Always a Chance - não é tarde Demais escrita por Lara Boger


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Sei que provavelmente ninguém acompanha essa história. Mas estou retomando essa história e outros projetos mais antigos, que estavam parados. Ficaria feliz em saber a opinião de quem ler.



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ooOOoo

Mais tarde – Enfermaria.

Kimberly acordou assustada.

Mary, uma das técnicas e também enfermeiras estava ao seu lado.

- O que houve? Por que estou aqui?

- Você desmaiou. Fique calma, está tudo bem.

Entrou um médico.

- Vejo que nossa paciente já acordou... como se sente?

- Meio zonza, mas estou bem.

- Isso é normal. - pausa - Será que posso lhe fazer algumas perguntas?

- Perguntas?

- Não precisa ficar assustada - disse Mary.

- São apenas perguntas de praxe.

- Certo... pode perguntar.

- Sentiu algo antes de desmaiar?

- Um mal estar... coisa pouca.

- E o que comeu hoje?

- Uma banana.

- Só isso?

- Só.

- Bom... acho que a razão do desmaio já está esclarecida. - fez algumas anotações na prancheta - Precisa se alimentar bem, principalmente antes de competir. - pausa - Vou sair um pouco, daqui há alguns minutos eu volto.

- Eu vou ter que ficar aqui?

- Não - respondeu Mary - Daqui a pouco será liberada. Tenha um pouco de paciência... é só esperar.

Schmidt entrou no quarto.

- Olá, Kimberly... como está?

- Estou bem.

- Certo... fique quieta enquanto providenciamos a nossa saída. - pausa - Já contou a novidade pra ela, Mary?

- Novidade? Que novidade? - Kimberly perguntou empolgada.

- Ainda não, senhor.

- Então eu mesmo conto: - virou-se para sua aluna - Kimberly: você passou para a próxima fase!

Kimberly sorriu feliz com a notícia, mas ainda incrédula.

- O quê? Eu estou...? Passei...? Sério?

- É... agora só falta uma etapa.

- Uma? Não eram duas?

- Uma só. A última competição da qual participou, eu não tinha falado, mas foi a primeira desse caminho.

Um daqueles inter-colegiais que considerava sem importância.

Saíram algum tempo depois. Mesmo não sendo preciso, Mary e Leslie vinham ao seu lado pronta para ampará-la caso algo acontecesse.

Voltaram para o ginásio.

- Muito bem, meninas! Troquem de roupa e vamos treinar!

Kimberly estava indo junto com elas.

- Ei, ei... onde a senhora pensa que vai?

- Vou treinar, o senhor mandou...

- Isso não vale pra você por pelo menos uns dois dias. Vá para o seu quarto e descanse.

- Mas...

- Nada de “mas”. Você desmaiou hoje. Não dá pra voltar a treinar assim. - disse Leslie preocupada.

- Leslie tem razão. Vai descansar agora. - disse Schmidt que olhou para o lado e viu Baby passando - Baby! Será que pode levar Kimberly para o quarto dela?

- Sim, claro.

Afastou-se junto com Kimberly enquanto algumas das meninas voltavam para iniciar o treino.

- O que houve, querida? Por que foi dispensada?

- Eu desmaiei depois que terminei com o último aparelho.

- Desmaiou? Deus do Céu! E você está bem?

- Estou.

- Tudo bem mesmo?

- Sim. - respondeu com um sorriso. - Principalmente porque estou na final.

- Sério? Parabéns! - pausa - Mas agora você precisa se cuidar. A final já está aí.

- Eu sei, não se preocupe, Baby. Daqui a pouco já vou estar novinha em folha.

Baby deixou- a no quarto. Kimberly fechou a porta e contemplou o quarto vazio. Sentia-se cansada, mas feliz. Afinal estava perto de seus sonhos, mais que um dia pôde imaginar.

Tomou banho e depois foi para a cama. Antes de deitar pegou seu notebook. Presente de seus pais, preocupados com a distância e com a dura rotina. Assim tornou-se um elo de ligação com seus outros amigos.

Acessou seus emails. Tinha algum tempo que não se conectava mas não havia quase nada. Propagandas e notícias dos sites em que era cadastrada. “Preciso cancelar esses cadastros” pensou.

Acessou o messenger. Gostava dele porque era bem mais veloz que as cartas e bem mais barato que o telefone. De vez em quando conseguia encontrar seus velhos amigos. Pena que a maioria deles estava muito ocupada já que continuavam sendo rangers. Restava pouco tempo para eles. Lembrava do quanto podia ser sacrificado.

Viu a lista de amigos. Lista que já não era muito grande e ainda ficou menor quando percebeu que apenas um estava online.

- Trini! - falou sozinha - Que bom!!

Mandou uma mensagem para a amiga.

Kim: oiiii...

Trini:você conectada?? O que está acontecendo??

Kim:acabei tendo uma folga. O que está fazendo da vida?

Trini:voltei ao trabalho, já deu pra perceber. Ando ocupada com isso. E você?

Kim:naquela rotina de treinos e depois o resto do mundo. O problema é que o resto do mundo exige mais que as duas horas que tenho.

Trini:duas horas? O que aconteceu?

Kimberly começou a digitar em velocidade média o que havia sido o seu dia.

Desde a disputa e sua vitória até o desmaio.

As respostas não demoraram a vir.

Trini:mas como você está agora?

Kim:bem. Se não estivesse não estaríamos conversando.

Trini:não podemos chamar isso de conversa exatamente.

Kim:uma conversa dentro dos nossos limites de orçamento e horário.

Trini:espertinha...

Kimberly estranhou. Sempre que conversava com Trini eram conversas longas e densas. Até agora não havia nada desse tipo.

Trini:qual foi o motivo desse desmaio?

Kim:comi pouco antes de competir.

Trini:e por que fez isso?

Kim:estava gorda demais para fazer minhas rotinas.

Trini:você nunca foi gorda.

Kim:não é como em Alameda dos Anjos. Estou realmente competindo.

Trini:já estava muito magra quando nos encontramos da última vez.

Kim:não estava magra. Aquele peso me dificultava nos exercícios.

Trini: quem lhe disse pra perder peso?

Kim:ninguém me forçou a nada. Foi uma constatação.

Trini:não mente.

Kim:por que acha que estou mentindo?

Trini:a Kimberly que eu conheço não prejudicaria a própria saúde.

Kim: com que direito acha que pode me dizer isso? O que sabe sobre ginástica?

Ficou esperando uma resposta, mas Trini não respondeu. Logo lhe ocorreu que estava a ofendendo e que além disso, Trini não tinha o costume de responder a esse tipo de apelo. Sentiu-se culpada.

Kim: desculpa. Eu não queria dizer isso

Trini: só quero que saiba que não sou obrigada a ouvir esse tipo de coisa.

Kim:desculpa.

Apesar disso, não achava que Trini tivesse chegado onde queria com isso.

Trini:tudo bem.

Mais algum tempo sem nenhuma mensagem. Kimberly esperava que ela tomasse a iniciativa, mas Trini parecia esperar pela mesma coisa.

Kim: como estão as coisas?

Trini:normais.

Kim:e Josh? As coisas entre vocês dois...?

Trini:na mesma. Saímos de vez em quando, nos divertimos como pessoas normais... ou amigos normais.

Kim: quem sabe uma relação entre vocês não decola?

Trini:de onde tirou essa idéia?

Kim:pelo que me falou é a pessoa certa pra você.

Trini:acho que a falta de nutrientes está afetando seu cérebro.

Kim:você lembra, eu sempre tive jeito pra essas coisas.

Trini:e entre você e Tommy? Mudou alguma coisa? Pensou a respeito?

Kim:e como pensei. Isso me deu um problema danado.

Contou da crie, da carta que escreveu e de seu envio acidental.

Trini:aconteceu há quanto tempo?

Kim:quase um mês.

Trini:e não teve nenhuma reação?

Kim:aparentemente nenhuma.

Trini:acho que ele não deve ter recebido a carta.

Kim:como não? Deveria ter sido uma questão de dias.

Trini:não acho que ele ficaria sem reagir depois de ler o que estava escrito.

Kim:sei lá... as pessoas mudam... todos mudam... eu mesma mudei. Talvez não fosse pra acontecer.

Trini:se prefere acreditar nisso.

Kim:acredito sim. Talvez ele esteja feliz com a Kat, ou queira se vingar do que eu fiz.

Trini:Tommy não faz o gênero da vingança.

Kim:então talvez ele não esteja mais interessado. Quem sabe não seja melhor assim?

Trini:se foi isso mesmo que aconteceu, agora trata de fazer a sua vida.

Era duro, mas sabia que aquele era o tipo de coisa que Trini lhe diria. Também queria ouvir aquilo. Era um estímulo do qual precisava para seguir em frente. Por mais duro que fosse a confirmação do fim de um relacionamento, não queria ficar parada esperando que as coisas caíssem do céu. Ainda teria muito suor para chegar onde queria.

Conversaram mais um pouco sobre outros assuntos mais amenos. Não que afastasse o remorso ou uma ponta de mágoa, mas faria com que se distraísse um pouco. Precisava descansar para voltar aos treinos. Tinha de se recuperar do susto que levara com seu desmaio. “Pelo menos eu caí depois que eu saí da trave...” pensou, aliviada.

Ficaram conversando por um tempo considerável. O bastante para recuperar por alguns instantes o mesmo riso de Alameda dos Anjos. Acabou lembrando... muitas recordações vieram-lhe a mente. Depois que encerraram a conversa, acabou evocando as lembranças, acessando as fotos que estavam em seu laptop: Trini, Jason, Zack e Billy juntos antes da chegada de Tommy. Depois Adam, Aisha e Rocky... mais tarde Kat.

Ver Kat em uma das fotos causou-lhe extremo desconforto, tanto quanto ver a imagem de Tommy. Kat representava sua derrota, a perda de seu amor mesmo que ela não tivesse culpa. Mesmo que a culpa fosse apenas sua.

Tommy... Kat... quem diria...?”

Ela não estava sozinha. Todos estavam reunidos. Tinha sido algum tempo antes de ser convidada por Schimdt para um treino. Quando ainda sonhava em ser Leslie Reynolds, mas achava que era apenas um sonho de adolescente. Quando vivia num mundo cor de rosa com Tommy, quando não se via fora de seu uniforme de ranger...

Doces tempos...”

Pensou no quanto teria sido legal se todos pudessem ter se reunido. Trini com certeza teria gostado de Adam. Todos teriam rido muito de Rocky. Talvez fosse diferente no caso de Aisha. Não que ela não fosse legal: era, mas com Trini e Tommy por perto seria difícil. Talvez com Kat ainda fosse pior. “Será que se eu não tivesse ido embora ela seria uma ameaça?”

Chegou a conclusão de que não. Mesmo se fosse verdade que havia um sentimento secreto desde o início, nunca daria em cima de Tommy. Pelo pouco que tiveram a chance de se aproximar pôde perceber que Kat era do tipo romântica, politicamente correta. Nuca seria capaz de uma atitude oportunista. Era do tipo: princesa de um conto de fadas. E princesas típicas de idade média nunca saiam da conduta do bem.

“Kat não teria dificuldade caso nos reuníssimos... Trini adoraria ser uma das amigas dela”

Agora havia uma outra garota. Uma tal de Tanya. Não a conhecia, mas já sabia de algumas coisas: que substituiu Aisha como ranger amarela, cantava muito bem, era engraçada e que todos diziam que faria um casal perfeito com Adam. Soube também que era a melhor amiga de Kat.

Será que ela me teme de alguma forma?”

Demorou algum tempo para chegar a alguma conclusão. Não que fosse uma pergunta difícil, mas era simplesmente lembrar-se das circunstâncias.

Acho que não... o que aconteceu já me provou isso...” admitiu.

Tommy... Tommy... não fiz o certo...”

Desligou e colocou o laptop de lado. Fechou os olhos buscando um cochilo ou um momento de sono. Ainda nem estava anoitecendo, mas só queria um momento de tranquilidade. Queria não imaginar a vergonha de ter desmaiado na frente de toda aquela gente. Queria sossego.

Mas o sossego não veio. Ficou esperando, rolando na cama.

Sentou-se, pegou o laptop mais uma vez. Abriu a site da Google. O endereço abriu rapidamente. Ficou parada olhando para a tela sem saber o que fazer.

Hoje eu desmaiei e o médico disse que era por causa do estômago vazio... será que eu preciso mesmo fazer isso?” perguntou para si mesma.

Lembrou-se de como era seu treinamento em Alameda dos Anjos, que não era difícil quando comia praticamente de tudo e sentia-se bem com seu corpo. Se era tão bom nessa época, por que estava fazendo isso agora?

Depois lembrou-se que a Flórida não era a mesma coisa. Não estava em um pequeno ginásio sob supervisão de uma treinadora de escola. Era o ginásio de Gunthar Schimdt, um treinador importante que só treinava garotas com real talento. Dentre elas Leslie Reynolds que era famosa... da qual era uma grande admiradora. Que aquele não era seu mundinho antigo onde todos a admiravam, onde era o centro das atenções e incrivelmente popular. Agora não era ninguém... apenas uma aspirante. Lembrou-se dos movimentos de suas companheiras de treino: ágeis, leves e fortes e com todas as coisas que nem sonhava serem necessárias para chegar onde almejava. Leslie Reynolds era uma delas... ela era magra, leve...a cada vez que olhava seu corpo no espelho sentia-se nauseada. E pensar que antes a adorava...

“Eu preciso fazer isso... não há outro jeito.”

Acessou uma página que já tinha ouvido falar nas conversas das outras garotas. O que apareceu na tela foi uma tabela de calorias da qual começou a analisar, querendo saber o que podia cortar da sua dieta. Precisava perder peso urgente.

Horas depois Leslie entrou no quarto. O treino tinha acabado.

- Ufa...! Que difícil foi hoje... - pausa - Ficou sozinha o tempo todo?

- Fiquei.

- E o que ficou fazendo?

Fechou os sites em que estava navegando. Se ela visse acabariam tendo uma longa discussão.

- Fiquei conversando com uns amigos perdidos pelo messenger.

- Aquela sua amiga estava conectada? Ah... puxa, eu esqueço o nome dela... - estalou os dedos - Trini? Não é isso?

- Estava, fiquei conversando com ela... por algum milagre estava de folga hoje.

- Que bom. Queria ter tido tempo pra descansar, mas fazer o quê...? Ossos do ofício.

- Eu preferia ter treinado do que ficar aqui pelo motivo que fiquei.

- Mas pelo menos você caiu depois de ter acabado no último aparelho. Não caiu no meio.

- Mas foi um mico tremendo.

- Não fique assim. Você ainda tem duas etapas. - pausa - Mas agora vai ter que ficar mais atenta com a sua alimentação. Você não está atenta aos perigos...

- Sério, eu estou sim.

- Vai parar de fazer o que faz?

- Não posso, Leslie. Eu só consegui alguma coisa porque estou mais leve.

- E desmaiou porque está tentando fazer os exercícios de estômago vazio. Não tenta negar o porque ouvi o médico dizer.

- Não vai acontecer de novo.

- Se continuar vai ser desse jeito. Por acaso pode garantir que não vai desmaiar novamente?

- Eu preciso manter meu peso baixo.

- Todas nós precisamos, Kimberly. Por acaso acha que eu não sei? Tem noção de quantas meninas eu já vi saindo por causa desse tipo de coisa? Ficamos concentradas para não ter esse tipo de preocupação. Tem noção que como seria se não fosse assim?

- Leslie... - tentou interromper, não queria ouvir. Já conhecia essa história de cor e salteado.

- Eu vi! Eu dividi um apartamento com mais três meninas, duas bailarinas e outra ginasta. Todas vomitavam... todas pararam de comer...

- Eu já sei dessa história... já me contou um milhão de vezes.

Leslie parou e ficou sem ação.

- Vai continuar com isso?

- Vou.

- Vai acabar se dando mal com isso.

- Você fala como se estivesse limpa e faz exatamente o mesmo tipo de coisa.

Pararam. Era algo que daria muito pano pra manga. Daquele mesmo assunto podiam sair várias discussões.

- Vamos parar com isso, Leslie. Não quero brigar com você.

- Ótimo. - Leslie parou, engoliu em seco. Já estava se preparando para uma provável exaltação de ânimo. - Vamos parar por aqui. - pausa, preparando-se para sair de cena. - Com licença, vou tomar banho.

Kimberly sentiu-se culpada. Odiava fazer aquilo. Brigar com Leslie lhe deixava agoniada, mesmo porque ainda tinha algum resquício da antiga imagem mítica de grandes nomes do esporte. Além disso também era sua amiga. Significava tanto quanto Trini. Não podia perder nada.

Naquela noite seu sono teve altos e baixos. Seus sonhos foram povoados por imagens suas competindo, executando todos os exercícios sob olhares atentos e praticamente apavorados de Schimdt e seus auxiliares. A cada vez que saia dos aparelhos eram muitos aplausos: todas as execuções absolutamente perfeitas . E quando saiu o resultado e subiu no lugar mais alto no pódio foi uma ovação. Até Leslie lhe aplaudia. Isso mesmo: até mesmo a estrela Leslie Reynolds estava aos seus pés.

Seu problema foi acordar e perceber que ainda era aspirante. Que as únicas coisas que dividia com Leslie era o quarto, o banheiro e as atenções de Schimdt. Isso lhe trouxe uma certa amargura.

 

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Notas finais do capítulo

Essa história está postada também na minha conta do ff.net, e lá está mais adiantada, mas incompleta de qualquer forma. Mas, um dia acabo... incentivo ajuda, mas não espero mais por isso.



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