Mit Dir escrita por Chiisana Hana


Capítulo 4
Capítulo 3 - Bisbilhoteiros




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MIT DIR

Chiisana Hana

Beta-reader: Nina Neviani

Consultoria para assuntos asgardianos, dramáticos e geográficos: Fiat Noctum

Capítulo 3 - Bisbilhoteiros

Na tarde do dia seguinte o emissário que Linus enviara a Asgard retorna a Narvik, acompanhado de uma criada do palácio. A moça se recusara terminantemente a deixá-lo trazer sozinho os pertences das princesas, e ele foi obrigado a trazê-la consigo. Agora acabara de deixá-la no hotel onde as princesas estavam hospedadas.

– Judith! – exclama Freya ao abrir a porta de seu quarto no hotel e ver a criada. A moça serve no palácio desde os quatorze anos, ajudando sua mãe, cozinheira, e costumava brincar com Freya na infância, tornando-se uma boa amiga da nobre.

– Altezas! – exclama a criada, fazendo uma mesura. – Estava tão preocupada com as senhoritas!

– Estamos bem, Judith – Hilda explica, cumprimentando a criada com um semblante penoso.

– Graças a nosso bom Odin – a criada fala. – Trouxe as roupas das senhoritas e dinheiro também, conforme as instruções da carta que enviaram. Não achei o sujeito de confiança, por isso vim junto.

–Por que o rapaz não seria de confiança? – Freya pergunta, pegando sua mala e abrindo-a.

– Ele tinha um olhar de bisbilhoteiro, senhorita Freya. Parecia estar gravando todos os detalhes do palácio. Não gostei dele!

– Que exagero, Judith. O rapaz devia estar apenas encantado com o palácio. Não é todo dia que as pessoas têm a chance de conhecer Valhalla. Ah! Meus vestidos! Que maravilha!

– Trouxe apenas os menos volumosos, senhorita – explica Judith, quase pedindo desculpas.

– Tudo bem, Judith. Adoro estes. E com o dinheiro que você trouxe poderemos comprar roupas aqui! Judith! Eu vesti uma calça jeans! – exclama Freya, bastante empolgada com a novidade.

– Como?

– Calça jeans, Judtih! – Freya diz, pegando a calça que estava no armário. – Isto é uma calça jeans!

– Calças são roupas de homem! – retruca a criada, indignada ao imaginar a princesa usando roupas masculinas.

– Ai, isso em Asgard, que parou no tempo! Aqui também é roupa de mulher!

– Se a senhorita diz... mas eu prefiro esses lindos vestidos de princesa.

– Eu gostei de usar calça. Hilda, por que está tão calada? – Freya pergunta, largando a calça. – Achei que fosse dizer algo como "Freya, você está muito moderninha, querida.", mas você parece nem ter ouvido o que eu disse.

– Estava apenas pensando, Freya – ela responde, sentada numa poltrona, com as mãos sobre o colo e o olhar distante. – Como estão as coisas em Asgard, Judith?

– Vão bem, senhora. O tempo melhorou bastante, está praticamente normal para época do ano.

– Fico feliz – Hilda diz, ainda com o olhar distante.

– Como estão os senhores guerreiros-deuses?

– Ainda estão muito mal, Judith – explica Freya. – O Hagen corre o risco de perder alguns dedos.

– Que pena, senhora. Um moço tão jovem... – lamenta-se a criada, sinceramente.

– Vem cá, Judith – Freya diz, puxando a criada pelo braço. – Eu sei que esse seu interesse é especificamente num dos guerreiros-deuses.

Judith cora. Em certa ocasião tinha comentado com Freya que se interessava por um rapaz, mas não imaginava que ela soubesse quem era.

– Imagine, senhora! Sou apenas uma criada.

– É o Shido, não é?

– Não, senhorita – Judith responde, ficando ainda mais vermelha. Ela tenta mudar de assunto: – As senhoritas precisam de alguma coisa? Estou aqui para servi-las.

– Não precisamos de nada, Judith – Freya se apressa em dizer. – Estamos bem. Faltavam apenas as roupas e o dinheiro, agora já não faltam mais. E pare de mudar de assunto!

– Então serei inútil aqui – lamenta-se a criada.

– Nós vamos gostar da sua companhia – a irmã mais velha se manifesta com o mesmo olhar distante.

– Obrigada, senhora.

– Eu quero saber desse seu interesse pelo Shido! – Freya exclama, puxando Judith pelo braço.

– Freya, deixe Judith em paz – Hilda pede.

– Ahhhh! Hilda! – protesta Freya, pulando no colo da irmã. – O que é que há? – a menina pergunta, assumindo uma postura séria. – Está pensando no Siegfried, não está?

– Estou pensando em tudo isso – corrige. Uma lágrima solitária desce pela face da princesa de Asgard. – Quando é que isso vai acabar, Freya?

– Ah, irmã, isso nem começou. Infelizmente. Você viu aquela médica insolente dizer que a recuperação deles será demorada.

– Queria pegar todos eles e voltar para casa.

– Não podemos desanimar, Hilda! Eles precisarão de nós.

– Eu sei – ela diz com pesar e se levanta da poltrona. – Bom, vamos nos trocar. Temos que ir para o hospital. Judith, você vai conosco.

– Sim, senhora – ela responde, animada com a possibilidade de aproximar-se de seu amado.

–M -I -T -D–I -R -

Na prefeitura de Narvik, o prefeito Linus conversa com o homem que enviara a Asgard, na verdade, seu irmão Lars Jensen.

– Então, Lars, como está Valhalla? – questiona Linus, próximo da janela.

– A guerra parece ter sido intensa, Linus – o homem começa a explicar, sentado numa poltrona, com os pés sobre a mesa. – Uma sala do palácio está destruída e o pátio tem grandes rachaduras.

– Hum... bom saber.

– Parece que foram uns tais de guerreiros de Athena. É um tanto ridículo isso, não? O que esses tais guerreiros poderiam fazer em Asgard? Tomar o poder da princesa? Para quê? Asgard fica no meio de lugar nenhum. Quem quer aquela droga gelada?

– É, quem quer...? – Linus diz, ainda próximo à janela, mantendo o olhar fixo no horizonte.

– Tive que trazer uma criada comigo.

– Tudo bem, uma criada não vai me atrapalhar, Lars. Eu tenho planos para essas princesas.

– Conhecendo você como eu conheço, imagino quais sejam. Bom, tenho que ir. Já perdi muito tempo com essa viagem idiota.

– Não reclame. Eu paguei bem. Mais do que você merece. Veja se não se mete em encrencas. Não quero ter de tirar você da cadeia outra vez.

– Quando o dinheiro acabar, eu volto.

– Como sempre.

– Falou, irmão – Lars diz, saindo e batendo a porta com força. Linus detém-se em seus pensamentos.

–M -I -T -D–I -R -

Hilda, Freya e a criada chegam ao hospital. A recepcionista cumprimenta as três.

– Bom dia, princesas! – a moça diz, sorrindo largamente.

– Bom dia, Karin. Como vai? – responde Hilda.

– Muito bem, senhoritas. Tenho boas notícias. O senhor Alberich recupera-se bem da cirurgia. Vai sobreviver. E o senhor Bado poderá ser transferido para a enfermaria ainda hoje.

– Finalmente boas notícias – alivia-se Hilda.

– Hum... que pena que não foi o Shido, não é, Judith? – instiga Freya, fazendo a criada corar.

– Senhora...por favor.

– Só falta a doutora Ann liberá-lo pessoalmente.

– Fico feliz. E Siegfried, como está? – Hilda pergunta.

– Estável, senhorita.

– E Hagen? – pergunta Freya, ansiosa. – A doutora já decidiu o que fará com ele?

– Não sei dizer, senhorita.

– Ah, isso é tão angustiante – Freya diz, levando as mãos ao rosto.

– A doutora está chegando, por que não pergunta a ela? – a recepcionista diz ao ver Ann entrando no hospital.

– É, né? – Freya diz, já se aproximando de Ann, que entrava no hospital com a cara amarrada de sempre.

– Deixe que eu falo com ela – intercepta Hilda. – Bom dia, doutora.

– Bom dia – Ann responde automaticamente, sem dar muita importância à princesa.

– Gostaríamos de saber se já decidiu o que vai fazer com o Hagen.

– Por mim, cortaria os dedos dele agora mesmo, mas ainda pode ser que ele se recupere e eu não quero problemas por ter feito a amputação logo. Vou dar uma olhada nele. Depois digo mais alguma coisa.

Hilda e Freya ouvem a explicação disparada pela médica e assim que ela se afasta, Freya comenta, fazendo cara de nojo:

– Ela é tão intragável!

–M -I -T -D–I -R -

Ann entra na UTI acompanhada da enfermeira-chefe e examina Bado minuciosamente. O guerreiro-deus já recuperara a consciência e observa a médica com atenção: os olhos azuis gélidos e impessoais, os cabelos falsamente negros, o rosto largon e anguloso. Depois de examiná-lo, ela diz, olhando de soslaio para ele:

– Leva para a enfermaria que a UTI custa caro.

– Certo, doutora – responde a enfermeira, enquanto Ann se dirige ao leito vizinho, do gêmeo de Bado.

"Até que são bonitos esses gêmeos... ", pensa a médica, sorrindo de tais pensamentos. "Em breve suspenderei os sedativos desse aqui." Em seguida, ela vai até Mime e constata que também ele já está melhor. "Daqui a pouco, mais dois na enfermaria para aquelas duas cuidarem. Ai, ai. As duas princesas virgens de Argard. Sim, porque eu tenho certeza que são virgens! Coitadas!". O leito seguinte é o de Alberich, o "rosinha". "Você me deu trabalho ontem, hein, rosinha? Ainda bem que melhorou. Não gosto de paciente teimoso no meu hospital. Hummm... Esse rosinha também não é de se jogar fora, só que esse tufo cor-de-rosa na cabeça é absolutamente ridículo."

Na outra UTI, Fenrir é o primeiro. "Número cinco, número cinco. O azarado. Como é seu nome mesmo? Fenrir, né? Baixinho estranho. Se estiver me ouvindo, reze pra não ter nenhum problema nessas fraturas. Já pensou em ficar sem suas duas pernocas? Acho bom pensar, porque se eu tiver que arrancá-las, eu vou fazê-lo sem dó nem piedade." Ann continua sua visita à UTI. O próximo leito é o de Thor. "Agora o grandão. Eu bem que gostaria de saber do que isso tudo aí é capaz." Ela pensa, levantando o lençol sem pudores. "Será que é propaganda enganosa: promete muito, cumpre nada?" Ela ri, enquanto passa para o leito de Hagen. "O loiro bronzeado." Ann o examina seriamente e com o devido cuidado. "É. A partir de amanhã, você vai virar o loiro bronzeado cotó. Vou cortar seus dedinhos. Quem mandou não ficar bom? Não posso fazer nada por você, bronzeadinho. Sua namoradinha virgem está lá fora toda afilta. Ela vai ter que se conformar com um namoradinho com dois ou três dedos a menos." Ann levanta o lençol tal qual fez com Thor. "Hum... não é de se jogar fora. Por que não dá logo um chega mais na princesinha virgem, seu idiota? Em Asgard não deve ter muita coisa pra fazer." Do leito de Hagen, ela passa para o de Siegfried. "E por último, o homem que caiu do céu. O que é que eu faço com você, hein? Você não reage. Não vai ficar em coma anos a fio, vai? Esse tipo de paciente enche o saco. Enche muito o saco. Enche muito." Ann sai da UTI ainda rindo de seus pensamentos.

–M -I -T -D–I -R -

Bado é transferido para a enfermaria. Hilda e Freya vão vê-lo. Judith, entretanto, não entra no recinto. A enfermaria masculina do Hospital Municipal de Narvik tem seis leitos, apenas mais um deles está ocupado.

– Bado! Que bom que já está melhor – Hilda diz, aproximando-se da cama. A expressão de Bado é tranqüila. A barba de alguns dias lhe dá um ar mais velho, mas fora isso, parece bem.

– É, estou bem. Sinto apenas um leve torpor. Nada demais.

– Provavelmente por causa dos remédios que lhe deram na UTI.

– E Shido, como está? – ele pergunta temeroso.

– Ele também está aqui e está melhorando – Hilda diz, minimizando o estado de Shido para não preocupar demais o outro gêmeo.

– Eu acho que o senti a meu lado na UTI.

– É, ele estava do seu lado. Talvez ele não fique mais muito tempo lá. Vamos torcer por isso.

– Vamos – Bado diz, aliviado. – E quanto os outros?

– Thor e Mime também estão melhores. Alberich precisou ser operado outra vez. Fenrir também já passou por duas cirurgias porque quebrou as duas pernas... Ele, Hagen e Siegfried estão em estado mais delicado.

– A senhorita acha que todos vão ficar bem?

– Preciso acreditar que sim.

– Então acho que preciso acreditar também, apesar de não ter tido bastante contato com eles, sempre os observei, afinal eu era o Tigre das Sombras, não era?

– Sim... Sei disso. E sei também que eles vão gostar de você tanto quanto gostam de Shido. Todos serão grandes amigos.

– Não tenho tanta certeza assim, princesa Hilda.

– Não pense nisso agora. Hoje eu vou ficar aqui com você.

– Obrigada, mas não acho que deva ficar aqui. Não se preocupe comigo.

– Hilda e eu viemos para cuidar de vocês e é o que vamos fazer – Freya diz, trazendo Judith para dentro da enfermaria. – Tem mais alguém conosco. Judith vai nos ajudar.

– Bom dia, senhor Bado – a criada murmura, olhando para baixo e corando. A semelhança com Shido chega quase a incomodá-la. Não pensava que fossem tão parecidos como diziam.

– Bom dia – Bado responde, olhando-a intrigado, perguntando-se por que aquela jovem estaria ali. Já tinha visto a moça no palácio e sabia que se tratava de uma criada.

– Judith – Hilda chama a criada –, leve Freya para o hotel. Eu passarei esta noite aqui.

– Sim, senhora.

– Eu quero ficar com você, Hilda! – exclama Freya.

– Não se preocupe comigo, querida. Vou ficar bem. Vá descansar porque teremos dias difíceis.

– Está bem – Freya concorda resignada e abraça a irmã. – Até mais, querida.

Bado, Hilda e o segundo paciente da enfermaria ficam a sós. O outro homem dorme profundamente.

– Então, senhora, o que faremos agora? – Bado pergunta, olhando a princesa de Asgard nos olhos.

– Agora espero que todos vocês se recuperem. Quando voltarmos a Asgard, tudo será como antes, com a diferença de que minha guarda pessoal aumentou.

– Sim... Fico lisonjeado por me admitir oficialmente em sua guarda.

– Amanhã quer tentar fazer essa barba? Eu posso ajudar.

– A senhorita? – Bado pergunta, um tanto incrédulo e envergonhado. – A senhorita é uma princesa.

– Finja que eu não sou. Você vai precisar de mim para coisas muito mais indiscretas que fazer a barba – ela diz e cora. – Ou acha que conseguirá ir ao banheiro sozinho com esse soro pendurado aí no braço? Eu terei que ir com você.

– Ah... por Odin... a senhorita...?

– Não se preocupe. Estou aqui exatamente para ajudá-los. Agora durma. Se precisar de alguma coisa estarei aqui.

Bado adormece. Minutos depois, Hilda, sentada numa cadeira, também adormece. A princesa tem um sonho confuso...

Asgard.

No bosque nas redondezas do Palácio de Valhalla, Hilda corre em desespero, fugindo de um inimigo invisível.

– Siegfried! Siegfried! – ela grita, enquanto corre mais rápido que pode. – Onde você está?

Continua...



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