Hidden escrita por jduarte


Capítulo 72
Perdurável


Notas iniciais do capítulo

Pessoas, saiu!
Beijoooos,
Ju!



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Já estávamos “instalados” nos apartamentos, quando meu irmão respirou fundo, como se tivesse passado muito tempo embaixo d’água, e abriu os olhos.

Rubens começou a choramingar baixinho, e isso me apertou o coração. Mamãe estava deitada no sofá minúsculo, e não o ouviu. Andei até ele, e percebi que seus olhos estavam úmidos.

– Ei... Está tudo bem. – sussurrei afagando seu cabelo.

Ele apertou a cabeça em meu colo.

– Isso dói! – exclamou.

– Eu sei. – disse.

Não sabia, mas podia ter uma idéia, pois seu rosto estava manchado de azul em alguns lugares. Passei os dedos em sua bochecha, e quis que tudo fosse mentira. Que estivéssemos em um sonho – ou pesadelo – e logo tudo acabaria.

– Você vai ficar bem. Eu juro!

Mamãe nos encarava como se estivesse orgulhosa. E de fato deveria estar. Nos cuidar no meio da guerra não foi fácil. Mas agora que eles haviam voltado tudo iria melhorar, não é?

Depois de lhe contar duas ou três histórias, toquei sua face e percebi que a febre havia abaixado, Rubens fechou os olhos e descansou.

Fui exausta, quase me arrastando, para o lado de minha mãe. Ela pegou minhas mãos, entrelaçando seus dedos nos meus, e sorriu.

– Você é quase uma mãe para ele. – ela disse.

Meu sorriso foi ficando cada vez mais insuportável de agüentar, o cansaço me dominava.

– Ele te ama, querida. Você é mais mãe dele, do que eu jamais serei.

Fechei os olhos temendo que a escuridão me abraçasse antes que ela me revelasse minha maior dúvida.

– Mãe?

– O que, querida? – ela perguntou.

– Eu passei por isso?

Ela hesitou em responder, como se tentasse vasculhar em sua mente algo parecido. Mas não respondeu depois de algum tempo.

– A gente conversa amanhã e depois eu te conto todas as novidades que tenho. – disse suavemente, me cobrindo com algo.

Abri meus olhos novamente, e encarei o leito da garotinha que estava no quarto conosco. Ela havia esticado as mãos para mim, e seus olhos estavam bem abertos. Por alguns segundos, ela não parecia mais a garotinha inocente que eu havia visto à pouco. Parecia dominada.

Estava frio. Muito frio por sinal. Como se eu tivesse passado várias horas na frente de um freezer aberto, num dia de inverno. Quando abri os olhos, eles arderam com tamanha escuridão. Eu ouvia vozes, mas por causa do breu, nada via.

– Você vai ficar longe dela, me entendeu? – uma voz ressoou ao longe, vibrantemente em meus ouvidos aguçados.

Me inclinei para poder ouvir melhor.

Alguém riu, sacana.

– Quem vai me impedir? – perguntou outra pessoa. Ambos eram homens, e uma voz era mais jovial do que a outra, mas as duas me eram familiares.

– Eu!

Novamente o riso surgiu me tirando do sério. Todo meu corpo vibrava como se quisesse me impedir de ficar e ouvir alguma coisa proibida.

Segui para onde as vozes estavam vindo e pude ouvir um murmúrio quase inaudível.

– Toque nela, e eu acabo com você!

– Você não teria a ousadia, Bernardo! Eu sou seu pai! Eles vão achá-la, quer você queira ou não. – uma voz rude, pareceu cortar toda a emoção, e quase chocar a outra pessoa.

Um silêncio perdurou por alguns segundos, quase minutos. Bernardo.

– Você não pode tocá-la. Ela é minha!

– Ela não é sua. Não pode ser.

– Não vá procurá-la. – disse a voz mais jovial, quase como uma ameaça claramente dita.

Um riso sarcástico encheu meus ouvidos, como ferro em brasa.

– Pode ter certeza de que não. Ela virá até mim!

O timbre de sua voz me causou um arrepio de medo, pavor, horror.

– Ela não te aceitará. – continuou a voz rude. – Ela não se lembra!

Ouvi um barulho de soco ecoar perto de mim, e supus que eles deveriam estar por aí. Mas o medo era maior, e me fez ficar parada, esperando ser achada por um guarda, guiada por alguma luz, mas não esbarrar neles.

Uma voz estridente e afiada berrou no silêncio completo:

– Isso é tudo culpa sua! Se você não tivesse interferido, ainda estaríamos juntos

Sua voz foi sumindo e tive a certeza absoluta de que ele não havia terminado a frase da maneira que gostaria. E isso me apertou o coração.

– Eu fiz isso para salvá-lo...

– Você a ajudou na fuga, para ficar longe de mim. De quem você está me “protegendo”? – perguntou a voz jovial, quase como se apelasse de joelhos.

Ouvi algo como alguém engolindo seco várias vezes, e senti um aperto no peito.

– Dos Origins. Eles sabem quem ela é, e estão vigiando. Vão fazer de tudo para matá-lo, como se você fosse a pessoa que a tivesse seqüestrado. Eles ainda não tem total confiança em mim. – a voz rude, que agora parecia veludo, disse. – Eles ainda não perdoaram meu último deslize. – completou quase que sussurrando sem ar.

Senti as palmas de minhas mãos suarem, escorregando por meus jeans.

– Só porque sua alma-gêmea morreu não quer dizer que eu não possa ter o meu final feliz!

Essas palavras duras, pareceram machucar o mais velho. E ele suspirou.

– Ela não morreu. Ainda está aí, e quer vingança. Pode ter certeza, de que quando achar sua “namoradinha”, vai querer fazer com que a mãe dela sofra a mesma coisa que ela sofreu.

Ouvi um mugido tenebroso, e um barulho alto. Tudo explodiu em labaredas fantásticas e vermelhas, lambendo minhas canelas e queimando a barra de minha calça. Foi tudo tão rápido. Como se eu já estivesse pegando fogo.

Tentei me livrar das labaredas que me consumiam, e já rastejavam por minhas pernas, quando senti como se estivesse sumido. Virando nada mais do que poeira.

Acordei com o coração à mil, batendo alto, e em minhas orelhas. Minha cabeça latejava, e quando abri os olhos, e eles se focaram em algo, tomei mais susto ainda. O cientista me olhava profundamente, como se quisesse me fazer uma análise.

– Sonho ruim? – perguntou cruzando os braços no peito, afagando sua barbicha.

Passei as costas da mão pelos lábios e testa, e constatei que suava em bicas. Nem lhe dei atenção.

– Eu ainda não sei seu nome. – disse despreocupadamente.

Ele pigarreou forte, como se tirasse algum tipo de fiapo da garganta.

– King. Barnabé King.


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Notas finais do capítulo

continua??