Mit Dir escrita por Chiisana Hana


Capítulo 29
Capítulo 28 O Fim da Festa




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Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

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MIT DIR

Chiisana Hana

Capítulo 28 – O Fim da Festa

– Finalmente acabou – Judith suspira ao ver os últimos convidados deixando o pátio do palácio. Já é madrugada e apenas meia dúzia de bêbados ainda dança mesmo sem música. Sentada na escadaria, bem acompanhada por uma garrafa de vinho, ela sente-se realizada por ter feito do casamento da princesa um evento perfeito. Divide esse sentimento com a tristeza e a frustração pela briga com Shido. Nos dois meses de relacionamento, ele tinha sido carinhoso, demonstrava realmente ter boas intenções, nunca tinha sido rude com ela e os dois viveram momentos muito agradáveis juntos. Mesmo assim, embora ela procurasse ignorar, ele dava pequenos sinais de que não se acostumaria a uma mulher independente. Era gentil com Ann e Bado, mas fora da vista dos dois costumava comentar sobre a "falta de modos e a boca suja da mulher do irmão" e que Bado "devia arrumar alguém melhor". Ao ouvir essas coisas, Judith sempre se perguntava se o melhor para Bado não seria a mulher que ele amava.

Shido também deixara escapar várias vezes que, apesar de serem seus colegas guerreiros-deuses, Hagen e Siegfried não eram maridos adequados para as princesas por não serem de origem nobre.

Essas coisas vinham fazendo com que ela adiasse aceitar o pedido de casamento. Quando ele declarou que não gostaria que ela trabalhasse, Judith finalmente tomou sua decisão.

– Agora que eu encontrei meu lugar no mundo – ela murmura consigo mesma enquanto beberica o vinho –, que eu tenho meu dinheiro e posso até comprar uma joia de vez em quando sem ter de pedir a ninguém? Eu não vou abrir mão disso! Nem para ser esposa do Shido.

– Falando sozinha, senhorita Judith? – a voz conhecida de Thor indaga. O guerreiro-deus também senta na escadaria.

– Sim – ela responde sorrindo. – Aceita um pouco de vinho?

Thor aceita e bebe um gole diretamente da garrafa. Os dois conversam sobre a festa até serem interrompidos.

– Então é isso? – Shido grita, surpreendendo-os. – Você já me trocou pelo Thor?

– Não diga besteiras, Shido – Thor diz calmamente. – Só estamos conversando.

– Não falei com você, falei com ela! – Shido rebate.

Judith revira os olhos, sem conseguir acreditar na cena de ciúmes que Shido está fazendo.

– Esse tipo de atitude só faz com que eu confirme minha decisão – ela diz, levantando-se da escadaria. – Se você quer mesmo que haja uma chance, uma chancezinha mínima de eu aceitar voltar pra você, vai ter que provar que merece. E, definitivamente, esse não é o caminho. Boa noite pra vocês.

A chefe de cerimonial sai pisando duro, com o coração aos saltos, mas muito certa de sua decisão.

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Ann e Bado voltam para casa na charrete vermelha comprada há pouco tempo. A médica sempre ri ao pensar que trocara o carro conversível por uma charrete e, principalmente, que está feliz por isso. Ao chegarem, deparam-se com uma garota loira de ar entediado e maquiagem um tanto borrada sentada na soleira. Uma mochila grande está ao lado dela.

– Ann? Você é a Ann, né? – a garota pergunta, reconhecendo no rosto da mulher alguns traços de alguém que ela conhecia muito bem.

– Sou – Ann responde desconfiada. – E você quem é?

– Eu sou a sua irmã.

– Tá doida? A outra filha do meu pai ainda deve ser criança.

– Eu já tenho dezesseis anos.

– Tudo isso? E o que você tá fazendo aqui, porra? Como é que você me achou? Asgard é depois do fim do mundo!

– Bom, eu fugi de casa. Fui para Narvik, mas lá me disseram que você tinha vindo pra cá. Primeiro eu ri, depois resolvi vim ver qual é. Não tava fazendo nada mesmo.

– Você quer me ferrar, né?

– Bem-vinda a Asgard – Bado diz, apressando-se em cumprimentar a moça. – Finalmente conheço alguém da família da Ann! Eu sou Bado, o marido dela.

– Kari – ela diz, olhando intrigada para o homem de cabelo espetado que usa um estranho fardão militar.

– Vamos entrar, não é? – ele convida, abrindo a porta e levando a mochila de Kari para dentro. Ann entra atrás deles.

– Você vai voltar na primeira barca – ela diz, apontando para a irmã.

– Não vou, não – Kari rebate.

– Eu nem conheço você, cara. Mal sei seu nome. A última vez que eu a vi você tinha, sei lá, dois anos!

– E daí?

– E daí nada! – Ann grunhe de volta. – Você vai se mandar daqui.

– Acho que vocês podem descobrir muita coisa em comum – Bado diz, rindo. Acha divertida a discussão e quer ver até onde a coisa vai.

– Ah, não! – Ann berra. – Para com isso! Que merda vamos fazer uma adolescente em casa?

Bado quase comentou que ia dar no mesmo, que ele já tinha uma, só que ela na verdade tinha trinta e três anos, mas resolve ficar calado para evitar perder a esposa.

– Garota, aqui não tem nada pra fazer! – Ann continua gritando. – Não tem balada, não tem shopping, não tem McDonald's, não tem nada. Acho que nessa merda nem tem adolescente.

– Ótimo. Não gosto de balada. Não gosto de hambúrguer. Não gosto de adolescentes espinhentos. Gosto de sossego e do meu caderno de desenho.

– Então você vai gostar daqui, Kari – Bado diz, achando tudo muito engraçado. Apesar de não terem convivido, ele acha que as irmãs têm personalidades muito parecidas.

– Não incentiva! – Ann grita. Kari já está sentada no sofá, com os coturnos em cima dele.

– Vou arrumar um cantinho pra você, Kari – Bado diz e Ann o fuzila com o olhar. – Está com fome? Deve ter esperado bastante por nós.

– É, eu to com fome. Seu marido é legal, Ann.

– Muito – Ann responde irritada. – Até demais.

Bado vai para a cozinha, deixando as duas a sós. Como terá de ficar com Kari pelo menos até o dia da próxima barca partir para o continente, Ann resolve resignar-se.

– Como é que meu pai está? – ela pergunta, empurrando as pernas de Kari para baixo e e sentando-se no sofá.

– Tá ótimo. Liguei pra ele uns dias depois de fugir e falei que estava indo conhecer minha irmã. Ele riu e falou que já esperava que eu me mandasse porque sou parecida demais com você.

– Para. Pode parar. Não somos parecidas.

– Viu? – Bado indaga ao retornar para sala com uma caneca de suco e torradas com queijo. – Vocês já têm coisas em comum. As duas são fujonas!

– Você para também ou eu te mato – Ann ameaça.

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Na tarde seguinte, uma carruagem para na frente da casa onde Judith mora com a mãe. Shido bate à porta e é a própria Judith quem atende.

– Oi, Shido – ela cumprimenta. O nobre traz um buquê de flores e uma caixa de presente. Parece não ter dormido, embora esteja bem vestido.

– Me perdoa? – ele indaga, oferecendo a ela o buquê e o presente. Judith não os pega. Está pensando se deve aceitar ou não. Ele prossegue. – Eu não sei mais viver sem você, Jud.

– Você não está achando que vai me comprar com presentes, está?

– Não, não é nada disso. Só trouxe um mimo.

– Se for daquele jeito, eu não quero, Shido.

– Juro que não me meto mais no seu trabalho.

– E jura também que não vai falar de casamento pelos próximos meses? Porque eu só vou aceitar quando eu tiver certeza de que você mudou.

– Sim, eu prometo. Eu só não quero ficar sem você. Me dá uma chance de provar que eu posso mudar.

Judith pondera por alguns segundos. Shido parece miseravelmente fofo com aquele buquê de rosas e o presente nas mãos, aquelas olheiras enormes e a cara de cachorro abandonado.

– Você tem sua chance – ela diz, pega o buquê e o presente, e surpreende Shido com um beijo.

– Não vou desperdiçá-la – ele diz, depois de retomar o fôlego, e beija Judith novamente.

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Três meses depois.

– E aí? – Kari pergunta ao gigante que acabara de chegar ao hospital. Ela foi ficando, ficando, e Ann acabou acostumando-se à presença dela. Entretanto, a médica exigiu que ela "fizesse alguma coisa da vida", por isso a ncarregara de trabalhar como recepcionista no hospital local. Na prática, como pouca gente aparecia por lá, Kari tinha tempo de sobra para desenhar e estava gostando disso.

Thor não responde nada.

– Você fala? – ela indaga, acenando com a mão. – Oi? Hellooo! Então tá.

– Eu vim falar com a doutora – ele finalmente diz quando ela volta o olhar para o caderno de desenho. Thor a observa melhor. A franja loura assimétrica cobre parte do rosto de maxilar quadrado e maçãs rosadas e salientes.

– Espera aí que ela tá com paciente – Kari diz, erguendo o rosto novamente e fitando Thor.

– Você é...?

– Kari Dagsland. Irmã da doutora Ann.

– Eu não sabia que ela...

– É, pois é – Kari responde e novamente volta os olhos para o papel.

Thor observa que ela desenha o palácio de Valhalla.

– Você desenha bem.

– Obrigada – Kari agradece e sorri para Thor, que esboça um sorriso envergonhado de volta.

– Quer ver os outros desenhos? – ela pergunta, oferecendo a ele o caderno.

– Sim, eu gostaria.

O guerreiro-deus pega o caderno e o folheia devagar. Há o desenho de uma casa, depois uma estrada, pessoas num ônibus... Lá pelo meio ele reconhece a praça e a doca de Narvik, a barca para Asgard, a casa de Ann e Bado, o cavalo, a própria Ann e, finalmente, o desenho do palácio, que ainda está pela metade.

– É o meu caminho até aqui – ela explica. – Começa com a minha casa.

– Eu não entendo muito de arte, sou só um camponês, mas me parecem bons.

– Obrigada. Preciso melhorar meu desenho de pessoas, sabe? Sou boa com rostos, mas não sei desenhar mãos.

– Pra mim parecem ótimos. Está gostando daqui?

– Sim. Asgard é bem tranquilo. A Ann achou que eu ia querer ir embora rapidinho, mas não. Eu estou gostando. Vou ficar um bom tempo.

– Que bom. Normalmente as pessoas que vem de fora querem ir embora.

– Eu não uma pessoa normal – ela diz, arrancando um sorriso do guerreiro-deus.

Um criado do palácio entra correndo na sala, assustando os dois.

– Onde está a doutora? – ele grita, ofegante. – Precisamos dela no palácio!

– O que foi, cara? – Kari pergunta.

– O filho da princesa Freya está nascendo! – ele responde.

Ann é levada para o palácio junto com uma enfermeira e, depois de muitas horas de trabalho de parto, Freya dá à luz seu primeiro filho. Hilda e Hagen estão com ela e acompanham tudo.

– Ele está bem, princesa – Ann diz, depois de examinar o bebê. Ela o entrega a Freya.

– Ele vai se chamar Gunther – Freya diz, emocionada ao segurar seu menino pela primeira vez. Ao lado dela, Hagen também está emocionado. O bebezinho rechonchudo abre os olhos brevemente.

– Bem-vindo ao mundo, Gunther – Hagen murmura e beija tanto o filho quanto a esposa.

– Meu sobrinho é tão lindo – Hilda diz, olhando para ele. Depois, volta-se para Freya. – Eu não queria te contar para que você ficasse tranquila nos últimos momentos de gravidez, mas agora que ele nasceu já posso te dizer que eu também estou grávida.

– Que maravilha! – comemora Freya. – Nossos filhos praticamente vão crescer juntos. Vai ser perfeito.

– Vai sim, minha querida. E é só o começo.

–M -I -T -D–I -R –

Alguns dias depois.

Sozinha no banheiro, Hilda observa-se no espelho. Tinha acordado com dores fortes no ventre e ao levantar-se da cama, sentiu o sangue morno escorrendo-lhe pelas pernas. Com a dignidade de uma soberana, ela troca de roupa e, apesar da dor que ainda sente, pensa em ir sozinha ao hospital. No entanto, volta atrás e resolve acordar Siegfried.

"A partir de agora, nada de enfrentar tudo sozinha", ela pensa. "Eu tenho o meu Siegfried."

– Meu amor – ela o chama, pousando gentilmente a mão no rosto dele. Meio atordoado, ele abre os olhos.

– Oi, querida. O que foi?

– Temos um problema... Eu estou sangrando.

De início, ele se desespera, mas logo retoma o autocontrole e pula da cama, apressando-se em vestir uma roupa.

– Não se preocupe – ele diz, quando já está vestido. – Vamos chegar logo ao hospital e enquanto vamos, mandarei alguém levar a doutora para lá.

– Certo – ela murmura.

– Vai ficar tudo bem – ele diz e a beija na testa.

– Vai, sim – ela diz, embora não acredite nas próprias palavras. No fundo, ela já sabe que Ann não poderá fazer nada para salvar seu filho.

"Eu aceito, Poderoso Senhor Odin", ela pensa, a caminho do hospital. "Eu aceito minha punição. Eu me entrego em Tuas mãos e aceito que o Senhor leve o meu filho como castigo por eu não ter resistido ao poder do anel e pelas mortes que deixei no caminho entre Narvik e Asgard. Eu aceito".

Continua...


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