Who Knew escrita por Nunah


Capítulo 6
epílogo




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     Era o dia. O tão esperado casamento junto do Natal. Hera se encontrava nervosa no quarto de Zeus – as outras tinham a obrigado a se trocar lá - acompanhada de Afrodite e Deméter. A deusa do amor insistia em arrumar seu cabelo.

- Afrodite, por favor.

- Não, noivas sempre se atrasam. Você já se casou, Hera, senta ai e relaxa – ela dizia.

     Por mais que o que ela disse fosse verdade, Hera estava eufórica. Enquanto encarava aquela mulher no espelho, com seu batom vermelho e a tão linda flor em seu cabelo, que agora era arrumado em um coque fofo com alguns fios soltos, ela pensava em como seria sua nova vida. Se mudaria algo. Talvez ainda desse tempo de voltar atrás, coisa que ela realmente esperava da parte de Zeus.

- Pronto, está linda – ela viu Afrodite sorrindo pelo reflexo do espelho. Aquela mulher, assim como ela, amava casamentos.

- Seu buquê está na mesa, Hera, eu mesma fiz – disse Deméter – Tem algumas ervas e grãos de cereais, além de seus tão amados lírios.

- Vocês sabem que – Hera disse totalmente emocionada – me ajudaram bastante. Como poderei agradecê-las um dia?

- Ah, não, sem choro, vai borrar a maquiagem! – Afrodite exclamou.

     Hera riu diante a preocupação da amiga.

- Hora de se trocar – Deméter sussurrou segurando o vestido.

     Primeiro os sapatos – tão brancos quanto o céu estava nesse dia -, depois as luvas que iam até seu cotovelo, por último o vestido. O tomara-que-caia escolhido por ela tinha dado certinho; seu busto era adornado por rendas com desenhos delicados, assim como a barra. O resto – como ela pedira – era liso. Sem detalhe algum, como seu futuro esposo gostava. Até imaginava o que ele falaria “Fácil pra colocar, rápido pra tirar.” Ela sabia que ele não mudaria seu aspecto brincalhão, o que acabou conquistando-a tão bem. Só temia por ele não saber usar nas horas certas, mas esse não era o maior dos problemas.

- Ah, e aqui está meu presente pra vocês – disse Afrodite. As duas se viraram e a outra que segurava uma lingerie preta transparente jogava-a em cima da cama. Ela não tinha jeito mesmo.

     Zeus andava inquieto de um lado para o outro, estava ansioso, não sabia se ela desistiria. Tudo estava tão bonito, o Olimpo decorado com flores, praticamente todos que ali moravam tinham ido ao casamento. O altar, onde se encontrava, era um pequeno palco circular, embaixo de um arco de ferro, onde também tinham flores. Em vários lugares tinham velas para quando anoitecesse e Não sabia como Afrodite podia ser tão rápida para arrumar as coisas quando queria.

- Assim você vai fazer uma cratera no chão, sabia? – perguntou Poseidon ao seu lado, tentando acalmá-lo.

- É porque não é você – Zeus respondeu passando a mão pelo cabelo enquanto seu irmão revirava os olhos.

- Zeus, ela vai chegar.

- Como pode ter certeza? Depois que tudo que fiz a ela, Hera devia me deixar mesmo.

- Ah, pelos deuses, não comece com lamentações agora, não vai aco... – Poseidon parou de falar de repente, focando um ponto às suas costas. Zeus se virou para olhar e não se arrependeu.

     À luz da manhã, Hera caminhava lentamente sobre o tapete vermelho, neve caía por cima e em seus lados, dando um aspecto muito mais surreal, e as velas se acendiam a cada passo que dava. Seu batom, junto de sua tão prezada flor no cabelo se destacavam entre o branco da paisagem. Mesmo longe, ele podia vê-la sorrindo, aquele mesmo sorriso de felicidade que há tanto ela não mostrava. De tão entorpecido pela linda visão de sua boneca, não percebeu que estava de boca aberta, enquanto Hera se postava ao seu lado e ele depositava um singelo beijo em sua testa.

- Pensei que não viria – ele sussurrou.

- Digo o mesmo a você.

- Eu, Hera, prometo amar-lhe e respeitar-lhe até os últimos dias de nossas vidas, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe – ela disse, colocando a aliança no dedo de Zeus enquanto esse sorria.

- Eu, Zeus, prometo amar-lhe e respeitar-lhe até os últimos dias de nossas vidas, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe. E, dessa vez, juro que vou cumprir com minha promessa – ele disse, colocando o anel em seu dedo.

     Um homem entregou-lhes duas coroas feitas por Ártemis. Tinham fitas prateadas adornadas com pequenas folhas e orvalhos. Eles sorriram antes de coroar um ao outro. Zeus segurou seu rosto perto do dele, olhando naqueles olhos castanhos que tanto choraram, enquanto roçava seus lábios nos dela, ouvia as últimas palavras do homem.

- Então eu vos declaro marido e mulher. O noivo já pod...

     O coitado nem precisou terminar a fala, pois há muito Zeus já tinha pulado essa falação toda e partido para a melhor parte, demonstrando seu amor em público e a beijando na frente de todos.

- Você simplesmente acabou com o meu batom – ela disse fazendo todos rirem.

- Pois eu duvido que isso vá dar certo – falou uma das ninfas se aproximando e as outras concordaram.

- É melhor sairem daqui e irem se acostumando, antes que eu jogue uma maldição em vocês, suas desesperadas – disse Afrodite em pé, com os sapatos na mão e as ninfas sairam correndo rapidinho.

- Já podemos ir agora? – Zeus estava repetindo as mesmas palavras desde a hora da cerimônia, enquanto Hera dizia que tinham que ficar até tarde, mas agora já eram quase meia noite.

- Tudo bem, vamos embora, mas primeiro vou avisar Afrodite, ela quer saber quando iremos usar o presente que ela deu – Hera disse sorrindo.

- Que presente?

- Você vai ver. Hey, Afrodite! – ela gritou chamando a deusa.

- Diga, meus pombinhos – Afrodite disse quase quicando no lugar.

- Nós já vamos – Hera disse.

- Espero que goste do presente, Zeus – ela disse com um risinho.

- Mas o que tem de mais esse presente? – Zeus disse entre os muitos beijos que dava no pescoço de Hera enquanto adentravam o quarto.

- Em cima da cama – ela disse e ele olhou. Hera segurou a lingerie pela ponta do dedo.

- Wow, não sei se mereço tudo isso – ele disse com aquele sorriso maroto.

- É, estou pensando seriamente nisso.

- Prometo que tomo cuidado com a sua flor dessa vez – ele disse, tirando-a do penteado. E parando para observar sua esposa - Você tá linda. O vestido é maravilhoso, simples, mas maravilhoso. Fácil pra colocar, rápido pra tirar.

- Sabia que diria isso – ela disse e ele novamente a beijou, trazendo-a pra cama.

     Era noite de Ano Novo, faltavam alguns minutos para a virada do ano e os olimpianos tinham se reunido novamente. Zeus e Hera estavam mais juntos do que nunca, ele só tinha olhos para a esposa e ela se dedicava novamente a ele, mas dessa vez, com mais vontade. Athena e Poseidon já tinham assumido o romance, apesar de ele ainda ser casado com aquela mulherzinha metade peixe. Todos já estavam até se acostumando com uma surpresa atrás da outra. Por um milagre, Apolo e Ártemis não estavam mais brigando como antes. Talvez porque descobriram o verdadeiro significado do Natal e agora querem se redimir pelas brigas anteriores, mas enfim.

     O Senhor dos Céus e sua esposa estavam juntinhos, ela em seu colo, sendo abraçada por ele. Os dois conversavam e trocavam carinhos, nada mais que o normal. Graças ao amor eles tinham se entendido e isso deixava o Olimpo repleto de paz e Afrodite ainda mais feliz, como ela dizia, agora era a época para espalhar o poder do amor.

     Athena e Poseidon também estavam abraçados, não se importando com os olhares curiosos dos outros. Os dois observavam o céu.

- Sabe... Eu ia esperar até depois, mas não consigo – disse ele – Não sou tão bom quanto Zeus em fazer isso mas... – ele tirou um anel de prata com uma esmeralda do bolso – Quer se casar comigo?

- Mas e Anfitrite?

- Ela desapareceu. Sumiu do mapa. Desconfiamos que ela tenha fugido por algum motivo, mas em sua carta apenas dizia para deixá-la em paz. Então, quer se tornar a nova Rainha dos Mares? – ele perguntou novamente e ela assentiu diversas vezes como se não estivesse acreditando no que acontecia, já não era mais possível conter as lágrimas, ela se tornara fraca pra isso. Mas tinha um bom motivo. Athena o abraçou, ficando perto o suficiente para sussurrar:

- Feliz Natal atrasado, papai – ela disse e sentiu-o em choque.

- V-você... E-eu...? – ele tentou e ela assentiu novamente, abaixando a cabeça, esperando por algum sinal de decepção – EU VOU SER PAI, ZEUS – Poseidon chamou – EU VOU SER PAI – ele dizia de braços abertos e ela ria.

     Novamente em seus braços, Athena pôde perguntar:

- Você vai assumir?

- Se eu vou? É claro que eu vou! O que eu mais quero é você ao meu lado pela eternidade e se tiver uma criança, um filho nosso... Melhor – ele pegou seu rosto – Eu te amo. E vou amá-lo também.

- É uma menininha – ela disse, deixando-o mais uma vez paralisado.

- Bem, isso vai ser novo pra mim mas, eu me acostumo.

     Enquanto ele se ajoelhava para poder pelo menos sentir sua filha na barriga de sua futura esposa, fogos de artifício iluminavam o céu negro, deixando mais um ano para trás.

     Aqueles treze anos haviam trazido um pouco mais de trabalho à deusa da sabedoria, que – mesmo de madrugada – ainda estava em pé, em sua biblioteca, analisando alguns papéis.

- Mãe? – ela ouviu a doce voz da menina que tanto amava.

- Sim, meu amor? – ela disse, levantando os olhos – Não deveria estar dormindo?

- A senhora também deveria, não é?

- Não posso, querida, tenho que trabalhar.

- Mas, mãe, todos aqui tem a eternidade pela frente. Não precisa se matar de trabalhar.

- Eu sei, filha, mas é preciso – ela suspirou – Quer ouvir uma história?

- Acho que já passei dessa idade, sabe...

- Mas não é uma história qualquer – ela disse enquanto se sentava no sofá e as lindas esmeraldas da garota brilhavam de curiosidade – Vou contar a minha história. Minha e de seu pai.

- Posso me juntar? – disse uma voz grossa. Poseidon apareceu de bermuda em uma das portas, parecia que tinha acabado de acordar. Ele tinha sono leve no Olimpo pois, eles moravam no mar, mas como Athena estava tendo muito trabalho, estavam passando uns tempos lá e ele já não estava tão acostumado.

- Claro. Pelo jeito, vou precisar da sua ajuda – Athena disse – Quer começar?

- Seria um prazer – ele se sentou no outro sofá – Há muito e muito tempo, mais de cem anos, eu pedi sua mãe em namoro pra Zeus. Ele concedeu, muito contrariado pois, todos sabiam que eu, assim como ele, tinha fama de safado pegador e ele temia pela sua filha. Acabou que eu me envolvi com outra mulher, uma que nem chegava aos pés de sua mãe, mas eu não liguei e, em pouco tempo, ela se tornou uma segunda namorada. Um dia, nós estávamos juntos, e queríamos privacidade. Eu, como já estava acostumado, entrei no primeiro lugar que vi. Quando percebi Athena parada à porta, vi que era seu templo e a culpa caiu sobre mim. Eu a havia desrespeitado em todos os aspectos. Até sua honra divina eu tinha atingido. Aquele foi o pior erro que cometi, ainda tenho vontade de me matar por isso.

- Foi naquela hora que Medusa foi amaldiçoada por mim. Eu, tomada pelo desespero, jurei virgindade eterna. Jurei que nunca mais iria me apaixonar. Mesmo não jurando pelo Styx, uma promessa eu consegui cumprir. Pois, eu não me apaixonei novamente, nunca deixei de amar Poseidon – disse ela com o olhar longe – À partir daquele dia, eu comecei a negar esse amor, transformando-o em um ódio incompreensível. Vivíamos brigando. Não conseguíamos mais conviver. Discordávamos em tudo. Até que, graças a Hera, nós nos declaramos e aqui está você.

- Um dia você vai saber a história detalhadamente – disse Poseidon.

     A garota saiu correndo, tomada pelas lágrimas que desciam por sua face, soluçava alto, cada vez mais se afogando nos próprios pensamentos. Percorreu uma grande extensão com os pés até ver que estava parada na porta do quarto de Zeus e Hera.

- Acalme-se!

- Eu preciso pensar... Respirar.

     Ela os ouviu discutindo e logo a porta se abriu, Zeus passou como se nem a tivesse visto e a expressão de Hera logo se modificou ao ver o estado da menina.

- Minerva, o que foi? – ela perguntou a abraçando – Vem.

     As duas deitaram na cama. Minerva tinha os braços passados pela cintura de sua tia e a mesma afagava seus cachos.

- E-eu... Eu não sei. Meus pais contaram um pouco da história deles e... Me deu vontade de chorar, então saí correndo – ela fez uma pausa – Vocês estavam brigando, tia?

- Nós... Apenas discutindo um pouco, mas não é nada sério, ainda bem.

- O que foi?

- Como você deve saber, eu sou uma deusa proibida de ter filhos...

- Sim.

- E eu estou grávida – Hera disse – Zeus não estava brigando. Ele só ficou chocado com a notícia... Depois de tanto tempo...

- Tomara que vocês se acertem, eu quero ter um primo – ela disse e as duas riram antes de cairem no sono.

    

     Hera e Minerva adentraram a Sala dos Tronos e deram de cara com um Zeus sorridente.

- Olhem só quem eu achei perdida por ai – disse Hera apontando a filha de Poseidon e Athena, que correu para os braços da mãe, que agora estava sentada no colo do marido.

- Então, Zeus, qual é a grande notícia que não pode esperar? – perguntou Ares, depois que Hera se sentou no trono.

- Hera está esperando um bebê, e ele nascerá – ele disse firme. E ela não pôde conter a alegria. Pulou em seu colo, dando vários selinhos – Vou ser um pai pra ele – ele sussurrou enquanto os outros comemoravam.

- Você é o pai dele, Zeus.

- Mas eu vou ser para ele o pai que eu nunca fui para mais nenhum – ele disse e Hera viu um vestígio de culpa e remorso passar por seus olhos azuis – Eu estou tão feliz – ele confessou emocionado e a única coisa que ela quis fazer foi beijá-lo até perder as forças.


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