Always a Chance - não é tarde Demais escrita por Lara Boger


Capítulo 7
Capítulo 7




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Manhã.

Correios: estava a maior confusão. Uma seqüencia de erros dos empregados fez com que todas as correspondências se misturassem. Envelopes e caixas de todos os lugares.

- Ah, meu Deus... temos que colocar tudo isso em ordem já!! - gritava um dos superiores.

O envelope de Kimberly estava no meio delas, perdida, sem qualquer coisa que pudesse distingui-las, sem ser o endereço.

Os funcionários abaixaram para recolher tudo. Vários braços pegavam os envelopes de qualquer jeito. A carta caiu várias vezes das várias mãos que buscavam quantidades, sem saber a importância do que estava escrito.

Os treinamentos começaram do mesmo modo que começavam todos os dias. O barulho das outras garotas com seus gritinhos e soluços que indicavam choro contido não a incomodava. Tinha aprendido a não se deixar desconcentrar com facilidade. Parecia ter acordado com vigor.

Para sua alegria, Schimdt tinha colocado Leslie para treinar ao seu lado novamente. Ele devia ter percebido que seu rendimento aumentava.

- Já! - gritou o treinador observando os movimentos de Kimberly – Repita! Vá mais alto!

A diferença ocorreu a noite quando o cansaço começou a pesar. Schimdt era exigente mas pareceu-lhe com o humor mais brando.

- Perfeito, meninas! - pausa – Só mais duas e vocês duas podem parar. Primeiro Leslie e depois Kimberly.

As duas executaram o salto sobre o cavalo.

- Ótimo! Vocês foram muito bem! Agora vão descansar.

Kimberly não se lembrava de já tê-lo visto tão empolgado. Estava acostumado a uma personalidade sisuda, com arroubos de instinto paternal, mas nunca sorrindo tanto.

- Nossa! Estou exausta!

- Imagino, é o seu primeiro dia nesse ritmo, mas vai acabar se acostumando.

- Tomara...

Uma semana se passou. Kimberly habituou-se ao cansaço e as dores ainda piores que numa rotina normal, mas nada que uma ida a sala de fisioterapia não pudesse resolver.

Durante todas as noites seus sonhos mudaram drasticamente. Parecia ser mais uma noite tranquila, mas Tommy apareceu.

Viu-se deitada com ele numa cama aparentemente de hotel. Pareciam estar nus, cobertos apenas por um lençol. Sua cabeça estava sob o peito dele. Tommy acariciava-lhe os cabelos ruivos. Por um momento sentiu-se envergonhada porque eles não eram os mesmos desde aquele tempo. Seriam simplesmente ridículo se eles caíssem enquanto seu namorado lhe fazia um carinho.

- Por que veio, Tommy? Já tinha tanto tempo...

- Nem tanto tempo assim – pausa – Recebi sua carta. Vim te buscar.

- Me buscar?

- Sim, você pediu... disse que a vida estava um inferno e que me queria de volta.

- Eu não pedi, eu não escrevi nada disso.

- Então com isso pode ter aparecido escrito?

- Não sei. Não vivo um inferno. Não quero sair daqui.

- Kim... enquanto estivermos aqui, não teremos nenhuma chance.

- Tommy... por favor... acabamos de ter momentos maravilhosos, não estrague tudo desse jeito.

- Não estou. Foi você quem escreveu. Agora eu atendo o seu pedido e sou obrigado a ouvir isso? Vai ter de escolher.

- Eu já fiz essa escolha entes. Acredite, mas eu não me arrependo – o seu tom de voz tentava disfarçar a falta de confiança. - Eu faria de novo quantas vezes fosse necessário.

- Então é assim? Você está brincando comigo? Brincando com os meus sentimentos?

- Não estou brincando com ninguém! Você veio porque quis!

- Então... ? Então quer dizer que... - o tom perplexo com o qual iniciara a frase foi substituído pelo irônico. - Eu sou o culpado... eu cometi o erro... quer saber? Você está certa. Eu estou bancando o tolo aqui.

- Tommy... - viu-o levantar e pegar suas roupas, vestindo primeiro a calça.. - Não faça isso.

- Não faz isso? Por que não? Você acabou de me abrir os olhos! Estou mesmo fazendo papel de idiota... não sei porque eu vim...

- Você mudou muito... não era desse jeito. - disse Kimberly tentando fazê-lo voltar atrás.

- Eu mudei? Devo ter mudado muito mesmo. Meus cabelos cresceram! - disse irônico, mas conservando a seriedade – Será que não se olha no espelho? Foi você quem mudou!

- Eu não mudei. Continuo a mesma de sempre.

- É. Talvez não mesmo. Acho que era eu quem não te conhecia direito. - parou e olhou diretamente para os olhos de Kimberly com a camisa na mão.

Ouvir aquilo a feriu mortalmente.

- Tommy...

- Adeus, Kimberly

Viu-o sair sem fazer nada. Perdera a voz embora quisesse chamá-lo.

- Não!! - acordou repentinamente como se saísse de um pesadelo.

- Kimberly? O que foi? - Leslie perguntou, com a voz alarmada.

- Nada... foi só um pesadelo.

- Pesadelo? Puxa... acha que vai conseguir dormir de novo? Quer alguma coisa?

- Não, não... tá tudo bem.

- Tem certeza?

- Tenho, Leslie. Obrigada. - pausa – Vamos dormir porque amanhã vai ser duro.

Leslie não pestanejou. Estava com sono e dormiu imediatamente. Kimberly também estava cansada, mas não conseguiu mais fechar os olhos.

Tommy... não me deixa... não faz isso comigo...”.

Mas de manhã não deixou que sua má noite interferisse no seu treino., ou pelo menos fez o possível para que isso não acontecesse. Manteve sua concentração em cada movimento planejado já que os olhos de Schimdt não admitiam falhas.

- Mais força! Mais alto! Olha a posição das pernas!

Kimberly executou a saída das barras, mas por um erro acabou perdendo o equilíbrio. Voltou ao aparelho sem que ele mandasse. Caiu novamente.

- Droga! - bateu com a mão no alcochoado para aliviar a raiva.

- Precisa posicionar melhor as pernas. Vai melhorar seu equilíbrio.

Levantou, esticou os braços e alongou as pernas. Preparou-se para fazer novamente sua rotina.

Executou a entrada. Fez os movimentos com esmero. Fez a saída corretamente.

- Melhorou bastante. Quero oito completas. - pausa – Procure ir mais alto no salto e retomar as barras com mais força.

- Certo.

Schimdt afastou-se e foi em direção a Leslie que estava treinando no mesmo aparelho. Antes, enquanto tomava um gole dágua enquanto descansava um pouco, tentando fazer no chão o que seria a posição correta das pernas, Kimberly observou a rotina da colega.

- Isso! Vai! Cuidado! - disse antes de Leslie soltar, executar um mortal e retomar as barras – Vai! Perfeito!

Não teve disfarçar uma certa decepção. Leslie não cometeu nenhum erro grave. Apenas o mínimo. Tinha sido perfeita no momento do mortal. Tinha ido alto e retomado as barras com força, exatamente como havia lhe sido pedido.

Vamos parar de perder tempo. Preciso treinar”.

Começou a cumprir as ordens do treinador. Quando finalmente terminou chegou a uma conclusão: nunca conseguiria ir tão alto se continuasse com aquele peso. “Estou gorda... preciso emagrecer”.

Quando voltaram ao alojamento, Kimberly pareceu chateada. Leslie percebeu.

- Que houve? Foi o pesadelo de ontem?

- Não. Isso foi o de menos. Só estou irritada por causa do treinamento.

- Mas está indo tão bem! Foi alguma bronca?

- Não consigo ir alto nos saltos.

- Isso exige técnica. É uma questão de tempo.

- No meu caso é uma questão de peso.

- Do que está falando? Se estivesse o treinador já teria falado nisso.

- Mas estou.

- Já perdeu muito peso desde que chegou. Está bem assim.

- Não perdi o suficiente.

- Não começa, Kimberly. Não pode fazer o que está planejando. Ficamos concentradas para não ter esse tipo de problema.

- Sempre há maneiras. Foi você quem me mostrou.

- Nós não somos iguais. Eu não faço isso há mais de dois meses. Aqui tudo pode levantar suspeitas.

- Você ainda faz, eu sei disso. Vi que come ainda menos que nós. Vi que come os doces que a Adelle traz e vende escondida. E esses doces nunca aparecem na balança.

- Não tem que me imitar. Eu não sou exemplo pra ninguém, muito menos pra você.

- Eu sei fazer isso. Farei o que tiver de ser feito pra chegar onde eu quero. Foi você mesma que me mostrou qual era o caminho.

- Me arrependo até hoje por isso. Não precisa tomar esse tipo de atitude para chegar a algum lugar.

- Mais cedo ou mais tarde eu teria que lançar mão dessas armas.

- Vai acabar se dando mal. Schimdt vai acabar descobrindo e...

- Ele só vai descobrir se você contar.

O clima tornou-se pesado. Insuportável. Leslie engoliu em seco.

- Eu não vou falar nada pra ele... mas não pense que isso garante alguma coisa.

Leslie virou-se, continuando o que estava fazendo, e assim encerrou o assunto.

Kimberly ficou parada no mesmo lugar. Tinha acabado de tomar uma importante decisão. Sabia que não era a coisa mais certa a fazer mas sua consciência a respeito tinha mudado: nem sempre o certo era feito. Se antes condenava as atletas que faziam isso, agora as entendia. Era uma delas.

Foi ao banheiro e vomitou o jantar.

Leslie ficou sentada em sua cama ouvindo o barulho que era tão familiar e procurou se fazer de indiferente, mas aquilo era impossível. Era pedir demais.


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Notas finais do capítulo

Hãããã... mereço alguma review??



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