O Diário de um Semideus escrita por H Lounie


Capítulo 8
A terra tenta nos engolir




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Os olhos da serpente pareciam estar queimando. Sua atenção estava focada em mim, ela parecia nem mesmo estar ciente da presença de Nico.

Com cuidado exagerado, resetei a linha do arco, pronta para disparar uma flecha contra a serpente. Porém ela foi mais rápida, saltou sobre mim, derrubando-me no chão. Nico fez menção de me ajudar, mas eu balancei a cabeça negativamente, essa batalha era exclusivamente minha.

A serpente se enrolava em canos de metal sobre mim.

– Péssima ideia amiguinha.

Lancei uma flecha, acertando um dos olhos dela. Ela se desvencilhou dos canos, caindo no chão. Na mesma hora puxei Pythia da bainha, cortando a cobra em vários pedaços, assim como meu pai havia feito quando a matou. Sentia uma enorme raiva, primeiro por Hera ter mandado aquilo atrás de mim, segundo porque conhecia a história, sabia que Píton havia perseguido Leto durante toda sua gravidez.

– E... vê... se fica... morta... dessa... vez! - Disse, cortando o último pedaço de Píton, deixando intacta apenas a cabeça da serpente, tinha planos para ela.

– Calma Lyra, calma, você acabou. - Disse Nico, me puxando pelos ombros, enquanto os pedaços de Píton começavam a desaparecer.

– Espere, ainda tenha uma coisa a fazer.

Tirei um dracma do bolso, abri minha mochila e rasguei uma página em branco do meu diário. Escrevi nele o endereço do Olimpo e o nome de Hera. Peguei o dracma, jogando ele para o alto.

– Oh Íris, deusa do arco íris, aceite minha oferta.

No mesmo instante o dracma sumiu, junto com a cabeça de Píton e o bilhete para Hera.

– Aposto que Hera irá adorar o presente. - Brincou Nico. - Agora vamos, precisamos sair ou vamos acabar destruindo essa fábrica.

Assenti e saímos. Do lado de fora o sol já iluminava tudo, fazendo com que fosse difícil encontrar um lugar com sombra para que Nico fizesse sua mágica. Depois de andar um pouco, encontramos um parque.

– Acho que aqui vai dar, - sugeriu Nico.

Assim que pisamos na terra, a mesma parecia querer nos engolir. Não era apenas impressão, estávamos mesmo sendo vagarosamente puxados para baixo, para dentro da terra.

– Ai, droga. - Praguejei, assim que entendi o que estava acontecendo. - Vamos sair daqui depressa, Nico.

– Por que? O que está havendo?

– Píton era filha de Gaia, a mãe terra. Ela não deve estar feliz por eu tê-la destruído.

Assim que ele compreendeu o que eu estava dizendo, a expressão que tomou seu rosto foi preocupação. Se não bastasse ter Hera como inimiga, agora eu tinha Gaia.

Nem por ar nem por terra, eu teria problemas agora. Em segundos desaparecemos dali, caindo sobre neve desta vez.

– Neve, com toda certeza isso é melhor que terra. Vamos lá Quione, nos ajude agora. - Disse eu, levantando-me do chão e pedindo ajuda à deusa da neve, Quione. - Onde estamos agora?

– Acredito que finalmente chegamos ao monte pikes peak, só precisamos... esperar os outros e escalar até o topo.

– Uau. Estou ansiosa por isso. Olha só minha expressão animada. - Apontei para o meu rosto sério, enquanto Nico ria.

– Bom saber. Sabe, acredito que foi Hera quem nos fez cair em Detroit, a julgar pelo seu amiguinho lá.

– Essa mulher é o demônio. - Comentei, enquanto um trovão sacudia o céu.

– Então? Devemos montar uma barraca até que os outros cheguem?

– Acho que seria bom. Só em pensar que teremos mesmo que subir isso, já fico mal.

Montamos a barraca e ficamos conversando o dia todo, enquanto comíamos barras de cereais e bebíamos suco de uva, cortesia dos chalés de Deméter e de Dionísio. Ao cair da noite os outros chegaram, exaustos, quase dormindo em cima de seus pégasos. O vento de inverno era cortante agora, então decidimos dormir ali mesmo e enfrentar a escalada amanhã.

Monte Pikes peak, madrugada, não faço ideia de que horas sejam.

Está completamente escuro, a única luz vem dos olhos de meu chaveirinho de guerreiro espartano. O dia de hoje foi incrivelmente cansativo e cheio de surpresas desagradáveis. Eu fiz uma nova inimiga hoje. Mais poderosa que qualquer deus ou titã. Eu pensei que ele estivesse dormindo e nem em um milhão de anos imaginei que pudesse fazer a terra querer nos engolir. Sabe de quem estou falando, não sabe? Gaia, sim, ela mesma.

Amanhã vamos falar com Éolo, ou assim eu espero. Claro que primeiro temos que escalar o Pikes Peak, mas eu ainda acho que essa será a parte mais fácil de nosso desafio. Eu temo já saber o que me aguarda, mas não quero ficar pensando nisso, porque isso vai me assustar demais, vai me fazer recusar sempre que um novo desafio vier. E heróis não podem se dar ao luxo de fugir de uma batalha, não quando há tanta coisa em jogo como agora. E assim restam apenas nove dias.

See you later

Lyra.

O vento havia cessado quando a luz do sol nos acordou. Os pégasos estavam um tanto agitados e não sabíamos o porque. Jessica disse a eles para que ficassem aqui embaixo e esperassem por nós.

Depois de comer mais algumas barras de cereal, começamos a subir, um tendo que ajudar o outro, para que ninguém acabasse caindo. Em alguns pedaços a neve falhava, e aí então a terra aparecia, querendo novamente me levar com ela.

– Que bela inimiga você foi conseguir, Lyra. - Riu Will.

– Você ri porque não é com você, Will. - Nico lançou um olhar desafiador para Will, fazendo-o deixar para lá o comentário que estava prestes a fazer.

Ao fim da tarde, estávamos no topo. A cerca de meio quilômetro de distância dele estava uma ilha flutuante, tão grande quanto um estádio de futebol. No topo da ilha dava para ver muros de bronze, como se ali fosse uma enorme fortaleza. A única coisa que ligava o topo da montanha a fortaleza de Éolo era um tipo de ponte que parecia ser feita de névoa.

– Vamos ter que... andar sobre névoa? - Perguntou Jessica.

– Me parece um tanto... sólido. - Comentou Meganny

– Não parece, não. - falei, um pouco nervosa, imaginando o que aconteceria se aquela névoa se desfizesse enquanto subíamos.

– Bom, temos que subir. Esse parece ser o único jeito. - Concluiu Nico.

– Sim, mas a ponte não parece ser forte o suficiente para aguentar todos nós. Devíamos subir em dois grupos. - Sugeri

– Boa ideia -, disse Meganny, já me puxando para subir com ela.

Assim que pisamos a ponte oscilou, parecendo prestes a se desmanchar.

– Vamos lá, não é tão longa assim.

Pareceu levar uma eternidade para que chegássemos lá em cima e mais uma para que os outros chegassem também.

– Isso foi divertido - Comentou Will

– Cala a boca ou você vai descer voando depois. - Ameaçou Nico.

Todos nós rimos, exceto Will, que parecia estar bolando uma vingança contra Nico.

– Caramba.

Foi tudo o que Meganny disse quando seu olhar focou na quantidade de degraus que tínhamos pela frente até chegar aos portões da fortaleza.

– Vamos lá, deve ter o que? Um milhão de degraus?

– Quase Meganny. Vamos lá, precisamos subir. – Falei, um tanto desanimada demais.

Assim que os degraus acabaram - junto com nossa força de vontade - nos deparamos com enormes portões. Assim que os portões se abriram um lugar bizarro surgiu em nosso campo de visão. Parecia que um daqueles vilarejos gregos de antigamente tinha batido de frente com um estúdio de televisão.

O lugar era uma mistura de colunas gregas, antenas de satélite, cabos, estátuas e torres de rádio. O jardim da frente era dividido em quatro partes, cada uma representando uma estação. Na parte que cabia ao inverno tinha apenas neve, árvores congeladas e um vento que parecia frio soprando. Na parte que cabia ao outono as folha caíam das árvores, era como um parque, só que vazio. A primavera era verde e com carneiros feitos de nuvens pastando. Já o verão era deserto, com areia, como em uma praia, com um vento leve fazendo-a se movimentar.

– Eu bem que poderia viver aqui. - Comentou Jessica, um tanto sonhadora. - O que faremos agora? Acham que devemos ficar andando por aí até Éolo aparecer?

Eu estava pronta para sugerir que fizéssemos o contrário quando fiquei completamente muda ao ver o garoto que surgiu em nossa frente. Alto o suficiente, musculosos o suficiente, com aquele rosto perfeito, lábios bem definidos, olhos em um tom perfeito que parecem brilhar e o cabelo no comprimento certo.

Os deuses atenderam meus pedidos, foi a única coisa que pensei quando o vi. Ele sorria de canto e eu simplesmente não conseguia pensar em mais nada. Sacudi algumas vezes a cabeça, tentando me livrar do choque. Olhei para o lado e vi que Jessica parecia estar sofrendo o mesmo que eu. Meganny parecia encantada, mas a maneira dela, ou seja, discreta.

– Bem vindos a Eólia. - Disse com uma voz aveludada e bonita, que me fez lembrar Dan, o filho de Eros. - Eu sou ... Sky, líder do exército de Tritão.

Por um momento eu achei que ele esqueceu o próprio nome, uma vez que demorou a dizer.

– Líder do exército de Tritão? - Disse Will, parecendo bem irritado. - E o que o líder do exército de Tritão faz aqui?

– E o que semideuses fazem aqui? - Desafiou Sky, antes que eu pudesse repreender Will. - Vieram falar com Éolo, suponho.

– Sim, viemos falar com Éolo. Pode nos levar até ele? - Me intrometi na conversa, antes que Will falasse mais. - Aliás, me chamo Lyra, sou filha de Apolo.

– Brilhante como o sol, - disse ele, beijando minha mão.

Aquilo foi tão... deuses, de que conto de fadas saiu esse garoto?

Um símbolo bordado no canto superior de sua jaqueta chamou minha atenção. Eram duas espadas cruzadas sobre um tridente. Não fazia idéia do que aquilo significava.

Apresentei os outros a ele e pude notar a expressão de desagrado nos rostos de Meganny e Jessica ao não receberem o mesmo tratamento que eu.

– Bom meus amigos, Éolo está dividido entre seu programa de tv e a reunião com meu senhor, lorde Tritão. Creio que não vai ser possível receber vocês tão cedo. Pediram-me para dizer a vocês que se sintam em casa enquanto esperam. Posso mostrar o lugar, se quiserem.

– Espera, Éolo tem um programa de tv? - Perguntei. Essa eu não sabia.




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