Fulfill The Silence escrita por LyaraCR


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

One-shot de DMC com clima de natal, espero que gostem!



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Fulfill The Silence

A noite estava fria. Sozinho no Devil May Cry, Dante se deixava embriagar pouco a pouco por aquela garrafa de whiskey que parecia ter vida própria, sorrindo, penando por pensar em coisas boas que todas as pessoas normais poderiam estar fazendo agora... Ah, como as invejava... Hoje, para alguém como ele, era mais uma noite qualquer, para todos aqueles que eram quase como ele.

Era como um castigo. Tinha que ver os humanos se divertindo, os demônios se divertindo ao seu próprio modo e saber-se obrigado a permanecer alí, foda de toda e qualquer balbúrdia... Morreria para estar tocando em qualquer bar hoje. Ao menos estaria rodeado de pessoas que pareciam se importar com ele.. Sentia falta de alguém. Sentia muito por ser tão desapegado.

Levantou-se. Queria olhar o céu de algum lugar. Queria andar por aí. Não estava com sua roupa usual, e nem se preocuparia em vesti-la. Um suéter de lã preto como a noite, jeans batidos e coturnos. Estava bonito. Seus cabelos pareciam ainda mais perfeitos em meio aos flocos de neve que caíam.
Trancou a porta, indo em direção ao lugar mais iluminado das redondezas. Lá sim, havia muitas pessoas. Deus, como era bom não estar tão isolado... Podia ver algumas faces conhecidas, podia ver a alegria, que sim, às vezes lhe causava náuseas, mas às vezes era necessária também.

Ao longe, um grupo de garotas e um homem de jaqueta com capuz azul-escuro. Todas elas estavam ao redor dele, com sorrisos, tentando puxar assuntos e coisa assim, mas não, ele não parecia de todo interessado. Não foi rude. Pelo contrário. Todas acenaram felizes, como se tivessem ganhado o dia. Provavelmente era algum tipo de pseudo-celebridade...

Voltou a andar. Precisava se habituar aos sons agudos das músicas natalinas e qualquer coisa, justificar-se observando o perímetro.

Ante seus olhos, duas crianças. Pareciam gêmeos também. Estavam de mãos dadas, felizes, quase que correndo em direção à tal casa do Papai Noel... Isso o fez lembrar de certa vez...

Ainda eram pequenos, tanto ele quanto Vergil. Estavam em casa, seus pais, várias pessoas também... E sim, estavam felizes, brincando...

Provavelmente havia séculos. Por um momento, sentiu saudades. Queria que as coisas se repetissem, sim, queria de verdade... Seria bom sentar-se a mesa com aqueles que lhe significavam algo... Até mesmo o garoto, que a essa hora estaria dentro da igreja com aqueles malucos que tinham certa... compulsão religiosa.

Sorriu de canto. Distraiu-se olhando as luzes e nem mesmo percebeu o tempo passar. A escuridão era bonita, mas sem mentir, as luzes coloridas em meio à ela deixavam tudo mais... mágico...

Uma mão em seu ombro. E não, não era de nenhuma das garotas. Sobressaltado, voltou-se a quem quer que fosse e quase entrou em choque quando viu seu rosto em outro corpo.

— Vergil! — seus olhos se arregalaram levemente — O que faz aqui?

— Tudo bem com você, irmão?

Certo sarcasmo na voz do gêmeo mais velho. Os cabelos estavam escondidos pelo capuz, e sim, era o mesmo capuz, a mesma jaqueta daquele que estava há pouco rodeado de fêmeas enlouquecidas...

— T-tudo, mas...

— Pelo que quer que seja, por Deus, pelo Diabo... Se me confundirem novamente com você, te juro, passo a sair na minha forma demoníaca.

Um sorriso no rosto dele. Por que diabos tinha a impressão de que tudo estava bem? De que Vergil não queria hostilidades? Não hoje?

Não soube se responder. Ele também olhava as luzes. Ao longe, prédios enfeitados coloriam a escuridão dos céus...

— O que tá acontecendo?

Perguntou, olhos fixos nele, quem havia tirado o capuz e agora ajeitava os fios platinados do modo costumeiro.

— Eu simplesmente vim caminhar por essas bandas...

Justo por aqui? Vergil, convenhamos! Eu te conheço, e não, não foi só isso...

— Por que não faz o seguinte? — passou um braço ao redor dos ombros de Dante — Me deixa passar o Natal com você e a gente finge ser normal?

Estranhado, concordou e em pouco tempo estavam andando, circulando entre todas aquelas pessoas... Dante se sentia bem mesmo que com algumas dúvidas cruéis dentro de seu ser... O que Vergil tinha vindo fazer ali? O que ele queria? E por que estava agindo desse modo?

— Estamos tão acostumados com as tradições desse mundo, não é?

Ele inquiriu, e por pouco Dante não se engalfinhou com um poste que estava em sua frente enquanto concordava. Vergil riu. Aquele era mesmo ele? Rindo? Em público e sem nenhum motivo hostil?

Ele parou ante uma loja. Entrou e em poucos minutos, saiu de lá com uma garrafa de vinho nas mãos. Mais uma vez enlaçou seu braço ao redor dos ombros do outro...

— Cara... Você tá bem?

— Éh... hoje eu estou...

Um sorriso triste em seu rosto, e Dante logo soube que aquilo significava algo... Mais precisamente, expressava a vontade de estar sempre assim. Por que não podiam tentar? Não, não se deixaria entrar em autoquestionamentos agora. Queria ficar ao lado daquele que era seu irmão, queria aproveitar a companhia dele. E... para onde diabos estavam indo?

Perguntou. Ele apenas indicou a direção com a cabeça. Num daqueles restaurantes ao redor da praça, estavam sentados seu Pai e sua Mãe. Seus olhos se encheram de lágrimas... Não estava conseguindo acreditar, não... Deveria estar preso num tipo de magia, num tipo de feitiço que consumia suas energias vitais enquanto o iludia com seus desejos mais profundos...

Os cabelos loiros e longos de sua mãe continuavam perfeitos como sempre, e o ar sério e inteligente de seu pai continuava o mesmo, porém mais forte. Ele sorria, um sorriso dissimulado, não tão exposto quanto o de sua mãe, mas ainda assim sorria.

— O que diabos eles estão fazendo aqui?

— É uma longa história... Te explico mais tarde.

Se assentaram junto a eles. Dante não poderia descrever aquele momento de outro modo senão surreal. Era uma espécie de sonho bom trazido de algum modo à sua realidade perversa e doentia...

XXX

Muitas horas depois, eles haviam partido. Agora Dante entendia que eles estariam mais vezes por perto. Queriam viver do “lado de fora” também, queriam se mascarar entre os humanos, tentar ser a família que há muito não eram.

Na rua escura do Devil May Cry, apenas quatro pés andavam. Nenhuma luz, exceto as dos prédios ao longe. Passos lentos, Dante levemente embriagado e ele... Vergil, ao seu lado, praticamente segurando-o. Quem os visse ao longe pensaria que eram um casal dado o modo em que se apoiavam um ao outro.

— Eu não entendí muito bem, mas... por que eles vieram viver aqui?

— Todos viemos..

— Você também?

— Sim...

— Por que?

— Estava ficando perdido entre tanto poder, tantas coisas do nosso mundo. Estava esquecendo de minhas raízes desse lado... Esquecendo que ficar aqui era tão divertido, tão bom e gratificante.

— Tantas palavras... assim de uma vez... É mesmo você, Vergil?

— Sim, e você não entende nada porque está bêbado desde quando saiu na rua.

— Como sabia?

— Te conheço. Estava sofrendo pelo silêncio de seu próprio mundo e se consolando com... — pensou um pouco — whiskey.

Dante riu. Agora, parados ante a porta de entrada do Devil May Cry, o gêmeo mais novo procurava a chave em seus bolsos...

— Droga...

Praguejou e sim, teve toda a vontade do mundo de derrubar a porta, mas não o fez, logo encontrando a chave.

Poucos segundos e estavam dentro daquele lugar com cheiro de madeira, bebida e incensos.

— Bem vindo a minha casa...

Disse, praticamente ébrio, trancando a porta. Vergil logo tirou a jaqueta, os sapatos... Sim, estava se sentindo em casa. Assim como Dante, quem o imitou. Antes, aquele lugar parecia tão vazio e triste... Agora, depois de tantas coisas, palavras, reencontros, Dante sentia como se estivesse num novo mundo, como se toda aquela solidão de horas atrás houvesse desaparecido.

— Sundae?

Veio uma voz da cozinha. Olhou, olhou e em meio a escuridão reconheceu. Vergil estava revirando sua geladeira.

— Sim, aceito, claro...

— Não estou te oferecendo! Estou tentando entender como vive disso, pizza e bebidas!

— Eu sou um demônio, oras!

Riram.

— Traga pra cima o que quiser. Vou pro quarto. Venha, não vai querer dormir nesse sofá...

— Por que?

— Pessoas, meu irmão, pessoas...

Disse, quarto adentro, retirando a regata branca que vestira por baixo do suéter e caindo na cama. Há muito não se sentia assim, em paz para poder descansar. Fechou os olhos. Alguns instantes e logo um peso sobre a cama o fez abri-los. Olhou por cima do ombro. Era ele. Nem precisava olhar pra falar a verdade... O cheiro do perfume amadeirado tão característico de sempre já havia invadido seus sensos antes mesmo que abrisse os olhos...

— Trouxe sundae e whiskey.

— O que te faz ser tão bonzinho hoje?

Vergil se ajeitou, deixando a garrafa sobre a mesa de cabeceira.

— Eu não sei... Além do fato de não estar com vontade de te matar, bom, posso dizer que eu também queria sair, deixar o silêncio do meu próprio mundo de lado...

— E quanto tempo isso vai durar?

Dante perguntou, voltando-se a outro...

— Eu não sei... Espero que muito...

Vergil disse, levando o dedo ao seu sorvete e levando-o em seguida ao nariz de Dante, quem retribuiu a brincadeira espalhando sorvete pelo rosto de seu irmão, mais precisamente sobre seu queixo... em pouco tempo estavam brincando como duas crianças, e sim, Dante havia se esquecido de toda a sua dor e solidão. Era bom estar com Vergil... Desse jeito, como se não houvesse nada de ruim no mundo, como se fossem só eles...

Adormeceram com uma única certeza: a de que aquela havia sido uma noite especial...

XXX

O sol surgiu do lado de fora, atingindo em cheio o rosto de Vergil... Malditas cortinas que não serviam nem pra se fechar sozinhas... Espreguiçou-se e se deixou assentar na cama... Olhou para um lado, para outro e para Dante, quem ainda estava apagado. Acariciou os fios prateados. Não queria ir embora... Não queria ficar sozinho, deixar seu irmão sozinho novamente...

XXX

Seus olhos se abriram. Um sorriso lhe veio à face quando se lembrou da noite anterior. Vergil... Deixou que sua mão passasse pela cama em busca dele. Nada. Logo a tristeza lhe acometeu outra vez. O jeito era se levantar e seguir em frente, ficando com aquela felicidade apenas em suas lembranças...

Seus pés descalços o guiaram até a escada. Um cheiro forte de café invadiu seus sensos.

— Espero que não seja você na cozinha de novo Nero!

Desceu e observou que o garoto estava esparramado no sofá, quase que desprovido de roupas, como quase todos os dias que chegava tarde, com um belo gesto obsceno na mão esquerda. Passou e bagunçou seus cabelos recebendo um murmúrio ininteligível como resposta, provavelmente um xingamento.

Olhou em direção à porta. Os sapatos de Lady também estavam lá, assim como outros dois pares de sapatos... Três... Por que os sapatos de Vergil ainda estavam alí?

Seu coração disparou enquanto ia esperançoso até a cozinha. O que viu o fez sorrir, sentir-se uma criança com os olhos brilhantes... Ele ainda estava lá... Apenas em jeans, fazendo café da manhã para todos que provavelmente estariam alí. Teve vontade de abraça-lo... o fez, deixando sua cabeça descansar no ombro daquele que agora sabia, queria ver todos os dias ao seu lado apesar de tudo...

— Quantas pessoas você está criando aqui?

Ele perguntou rindo e beijando seus cabelos.

— Algumas... Porque?

A mão de Dante acariciava a cintura de Vergil. Estranho, mas ambos estavam adorando toda a proximidade.

— Tem espaço para mais uma?

Não precisou concordar, do mesmo modo que Vergil não precisou dizer mais nada. Ambos sabiam que suas vidas não seriam mais silenciosas, que suas vidas não continuariam vazias como estavam um dia atrás... Dante ainda se lembraria daquele natal por toda a eternidade... Fora o seu melhor presente...

Fim!


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