Duas semanas depois de retornar a Nova York, Bella se dirigia até o aeroporto para pegar sua madrinha e organizadora de casamento, vinda de Florença.

Correu para abraça-la quando avistou os cabelos repicados que sacudiam enquanto ela falava ao celular.

Assim que ela desligou, contornou-a com os braços.

- Allie! – Falou em júbilo.

- Bellinha! Me deixe olhar pra você... – Alice disse afastando-a um pouco e analisando suas roupas – Parece que você aprendeu mesmo!

Bella sorriu. Estava muito feliz em ter a melhor amiga ali. Mesmo que ela não soubesse de sua história com Edward, e que não pudesse lhe contar o tormento que vivia diariamente tendo que trabalhar lado a lado com ele, somente a presença resplandecente de Alice já a fazia sentir melhor.

- Como está Jasper? E a galeria? – Bella perguntou ansiosa, quando já estavam no carro.

- Jazz está muito bem, trabalhando horrores no novo projeto... A galeria vai de vento em popa, tanto que eu pude me afastar por esse mês para adiantar os preparativos de seu casamento que não posso providenciar à distância. Mas teremos de correr, porque eu tenho uma inauguração importantíssima para supervisionar no começo do próximo mês... Sem chance de estender essas férias.

- Muito obrigado por tudo Al... Principalmente por ter vindo cuidar das coisas. Sabe que não tenho o menor jeito pra isso.

- Sim, eu sei. – Alice falou com um ar falsamente enfadado – Mas sua mãe poderá me ajudar.

- É! Somente ontem o Emm me ligou pra avisar que ela vem passar uns dias. Ela nem me disse nada.

- Por falar no Emm, você tem sido uma irmã muito ingrata. Eu tenho falado com ele mais do que você. E olha que sou sua amiga, não dele.

- É amiga dele por tabela... – Falou num sorriso – É que eu tenho trabalhado muito. A empresa tem aberto novos contratos quase todos os dias... Eu chego tão exausta em casa... Até o Jake tem reclamado.

- Não vai ficar chato eu passar todo esse tempo por lá? Vocês precisam de privacidade.

- Não Al. Eu já te disse que o Jake não liga. E eu prefiro você bem pertinho de mim. – Falou piscando para a amiga, que sorriu.

Quinze minutos e já estavam acomodadas no sofá largo da sala, bebericando um licor de menta.

- E o novo cargo? Você falou tão pouco sobre tudo... Como é essa nova fase profissional, hã? – Alice perguntou em tom de deboche.

- Tem sido maravilhoso, apesar de... – Bella se interrompeu, percebendo que poderia falar demais – Tem sido maravilhoso.

Alice se endireitou e apertou os olhos em fendas.

- O que você está me escondendo Isabella? Vamos... Eu sei que tem coisa nesse “apesar de”... Desembucha!

Bella analisou se não poderia falar parte do que estava acontecendo para a amiga, afinal precisava desabafar. Mas quando abriu a boca ouviu o som metálico de chaves.

Direcionou um olhar significativo na direção de Alice, que compreendeu imediatamente.

- Ok, ok... Mas não pensa que me escapa. – Sussurrou.

Jacob irrompeu pela porta com o ar cansado, mas seu olhar se iluminou ao vislumbrar a noiva.

- Boa noite, amor... – Falou em seus lábios depois de um beijo rápido.

- Oi Lup... – Bella respondeu carinhosa, usando o apelido íntimo.

- Alice! – Jacob exclamou contente, gostava muito da amiga de Bella – Que bom que já chegou!

Alice levantou e deu um abraço amistoso no rapaz, espelhando seu contentamento. Ela também gostava muito dele.

- Pois é... – Falou assim que se separaram – Vim incomodar um pouquinho. Coisa assim de... Um mês. – Disse fazendo um gesto de desdém com a mão.

Jacob riu. O som era forte e alto, mas muito contagiante. As duas o acompanharam.

- Ah, Allie... Eu senti falta desse seu humor. Essa casa vai ficar mais iluminada agora!

- Obrigada pela parte que me toca, Lup... E lembre-se que você também terá seus compromissos comigo. Daqui a dois dias nós vamos ver o traje.

- Ai meu Deus! Eu nem quero pensar no tempo que você vai me prender...

Todos sorriram, e decidindo pedir uma pizza, sentaram-se no chão para colocar o papo em dia.

Do outro lado da cidade, um casal jantava no Bistrô Plaisir , envolvidos numa conversa íntima, quando foram abordados por um homem alto e esguio, com brilhantes cabelos dourados em desalinho.

- Emmet?

O homem moreno e forte desviou os olhos de sua esposa e encarou o outro com olhar descrente.

- Cullen?

- Só assim para nos vermos pessoalmente... – Edward falou num sorriso.

- Puxa, é verdade... Rose – Falou se voltando para a mulher que olhava intrigada – Este é Edward.

- Nossa! O famoso Ed?! Mas é preciso acontecer um acaso para que eu conheça seus amigos, Emm?

- Prazer Rose – Edward estendeu-lhe a mão – O Emmet fala muito de você.

- Eu imagino o que ele fala – A moça disse num tom de desagrado – Deve reclamar horrores...

- Não... Na verdade ele só me repete o mesmo mantra desde a faculdade...

- E qual seria? – Ela perguntou intrigada.

- O quanto ele é feliz ao lado da mulher de sua vida...

Rosalie sorriu e fitou o rosto corado do marido. Nem tinha palavras.

- Sente conosco Edward! – Emmet falou – Ou você está acompanhado?!

- Na verdade eu vim me encontrar com um cliente, mas ele desmarcou de última hora e eu já estava de saída quando te vi.

- Então jante conosco!

- Não, eu não quero atrapalhar.

- Mas vocês se falam sempre pelo telefone e nunca se veem! – Rosalie falou – Vamos, sente-se, eu não me importo!

- Pois é – Emmet começou, enquanto Edward se sentava – Nós somos os melhores amigos, as maiores maria-fofoqueiras que você pode imaginar Rose, mas temos nos visto pouco desde que assumiu a empresa de sua família, não é Ed?

- É... Eu mal tenho tido tempo de respirar. Você sabe. Não tem dois dias que nos falamos.

- Vocês se conhecem desde a faculdade, não é? – Rosalie perguntou curiosa.

- Sim – Foi Edward quem respondeu – Nós não fizemos o mesmo curso, e Emmet se formou muito antes de mim, mas as festas e as farras nos levaram a nos conhecer e partilhar de uma boa amizade... Claramente que até o momento em que ele a conheceu. Aí eu continuei a sair, e ele começou a ser meu melhor amigo ouvinte.

Todos riram na mesa.

Depois do jantar, Emmet se lembrou de um assunto que Edward recentemente tinha desenterrado de seu passado. Aproveitando a saída rápida de sua esposa que seguiu ao toalete, questionou o amigo.

- E como tem andado aquela história da sua ex? Ainda na pior?

- Nem me fale, Emm... Ela está cada dia mais distante de mim... E eu não sei como agir. Ela vai casar, eu já sou casado... Mas o pior disso tudo é que meu sentimento por ela nunca mudou...

- Poxa cara, eu nem sei o que te dizer... Desde que você me contou essa história lá na Clarkson que eu fico intrigado... Eu nunca vi um sentimento assim. Mas sinceramente acho que você deveria tentar superar isso de uma vez por todas. Você tem sua mulher, e a tal garota vai casar...

- É... Eu sei. Mas o problema é que eu não consigo.

Edward suspirou, olhando para a taça de água a sua frente.

- Mudando de assunto... – Emmet contemporizou – Eu só soube ontem que minha irmã desnaturada trabalha na sua firma. E que ela está lá há quase um mês.

- Sério? Mas eu não me lembro de nenhuma Dwyer... – Edward falou confuso – E as últimas contratações, todas elas, passaram por minha avaliação.

- Ah, mas isso é porque ela não tem o sobrenome da minha mãe... Ela só tem o sobrenome do papai. Swan.

Edward congelou. Era muita coincidência. Ou pura ironia do destino, mais uma vez. Imaginou o que Deus queria dele. Deveria estar se divertindo às suas custas.

- Isabella? – O nome saiu de sua boca num sussurro.

Emmet assentiu, enquanto Edward começava a acreditar em sina, carma, e toda essa parafernália esotérica que explicava esse tipo de absurdo.

- Ela me falou que é algum tipo de supervisora... Trabalha com os contratos novos, alguma coisa assim... – Emmet tagarelou, alheio à reação de seu amigo.

- Gerente de contas. – Edward murmurou, colocando a cabeça entre as mãos.

- Ah! Isso! Gerente de con... – Emmet se interrompeu, recordando as últimas conversas com Edward – Mas... Então...

- É exatamente o que você está pensando... – Edward falou ainda com o rosto coberto.

- Cara! Eu... Não é possível... Então foi por isso que... Meu Deus! – Emmet balbuciou palavras desconexas, preso ao turbilhão de recordações e à compreensão de tantos fatos passados.

- Me desculpe Emm. Eu sei o que você está pensando de mim agora... Mas lembre-se de tudo que te contei...

- Não cara... – Emmet interrompeu – Eu sei bem da história toda. Não tô pirado com você, não. É só que, só agora as peças se encaixam...

- Que peças Emm?

Ele suspirou e cruzou as mãos sobre a mesa, se inclinando em direção ao amigo.

- Quando Bella foi morar com mamãe em Phoenix, eu já estava aqui. – Ele começou com um tom misterioso, baixo – Mas mesmo sem vê-la eu sabia que tinha algo errado. Nunca entendi bem porque ela tinha decidido fazer o último ano do colegial lá, nem a mamãe ou o papai. Ela sempre me contava tudo da vida dela, mas o penúltimo ano de colégio dela era um mistério pra mim... Até agora.

- Então ela estava esse tempo todo muito perto...

- Mais perto do que você pensa... Ela veio fazer ADM na Columbia. Ela morava comigo até o último ano de faculdade.

- Isso é sério? – Edward perguntou cético – Não é possível...

- É cara... Tão perto de você, e você nem sabia...

Edward ponderou aquelas descobertas.

Quanto tempo perdeu procurando por informações dela fora do país, em Londres mais precisamente, onde ela sempre disse que queria estudar. Nunca poderia imaginar que ela estava na mesma cidade que ele, e que era irmã do seu amigo de faculdade, que viria a se tornar o melhor amigo de todos.

Isso o fez voltar seus pensamentos para outra preocupação.

- Emm, você não tá chateado?

- Claro que não, Ed... Eu vi teu sofrimento, cara. Quantas vezes eu te levei pra teu apartamento embriagado, porque você tinha enchido a cara por não conseguir uma pista dela? Eu tava lá Ed. Eu nunca condenaria você, sendo que eu sei da história toda.

- Meu Deus... – Edward murmurou – O destino, se é que existe tal coisa, gosta de brincar com minha vida...

Emmet se recostou na cadeira.

- E eu nem posso te ajudar... O Jacob, noivo dela, é um cara muito bacana. É nosso amigo de infância, cresceu com a gente. Ele é louco por ela, cara, sempre foi, de verdade. E eu gosto dele tanto quanto gosto de você. Não posso tomar um partido.

- Não se preocupe com isso Emmet. Eu nunca pediria pra você interferir, sabe disso.

Emmet assentiu, desconfortável por não poder ajudar. Mas uma coisa era certa. Tiraria essa história a limpo com sua irmã o quanto antes.

Na manhã seguinte, enquanto analisava alguns contratos com Isabella, Edward ouviu a voz de Ângela pelo interfone.

- Senhor Cullen, seu primo, senhor Hale, na linha dois.

- Ok, pode passar.

Enquanto Edward se levantava para atender a ligação, Bella estacou intrigada. Hale era o sobrenome de casada de Alice. O sobrenome de seu marido, Jasper.

- Fala, Jazz! Se me ligou pra dizer que sua mulher está na cidade, perdeu seu tempo. – Edward falou num tom brincalhão, enquanto Bella estremecia. – Ela me ligou ontem do aeroporto.

Então Jasper era primo de Edward? E ainda por cima ele conhecia Alice? E tinha intimidade visto que ela ligou pra ele assim que chegou.

Lembrou-se de ter visto a amiga ao telefone antes de cumprimenta-la. Então era com ele que ela falava?

Deus! Quantas coincidências mais a vida lhe prepararia relacionada a esse homem?

Parecia que o destino entrelaçava os fios de suas vidas, só pra provocar, ver até onde ela aguentava, qual era seu limite.

Como podia ser?

Como ele poderia ser parente de seu amigo arquiteto? Amigo, quase cunhado, de longa data, desde sua especialização em Londres, quando ela e Alice o conheceram?

Ficou nessa divagação até notar que Edward a encarava com o olhar perscrutador, como se esperasse uma resposta.

- Senhorita Swan?

- Oh... Desculpe. Eu me distrai. O que houve?

- Estou lhe perguntando se pode me fazer uma gentileza. Receber a esposa de meu primo, já que eu estarei a tarde toda em reunião.

- C-claro. – Bella gaguejou, sem saber o que fazer.

Ela ainda estava estática enquanto Edward se sentava em sua frente.

Recordou as palavras de Alice no café da manhã.

- Eu vou chegar tarde hoje, não me espere.

- Ué... Por quê?

- Eu vou me encontrar com um grande amigo... O primo do Jazz. Nós vamos sair pra jantar.

- Ah, tudo bem. Então você fica com minha chave e meu carro. Eu peço pro Lup me pegar.

- Obrigada, amiga!

Antes que ela pudesse organizar seus pensamentos, Edward sentou-se em frente a ela novamente.

- A esposa de meu primo, Alice Hale, virá aqui no começo da tarde. Como essas reuniões foram marcadas de última hora, eu não tive tempo de avisa-la para vir mais tarde.

- Tudo bem, sem problemas. Eu conheço a Alice. – Bella falou sem pensar.

Edward arregalou os olhos surpreso, erguendo uma sobrancelha para que Bella explicasse.

- Somos amigas desde a universidade. Ela está hospedada na minha casa. – Esclareceu, sem saber bem o porquê de estar dando satisfações a ele.

Ele não podia acreditar. Só podia ser brincadeira.

- Você e a Alice... – Começou descrente – Você conhece o Jasper?!

- Sim... – Bella falou corando, constrangida com o quanto eram próximos mesmo sem querer – Ele fez a especialização dele junto conosco em Londres.

- Meu Deus! Quanta coincidência! – Edward exclamou, ciente de que Bella apreendia apenas parte do sentido de sua frase. Ela não fazia idéia de que ele era o melhor amigo de seu irmão.

- É...

Querendo dissipar o leve desconforto que se instalou, Edward desconversou e retomou seu trabalho, chamando a atenção de Bella para pontos importantes que estavam discutindo antes do telefonema de seu primo.

Alice estava pasma.

Não podia acreditar que Bella tinha como chefe um de seus melhores amigos.

- Edward me cativou desde que o conheci no meu noivado. Aquele que você não foi, lembra?!

Elas caminhavam tranquilamente pelos corredores da empresa.

- Alice... Eu estava trabalhando. Mas eu fui no momento mais importante, que foi seu casamento. – Então ela se atentou para um detalhe – Eu não me lembro de tê-lo visto lá.

- Ah, e ele não estava. O avô dele estava muito mal, foi pouco antes de morrer. Ele não saía do seu lado. Era muito apegado a ele.

- Mas se o Jazz e ele são primos...

- Não é o mesmo avô. Jazz é primo do Edward por parte de mãe. Minha sogra é irmã da mãe dele.

- Ah.

- E o Doutor Anthony Cullen era pai de Carlisle, que é pai do Ed.

- Nossa, você conhece mesmo a família, não?! – Bella perguntou, sentindo uma certa inveja da amiga, que compartilhava de informações e conhecimentos que mesmo ela, quando fora a namorada dele, nem imaginara.

- Um pouco. Mas é porque eu convivo bastante com eles. Esme sempre vai à Itália com Carlisle, e aí a Maria nos convida para jantares e passeios... É bem família, mas muito divertido.

- Umhum...

- Edward ia muito também... Mas depois que seu avô morreu, ele decidiu que assumiria a empresa, então tinha que ficar aqui, se preparando com o sogro, até que há alguns meses assumiu.

- O que o sogro dele tem com isso? – Bella questionou, tentando conter o tom surpreso.

- Ele é herdeiro do sócio do doutor Cullen.

- Então, na verdade, essa empresa é tanto de Edward, quanto de Tânia?

- Você a conhece? – Alice perguntou num tom que Bella não reconheceu.

- Eles. – Ignorou o assombro de Alice – Na verdade eu conheço Edward desde que tinha dezessete anos.

Alice se preparou para indagar à amiga que história era aquela, mas nesse momento elas passavam pela porta imponente da sala de reuniões, e Edward saiu de lá já avistando a pequena amiga.

- Allie! – Falou enquanto a abraçava – Tenho sentido falta de seus conselhos mágicos.

Alice sorriu.

- E eu de suas piadas infames... Você já está pronto?!

- Sim. – Respondeu olhando para Isabella – Idéia intrigante, não acha? Você, melhor amiga de nós dois, sendo que nenhum de nós conhecia este fato.

- É verdade.

- Não quer jantar conosco, senhorita Swan?

Enquanto Bella surpreendia-se com o convite, Alice notava a leve tensão entre eles.

- Eu não quero atrapalhar...

- Ora, Bella! Como você poderia atrapalhar? Você é como o Ed pra mim. Considero os dois como irmãos. Seria ótimo tê-los ao mesmo tempo. – Disse juntando as mãos pequenas, um brilho travesso no olhar.

Alice era mesmo uma criança grande.

- Eu já marquei com o Jake... Ele já deve estar vindo me buscar...

Edward se retesou à menção do nome, mas disfarçou.

- Eu ligo pro Lup e explico que te roubei. Vamos! Eu não vou aceitar um não! – Sentenciou com um biquinho.

Bella olhou para Edward, e percebeu que ele tentava, sem sucesso algum, disfarçar o brilho de contentamento e ansiedade em seu olhar.

Aquele olhar...

Ela poderia se perder facilmente ali.

Enquanto ela o encarava ele espelhava seus pensamentos, afundando mais e mais no mar de chocolate derretido.

- Ok. Mas você que vai falar com o Jake. E se ele der o menor sinal de aborrecimento, eu vou pra casa com ele.

- Ele não vai se aborrecer, porque sou eu que vou te sequestrar... E ele me adora!

Alice fingira não perceber, mas para ela estava claro e límpido como cristal. Existia alguma coisa entre seus dois melhores amigos.