“Droga, esqueci minhas chaves de novo...”

Pensava Gerard parado em frente a sua própria casa batendo na porta. De cabeça baixa esperava impacientemente Mikey abri-la. Ouviu o barulho da fechadura, e já pronto para reclamar a demora para o irmão, levantou a cabeça subitamente, deparando-se com o inesperado.

Não fora seu irmão que abrira a porta. Deparou-se com outro rapaz, mais baixo que ele, com uma espécie de moicano liso que deixava uma franja lateral comprida caindo sobre seus olhos verdes, moletom preto com pequenas caveiras e uma calça jeans com o joelho propositalmente rasgado, além de um all star idêntico ao que usava. Apesar de pequeno tinha uma aparência imponente, provavelmente pelo fato de ter uma beleza impossível de não ser notada, mesmo por Gerard que se surpreendeu consigo mesmo pelo efeito que isso lhe causara.

A visão de Frankie não fora menos surpreendente. Olhou Gerard de cima abaixo, captando todas as notáveis diferenças entre ele e Mikey. Seus cabelos pretos propositalmente bagunçados formavam um belo par com seus olhos também verdes e pele absurdamente clara. Suas roupas sóbrias, diferente das suas em estilo, também lhe chamaram atenção, além da inegável beleza que também possuía.

F: Uh... Oi Gerard. –disse abrindo espaço para que adentrasse a casa.

G: Frankie? Você... Cresceu. –disse ainda não conseguindo acreditar no que seus olhos viam.

F: Depende do que você entende por tamanho –disse zombando da própria estatura– Enfim, eu não tenho mais 9 anos.–sorriu– E pode me chamar de Frank.

G: É... Não mesmo. FRANK. –disse frisando o ‘mesmo’, o que fez Frank corar, e sorrindo estendeu a mão para aquele ‘nada-estranho’ desconhecido pela primeira vez, finalmente.

F: Finalmente nos conhecemos então. Posso saber agora se você é chato ou não. –riu.

G: Espero que não.

Acompanhou o riso do menor, ainda com o olhar fixo nele, que por algum motivo não conseguia desviar. Fato que era notavelmente recíproco, visto que Frankie também não desviara o olhar de Gerard nem por um segundo desde então, e encontravam-se ambos visivelmente desconfortáveis com isso. Gerard disse algo finalmente, quebrando aquele silêncio constrangedor.

G: O Mikey está...? –Afastou-se olhando em volta.

F: Ele foi buscar um filme, já deve estar chegando. –Afastou-se de onde estavam também, colocando as mãos nos bolsos e fitando seus pés, ainda sem graça por não ter disfarçado os olhares para o maior.

G: Hm. Bom, então eu vou... –Disse apontando para as escadas, fazendo Frank balançar a cabeça em sinal de que compreensão. Por alguma razão não conseguia terminar uma frase, e ainda abalado com o efeito que o pequeno lhe causara subiu as escadas rapidamente e fechou-se em seu quarto.

Mikey chegou e encontrou Frank sentado no sofá fitando um ponto inexistente no chão. Parecia tão concentrado no pensamento em que se perdera, que nem notou sua presença.

M: Hei Frank! Onde você está? –riu.

F: Hei! –disse acordando do transe– Só pensando...

M: Sei. –riu– Gerard chegou?

F: Uh... Sim. Está lá encima.

M: Então vocês finalmente se conheceram. Gerard anda mais sociável ultimamente, mais vaidoso, mais alegre... Não sei não, mas acho que tem alguma garota por aí. 

Frank não conseguiu deixar de escutar com mais atenção as últimas palavras. Mikey notou sua surpresa e arqueou as sobrancelhas, mas antes que pudesse dizer algo foram interrompidos pelo protagonista da conversa, notavelmente arrumado e pronto para sair, chegando à sala.

M: Falando no diabo.

G: O Mikey já está me queimando pra você de novo, Frank? –disse bagunçando o cabelo do irmão.

F: Não, na verdade ele estava te elogiando e criando teorias.

G: A da garota de novo?

F: É... –tentou disfarçar o incomodo que o assunto gerava.

G: Seria mais provável que fosse um garoto. Ando meio de saco cheio de garotas, sabe como é. –disse com malícia, fitando Frank e fazendo-o corar intensamente.

M: Poupe-nos de seus surtos homossexuais, Gerard.

G: O Mikey é meio careta pra essas coisas. Mas você não tem cara de quem partilha da mesma opinião que ele, não é, Frank?

F: E-eu... –balbuciou alguma coisa, ainda em choque com as declarações daquele que o fitava insistentemente. Mikey o poupou de responder intrometendo-se na conversa.

M: Ignore-o, Frank. Ele adora constranger as pessoas.

Mikey terminou a conversa com essa frase e um olhar massacrante para o irmão, que ao olhar de Frank seria facilmente subtitulado como um “de novo não” um tanto desesperado, que foi respondido com um sorriso de despedida emendado a um ‘tchau’ particular para o mais baixo antes de atravessar a porta, deixando seu perfume na sala.

Toda essa conversa deixou Frank muito confuso, e com uma sensação estranha no estômago, que por vezes o fez pensar que poderia vomitar ali mesmo. Ao notar uma expressão carregada em Mikey, mudou de assunto, perguntado sobre o filme que logo foram assistir.