Love Is Waiting escrita por Gabriela Rodrigues


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora. Espero que gostem desse capítulo. Conforme a história cresce vou ficando sem programação para os primos e como vocês perceberam, essa é literalmente uma GRANDE FAMÍLIA. =)



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Quase tive um ataque. O que aquele infeliz estava fazendo? Ele não namorava minha prima? Antes que qualquer um pudesse ver aquela cena (ou pior: antes que minha prima visse aquilo e fizesse uma cena) eu falei, alto o suficiente para que todos eles ouvissem e se virassem pra mim:

- Não quero comer agora! A gente acabou de almoçar! – eu sei, eu sou escandalosa, mas que Ash descobrisse de outra forma ou em outra hora em que eu não estivesse por perto.

- E o que tu queres fazer? – ok. Me ferrei.

- Vamos andar por aí. – droga! Jake viu os dois – A Zoey ta certa, acabamos de comer. – até que não foi tão ruim.

- Credo! – Melaine gritou alto o suficiente para que a família sentada na mesa mais próxima olhasse – Olha aquele casal se engolindo! Nem pra ser mais discreto.

“Nem pra você também ser mais discreta” eu tive vontade de dizer e bater até matar a insana da minha prima que apontava exatamente para o animal do Daniel que mexia onde não devia e com quem não devia.

A cara de Ashley foi puro choque. Ela não se mexia nem piscava, apenas encarava o futuro ex engolindo a outra. Como eu havia imaginado, ela começou a dar escândalo. Marchou decidida até a mesa, acompanhada das irmãs e da horda de namorados, afastando os pombinhos sem cerimônias, com a raiva estampada no rosto (e não era pra menos).

Fiquei chocada ao ver a cara da... Coisa que beijava o tal do Daniel e vou dizer o porquê: a pessoa que eu podia jurar ser uma mulher linda com cabelos longos e brilhantes não era nada mais nada menos que um homem, e dos feios.

- O QUE...?! – Ashley começou, mas se calou assim que viu a cara da desgraça. – EU NÃO ACREDITO! MEU NAMORADO É GAY?

A essa altura todos nos encaravam, alguns rindo outros tão chocados quanto nós e eu queria desesperadamente sumir dali. Até Jake que mantém um semblante alheio estava vermelho de tanto rir. O pior de tudo foi o gritinho de pânico do Daniel (ou agora é Daniela?) quando percebeu quem era.

- Amor... – ele começou com a voz fina para então pigarrear e terminar com voz de homem – Eu posso explicar.

- Bem que a mamãe dizia. – Uma das gêmeas falou entre risos. – Agora ta confirmado.

- Ash, - a outra falou – que azar, mana, perdendo pra outro cara? - não agüentei. O impulso de gargalhar foi mais forte.

Até que minha prima encarou bem os fatos. Saímos o mais rápido possível, ainda rindo da cena constrangedora. Ashley sequer olhou para trás; apenas resmungava palavras sem nexo. Vez ou outra eu a ouvia dizer com escárnio: “Gay... Que grande homem você tinha encontrado!”.

Decidimos ir a um parque de diversões que havia por ali. Eu não subiria na montanha russa nem que me pagassem, então apenas assisti enquanto os metidos a machões dos namorados de Melaine e das gêmeas subiam nos carrinhos tentando (e conseguindo) convencer as quatro irmãs a irem junto.

Jake ficou comigo.

- Onde vamos? – ele perguntou.

- Ver o showzinho.

Meu primo me olhou em dúvida. Mas os carrinhos já estavam chegando perto de nós para mais uma subida.

- Presta atenção. – falei apontando para o carrinho da frente.

Mal terminei de falar pude ouvir o grito:

- SOCORRO! ME TIRA DAQUI QUE EU QUERO DESCER! – para eliminar qualquer resquício de dúvida, o berro não foi de Ashley nem de uma de suas irmãs, mas do namorado “machão” de uma delas.

Me espoquei de rir com Jake.

- Agora eu sei por que você não foi. – ele disse entre risos tentando recuperar o fôlego – É bem mais engraçado daqui de baixo.

Concordei com a cabeça, mas de súbito uma idéia tomou conta de mim.

- Vamos no minhocão.

- Onde?!

- Vem. – eu o puxei. Eu ia rir muito.

Levei Jake até um tipo de montanha russa para bebês, com a careta (e a forma) de uma minhoca. O brinquedo era lerdo por natureza e só andava em círculos, mas tinha quase os mesmos critérios de segurança de uma montanha-russa propriamente dita.

- Eu não vou entrar aí. – meu primo recuou assim que viu onde eu ia enfiá-lo.

- Vamos... – tentei persuadi-lo já prendendo o riso. – Nós vamos juntos. Aproveita que não tem ninguém olhando. Vai dar pra conversar numa boa.

- Então você vem também? – ops.

- Claro, né? – “que não”, completei mentalmente.

Ele tomou a dianteira e entregou o bilhete que o segurança de cada brinquedo perfurava para nos deixar entrar e foi para seu assento me esperando.

- Zoey? – ele me chamou.

- Liga o brinquedo. – sussurrei para o guardinha que já começou a rir da cara de raiva de Jake que percebera que eu aprontara.

Peguei o celular da bolsa e coloquei na câmera.

- Levanta os braços, Jake! – provoquei. O homem só faltava rolar de tanto rir.

A minhoca era lerda demais, o que me deu tempo de filmar com perfeição cada volta do brinquedo. Jake não abria a boca. No fundo eu sabia que o irritara, mas eu merecia, fala sério! Era só uma vingança muito, mas muito atrasada pela briga de quatro anos atrás a qual eu lembrei num lampejo.

Usei as mesmas palavras que meu primo pra convencê-lo. E eu  estava filmando, como ele fizera comigo, o mico de andar no mais ridículo dos brinquedos daquele parque imenso. A vingança é doce.

Acabou o tempo e ele saiu. Quando eu pensei que ele fosse passar reto, batendo o pé, Jake simplesmente sorriu e disse:

- Lembrou, é? Vai ter troco!

Devo dizer que gelei até o último fio de cabelo? É desnecessário. Andamos nos brinquedos de verdade por um bom tempo até que começou a chover. Eu sei... O céu já estava meio escuro quando chegamos.

Os relâmpagos cortavam o céu e a gritaria era geral. Pessoas correndo de um lado para o outro desesperadas como se meras gotas de água pudessem matar. Um solavanco. Um grito. Um relâmpago rasgando o céu. O fogo.

Cada vez mais altas, as labaredas engoliam barraquinhas de cachorro quente, e algodão doce, chegando ao primeiro dos brinquedos. Caos. Todos corriam. Parecia que Americana inteira estava no bendito parque. Um grito de horror se destacou na multidão e eu a vi. Presa com o namorado, Melaine estava na roda gigante, quase chegando ao ponto mais alto e a energia acabou.

O fogo se aproximava, mirando-a. Seu desespero era quase palpável. Num impulso insano, comecei a correr em direção ao brinquedo; Jake em meu encalço. Desviamos de um monte de gente até que finalmente chegamos. Mais alguns brinquedos e o fogo nos alcançaria.

Não sei o que deu nele, mas em um minuto Jake estava ao meu lado e no outro estava simplesmente escalando a roda-gigante com o vento castigando-o pela ação impensada e o fogo avançando a uma velocidade incrível. A chuva caía, mas vi perfeitamente quando ele escorregou no ferro molhado e quase caiu de sei lá quantos metros.

Os gritos que escapavam de mim eram inúteis, como se ele pudesse de alguma forma me ouvir. Um clarão. Outro relâmpago, este perigosamente mais perto. Mais alguns minutos. Meu primo chegou à pequena cabine que girava e se debatia. Ajudou-os com os cabos de segurança. Só faltava descer e a chuva engrossava.

Mesmo com toda aquela água caindo, o fogo avançava. O parque estava agora deserto exceto por nós e os outros desafortunados que estavam presos em suas cabines. Ouvi as sirenes bem na hora em que os três desceram, ensopados e tremendo (como eu).

Corremos abrindo caminho por entre as chamas, jogando para o lado a tenda de prêmios e pulando pedaços de barracas queimadas até o estacionamento. Entramos no carro e partimos olhando pra trás apenas para ver a roda gigante despencar e cair, sumindo em meio ao fogo.

Tremíamos. Procurei a todo custo esquecer os corpos que provavelmente estavam soterrados por sob o ferro incandescente. Jake dirigiu em silêncio até a casa de Melaine, que chorava no ombro do namorado.

Minha tia estava morrendo de preocupação. Mãe e filha abraçaram-se assim que descemos do carro e eu fui tomar um banho. Meu primo me deteve.

- Tudo bem? – ele perguntou num fio de voz.

Assenti – Só estou um pouco abalada. Vou melhorar.

Ele fechou a porta da suíte onde eu não lembrava ter entrado.

- Zoey? É melhor sentar. Você ta meio pálida.

Obedeci e, sem que eu percebesse, comecei a chorar.

- Des-desculpe. – sussurrei – Mas é que... Eu fiquei com tanto medo... E você simplesmente subiu lá... Você quase caiu! – eu tremia.

- Calma. – ele murmurava. E eu tentava me convencer de que estava realmente tudo bem. Para nós.

Depois do banho não fiz mais muita coisa. Jantei pouco (o que para mim era um feito considerável e demonstrava que havia algo errado comigo), assisti ao noticiário (a tragédia no parque: mais de três mortos e os bombeiros averiguavam possíveis corpos sob os escombros) sem prestar muita atenção e finalmente o cansaço me abateu e fui dormir.

Dessa vez não reclamei por ter que dividir a cama com Jake. Era até reconfortante saber que meu primo estava vivo e bem ali ao meu lado. Porém nem a proximidade foi capaz de afugentar os pesadelos que me atacaram naquela noite.

Relembrei o parque, a chuva e por fim o fogo, mas as chamas perseguiam somente a mim como se seu alvo fosse eu e meu medo as alimentasse. Eu estava na roda gigante. Ela parava, mas diferente do que certamente aconteceria na vida real, Jake não correu para me salvar e sim para o estacionamento a fim de livrar a própria pele.

Acordei num pulo e olhei meu primo que dormia profundamente abraçado em seu travesseiro (ou assim eu pensava).

- Zo? – seu sussurro foi tão baixo que quase deixei passar.

- Oi.

- Tudo bem?

- Tive um pesadelo.

- Bom. Sinal de que você pelo menos conseguiu dormir.

Sentei na cama e esperei ele fazer o mesmo.

- Quer fazer o que? – perguntei – Todos os outros estão dormindo?

- Se todos estão dormindo eu não sei, mas seria uma boa assistir a algum filme. É melhor que ficar deitado sem fazer nada aqui.


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Notas finais do capítulo

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