Santolli escrita por jacki


Capítulo 1
CAPÍTULO 01




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É como a vida é, cheia de desavenças, obstáculos e vitórias...

Mas ela nunca deixa de te surpreender.

O trânsito estava até rápido essa tarde. Geralmente, passo quarenta minutos ou mais para chegar a agencia da revista desejada, hoje, no caso, a Could, uma revista da região. Sim, eu trabalho para essa revista e algumas outras também, como a Tell e a Truth, graças a uma amiga de minha mãe que tem bastante fama nas redondezas em relação a esses jobs e conseguiu me encaixar em algumas agencias.

Se pensam que sou a diretora, assistente ou alguma coisa do tipo, estão enganados. Bem, na verdade eu sou fotógrafa. Trabalho nesse ramo nem sei por que, pois desde criança meu sonho foi ser arquiteta. Porém, um mês depois de terminar o ensino médio, eu viajei e conheci lugares lindos, lugares estes que acho que nunca mais voltarei a ver, porém me apaixonei por tudo aquilo e então mudei de idéia e decidi virar fotógrafa. Sei lá, vai que um dia me pedissem para viajar para lugares exóticos e diferentes, vai que estes lugares fossem os mesmos dos das minhas férias... Ou apenas queria sentir mais sensações além de ficar enfiada dentro de quatro paredes desenhando e fazendo contas, o que nunca fui tão boa assim.

Enfim, mudei-me para cá, Oxford exatamente, logo depois que terminei minha faculdade em Las Vegas, no inicio do ano passado, e comecei a exercer minha profissão desde Agosto do mesmo ano que vim para cá. No caso, tenho agora 21 anos e me considero uma pessoa de sorte por ter conseguido um emprego bom tão facilmente, ainda mais nessa idade.

É claro que minha mãe não concordou com essa minha mudança para Oxford, afinal eu tinha apenas 19 anos, considerada, por ela, ainda uma menina. Porém, eu já era independente e queria me sentir independente. Não que meus pais não me deixassem livre, apenas queria começar minha própria vida, digamos que, do zero, e confesso que não me arrependi nem um pouco... Até agora, pelo menos.

Virei na esquina à esquerda e segui reto. Agora só bastava virar na Pembroke St. Street e chegava ao meu destino. Estava muito nervosa, como sempre fico no dia das entregas das fotos.

Olhei para o lado e o envelope marrom no banco do passageiro estava lá, quietinho, paradinho, simples e sem nenhum amassado, com folhas de papel dentro que valiam e me garantiriam um bom lucro. Virei-me novamente para frente, concertando-me na poltrona acolchoada do meu Chevrolet Aveo vermelho e entrei no estacionamento do prédio da Could. Como sempre ia lá, meu nome já estava registrado – Elisa Santolli – e minha entrada era autorizada.

Estacionei na enorme área aberta da frente e dei mais uma conferida no espelhinho do carro, passando mais uma camada de brilho labial e concertando alguns fios soltos de meus cabelos ondulados castanhos presos em um rabo de cavalo apertado, deixando apenas minha franja de lado cobrindo minha testa. Ajeitei meu vestido preto que ia até um palmo acima do joelho e conferi se realmente estava com minha meia calça preta transparente.

Peguei o envelope ao meu lado e saí do meu veículo, dirigindo-me para a recepção do enorme edifício verde. Numa parte mais acima do mesmo, podia-se ler em letras grandes e cursivas o nome da revista em questão.

Não importa o quão difícil a situação pareça,

Ela sempre fica pior.

- Sebastian? – A voz adocicada e aguda foi ouvida após três “Toc Toc’s” na porta de madeira da biblioteca da mansão, onde eu me encontrava.

Tomei o ar pesadamente e dei permissão para que Meredith entrasse, minha criada e segunda mãe. Fui criado por ela desde que nasci praticamente, contanto tomei a liberdade de “criar-me” sozinho quando já tinha 10 anos. Porém Meredith nunca saiu do meu lado e acabou se tornando minha “confidente” durante minha trajetória de vida.

Ela aproximou-se de mim e encostou-se à beira da janela, ao meu lado, da mesma forma que eu me encontrava.

Virei meu rosto para o lado, observando-a, enquanto ela apenas fitava o verde que era a paisagem do outro lado da larga janela de madeira.

- Eu sei que está sendo difícil, meu amo. – Ela ainda não olhava em meus olhos.

- E se tornará pior. – Murmurei, mais para mim do que para ela.

- É por isso você tem que ser forte, meu querido. – Ela virou-se para corresponder ao meu olhar. Sua face expressava ternura e compaixão, como sempre.

Balancei a cabeça, negando.

- Eu não nasci para isso, Meredith. Sinceramente, não sei por que tudo conspira contra mim.

- Nada é fácil nesse mundo, Sebastian. E há momentos em que não existem escolhas. – Suas palavras sempre tinham um tom de compreensão que me era acolhedora.

- Eu não consigo aceitar! Com a morte de meu pai, tudo virou minha responsabilidade. Eu até poderia assumir as outras atividades, mas isso? Desculpe, mas é contra tudo o que lutei para não me tornar um deles! – Meu corpo já estava tomado pela raiva e meus olhos, agora mais negros do que o normal, ardiam em puro constrangimento. Constrangimento do que estavam me forçando a ser; constrangimento e tristeza por não ter outra solução, além daquela.

- Nós dependemos de você, meu filho. Não deixe de pensar em nós.

Não pude responder a esse comentário. A verdade é que eu sou um covarde e egoísta, cujo orgulho é o ponto mais forte de minha personalidade. Se é que tenho uma.

- Faça o que é certo. – Meredith continuou. – Pense no que é certo. A profecia...

- A profecia é uma idiotice! – A cortei.

- Uma idiotice da qual depende a existência de todos nós, Sebastian! Não seja teimoso. – Não havia raiva em suas palavras, apenas estava falando a verdade.

- Urgh! – Fechei os olhos violentamente, levando as duas mãos aos cabelos negros, puxados de minha mãe. Apoiei os cotovelos na janela e permaneci assim por um tempo.

Ouvi Meredith suspirar ao meu lado várias vezes, porém nenhuma palavra era expelida de sua boca.

- Meu pai tinha que fazer isso o quanto antes. – Murmurei, endireitando-me diante de Meredith.

- Era dever do Sr. Quinton, mas este fora morto durante uma caçada, e você sabe disso. Infelizmente, o sucessor é você, Sebastian. Só você pode nos salvar!

- Meu pai era um vampiro de merda!

- Não fale isso! – Ela me repreendeu. Olhei em seus olhos e eles tinham um tom chocolate intenso. Meredith era amável e sensível quando queria, mas quando o assunto era a coisa certa a se fazer, ela se tornava insuportavelmente repreensiva. – Seu pai era um bom representante de nosso povo e merece o respeito de todos, inclusive de você, Sebastian, o único filho dele.

- Engraçado como, diante de tantas mulheres que ele já dormiu ou as hipnotizou para dormir com ele, este teve apenas um único filho, e esse infeliz fui eu. – Bufei. – Eu preferia morrer. – Completei entre os dentes.

- Não sejas insano! Nem por brincadeira fale tal coisa. Se você morrer...

- Se eu morrer, a profecia não se cumpre e todo o nosso povo morre. Eu sei, Meredith.

- Então não finja que não sabe.

Ela me encarou e eu devolvi o olhar. Detesto quando me reprimem.

Encarei-a por tempo suficiente até decidir acabar com aquele monólogo de olhares que não daria em nada e, dependendo dos dois teimosos aqui, nunca acabaria.

- Vou dar uma volta. Preciso pensar com calma, sem ninguém nem nada dando-me pressão.

Caminhei até a poltrona de couro marrom perto de uma prateleira de livros e peguei meu casaco de couro preto. Meredith caminhou até mim.

- Faça como quiser, meu amo. Mas me prometa que tomará a decisão correta. – Inclinou-se na ponta dos pés e deu-me um beijo carinhoso na testa, para logo sair pela porta que entrou.

Suspirei e fiz o mesmo, porém indo para fora do Castelo Quinton – nome este em homenagem ao meu pai, Ex-Rei da sociedade, morto durante a caçada à caçada, ou seja, enquanto tentava cumprir o que dizia A Profecia. Ridículo.

Peguei minha moto e parti em direção à cidade, ignorando a escuridão da noite.

É como a vida é, cheia de desavenças, obstáculos e vitórias...

Mas ela nunca deixa de te surpreender.

A Editora-Chefe da Could disse que analisaria minhas fotos e logo daria o resultado. Não havia muito que fazer agora, se não esperar.

Rodei um pouco pela cidade até que avistei um lugar que me chamou atenção. Era uma praça. Uma praça que eu nunca vira antes. Não que eu saísse quase todos os dias por Oxford, mas jurava que conhecia todos os cantos da região como a palma das minhas mãos.

Parei meu Chevrolet próximo à calçada e desci do automóvel.

O parque tinha um tamanho razoável, com alguns brinquedos para a diversão das crianças e banquinhos feitos de madeira. Caminhei até um, que ficava de baixo de uma árvore, e me sentei. Não havia muitas pessoas a essa hora, apenas uma senhora caminhando com seu cachorro, um homem barbudo lendo algum livro em outro banco afastado do meu e umas cinco criancinhas no parque ali presente.

Agradável.

- Posso me sentar aqui? – Uma voz rouca e grossa falou, fazendo-me levar um susto.

- Sim, claro. – Ainda estava meio aturdida como pequeno susto que levara.

Um homem de cabelos negros e olhos também interessantemente da mesma cor, sentou-se ao meu lado. Sua pele era curiosamente atraente, assim como seu corpo não tão exageradamente musculoso.

Ele esboçava um sorriso encantador nos lábios finos, porém seus olhos expressavam tristeza, o que dava total oposição ao sorriso perfeito de sua boca.

Por que eu não tinha achado essa praça antes mesmo?


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