Capítulo IX: Nono tiro.

Tudo estava muito calmo e quieto. Como se nada existisse além de mim.
Branco. Era tudo branco. Olhei para as minhas roupas e elas também eram brancas.
Eu não sentia mais dor, nem sequer me sentia revoltada. Paz, talvez? Minha vida nunca teve minutos de paz. A paz é boa.
Respirei fundo e meus pulmões se encheram com um doce cheiro de canela. Canela é doce? Não tenho certeza, mas parecia ser. Era uma sensação renovadora.
Mas por que eu estou nesse lugar? Não me lembro de como cheguei aqui.
Tudo é tão calmo e agradável. A verdadeira paz esta aqui.
Porém esse cheiro de canela esta se tornando insuportável! Afinal, da onde esta vindo esse cheiro?
Olhei para os lados e não vi nada além do infinito branco.
Canela me lembra de alguém... Papai! É claro! Ele amava o cheiro de canela! Mas cadê o meu pai? O que aconteceu com ele?

Enquanto mais eu pensava, mais angustiada eu ficava. “Alguma coisa esta errada” eu pensava enquanto caminhava em busca de achar a saída daquele lugar.
Até que eu vi. Uma porta dourada com uma placa dizendo “Yamanaka”.
Olhei desconfiadamente para placa e me perguntei o que haveria do outro lado. Devo admitir que sou uma pessoa muito curiosa, ok? Por isso não hesitei em abrir a porta.
Logo senti que estava sendo sugada. Tudo lá dentro era muito escuro. Me virei em direção á porta porém ela se fechou rapidamente. Tentei girar a maçaneta, mas a porta parecia estar trancada.

Cadê a paz? Acho que ela ficou lá atrás. O que eu estava sentindo agora era revolta e angustia. Sem falar do cheiro insuportável de canela que era muito mais forte aqui.
- Ino – Alguém falou com uma voz rouca e abafada.
Olhei para os lados, mas estava escuro de mais para ver alguém.
- Quem é? – Perguntei irritada.

De repente tudo ficou claro. Acho que ligaram à luz.

Havia uma mesa muito comprida na minha frente e várias pessoas estavam sentadas em volta dela. Porém uma pessoa em particular me chamou a atenção.
Do outro lado da mesa ele me fitava com seu típico olhar de superioridade.

- Pai! – exclamei espantada. Ao ver, imediatamente lembrei de tudo. Do coma, do consigliere, dos dormitórios e de uma coisa mais importante, a minha morte.
- Filha, sente-se. – Falou ele enquanto fazia um movimente com a mão para que eu sentasse.
Eu o obedeci e encarei as pessoas que estavam sentadas. Percebendo o meu olhar, uma delas falou:
- Menina, você não nos reconhece? – Falou um homem baixo com cabelos e bigodes brancos.

Balancei negativamente a cabeça e todos se entreolharam.
- Quero dizer – comecei a me defender – Não é que eu não lembre de vocês, é apenas que todos vocês já estão mortos á muito tempo.
O que era verdade. Todos eles eram meus antepassados. Os antigos chefes da família yamanaka.
- Oh, mas é claro que estamos mortos! Se estivéssemos vivos nós não precisaríamos estar chamando uma adolescente irresponsável aqui. – Exclamou uma mulher muito gorda. Mas como assim “adolescente irresponsável”? Como essa gorda ousa me insultar?

Eu estava abrindo a boca para dizer essas palavras quando meu pai me interrompeu.
- Filha, a família Yamanaka esta prestes a enfrentar um desafio muito grande. Ou melhor, como herdeira do nome Yamanaka você terá que enfrentar esse desafio.

Olhei desconfiada para meu pai e falei:
- Como assim? – Perguntei confusa – Eu não estou morta? Se eu estou aqui tendo essa conversa estranha com vocês, deve ser porque eu estou morta! Não é?
- Não, você não esta morta, pelo menos não ainda – Continuou meu pai – Porém se você não usar todas as suas habilidades, logo você estará morta, ou em coma como eu.
- Mas espera um minuto! De quais habilidades você esta falando? Pelo que eu saiba eu não possuo nem uma habilidade.


O homem baixinho me encarou e disse:
- Menina, você tem o sangue dos Yamanaka correndo em suas veias! Você possui sim as habilidades necessárias para lidar com situações de extremo risco. Tente se concentrar mais! Você poderá enfrentar qualquer coisa se você tiver isso mente.

Eu o encarei e disse:
- Mas afinal, qual desafio eu terei que passar? Por acaso estão tentando me matar? Isso não é nem um pouco novidade para mim.

Eu esperei que o velho respondesse, porém foi meu pai quem falou:
- Também filha, mas a única coisa que te podemos dizer é que alguém esta tentando destruir nossa família. Não sabemos quem é essa pessoa, mas precisamos que você seja forte o suficiente para enfrentar esse inimigo. Você deverá aprender como usar as suas habilidades, que são, nada mais nada menos, do que seus instintos! Se você sentir que algo ou alguém não esta certo, você deverá ficar atenta.

Uma forte luz invadiu a sala. E logo senti que ela estava me puxando.
Me segurei firme na mesa e tentei fazer uma ultima pergunta.
- Pai! Alguém fez com que o senhor entrasse em coma? – É, parece doideira eu perguntar isso, mas foi a primeira coisa que me venho á mente.
Eu não tinha mais forças para me segurar. Logo a luz me envolveu.
Porém eu consegui ouvir a voz rouca de meu pai falando:
- Sim, filha.

Tudo ficou branco novamente. Porém dessa vez eu via sombras andando de um lado para o outro. Minha visão estava embaçada. Tentei erguer a mão para tocar nos meus olhos, porém uma dor muito grande fez com que eu desistisse da idéia.
Ao meu redor as sobras começaram a tomar forma. E o branco se revelou como sendo as paredes de um quarto. Não demorou muito para que eu percebesse que estava no hospital.


- Ela acordou! – Falou uma enfermeira enquanto ia em minha direção.
Percebi que alguém também acordou. Ele estava sentado em uma poltrona ao lado da minha cama. E estava com uma cara de quem não conseguiu dormir bem.

- Ino. – Gaara falou incrédulo.
- Sou difícil de matar – Falei enquanto olhava para o meu braço. Ele estava muito inchado.
- Coisa ruim não morre – Ele falou e logo se virou para a enfermeira – Poderia nos dar um minuto?
A enfermeira parecia estar enfeitiçada pelo tom de voz másculo dele, pois ela não hesitou nem um instante em obedecê-lo.

Revirei os olhos.
Gaara riu baixo e abafado da minha cara. Imbecil.
- O que aconteceu comigo? – Falei enquanto desviava o meu olhar do dele.
- Injetaram veneno em você. – Olhei pelo canto do olho para ver a expressão dele, porém seu olhar era vazio e indiferente. Como sempre.
- E como é que eu estou viva? E não venha me dizer novamente que coisa ruim não morre! Ok? Eu sei que grande parte dos venenos tem efeito imediato. Como estou viva?

Gaara respirou fundo antes de me responder. Ele parecia cansado.
- Eu cheguei ao seu quarto a tempo suficiente para tentar extrair boa quantidade do veneno, porém não cheguei a tempo de pegar a pessoa responsável por ter injetado isso em você. Não demorou muito para que você fosse atendida a tempo suficiente para que não morresse, porém você esta ai dormindo já faz duas semanas. Os médicos já estavam achando que você talvez não fosse acordar.

Olhei espantada para ele. DUAS SEMANAS? Pensei que tivesse se passado apenas algumas horas.

Acho que no mundo dos mortos o tempo passa rápido. Mas enfim, meu pai estava certo. Alguém esta realmente tentando acabar com a minha família. E eu precisava fazer algo rápido! Com certeza essa pessoa percebeu que seu plano de me matar não havia dado muito certo. Então era certo que ele ou ela iria tentar me matar novamente. A única pergunta era “Como?”.

De repente uma idéia se formou em minha mente.
Passaram-se duas semanas, então isso quer dizer que hoje era o dia da Confraternização das Famílias.
Era a chance perfeita. Ele ou Ela iria usar esse dia para novamente tentar me matar.

Um sorriso se abriu em meu rosto. Gaara deveria estar achando que eu fiquei louca, pois eu estava prestes a rir muito alto. Porém me contive e tudo o que fiz foi abrir a boca e dizer:
- Me arrume um vestido preto colado e um par de sapatos prateados. Temos uma festa para ir.