Sobrado Azul escrita por Chiisana Hana


Capítulo 28
Capítulo XXVIII




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Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são meus e eu não ganho nenhum centavo com eles.

 

SOBRADO AZUL

Chiisana Hana

 

Capítulo XXVIII

 

Sete meses depois...

Um jatinho Gulfstream de propriedade do governo de Asgard acaba de pousar no novo aeroporto do pequeno reino, onde um carro oficial com motorista esperava para levar Shiryu, Shunrei e Hyoga ao palácio de Valhalla. Semanas atrás, Siegfried telefonou convidando os dois advogados para uma viagem de negócios. Entretanto, por se tratar de um trajeto longo, ele sugeriu que os dois tirassem alguns dias de folga e aproveitassem o passeio.

— Eu estou bastante impressionado – Hyoga diz aos dois companheiros de viagem quando já estão no carro. – Avião e carro oficiais... Estamos com essa bola toda?

— Parece que sim – Shiryu responde.

— Pena que a Eiri não pôde vir – lamenta-se Shunrei. – Ela ia adorar.

— Não seria muito razoável fazer essa viagem aos oito meses de gravidez – justifica Hyoga. – Nós só vamos passar uma semana aqui. O cansaço ia acabar sendo maior que a diversão. E meu filho podia acabar sendo asgardiano...

— Concordo que não seria muito prudente – diz Shiryu e olha para Shunrei. – Mas para nós dois foi uma grande oportunidade de compensar a viagem de lua de mel que ainda não pudemos fazer.

Shunrei concorda e segura ternamente o braço dele. Completaram um ano de casados há pouco tempo e o convite de Siegfried foi uma agradável surpresa.

Enquanto seguem para o palácio, Shunrei descreve para Shiryu a aparência do lugar, as ruas estreitas com calçamento de pedras acinzentadas, as construções modernas compartilhando espaço com prédios antigos, a população circulando alegremente apesar do frio. Passam por eles alguns carros, mas também charretes e pessoas a cavalo, o que ajuda a completar o charme exótico do lugar. Ela avista o palácio ao longe e também começa a descrevê-lo, com suas torres pontiagudas elevando-se no horizonte e a imponente estátua do deus Odin aparecendo por trás da construção como se a protegesse.

Ao chegarem na moradia real, os três convidados são conduzidos ao salão principal, onde Hilda os espera. Emmeline está ao lado dela e corre até Shunrei.

— Oi, princesa! – Shunrei cumprimenta, e ri ao se dar conta de que Emmeline é de fato uma princesa. – Como você está?

— Estou bem!! – ela responde, e aponta para a mãe, que se aproxima do grupo de visitantes a passos lentos e elegantes, com as mãos sobre uma evidente barriga de gestante.

— Vou ter um irmão! – Emmeline anuncia.

— Ah! Estou vendo. E você está gostando disso?

— Sim! Não tem criança aqui no palácio. Vai ser bom!

— Fico feliz por aceitarem nosso convite – diz Hilda, cumprimentando os visitantes. – Espero que desfrutem de bons momentos aqui em Asgard.

— Nós é que agradecemos – responde Shiryu.

— Estamos encantados – Hyoga completa.

— Pode não parecer – Hilda prossegue –, mas tem muita coisa a se fazer aqui. Estação de esqui e outros esportes de inverno, bares, restaurantes, boates. A vida noturna tem crescido bastante nos últimos anos. Tenho certeza de que vão se divertir. Estamos trabalhando para tornar Asgard um destino turístico desejado, como Aspen, e é por causa disso que Siegfried quer conversar com vocês. Aliás, sinto muito por ele não ter ido buscá-los no aeroporto pessoalmente. Ele acumula muitas funções aqui, meu marido, pai dos meus filhos, chefe da guarda… Mas ele estará de volta para o jantar.

A um sinal de Hilda, uma jovem loira, alta, de gestos fluidos e elegantes, se aproxima do grupo.

— Acredito que estejam cansados da viagem – diz a rainha. – Essa é Judith, minha governanta e assistente pessoal. Ela os levará a seus aposentos. Nos reencontraremos na hora do jantar.

Os três convidados agradecem, Shunrei se despede de Emmeline, e Judith os guia pelos largos corredores do palácio até os dois quartos vizinhos onde ficarão hospedados.

— Espero que fiquem confortáveis – diz Judith. – Se precisarem de qualquer coisa, disquem 9 no interfone. Atenderei pessoalmente. Quando o jantar for servido, virei chamá-los. Com licença.

— Muito bonita – comenta Hyoga quando ela se afasta. – Se todas as argadianas forem assim...

— Você é casado – censura Shiryu.

— Mas não sou cego! – retruca Hyoga.

— Pois é, eu sou casado e cego – brinca Shiryu, rindo. – Mas achei a voz dela bonita.

— Homens... – resmunga Shunrei e entra no quarto, puxando Shiryu.

Ao invés de ir direto para o seu quarto, Hyoga os acompanha.

Enquanto os rapazes conversam, Shunrei desfaz as malas e aproveita para analisar o quarto. Os móveis de madeira escura e design antigo, a cama com dossel, os tapetes artesanais com flores azuis, contrastando com uma grande televisão de tela plana. É igual à cidade, antigo e moderno misturando-se graciosamente.

Pouco depois, Judith bate à porta e conduz os três à sala de jantar, onde a família real e mais um convidado já esperam. Siegfried cumprimenta Shiryu, Shunrei e Hyoga, depois apresenta o outro convidado, senhor Alberich, seu companheiro na elite da guarda real.

Durante a refeição, Shunrei tem a oportunidade de observar melhor seus antigos empregadores. Quando Shiryu recebeu o convite para visitar Asgard, ela achou que ia encontrar Hilda desconfortável, talvez até triste por ter sido obrigada pelo destino a voltar para uma vida da qual ela tinha fugido, mas é exatamente o contrário, ela parece completamente à vontade e feliz. Siegfried, embora esteja fisicamente diferente, com barba e cabelos compridos, também demonstra a mesma felicidade serena da esposa e dirige a ela os mesmos olhares apaixonados de sempre.

Depois da refeição, Hilda, Shunrei e Emmeline vão para a sala de estar, enquanto os homens dirigem-se ao escritório, onde se acomodam nos sofás de couro marrom.

— Bom, convidei-os a passeio e trabalho, como vocês já sabem – começa Siegfried. – Então prometo não me estender muito na parte do trabalho. O caso é que Asgard mudou nos últimos tempos. Saímos de um passado quase medieval para a modernidade num salto de poucos anos, durante o reinado do tio de Hilda. Ainda estamos expandindo os horizontes, buscando parceiros, implantando novos negócios.

— Acho que estou entendendo aonde queremos chegar… – diz Shiryu.

— Estamos prestes a fechar alguns negócios na Ásia – continua Siegfried –, especialmente Japão, China e Rússia. Deixei muitas portas abertas quando saí de lá, muitos amigos e contatos. Enfim, vamos precisar de assessoria jurídica para intermediar esses negócios. Não posso cuidar disso pessoalmente, mas meu antigo escritório, que agora está em suas excelentes mãos, pode.

Hyoga sorri satisfeito pois a conversa vai exatamente pelo rumo que ele esperava, já Shiryu parece um tanto reticente. Acha que a representação jurídica da nação asgardiana em seus negócios na Ásia é algo  grande demais para eles.

— Seria um contrato milionário... – reforça Siegfried para ajudar a persuadi-los.

— Eu não sei se podemos dar conta – diz Shiryu. – É algo bem grande...

— É claro que podemos – Hyoga afirma, tomando a frente. – Vamos dar nosso melhor. Tenha certeza disso.

— Ótimo – Siegfried diz. – Agora meu amigo Alberich deseja falar, não é mesmo?

O homem tem aparência exótica, cabelos loiros muito claros, com uma longa franja que cobre metade do seu rosto, dando-lhe um ar misterioso. Está sentado de pernas cruzadas, com ar entediado, embora seu olho à mostra examine detalhadamente os dois rapazes, especialmente o cego.

— Tenho uma mina de pedras preciosas – ele começa a dizer – e exporto para alguns países aqui na Europa. Estou muito interessado no rico mercado asiático, especialmente China, cheia de novos ricos, e Japão. Além disso, eu e meu marido, faço questão de deixar isso claro para evitar qualquer problema depois, queremos investir em alguns negócios aqui mesmo. Andamos pesquisando sobre e nos interessamos por uma franquia de hotéis. Gostaria que revisassem os contratos e prestassem consultoria após fechado o negócio.

— Claro – Hyoga diz, antecipando-se a Shiryu. – Podemos fazer isso.

— Excelente! – diz Alberich. – Nós podíamos ter procurado outros advogados, mas Siegfried recomendou vocês e resolvemos ouvi-lo. Espero que façam um bom trabalho, senhores.

— Não vão se arrepender – Hyoga garante.

— Então, senhores, era isso – Siegfried diz, encerrando a reunião. – Agora descansem, curtam suas pequenas férias em Asgard. Só lembrem de tirar um tempinho para preparar os contratos e as procurações para assinarmos antes de vocês voltarem para o Japão.

— Será uma honra – Hyoga diz, selando o acordo com um aperto de mão.  

Hyoga e Shiryu voltam em silêncio ao quarto, onde Shunrei já os esperava, ansiosa para saber o resultado da conversa.

— Então, como foi?  – ela pergunta.

— Ele nos fez uma proposta irrecusável – Hyoga diz empolgado. – Quer que o escritório represente os interesses de Asgard na Ásia.

— Uau! Isso é grande! – anima-se Shunrei e olha para Shiryu, que parece irritado.

— Muito grande – prossegue o russo. – E tem mais! O cara que estava no jantar também vai contratar o escritório. São dois contratos bem grandes!

— São dois contratos que não sabemos se podemos assumir – corrige Shiryu, deixando sua insatisfação transparecer ainda mais.

— Claro que podemos! – retruca Hyoga. – Somos competentes e trabalhamos duro. Conseguimos manter o escritório do Siegfried. Um pouco de autoconfiança seria bom aqui, Shiryu! Você ficou lá, caladão... Se eu não tomasse a frente, eles iam achar que não estamos interessados.

— Eu estava tentando ser cauteloso! Queria ver o real tamanho da coisa toda e avaliar antes de aceitar!!

— Não tem o que avaliar! Eu não ia deixar esses contratos passarem. Se for necessário, a gente contrata mais gente. Podemos até montar um pequeno escritório aqui para dar um suporte e mandar alguém de confiança para cuidar. Quero muito fazer isso dar certo, Shiryu.

— Vai dar certo! – Shunrei diz, tentando animar o marido. – Vocês dois são os melhores!

— Eu só vou embarcar nessa por causa de vocês – Shiryu diz. – Não parece que tenho muita escolha aqui. Se não der certo, não digam que...

— Já deu certo! – Hyoga o interrompe, depois completa: – E chega de negatividade! Bom, vou lá ligar para Eiri, saber como ela está, contar as novidades... E você, Shiryu, melhore esse humor e aproveite para namorar um pouco sua esposa, porque é o que eu faria se a minha estivesse aqui. Boa noite!

O casal agradece e também deseja uma boa noite ao amigo, mas quando ele sai, os dois sentam-se na cama.

— Ele não devia ter dito que aceitava – Shiryu diz, irritado com Hyoga. – Devíamos ter ido com calma.

— Não tenha medo de dar esse passo… – Shunrei diz a ele.

— Não é bem um passo. É um salto gigante. Assumimos um escritório importante há pouco tempo e conseguimos dar conta, mas agora é algo muito maior do que poderíamos imaginar.

— Você já provou que é bom! – ela diz, começando a se sentir irritada também. – O que mais falta? Pelo amor de Deus, Shiryu! Insegurança de novo? Não combina mais com você!

Ele se cala por um momento, depois acrescenta:

— Não era para você reagir desse jeito! Eu só acho que estamos dando um passo maior que nossas pernas!

— O que você quer é se colocar no papel de vítima de novo e nós, eu e seus amigos, não deixamos!

— Eu sou… – ele começa a falar mas ela o interrompe, tentando não erguer demais a voz, já que eram hóspedes no palácio e não queriam incomodar.

— Não me venha de novo com a história de “eu sou só um advogado cego”! Você é um advogado. Ponto. Um excelente advogado. E vai ajudar o Hyoga a fazer esses contratos darem certo!

— O que deu em você? – ele retruca. – Não precisa ficar tão irritada!

— É, mas eu estou! Você gosta tanto de dizer que é “só um advogado cego”! Já parou para pensar que com esse dinheiro que vai entrar poderemos procurar um tratamento alternativo aqui na Europa ou nos EUA?

— Para com isso, Shunrei! Não venha com essa bobagem. Já vimos vários médicos e todos disseram que minha cegueira é irreversível. Eu não vou começar tudo de novo!

— Sabe por que você não quer continuar tentando? Porque você gosta do papel de ceguinho coitadinho!

— Ah, claro, eu adoro – ele ironiza, sentindo-se realmente irritado com ela. – É super legal não enxergar nada.

— Não quero mais você se fazendo de vítima! – Shunrei prossegue. – Você até tinha parado com isso, mas foi só aparecer um novo grande desafio pra você recomeçar com essa...

Shiryu não a deixa completar a frase. Puxa a esposa para si e lhe dá um beijo tão intenso que a deixa sem fôlego.

— Já chega! – ele diz e faz Shunrei deitar na cama. – Essa é a nossa viagem de lua de mel!

Com suas mãos hábeis, Shiryu despe a esposa rapidamente e começa a explorar o corpo dela com as mãos, depois percorre-o com beijos que vão se transformando em carícias cada vez mais provocantes.  

— Sim... – ela geme, a irritação dando lugar à excitação, quando a língua dele toca seu ponto mais sensível. – É verdade... Lua de mel... Isso... Continua...

—---S----A----

Já em seu quarto, Hyoga pega o celular, liga para a esposa e fala sobre os contratos. Ela não se surpreende.

— Quando ele mandou o jatinho buscar vocês eu sabia que ia ser algo grande!

— É enorme. Shiryu está com um pouco de receio, mas eu sei que vai dar certo.

— Claro que vai!

— E você, como está, meu amor? Passou o dia bem?

— Sim, estou ótima – ela responde, passando uma mão sobre a barriga. – Nós estamos bem.

— Que bom. É só uma semana, vai passar bem rápido. Logo estarei de volta.

— Eu vou sobreviver, Oga. Divirta-se! Mas também se comporte!

— Vou tentar – ele promete. – Amo vocês.

— Nós também te amamos.

Depois de desligar, ele pega o notebook e, empolgado, começa a redigir os contratos, mas logo é interrompido por certos gemidos vindos do quarto vizinho.

— É, parece que eles ouviram meu conselho – ele murmura rindo e volta ao trabalho nos contratos. – Pena que a Eiri não está aqui para fazermos o mesmo.

—--S---A----

— Uau! O que foi isso? – Shunrei pergunta a Shiryu, ofegante, enquanto limpa do rosto os resquícios da intensa noite de amor.

— Essa discussão me deixou meio bravo – ele responde sorrindo e completa: – E bastante excitado.

— Eu gostei – ela murmura, aninhando-se no peito dele e arranhando de leve com as unhas. – Gostei muito.

O sexo com ele sempre foi bom mas dessa teve algo diferente, foi mais ousado e vigoroso, levando-a ao melhor orgasmo de sua vida.

— Não quero mais o papel de vítima – ele diz. – Não quero mais que você pense isso de mim nem por um segundo.

Shunrei sorri satisfeita.

— É assim que se fala – ela diz. – Quero ver você assim sempre.  

— Prometo tentar. E vou fazer os contratos darem certo.

Ela se debruça sobre ele, os seios tocando o peito dele, sorri e sussurra:

— Também prometa que vai continuar assim na cama. Eu amei tudo que  fizemos hoje.

— Eu prometo – ele diz, sorrindo meio de lado e puxando-a para mais um beijo.

—---S----A----

Tóquio. Dia seguinte.

Enquanto arruma o cabelo de Mino para o aniversário de quatro anos de Penélope, Eiri conta as novidades vindas de Asgard.

— Uau! Hyoga tem uma sorte, hein? – Mino fala depois de ouvi-la. – Herança do pai, agora esse contrato…

— Poxa, Mino... – reclama a loira, um tanto indignada. – Ele tem trabalhado muito por isso. Não é só sorte.

— Desculpa. Eu sei. Acho que estou com um pouco de inveja.

— Pensei que estivesse indo bem o trabalho do Ikki com a Pandora.

— Está, mas podia ser melhor. Até agora não surgiu nenhum contrato grande. Dá para pagar as contas, mas é só. Não sobra nada. As economias que ele tinha se foram na reforma da casa e as minhas estou usando para pagar a faculdade sem ter que pedir a ele, mas logo elas vão acabar e eu não estou trabalhando. Não vai dar pra fazer como a gente planejou. Não posso continuar só estudando.

— Você podia arranjar um emprego de meio período. Já ia ajudar.

— É, estou pensando nisso. – Mino suspira longamente. – É que eu não queria ficar sem tempo para ir ao orfanato. Passo lá todos os dias.  A minha substituta é muito boa, mas é, sei lá, muito profissional. Ela mantém uma postura profissional com eles, entende? Não é como a gente.

— Então ela está fazendo a coisa certa... Vai ser menos tenso quando ela precisar sair... A gente se envolveu demais, Mino...

— É, eu sei... Não conseguia evitar. E agora sinto muita, muita falta das crianças. É um tiro no coração toda vez que vou lá visitá-los e volto para casa. E eles também não ficam bem. Se sentem abandonados e, você sabe, é um sentimento muito forte para quem já foi abandonado pelos pais…

— Por isso que eu acabei evitando muitas visitas. Senti que precisava cortar logo os laços.

— Eu não consegui fazer isso. Estou feliz com o Ikki, ele é um marido melhor do que eu esperava, mas sinto falta da agitação do orfanato, sinto falta de cada um dos pirralhos.

— Talvez seja a hora de você ter um filho seu.

— Eu adoraria, mas agora, com o problema da grana, não vai rolar...

— As coisas podem mudar rapidamente. Quem sabe não está vindo algo bom por aí?

— Tomara – Mino diz, desejando ter o otimismo da amiga. – Ai, chega de lamúrias! Capricha nesse penteado porque eu quero ir maravilhosa para o aniversário da Pepê!

— Deixa comigo, amiga! Você vai arrasar.

—---S----A----

Em outro ponto da cidade, Shun vai buscar June para levá-la ao aniversário da sobrinha. Enquanto espera a namorada se arrumar, ele resolve falar sobre uma decisão importante que tomou dias atrás.

— Eu vou largar a Psicologia – ele diz.

— Você o quê? – June indaga, surpresa, com um estojo de maquiagem na mão.

— É isso, eu vou largar a Psicologia – ele repete.

June para de se maquiar para encará-lo.

— Mas Shun, você acabou de se formar. Vai recomeçar do zero? E me fala isso assim, do nada?

— É, eu vou. Eu não estou feliz, Ju. E não foi do nada. Já venho pensando nisso há algum tempo. Preciso me dedicar a algo que me faça feliz.

— E o que é isso que vai te fazer feliz? Eu adoraria saber.

— Eu ainda não sei. Vou continuar atendendo até descobrir porque preciso pagar as contas, mas é isso, não quero passar o resto da minha vida sendo psicólogo.

— E eu achando que a gente ia casar logo! Desse jeito vai demorar uma eternidade. Achei que a gente estivesse se preparando...

— Eu nunca disse isso.

— Você me fez pensar isso!!

Ele pensa em negar, mas hesita e deixa que ela prossiga.

— Todos os nossos amigos se casaram! Até o maluco do seu irmão casou! Era para estarmos casados também!

— Nem teria como casar agora. Financeiramente falando e...

— Vocês deviam ter vendido a casa – ela o interrompe. – Teríamos o dinheiro da sua metade, daríamos entrada num apartamento nosso, Shun. Meus pais iam ajudar também e aí faltaria pouco para quitar.

— June, eu não quero casar! – ele diz, depois de alguns segundos de silêncio.

— É o quê? Não entendi.

— Não quero casar agora. Você foi minha primeira namorada, eu te amo, mas não quero casar nesse momento.

— Como é? Eu fui sua namorada?

— Não foi isso que eu quis dizer... Só que estamos juntos há muito tempo e...

— E...?

— E quero continuar com você, June. Eu te amo. Mas não é hora para casamento. Eu só tenho vinte e três anos!

June fita Shun incrédula, sem saber o que responder. Ele também não sabe o que dizer, já que não pretendia que a conversa chegasse a esse ponto.   Depois de um bom tempo calados, June finalmente fala, em tom baixo e pausado:

— Sai daqui, Shun. Só volta quando souber o que quer.

— Eu sei o que quero. Quero ficar com você, mas não quero me casar agora. É bem simples.

— Sai daqui – ela repete, sem alterar o tom de voz.

— Ok. Você sabe onde me encontrar... – ele concorda.

— É, mas não sei se vou querer procurar. Você me magoou muito hoje. Eu devia ter percebido. Há tempos você andava com conversa de novos planos... Eu devia saber que eles não me incluíam.

— Não é culpa sua, June.

— Eu sei que não é, porra! – ela finalmente explode. – Cai fora daqui agora!

— Sinto muito... – ele diz e sai, sentindo-se estranhamente aliviado.

—---S----A----

Na mansão Kido, Seiya e Saori estão deitados no sofá. Ela tinha acabado de chegar do hospital, onde estava fazendo sua residência médica.

— Não vamos mesmo ao aniversário da Penélope? – ele pergunta, fazendo um carinho na cabeça dela.

— Não... Estou morta de cansada, meus pés estão doendo. A residência acaba comigo... Eu sou a dona do hospital, mas não me dão moleza por isso.  Você pode ir se quiser.

— Vou ficar com você. Que tal uma massagem?

— Ah, meu amor, isso seria ótimo.

— Eu tive umas ideias – Seiya anuncia enquanto massageia os pés dela. – Quero trabalhar com crianças.

Após muitas matérias sensacionalistas sobre o marido da poderosa herdeira Kido ser office boy na empresa dela, os dois acabaram cedendo e Seiya deixou o emprego. Logo em seguida, ele trancou a faculdade e estava pensando no que gostaria de fazer da vida.

— Então eu estava pensando em abrir uma escolinha de futebol – ele continua. – Podia ter um espaço legal para recreação além do campo…

— Sei... uma sala com uns vídeo games...

— Tipo isso. E podíamos oferecer vagas gratuitas para as crianças do orfanato.

— Hum… Sim. Acho que temos um espaço que pode servir. Deve precisar de uma boa reforma, mas acho que não é algo complicado. Podíamos contratar o Ikki para isso.

— É uma boa ideia! Soube que ele está precisando de uma grana.

— É isso mesmo que você quer? Eu não me importo de pagar, você é meu marido, mas quero que você tenha responsabilidade, que se dedique a isso com seriedade e faça dar certo.

— Eu prometo que vou cuidar de tudo. Você vai ver, vai ter orgulho de mim.

— Tá. Não me decepcione. Fale com Tatsumi, ele vai lhe mostrar o local. Depois contrate o Ikki, veja o que precisa comprar, selecione os profissionais, resolva tudo sozinho. Só me traga os cheques para assinar.

— Não vou decepcionar você – ele promete.

—---S----A----

Seika e Shura estão preparando o jantar no apartamento dele, para onde ela sempre ia em seu dia de folga.

Já faz oito meses que nós estamos juntos… – Seika começa a falar. – Não quero esconder nada de você, então tem algo que eu preciso contar.

— Sabe que pode me contar tudo – ele diz.

— Na Grécia… – ela começa. As mãos estão geladas de medo da reação dele. – Quando eu vivia lá…

Shura a encara ansioso.

— Eu sei que eu devia ter contado antes, mas não tive coragem…

— Pode falar agora, Seika. O que quer que seja…

— Eu fui levada à Grécia por uma quadrilha de prostituição infantil… Eu fui...

Eu me prostituía lá… é isso.

— Bom, eu já sabia – ele fala, surpreendendo-a com um abraço doce. – Seu irmão me contou durante as aulas.

— Mas ele é um fofoqueiro mesmo! – ela ri, embora ainda se sinta tensa. – E você está bem com isso?

— Estamos juntos há sete meses, você mesma acabou de lembrar. Você não teve culpa de ter acabado envolvida… E ainda que tivesse sido uma escolha sua… é passado. Não posso e nem vou julgar você por isso.

— Sim… Ficou tudo no passado… Eu não gosto nem de lembrar...

— Fique tranquila – ele disse e a abraçou. – O que aconteceu lá atrás, fica por lá. Eu te amo, Seika.

— Eu também te amo, Shura. E estou muito, muito aliviada por ter falado sobre isso, mas tem mais uma coisa que nem o Seiya sabia... Eu nunca contei pra ninguém...

— Pode falar, amor.

Seika inspira fundo, buscando coragem para revelar um segredo que ela pensava ter enterrado bem fundo no seu coração. Desejava ter esquecido, deixado completamente para trás, mas trabalhar no orfanato trouxe tudo à tona outra vez. Então ela fecha os olhos, solta o ar lentamente e dispara:

— Eu tive um filho em Atenas.

Continua...

 


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Notas finais do capítulo

Finalmenteeeeeeee! Acho que esse foi o cap que eu mais reescrevi... Cheio de decisões importantes e revelações... Eu achei que já estava perto de terminar essa fic, mas não... Eu não costumo planejar muito as fics, só vou escrevendo, deixando rolar, e elas é quem decidem para onde vão. Essa parece ir pelo caminho de Casamento/ESC/EOF... Vocês aguentam mais dez anos? Kkkkkkk

Hilda e family voltaram porque sim, me deu vontade, talvez eu faça uma side story, que era algo que eu já queria. E teve Judith, sim, aquela mesma de Mit Dir, só que em um universo alternativo. Por que não fazer com meus próprios personagens?

É isso!
Obrigada a todos que acompanham desde o começo, mesmo os que me xingam por nunca terminar... kkkkk Ainda terão muito o que xingar!

Beijooooo



Chii



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