A Luz dos Olhos Teus escrita por Sochim


Capítulo 3
Capítulo três




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Konohamaru não parava de olhar para dentro do bar, tentando descobrir qual daqueles músicos era um dos "três". Porém, não era muito difícil imaginar.

Sentado atrás de um pequeno piano preto, colocado atrás dos demais músicos, um homem tocava quase melancolicamente. Era o mais velho entre os seis músicos. De vez em quando, olhava de canto de olho para os presentes, dando à Konohamaru a impressão de que sua amargura aumentava cada vez que o fazia.

O garoto então olhou em volta, para os clientes daquele velho bar. Não seria possível que aquele fosse o famoso Ichiraku. Se fosse, porque aquelas pessoas pareciam estar completamente alienadas à presença de um dos maiores músicos do mundo? Um dos lendários...

- Udon, você tem certeza que é ele? - Perguntou, inseguro.

- Tenho.

- Como pode ter certeza? - Moegi perguntou desconfiada. - Ninguém nunca viu esses caras...

- Mas meu avô viu. Moegi buscou o olhar de Konohamaru que, assim como ela, esqueceu-se completamente de todo o resto, e encarou Udon, meio incrédulo.

- Você quer dizer que o seu avô conheceu um dos Três Lendários?

- Conheceu. - Udon não tirava os olhos do ponto onde os seis homens tocavam. - Foi pouco antes dele morrer. Foi minha mãe que me disse.

- Mas não tem nada que comprove isso... - Moegi começou, mas um movimento de Udon fez com que se calasse e esperasse.

De dentro do bolso do casaco, Udon tirou um pequeno papel dobrado em dois, que tinha uma inscrição que nenhum dos outros dois conseguiu distinguir naquela escuridão.

Udon pegou o papel e desdobrou, entregando-o aos amigos. Ainda assim, não tirou os olhos de dentro do bar.

Moegi pegou o papel, que agora percebia que era uma foto, e olhou, mantendo a expressão cética. Estava pouco ou nada interessada em tudo aquilo. Estava ali somente porque queria aproveitar ao máximo os últimos dias com Konohamaru.

Quando voltassem ao período de aulas, o garoto estaria em outra escola e provavelmente teria menos tempo para ela e Udon. Faria outros amigos, outras amigas e conviveria com gente muito mais interessante que aquele povinho do subúrbio, ao qual ela pertencia.

Konohamaru era órfão de pai e mãe, assim como Naruto e Iruka, mas tinha seu tio Asuma para cuidar dele. A família Sarutobi tinha condições para viver no lado nobre da cidade, mas Asuma preferia continuar no subúrbio, onde se sentia mais à vontade.

Moegi não entendia porque, então, ele agora insistia que Konohamaru precisava ter contato com aquela gente que ele mesmo evitava. O garoto estava sendo mandado para um escola de gente rica e esnobe, para ter um estudo de primeiro mundo. Não era justo que Konohamaru fosse tão diferente deles.

- Deixe-me ver... - Konohamaru pediu, praticamente arrancando a foto das mãos da garota, que não se importou.

Olhando atentamente para a foto, Konohamaru percebeu que estava certo. Aquele pianista era mesmo um dos Três Lendários. Virou a foto e leu as letras garranchadas que estavam gravadas atrás.

"Encontro com um mito. Eu e Orochimaru, no Ichiraku."

Não havia muitos argumentos para contestar aquilo. Talvez aquele homem na foto estivesse enganando o avô de Udon, mas por algum motivo, Konohamaru preferiu acreditar que o homem que via atrás do piano era Orochimaru e que ele era o tal músico que procuravam.

Por outro lado, ainda que tentasse, não conseguia de modo algum se convencer que aquele bar, feio e estranho fosse o tão falado Ichiraku. Dessa vez esperava realmente que estivessem errados.

*

- Você viu quem está aqui? - Kankuro perguntou para Gaara, que estava um tanto distraído.

- Quem? - Gaara olhou discretamente para a direção que Kankuro lhe apontava e viu Neji Hyuuga sentado ao lado de uma bela jovem, que sorria encantada. - Ah... Os Hyuuga. - Falou sem muito interesse. - Vamos cumprimentá-los.

- Acho que eles não estão querendo ser interrompidos. - Kankuro avisou, com um sorriso malicioso.

- Sério? - Gaara falou sarcástico, enquanto se levantava.

Ele estava de mal humor e não muito paciente para romances em potencial surgindo próximos a ele. Fez surgir em sou rosto um sorriso há muito treinado e andou calmamente até a mesa dos primos Hyuuga.

- Boa noite - Falou, estendendo a mão para Neji. - Há quanto tempo...

Hinata esperou que os cumprimentos terminassem, o que implicou em ter sua mão beijada duas vezes por duas bocas diferentes. Sua noite tinha acabado.

Neji dava atenção para os dois irmãos Sabaku, que por sua vez davam atenção para seu primo. Kankuro, o mais velho, menos envolvido com os negócios e mais aberto a conversas que não envolvessem unicamente interesses comerciais, tentou distrair a garota.

- Você vem sempre aqui? - Perguntou com um ar brincalhão, assim que a conversa dos outros dois começou a girar em torno de números. Hinata riu. Era difícil acreditar que alguém naquela família pudesse ser espirituoso.

- Na verdade não. Essa é a primeira vez.

- E está gostando?

- Claro! É um lugar lindo. A música é ótima e os músicos são incríveis!

Kankuro deixou escapar uma expressão desgostosa ao ouvir aquele elogio ao Mangekyou.

- Nós estamos interessados em comprar esse bar. - Disse automaticamente, sem perceber que Hinata perdeu o sorrido.

- Mas não pretendem mudar nada nele, não é? - A moça perguntou, um pouco irritada.

- Não. Só o dono.

Sasuke virou de costas para os clientes, tentando conter um impulso que o dominava instantes antes. Naruto e Lee perceberam, afinal, a última frase de Kankuro não tinha passado despercebida por eles.

- Estão usando o MEU bar para falar de negócios que ME prejudicam! - Falou, completamente irritado, tomando um gole do whisky de Naruto.

*

A música finalmente terminou. No entanto, não era preciso ser um grande conhecedor de música para perceber que tinha sido antes do tempo.

Orochimaru, de repente, levantou-se e desceu do palco. Os outros músicos demoraram um pouco para parar definitivamente a música, mas logo estavam olhando para o homem que saía pela porta dos fundos.

Os garotos do lado de fora apenas assistiram a cena sem entender bem o que estava acontecendo, mas, ao notarem as expressões distraídas dos clientes, perceberam que a atitude do homem se devia ao próprio orgulho.

Não demorou muito e os meninos viram o homem surgir com uma malinha velha e ir na direção deles. Foi a primeira vez que Konohamaru se sentiu completamente invisível.

Orochimaru passou por eles sem sequer olhá-los e começou a atravessar a rua. Udon apressou-se para acompanhá-lo.

- Senhor Orochimaru! - gritava, atravessando a rua.

O homem não parou, nem pareceu ouvi-lo.

- Senhor... Eu sou Udon, um grande fã seu!

Orochimaru continuou andando.

- Eu gostaria de poder falar com você.

O homem virou a esquina.

Konohamaru e Moegi seguiram os dois.

- Atravessamos toda a cidade para vê-lo... E ver o Ichiraku...

Ao ouvir essa palavra, o homem parou e se virou, observando o garoto à frente dele.

- Você disse... Que era um grande fã meu? - Perguntou, quase sem abrir os lábios.

Seus olhos demonstravam que ele duvidava daquilo.

- Sim, senhor.

- Quantos anos você tem?

- Quinze.

- Quais são as minhas músicas?

- Living for the city, Hit the road Jack, Hurt.

O Homem contorceu os lábios.

- Acertou somente a última. - Disse, se virando para ir embora.

Udon hesitou brevemente, mas depois voltou a segui-lo.

- Perdão... Eu me referia às músicas dos Três Lendários.

Mais uma vez Orochimaru parou.

- Você disse que queria ver o Ichiraku... - Começou. - Você sabe onde ele fica?

Udon sentiu o coração acelerar.

- Na verdade, estávamos pensando que era aqui, mas...

Orochimaru balançou a cabeça e voltou a andar. Udon aumentou o tom de voz.

- Não pode ser aqui, não é? Ninguém sequer sabia quem era você! Eles não estavam realmente ouvindo. Estavam com os ouvidos fechados...

- Esse é um defeito que as pessoas adquiriram nesses tempos de paz... Às vezes, eu queria que a guerra voltasse... Revoluções... É disso que esse mundo precisa...

Dizendo essas coisas, Orochimaru foi se afastando dos garotos, que transitavam entre a euforia de ter encontrado uma lenda, um mito, e a decepção por vê-lo partir sem mais nem menos.

*

Hinata estava entediada agora. Nem mesmo a música conseguia distraí-la naquele momento. Mesmo assim, olhou em volta buscando algo que a distraísse. Reconheceu o dono do Mangekyou, que Kankuro havia lhe mostrado minutos antes, ir para uma varanda que havia atrás de portas de vidro grandes e largas. Ela tinha reparado nelas, mas estava aguardando que Neji estivesse livre, para ir até lá com ele.

O rapaz loiro estava com o dono do bar. Os dois pareciam muito amigos. Olhou ainda mais uma vez para Neji e os outros que estavam sentados com ela naquela mesa.

Sem dizer nada, levantou-se. Entrou rapidamente na varanda, como se não percebesse a presença daqueles dois homens ali. Olhava fixamente para o horizonte escuro, quase sem perceber que as luzes que brilhavam lá embaixo eram de casas pobres e ruas sujas, bem diferentes do lugar de onde vinha.

Naruto e Sasuke se entreolharam. A conversa que queriam ter a sós, teria que esperar. Naruto não reclamou. Havia assuntos nos quais ele não queria tocar ainda, mas sabia, desde o momento que resolveu sair de casa, que seus amigos fariam de tudo para que falasse sobre os meses que esteve longe.

Para ele, a presença da Hyuuga era como uma barreira, que Sasuke não poderia ultrapassar. Riu, ao pensar que se sentia seguro com ela ali.

Hinata, então, desviou os olhos da cidade, parando de fingir que eles não estavam ali. Olhou-os e sorriu.

- Boa noite. - Disse, curvando um pouco a cabeça. - Você é o dono daqui, não é? - Perguntou para Sasuke.

- Sou, senhorita Hyuuga. É um prazer tê-la aqui.

- O seu bar é lindo. - Hinata abriu mais o sorriso. - Acho que eu disse isso três vezes, desde que cheguei. E corro o risco de repetir mais vezes, se passar mais alguns minutos aqui.

- Fico feliz que goste. - Sasuke sorriu. Naruto sabia que ele estava desconfiado da garota.

Hinata olhou rapidamente para Naruto, lançando-lhe um rápido, discreto e murcho sorriso, que não era nem simpático, nem irônico. Naruto subitamente sentiu-se incomodado. Olhou para o balcão, vendo Tenten pegar uma bandeja cheia de copos com bebidas e desejou ter um para si.

- Kankuro me disse que ele e o irmão estão interessados em comprar o seu bar. - Hinata disse, depois de um tempo.

Sasuke apenas concordou com a cabeça, sem esconder a irritação.

- E você pretende vender?

- Não. - Sasuke respondeu imediatamente.

- Não acho que seja uma boa idéia mesmo. - Hinata aproximou-se dos dois. - Não sou muito fã daquela família. Eles se apoderam de tudo o que podem. Mais da metade do que têm, não foi construído pelas mãos deles. Tenho certeza de que se tivessem condições, teriam comprado os hotéis da minha família.

Sasuke, sorriu, percebendo que Hinata não estava do lado dos irmãos Sabaku. Ele e Hinata começaram a conversar, deixando Naruto de lado, por longos minutos. Mas o dever, como dono do Mangekyou, chamou Sasuke de volta para dentro do bar, deixando Hinata e Naruto sozinhos, constrangidos e em um silêncio incômodo.

Hinata estava encostada à beirada da varanda, observando novamente a rua. Naruto estava próximo à porta, tentando decidir se a deixava sozinha ou não. Achou que deixá-la sozinha não era a melhor opção, mas também não podia ficar ali, sem dizer nada, como uma estátua faria.

Deu alguns passos até alcançar a varanda e espiou para baixo. Estavam no segundo andar, não havia muitas coisas bonitas para se ver dali, mas agradeceu por estar escuro naquele momento. Assim, Hinata não repararia em como aquele bairro era feio e sem graça. Ao menos não em sua totalidade.

Ele sabia, mesmo sem ver a expressão no rosto dela, que Hinata não achava aquela a vista mais bonita e excitante que já teve.

- Não se parece muito com o lugar de onde você veio, não é? - Perguntou quase sem querer.

- Não muito, realmente. - Hinata respondeu casualmente. - Melhor assim.

- Por quê?

Hinata não respondeu, o que deixou Naruto um pouco sem jeito.

Na rua, o movimento continuava pequeno, mas na esquina, um grupo de amigos surgia. Era um bando de garotos alegres e barulhentos que gritavam e cantavam coisas que não faziam sentido. Naruto sabia o que havia de errado com aqueles garotos, torcendo inutilmente para que Hinata não reparasse nos cigarros acessos que eles dividiam entre si.

Hinata pareceu se encolher um pouco e se afastou da varanda. Naruto também se afastou.

- Aqui isso é normal. Mas não precisa se preocupar. Esses garotos não frequentam bares como este.

- Imagino que não. - Hinata arriscou um sorriso, mas Naruto sabia que ela evitava olhá-lo nos olhos.

Alguma coisa na postura daquela mulher o incomodava profundamente. Quando conversava com Sasuke, era só sorrisos e frases longas. Agora, mal o encarava e pouco parecia interessada.

Naruto conhecia seu lugar e, por isso, apressou-se para sair dali o quanto antes.

- Com licença, srta. Hyuuga, eu preciso ir. Até um dia.

Saiu de perto dela o mais rápido que pode, sem deixar de ser cordial. Não demorou muito para que a garota voltasse para junto de seu primo também. Mas Naruto não se importou. Preferiu evitar olhar para ela novamente, conformando-se em ficar virado para o bar, assistindo Lee preparar drinks e Tenten distribuí-los em grandes bandejas.

*

Mais tarde, quando o bar começava a esvaziar, Sasuke e os músicos se juntaram a Naruto, Lee e Tenten, espalhando-se pelo balcão. Alguns, mais animados, falavam alto e discutiam sobre música. Outros, simplesmente ouviam e riam.

- Naruto, eu vou para casa. Você vai ficar? - Iruka perguntou, tocando levemente seu ombro.

- Vou com você. Quero ver se o Konohamaru já chegou.

- Onde ele foi? - Asuma perguntou, preocupado, ao lado de Kurenai.

- Ele saiu com o Udon e a Moegi. Disse que iriam atrás do Ichiraku.

Ao som desse nome, Asuma e os outros abriram um grande sorriso.

- Ichiraku? Eles acharam aquele lugar afinal? - Kakashi perguntou, com um sorriso debochado.

- Udon acha que sim, mas... - Naruto sorriu, sem precisar dizer mais nada.

- Sei... Deve ter sido uma noite em tanto. - Gai fez todos rirem.

Naruto levantou-se e despediu-se de todos, saindo acompanhado de Iruka antes que se demorasse mais naquele lugar. Quando se viram na calçada, longe de qualquer conhecido, Iruka olhou para Naruto, como quem queria fazer uma pergunta, mas não sabia se devia.

- O que deu em você hoje? Pensei que nunca mais o veria no Mangekyou ou o ouviria tocando...

- Eu... - Naruto olhou para o homem que o havia criado como filho. - Decidi que estava na hora de sair da toca. Sentia falta disso aqui.

- Da próxima vez que se apaixonar, escolha melhor...

- Não vou me apaixonar tão cedo, Iruka... Pode apostar.


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