... digo, com o jovem Malfoy, como está?

- Ótima – estreitou os olhos com astúcia – Por que a pergunta, papai?

- Curiosidade.

Uma sobrancelha elegantemente arqueada de Harry foi o que o Lord recebeu.

- Mas me diga uma coisa – continuou Tom com forçada naturalidade – Vocês já pensam em... em... em...

Era melhor beber um pouco mais de vinho para poder pensar em tal possibilidade inimaginável.

- Sexo?

Um sorriso divertido não demorou a surgir nos lábios do menor ao ver o imponente Lord das Trevas cuspir todo o conteúdo do seu copo.

- Bem... Err... Sim... Quero dizer, você nunca deve se sentir obrigado a nada, se ele tentar coagir você, abra imediatamente a conexão e eu garanto que este pirralho nunca mais terá tal pensamento na vida dele e...!

- Papai, acalme-se, por favor.

- Estou calmo! – grunhiu. Apenas pensar que o seu bebê poderia... Céus, ele não podia nem pensar.

- Que bom, porque o Draco me ama e me respeita como ninguém, papai, você não precisa se preocupar.

- Sei.

- É verdade – sorriu com doçura – Ele sabe que eu ainda não estou pronto e disse que não se incomoda em esperar.

- Ótimo. Então quando você tiver uns trinta anos...

- Papai!

- O que? Estudos indicam que é a idade apropriada para se iniciar uma relação mais íntima.

- É mesmo? Quais estudos?

- Bom, isso não vem ao caso agora.

- Oh, Merlin – revirou os olhos, sem deixar de sorrir – Apenas não se preocupe com isso, eu sei me cuidar e impor a minha vontade.

- E você tem alguma dúvida... digo, como seu pai, estou aqui para conversar com você sobre o que for preciso.

Quem quer que visse o imponente Lord Voldemort agora, com certeza, não conseguiria conter a risada, pois a face aristocrática e quase sempre desprovida de sentimentos se encontrava mais vermelhada do que seus próprios olhos, num claro desconforto perante o assunto. O próprio Harry estava se divertindo com aquilo.

- Na verdade tenho sim, papai.

- Tem? – aquela não era a resposta que Tom esperava.

- Sim, como funciona, você sabe, o sexo?

A avermelhada face do Lord, de repente, empalideceu.

- Com funciona?

- Isso! Se você sente dor, mas depois melhora? Se pode sangrar? Como se chega ao orgasmo? Se os magos também precisam usar proteção como os muggles? Quais as posições mais agradáveis? Como você faz um...

- Que Salazar me ajude... – Tom murmurou, a cada pergunta seu rosto ficava mais e mais pálido e Nagini e Morgana, ainda que sonolentas, observavam a cena com pura diversão. Tamanha era a expressão de desconcerto e horror do Lord que Harry não agüentou e acabou caindo na gargalhada.

E aquilo, obviamente, irritou o herdeiro de Salazar Slytherin ainda mais.

- Qual a graça, Harry?

- Aiai... Desculpe, papai, mas você precisava ver a sua cara.

- Muito engraçado.

- Na verdade foi sim, hilário, mas não precisa se preocupar, Tia Narcisa já teve "a conversa" comigo há dois anos.

- É mesmo? – Tom realmente tentou, mas não conseguiu esconder sua expressão de alívio.

- Sim, ela conversou, agora pode voltar a respirar papai.

Como resposta, o Lord lançou uma almofada no sorridente rosto do filho e ambos, inevitavelmente, caíram na gargalhada. Aquela, é claro, era apenas mais uma maravilhosa noite de verão na Mansão Riddle. E o próximo ano letivo guardava para Harry inúmeras surpresas. Surpresas boas e ruins, envolvendo sua relação com Draco, sonhos estranhos, o surgimento de um exército e um decisivo reencontro.

Era apenas questão de tempo para que essas surpresas aparecessem em sua nada corriqueira vida escolar.

Continua...


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